Sites ilegais de apostas funcionam porque o governo queria aumentar a arrecadação

Mais de 500 bets vão sair do ar nos próximos dias, diz Haddad | CNN Brasil

Haddad deixou 600 Bets funcionarem ilegalmente…

Elio Gaspari
O Globo/Folha

Estádio do Mineirão, 8 de julho de 2014. Aos 24 minutos do primeiro tempo, Toni Kroos marcou o terceiro gol da Alemanha. Eremildo, o idiota, gritou da arquibancada para que o Brasil atacasse. Depois do desastre, o técnico Felipão teve a humildade de reconhecer que sua equipe sofreu “um apagão”. Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou, com uma gravidade que só os ares de Brasília concedem, que sairão do ar cerca de 500 sites de apostas que funcionam no Brasil sem o devido credenciamento.

Em 2014, todos os jogadores alemães estavam credenciados. Em 2024, os sites ilegais funcionam porque o governo viveu por mais de um ano num esplêndido apagão.

HADDAD PERMITIU – Quando Haddad diz que a Anatel tirará os sites do ar, algum desavisado pode achar que a Anatel já poderia ter feito isso. Quem as deixou no ar foi o Ministério da Fazenda porque, em dezembro de 2023 deu-lhes um prazo até 1º de outubro de 2024 para que regularizassem seus papéis. Prenunciava-se o apagão. (Alemanha 1 x 0).

A única novidade do anúncio de Haddad foi a antecipação do bloqueio. Pois a Fazenda havia estabelecido o limite de 1º de janeiro de 2025. (Alemanha 2 x 0).

A burocracia tem suas astúcias. Criou um Sistema de Gestão de Apostas e deu-lhe uma sigla: Sigap. Em junho passado, o Ministério da Fazenda anunciava que o Sigap era “resultado de trabalho conjunto da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) e da Subsecretaria de Gestão, Tecnologia da Informação e Orçamento (SGTO)”. Tudo bem, mas quem mostrou “as portas do inferno”, nas palavras da doutora Gleisi Hoffmann, foi o Banco Central. (Alemanha 3 x 0).

ARRECADAÇÃO – Os prazos longos para que os sites de apostas regularizassem seus papéis não foram resultado de um apagão. O time estava armado assim porque, com dez meses de prazo, antes de requerer a outorga de uma licença, as empresas poderiam medir o potencial do mercado ou a temperatura do reino de Asmodeu. A sábia ekipekonomika esperava arrecadar até R$ 3,4 bilhões, pois cada licença custaria R$ 30 milhões. Havia cerca de 150 empresas na fila. (Alemanha 4 x 0).

Arrecadado o dinheiro das outorgas, o governo conseguiria algumas dezenas de bilhões taxando os prêmios.

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse sobre os efeitos das apostas: “É uma pandemia, guardada a questão da gravidade. Isso precisa ser trabalhado na Saúde”. Precisava, mas até hoje não foi. (Alemanha 5 x 0).

UMA PANDEMIA – A pandemia das apostas guarda várias diferenças com a da Covid. Uma veio de fora, enquanto a outra foi armada em Pindorama. Uma custou bilhões ao governo de Jair Bolsonaro, a outra levaria bilhões para as arcas dos governos de Lula e de seus sucessores. Uma não precisou de publicidade para se propagar, a outra teve campo livre, graças ao silêncio do Sistema de Gestão de Apostas.

A partida de 2014 no Mineirão terminou depois de 90 minutos de jogo. A das apostas continuará e não tem data para terminar. A turma das apostas tem craques para entrar em campo.

O Congresso pode legalizar o jogo do bicho, os bingos e os cassinos. Cada um deles dará ao governo o que ele quer: arrecadação. Olhando-se apenas para o primeiro tempo dessa partida, pode-se antever o que vem pela frente.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGDetalhe importantíssimo: sites ilegais não pagam impostos. Só aumentariam a arrecadação quando estivessem legalizados. (C.N.)

4 thoughts on “Sites ilegais de apostas funcionam porque o governo queria aumentar a arrecadação

  1. Seja ao menos homem e tenha a hombridade de reconhecer que o atual governo é a parte menos culpada nessa tragédia das bets, seu engraçadinho.

    A paternidade das bets pertence ao canalha do Temer, legalizadas na base da canetada por esse vigarista. E a lei previa que o Executivo teria dois anos para regulamentar, prorrogáveis por mais dois. Ou seja, a lei previa que, durante o governo do ladrãozinho de joias, o assunto teria que ser regulamentado, o que não ocorreu. Se a atual equipe econômica vive um apagão, nos quatro anos Pauloguedistas viveu sob um apocalipse nuclear.

    Não que o governo atual não mereça críticas, mas enfim, é sempre bom desmascarar esses hipócritas caras de pau.

    • Deve ter algum erro nessa reportagem amigo, afinal o gênio da economia Paulo Guedes prometeu que o Brasil viraria uma Venezuela a partir da segunda metade de 2024.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *