Leilão do arroz dá vexame, secretário é demitido e o governo ameaça repetir

Charge do J.Caesar (Veja)Guilherme Mazui
g1 — Brasília

O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, anunciou nesta terça-feira (11) a anulação do leilão do governo para compra de arroz importado. Segundo ele, um novo procedimento, “mais ajustado”, será realizado. A medida foi tomada após suspeitas de irregularidades no leilão para compra de 263 mil toneladas de arroz realizado na última quinta-feira (6).

“Pretendemos fazer um novo leilão, quem sabe em outros modelos, para que a gente possa ter as garantias de que vamos contratar empresas que tenham capacidade técnica e financeira […]. A decisão é anular este leilão e proceder um novo mais ajustado, vendo todos os mecanismos possíveis para a gente contratar empresas com capacidade de entregar arroz com qualidade, a preço barato para os consumidores”, declarou Pretto no Palácio do Planalto.

LULA ENDOSSOU – Segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Paulo Teixeira, o presidente Lula endossou a decisão de anular e convocar um novo leilão. Ele, Pretto e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, participaram de reunião com Lula antes do anúncio da suspensão.

No leilão realizado na semana passada, o preço médio de cada saco de arroz de 5 quilos atingido foi de cerca de R$ 25. Segundo o portal Globo Rural, empresas sem histórico de atuação no mercado de cereais participaram do certame e arremataram lotes.

O governo decidiu importar arroz poucos dias depois do início das enchentes no Rio Grande do Sul. O estado é responsável por 70% da produção nacional do grão, mas já havia colhido 80% do cereal antes das inundações.

SEM ESTOQUES – No dia 7 de maio, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o governo decidiu comprar arroz para evitar alta de preços diante da dificuldade pela qual o estado passava para transportar o grão para o restante do país.

Na ocasião, ele disse também que nenhum atacadista, naquele momento, tinha “estoques para mais de 15 dias”. Segundo Teixeira e Fávaro, o governo identificou que a maior parte das empresas que participou do leilão tinha “fragilidades” para operar um volume tão grande de arroz e de dinheiro.

“Ninguém vai pagar sem que o arroz esteja aqui, entregue”, disse o ministro da Agricultura, que prometeu “régua mais alta” no próximo leilão.

TUDO DE NOVO – O edital do novo leilão será feito com auxílio da Controladoria-Geral da União (CGU), da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Receita Federal.

O governo deseja avaliar antes do pregão se as empresas habilitadas têm condições técnicas e financeiras de executar os contratos. Os ministros explicaram que, no modelo do leilão anulado, o governo soube após o pregão as informações das empresas. “Não podemos ficar sabendo depois do leilão quem que se habilitou e quem que ganhou”, disse Fávaro.

A falta de experiência das empresas vencedoras chamou atenção no mercado, conforme o Globo Rural. Também gerou mal-estar o fato de a Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e da Foco Corretora de Grãos terem intermediado parte da venda. As empresas, que receberiam comissões pelo leilão, foram criadas em 2023 por Robson Luiz de Almeida França, ex-assessor de Neri Geller, que até esta terça era secretário de Política Agrícola do governo federal.

NEGÓCIO DE FAMÍLIA – Conforme Globo Rural, França também é sócio de Marcelo Geller, filho de Neri, em uma empresa aberta em 2023. Ele também foi colega de Thiago dos Santos, atual diretor de operações e abastecimento da Conab. Pretto afirmou que ainda vai avaliar a permanência de Santos no cargo.

Nesta terça-feira, em razão da polêmica em torno do leilão para importação de arroz, o ministro da Agricultura anunciou a saída de Neri Geller do cargo de secretário de Política Agrícola.

Segundo o ministro, Neri Geller colocou o cargo à disposição do governo e foi demitido.

APOIADOR DE LULA – “Hoje [terça-feira], pela manhã, o secretário Neri Geller me comunicou, fez ponderação, quando filho dele estabeleceu sociedade com esta corretora do Mato Grosso, ele não era secretário de político agrícola. Não há fato que desabone ou que gere qualquer tipo de suspeita, mas que de fato gerou transtorno, e por isso colocou cargo a disposição”, afirmou Fávaro.

Segundo o portal Globo Rural, há no governo federal uma avaliação de possível conflito de interesses por parte do ex-secretário, uma vez que uma corretora de um ex-assessor de Neri Geller está envolvida no leilão.

Geller, ex-ministro da Agricultura e ex-deputado federal, foi um dos nomes ligados ao agronegócio que apoiou Lula na eleição de 2022.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
É um vexame atrás do outro. Não precisava nada disso. O Brasil é o décimo maior produtor, o transporte é por via rodoviária e já está se normalizando. Qualquer problema o próprio governo poderia comprar diretamente dos produtores asiáticos, como Bangladesh, Vietnã, Tailândia e Indonésia. (C.N.)

PF conclui que a “ligação” de Adélio Bispo com o PCC era Piada do Ano

O então candidato Jair Bolsonaro em Juiz de Fora (MG). No círculo, em destaque, Adélio Bispo

PF conclui a investigação e diz que Adélio Bispo agiu sozinho,

Elijonas Maia
da CNN

A investigação da Polícia Federal concluiu nesta terça-feira (11) que o advogado de Adélio Bispo tinha, de fato, vínculo com o PCC, maior facção criminosa do Brasil, que foi alvo de busca e apreensão hoje em uma última fase da operação. Adélio Bispo, no entanto, agiu sozinho na tentativa de homicídio do então candidato Jair Bolsonaro em setembro de 2018, em Minas Gerais, concluiu a PF.

A informação foi divulgada pelo diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, em encontro com jornalistas em Brasília na manhã esta terça-feira.

DISSE O DIRETOR – “Recebemos uma denúncia de que houve ligação da facção com o advogado e o crime, e fomos investigar. A conclusão foi que não há relação”, declarou o diretor.

“Comprovamos, sim, a vinculação desse advogado com o crime organizado, mas nenhuma vinculação desse advogado com a tentativa de homicídio do ex-presidente. Com isso, encerramos essa investigação. Apresentamos ao Poder Judiciário hoje esse relatório sugerindo, em relação ao atentado, o arquivamento”, afirmou o diretor-geral da PF.

A CNN divulgou em abril do ano passado que a defesa de Bispo era investigada.

BUSCA E APREENSÃO – O advogado, inclusive, chegou a ser alvo de outro mandado de busca e apreensão. Agora, após análises e aprofundamento das investigações, a PF considera o caso encerrado.

Na ação desta terça-feira, contra o PCC, foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão nos municípios mineiros de Pará de Minas, Lagoa Santa e São José da Lapa.

Também foram cumpridos mandados judiciais que determinavam a lacração e a suspensão das atividades de 24 estabelecimentos comerciais e a indisponibilidade de bens de 31 pessoas físicas e jurídicas no montante de R$ 260 milhões.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Essa ligação de Adélio Bispo com o PCC para matar Bolsonaro é do tipo Piada do Ano. Nem mesmo a ligação do advogado se confirmou, caso contrário a investigação não seria dada por concluída. Como se diz aqui no Rio, muita espuma e pouco chope. (C.N.)

Com coachs e redes sociais, a “cabeça aberta” dos modernos contempla o nada

Título: Sabedoria níblica antiga. Aoi executada em técnica manual com lápis grafite 6B sobre papel em acabamento estilizado, com traços e texturas, depois foi escaneada e aplicada sobre fundo papel craft e aplicados tons leves de amarelo e azul. Na horizontal, proporção 17,5cm x 9,5cm, a ilustração apresenta uma figura de um sábio antigo com cabelos e barba longos, sentado olhando para baixo, entre ondas, nuvens e ornamentos. A sua frente, um grande livro aberto, ao lado, uma grande ampulheta e dois pássaros voando. No  canto superior, à direita, entre nuvens, uma figura com auréola nas costas e um dos braços parece apontar a figura central.

Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

São quatro os livros que compõem a sabedoria israelita antiga. A tradição remete a autoria ao rei Salomão, filho de David, conhecido por sua sabedoria. Provavelmente, Salomão viveu e reinou entre os anos 900 e 980 antes de Cristo.

Os estudiosos do texto hebraico antigo —o “Velho Testamento”— e de arqueologia bíblica, põem em dúvida a autoria de Salomão. Para nós por aqui, essa questão não importa.

Importam as diferentes formas de sabedoria que cada um dos textos carrega, compondo um processo espiritual semelhante a uma peregrinação em direção ao conhecimento direto de Deus ou, como tanto judeus quanto cristãos chamam, “a experiencia mística”. Voltaremos a ela quando chegarmos ao texto que é entendido nesse conjunto como uma descrição desse tipo de experiência, “O Cântico dos Cânticos”.

COMO NOSSOS PAIS – O primeiro é “Provérbios”. Vivamos como nossos patriarcas. Trata-se de um conjunto de máximas que remete o leitor, tanto o antigo quanto o atual, à ideia de que existe uma sabedoria típica dos ancestrais hebreus que deveríamos seguir como horizonte moral de comportamento.

Qualquer pessoa razoavelmente culta sabe que essa ideia de sabedoria dos ancestrais não é privilégio dos israelitas antigos. Culturas que atravessam os tempos e têm o luxo de guardar certos preceitos estabelecidos em herança escrita —como é o caso aqui— ou herança oral têm recursos como esse.

A perenidade de uma sabedoria desse tipo é base para as religiões que cultuam os ancestrais. Lembremos que eles nos legaram a vida e o mundo, coisa que não sabemos se conseguiremos fazer para nossos descendentes —aliás, se depender das novas gerações e seu comportamento narcísico, nem descendentes teremos.

OS ANCESTRAIS – O vínculo de respeito à ancestralidade é um dos focos de desprezo por parte da experiência moderna. Esta rompeu com o tecido histórico de experiências que se repetiam infinitamente no tempo porque “tudo mudou”.

Nós modernos consideramos tudo o que veio antes de nós mera superstição, ignorância e preconceito. Trevas por oposição à luz que somos nós. No século 21, a sabedoria dos ancestrais foi substituída pelo “coach” e pela miséria das celebridades nas redes sociais. A “cabeça aberta” dos modernos contempla o nada.

O “Eclesiastes” é tomado por muitos como a cosmologia bíblica. O texto descreveria nosso lugar “embaixo do sol”, como repete o texto. Dessa forma, embaixo do sol, tudo é vaidade, vão, repetição pura e simples do mesmo vazio de ser.

TUDO PASSA – Somos “um nada” diante de Deus e da criação. Tudo passa e nada permanece. Em nossas vidas, devemos ler o “Eclesiastes” quando temos sucesso em nossos esforços para lembrar, como diria Lutero, que tudo é graça.

A teórica bíblica Erica Brown, em seu “Ecclesiastes and the Search for Meaning”, chega a afirmar que o livro carrega um niilismo como forma de atravessamento do efêmero em direção a Deus.

“O livro de Jó” nos lembra, como diz Deus, “onde você estava quando coloquei as estrelas no firmamento?”. Não podemos julgar nossa própria virtude. Só Deus é a régua da moral.

O texto é um dos pilares da recusa bíblica da teologia da retribuição. Deus não faz barganha com ninguém. “Sou bom, logo, você, Eterno, me deve…”

DEUS E ISRAEL – O último, “Cântico dos Cânticos”, considerado por muitos na tradição judaica como o “santo dos santos” entre os textos do cânone hebraico, narra o encontro direto entre Deus e Israel —para os judeus— e entre Deus e a alma humana— para os cristãos. São Bernardo de Claraval tem comentários belíssimos sobre esse texto.

O importante componente erótico do texto —trata-se de uma narrativa de amor, seus sofrimentos e suas delícias, entre um homem e uma mulher— necessita de um tratamento específico. Mas esse elemento erótico é essencial para dizer que o encontro com Deus pode ser uma experiência de prazer na vida.

Claro, nem toda narrativa mística tem essa conotação. Muitas, aliás, carregam consigo o peso de “uma noite escura da alma”, como diria são João da Cruz. “É longo o caminho que leva das trevas à luz”, segundo o poeta John Milton.

O que Bolsonaro pensa das chances de Michelle disputar a Presidência 

Michelle Bolsonaro afronta 'aliados' e diz que marido será candidato em 2026 | Brasil | EM OFF

Michelle está sempre fazendo campanha e já se acostumou

Malu Gaspar e Rafael Moraes Moura
O Globo

Impedido de disputar eleições até 2030, após ser condenado duas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Jair Bolsonaro tem uma resposta pronta para quem o pergunta em conversas reservadas sobre as chances de a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro se candidatar à Presidência da República: “Só deixaria concorrer se fosse minha ex-mulher”.

Foi o que ouviu um interlocutor que conhece Bolsonaro há muitos anos, em um encontro recente. Apesar do tom irônico, o comentário é interpretado como um sinal de que Bolsonaro só aceita retornar ao Palácio do Planalto se ele mesmo for o candidato – e teria ainda mais resistência se fosse para desempenhar um papel secundário numa eventual administração de sua mulher.

TERIA CHANCES – Pesquisas internas nas mãos da cúpula do PL apontam que Michelle seria uma candidata competitiva à Presidência da República. Ela teria como maiores ativos políticos o fato de ser uma “novidade” jamais testada nas urnas – além de carregar o sobrenome do marido, é claro.

Mas também por conta disso, enfrenta uma forte rejeição de parcela do eleitorado que torce o nariz para o retorno do clã ao comando do país.

As mesmas pesquisas internas mostram que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tem bom apelo junto ao eleitorado de direita e menos rejeição, o que daria a ele mais chances de vencer uma disputa presidencial da qual Bolsonaro não participasse.

CRISE FAMILIAR – Na opinião de interlocutores de Michelle ouvidos pela equipe da coluna, Bolsonaro até toparia uma eventual candidatura da ex-primeira-dama ao Planalto, mas a resistência viria de outro lugar. “O problema mesmo são os filhos, e não ele”, diz um aliado, em referência à conflituosa relação de Michelle com Carlos, Flávio e Eduardo Bolsonaro.

Hoje, o cenário considerado mais provável é Michelle disputar uma cadeira no Senado pelo Distrito Federal para reforçar a bancada bolsonarista na Casa a partir de 2027.

Em entrevista ao site Pleno News publicada na última terça-feira, a própria Michelle afastou a possibilidade de disputar a presidência e voltou a defender a candidatura do marido. “O Jair está mais ativo do que nunca, nós estamos trabalhando para reverter as injustiças que ele vem sofrendo e eu acredito que ele será o nosso próximo presidente”, declarou.

SEM CORRERIA – “Eu afirmei que desconfiava de antecipações exageradas relativas às eleições de 2026. Disse isso por uma razão bem específica: penso que tem alguém – ou “alguéns” – muito interessado em acelerar o processo de apresentação de nomes de prováveis presidenciáveis. Parece até uma tentativa de diminuir a importância do nome do meu marido no cenário político nacional.”

Aliados de Bolsonaro querem emplacar no Senado ao menos um candidato conservador por cada estado, já que são duas vagas em jogo em 2026, quando ⅔ da Casa vai ser renovada. Mas em alguns redutos do bolsonarismo, como Paraná, Santa Catarina e o Distrito Federal, a torcida é para que as duas vagas das disputas regionais fiquem nas mãos de aliados do ex-presidente.

Nesse cenário, aliados de Bolsonaro teriam votos suficientes no Senado para, por exemplo, abrir um processo de impeachment contra integrantes do STF na próxima legislatura – cenário que o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), favorito a assumir a presidência da Casa no ano que vem, diz nos bastidores considerar bastante provável a partir de 2027.

AINDA INELEGÍVEL – Por enquanto, Bolsonaro segue inelegível. Ele foi condenado no TSE por abuso de poder político e econômico e uso indevido dos meios de comunicação, por ter convocado uma reunião com embaixadores para atacar o sistema eleitoral, além de transformar em comício as comemorações do bicentenário da Independência.

Integrantes do TSE ouvidos pela coluna consideram pouco provável que ele consiga reverter a inelegibilidade, ainda que o tribunal seja presidido em 2026 pelo ministro Kassio Nunes Marques, com André Mendonça na vice-presidência – os dois foram indicados por Bolsonaro.

Isso porque a palavra final de uma eventual candidatura de Bolsonaro ficaria nas mãos do Supremo, que a partir de 2025 será presidido por Edson Fachin – e onde Kassio e Mendonça são apenas dois entre 11 ministros.

NA MIRA DA PF – Antes de disputar qualquer cargo nas eleições de 2026, Michelle será confrontada com a conclusão de inquéritos policiais que podem provocar estragos à sua imagem.

Conforme revelou o blog, a ex-primeira-dama deve escapar de um indiciamento no relatório final do inquérito das joias, que será apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF) até o final de junho. Os investigadores até agora não reuniram provas de que a ex-primeira-dama sabia, autorizou ou foi conivente com a operação ilegal de venda dos artigos de luxo.

Mas Michelle ainda é alvo de outra investigação, que apura o uso irregular do cartão corporativo da Presidência da República, e no material há extratos e outros documentos que podem complicar a vida dela. Integrantes do PL, porém, minimizam o impacto das investigações para a popularidade do clã Bolsonaro, sob a alegação de que os eventuais indiciamentos já foram “precificados”.

Clima tenso entre Bolsonaro e Kassab vai pressionar Tarcísio a se posicionar

Notícias - Gilberto Kassab | O Anhanguera

Kassab aposta em Tarcísio e virou seu principal assessor

Ana Luiza Albuquerque
Folha

A reunião foi tensa. Deputados estaduais alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) haviam sido chamados pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Palácio dos Bandeirantes, diante de pressões públicas do grupo às vésperas da votação da privatização da Sabesp. Tarcísio queria aparar as arestas.

No encontro, irritado com críticas à gestão da segurança pública, que os deputados acreditavam que deveria ser mais dura contra o crime, o governador chegou a bater na mesa.

CRÍTICAS A KASSAB – Um dos incômodos manifestados pelos quatro deputados do PL presentes, Lucas Bove, Tenente Coimbra, Gil Diniz e Major Mecca, era compartilhado com o próprio Bolsonaro e voltaria a ser motivo de desgaste muitas vezes: o poder reservado ao secretário Gilberto Kassab (PSD).

Homem forte da gestão Tarcísio, Kassab é presidente do PSD, partido que comanda três ministérios no governo Lula (PT). Os parlamentares disseram ao governador que era inaceitável ter Kassab como seu secretário de Governo, considerando a relação próxima com a administração petista e as críticas públicas que ele já havia feito a Bolsonaro.

Tarcísio respondeu que não faria mudanças porque confiava em Kassab e disse que ele tinha um papel importante em azeitar o relacionamento com o governo federal.

MOMENTO DE IRRITAÇÃO – Naquela época, ao fim de 2023, o ex-presidente vivia mais um momento de irritação com Kassab. Ele tinha a expectativa que o PSD criasse dificuldades para a aprovação no Senado da indicação do então ministro da Justiça Flávio Dino para o STF (Supremo Tribunal Federal) —seu nome acabou sendo avalizado com 47 votos a favor e 31 contrários.

Desde o início da gestão Tarcísio, a figura de Kassab tem sido o calcanhar de aquiles do governador entre bolsonaristas. Eles avaliam que o ex-ministro de Dilma Rousseff (PT) concentra muito poder e influência sobre o governador. Um exemplo frequentemente citado é a indicação de Paulo Sérgio de Oliveira e Costa para a chefia do Ministério Público no estado —Costa foi secretário de Kassab na prefeitura.

Kassab é responsável por trabalhar nas relações entre o Palácio dos Bandeirantes e prefeitos e deputados, além de controlar a verba de emendas e convênios. Durante o governo Tarcísio, o PSD quase quintuplicou o número de prefeitos filiados em São Paulo.

OUTRA MANOBRA – Em março deste ano, começaram a circular rumores de que Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil de Bolsonaro, ocuparia o mesmo cargo na gestão Tarcísio, no lugar de Arthur Lima (PP), braço direito do governador. O movimento, que não se concretizou, seria uma tentativa de impulsionar uma figura política mais forte na pasta e delimitar o espaço de Kassab.

Quando bolsonaristas fustigam o governador por fazer gestos ao centro — como nas últimas semanas, após Tarcísio participar de um jantar organizado pelo apresentador da TV Globo Luciano Huck—, Kassab não escapa da crítica.

Na semana passada, por exemplo, o pastor Silas Malafaia citou o secretário ao defender à Folha que Bolsonaro desse “uma prensa” em Tarcísio. “Bolsonaro tinha que chamá-lo e dizer assim: ‘Amigão, você tem que escolher o que você quer. Se você quer ser aliado do Kassab, então segue seu caminho'”, afirmou.

HAVIA SABOTAGEM? – A irritação de Bolsonaro com Kassab nasceu na Presidência: ele avaliava que o presidente do PSD tinha feito de tudo para sabotar seu governo. No primeiro ano da gestão, parlamentares da sigla votaram muitas vezes alinhados aos projetos defendidos pela administração federal, mas a pandemia da Covid-19 mudou esse cenário.

O afastamento da legenda do governo federal ficou claro durante a CPI da Covid, refletido nas atuações combativas do presidente Omar Aziz (PSD) e do senador Otto Alencar (PSD).

Ao mesmo tempo, Kassab passou a fazer críticas públicas à gestão. Em entrevista ao UOL, em outubro de 2021, questionado se Bolsonaro era o pior presidente da história, ele respondeu: “Dos presidentes com quem convivi, com certeza”.

MAIS UM PROBLEMA – A CPI do 8 de janeiro agravou o incômodo de Bolsonaro, que atribui a Kassab o relatório final. O texto, que pedia o indiciamento de 61 pessoas, entre elas o próprio ex-presidente, foi aprovado por todos os parlamentares do PSD que integravam a comissão. A sigla também ficou com a relatoria, sob responsabilidade da senadora Eliziane Gama (PSD).

Em fevereiro de 2024, como mostrou o Painel, Bolsonaro compartilhou com aliados uma mensagem crítica a Kassab: “Para manter seus três ministérios no governo Lula, Kassab se comporta como ventríloquo de toda a podridão da esquerda. A única preocupação desse farsante são seus três ministérios”.

No mesmo mês, o jornal O Estado de S. Paulo revelou um áudio em que Bolsonaro falava sobre as eleições em Presidente Prudente (SP) e dizia que não apoiaria ninguém do “PSD do Kassab”. Hoje, o entorno do ex-presidente minimiza a afirmação e diz que ele se referia apenas às eleições na cidade.

CAMPANHA PASSADA – Visto como um notório estrategista político, Kassab se aproximou de Tarcísio durante a campanha, em 2022. Pessoas próximas aos dois afirmam que o então ministro de Bolsonaro precisava da orientação de alguém que conhecesse bem o estado. Ainda que o PL do ex-presidente estivesse na coligação de Tarcísio, quem esteve envolvido nas eleições diz que o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, atuou pela reeleição de Rodrigo Garcia (sem partido).

Embora a relação entre Tarcísio e Valdemar esteja mais azeitada hoje, os dois eram desafetos. Isso porque, no primeiro mandato de Dilma, quando diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Tarcísio promoveu demissões de apadrinhados de Valdemar, o que foi tratado como uma “faxina” anticorrupção.

Sem o apoio de Valdemar na corrida eleitoral, Tarcísio também sentiu que seu próprio partido não se engajou como esperado na campanha. Figuras da política estadual avaliam que o Republicanos não via o ex-ministro como alguém que tinha raízes no partido —o entendimento era o de que a sigla não teria tanta influência sobre a administração.

KASSAB À DISPOSIÇÃO – Em meio a esse cenário, Kassab estava ali para oferecer sua experiência e seus contatos. Além de ter rompido com Garcia, seu ex-secretário, há mais de 10 anos, o presidente do PSD viu em Tarcísio um quadro com grande potencial.

Felício Ramuth, que era até então o pré-candidato do partido, tornou-se vice de Tarcísio, e Kassab passou a atuar como o principal articulador político da campanha do governador. Ele percorreu todo o estado e atraiu centenas de prefeitos que passaram a se engajar a favor do aliado de Bolsonaro. “Eu tive relevância no projeto, me envolvi muito”, diz Kassab à Folha. “Era Tarcísio governador e Bolsonaro presidente.”

Com a ajuda de Kassab e Bolsonaro, Tarcísio foi eleito. No discurso de posse, o governador agradeceu ao ex-presidente e a figuras do PSD que o apoiaram —entre elas, o próprio Kassab. Era o prenúncio da corda bamba sobre a qual o governador caminharia ao longo do governo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Kassab sabia o que estava fazendo quando desprezou Lula e colou em Tarcísio de Freitas. Ou seja, ao invés de se ligar a um futuro incerto, devido ao envelhecimento de Lula, preferiu apostar num político mais jovem e promissor. Sua opção faz sentido. (C.N.)

Impiedoso, Moraes manteve mãe de duas crianças presa por 420 dias, sem denúncia

ELA 'LESOU' A PÁTRIA: Operação da PF prende mulher que pichou “perdeu,  mané” em estátua do STF - JuriNews

O “crime” dela foi escrever com baton “Perdeu, Mané”

Raquel Derevecki
Gazeta do Povo

Presa ilegalmente sem denúncia por mais de um ano e dois meses, a cabeleireira Debora Rodrigues dos Santos segue longe dos filhos — de 6 e 9 anos — desde 17 de março de 2023. A ordem de prisão foi expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após a mulher ter participado das manifestações de 8 de janeiro.

“Ela não entrou em nenhum prédio público, mas foi fotografada escrevendo, com batom, a frase ‘Perdeu Mané’ na Estátua ‘A Justiça’, localizada em frente à sede do STF”, relata o advogado de defesa Ranieri Gonçalves Martini, que recebeu a denúncia do Ministério Público (MP) sobre o fato cerca de 420 dias após a prisão, apesar de o prazo máximo permitido ser de 35 dias.

PEDIDOS INÚTEIS – “Nesse tempo, solicitamos oito vezes que a Debora fosse para prisão domiciliar porque ela tem o direito de esperar a sentença em casa com os filhos, mas todos os pedidos foram negados”, lamenta Martini, ressaltando que a saúde das crianças foi afetada e que seus direitos fundamentais foram violados, já que não podem ser privados da convivência materna.

Um dos tratados a respeito do tema é a Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia da ONU em 1990 e estabelecida no Brasil pelo Decreto 99.710. Segundo o documento, o Estado tem o dever de “zelar para que a criança não seja separada dos pais” e deve garantir que todas as ações de tribunais e autoridades considerem “o interesse maior da criança”.

Rodrigo Chemim, doutor em Direito de Estado, afirma que o artigo 318 do Código de Processo Penal estabelece que o juiz pode substituir a prisão preventiva por domiciliar para mulheres com filho de até 12 anos de idade. “Inclusive, em 2018, o STF concedeu habeas corpus coletivo para favorecer todas as mulheres presas nessa situação”, recorda o jurista.

ESTATUTO DA CRIANÇA – O documento citado é de 20 de fevereiro de 2018, quando a Segunda Turma do STF, sob presidência do ministro Edson Fachin, aceitou por unanimidade prisão domiciliar para todas as presas grávidas, com bebês ou com filhos de até 12 anos “nos termos do Art. 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)”.

Em seu voto, o ministro relator Ricardo Lewandowski argumentou que as crianças “sofrem injustamente as consequências da prisão, em flagrante contrariedade ao Art. 227 da Constituição”, e que os “cuidados com a mulher presa” deveriam ser direcionados “não só a ela, mas igualmente aos seus filhos”.

A exceção seria para casos de “violência ou grave ameaça, contra seus descendentes” ou em situações “excepcionalíssimas devidamente fundamentadas pelos juízes”.

GRAVE AMEAÇA? – “E o que há de violência ou grave ameaça no caso da Debora?”, questiona o advogado Ranieri Gonçalves Martini, ao ressaltar que a denúncia oferecida pelo Ministério Público (MP) após 14 meses de prisão preventiva aponta somente o fato de a mulher ter escrito, com batom, a frase “Perdeu Mané” na estátua em frente ao STF. “Não há mais nada contra ela”, reitera.

Apesar de a pichação ter sido a única infração cometida por ela e de a frase ter sido removida com sabão neutro, como noticiou a Folha de S. Paulo, a mulher foi acusada pelos crimes de associação criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, deterioração de patrimônio tombado, e dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União.

“Essa acusação é completamente genérica porque a única ação individual dela foi sujar a estátua, o que poderia ser penalizado, no máximo, com prestação de serviços comunitários”, informa o advogado, lembrando da condenação do homem que colocou fogo na estátua de Borba Gato, na cidade de São Paulo, em julho de 2021.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Moraes tem o coração de pedra, faria sucesso como carrasco, mas não serve para a função de juiz; Moradora de Paulínia, no interior de São Paulo, a cabeleireira Debora Rodrigues dos Santos frequenta a Igreja Adventista do 7º Dia, é casada com o pintor Nilton Cesar, e mãe de dois meninos. “É uma mulher cristã, justa, honesta e que sempre defendeu a família”, relata sua irmã, a técnica em enfermagem Cláudia Silva Rodrigues. O crime dela foi se meter em política e seguir falsos profetas, digamos assim. (C.N.)

Nem toma-lá dá-cá tem facilitado as relações de Lula com o Legislativo

A cada votação, uma nova e grande dificuldade para o governo

Pedro do Coutto

Mesmo nomeando ministros e distribuindo recursos através das emendas, o presidente Lula da Silva encontra dificuldades em suas relações com o Legislativo. Reportagem de Camila Turtelli e Dimitrius Dantas, O Globo desta segunda-feira, focaliza o assunto. A impressão que se tem é a de que não existe uma conexão sólida no esquema envolvendo o Planalto, deputados e senadores.

Cada votação torna-se uma dificuldade muito grande para o governo que distribui atendimentos políticos a parlamentares, mas destinam-se a episódios temporários, de curta duração. Logo adiante, surgirá um novo obstáculo exigindo uma nova negociação. A impressão é a de que deputados e senadores jogam com o apoio episódico e que no fundo passa-se a sensação de que o Legislativo deseja criar dificuldades para negociar apoio a cada votação. O presidente Lula, portanto, deixa-se envolver na teia parlamentar e demonstra-se disposto a negociar caso a caso.

PLANEJAMENTO – O governo assim aparenta não ter um plano concreto para obter apoio parlamentar. Cada votação corresponde a um atendimento que vai se somando a outros, o que desperta interesses de deputados e senadores de seguirem o Executivo somente degrau por degrau.

Com isso, perde-se a unidade indispensável às ações governamentais, pois se a cada projeto exige um atendimento fisiológico. O Planalto assim demonstra que não tem uma ideia sólida do programa que deseja desenvolver e colocar em prática.

PAUTA -Agora mesmo, em reportagem, o Estado de S. Paulo de ontem focaliza uma nova versão do PT para pautar as redes sociais da internet. Secom, PT e gabinetes de líderes no Congresso fazem reuniões para acionar textos de interesse do governo, inclusive com a participação de influenciadores que atuam na área governamental.

O governo em vez de tentar pautar as atividades nas redes sociais, deve procurar divulgar através de noticiários jornalísticos o que está realizando de concreto a cada dia ou semana em benefício da população. É muito mais importante divulgar fatos concretos e iniciativas do que tentar agir na base de influenciadores através de mensagens que se perdem em redes de comunicação, não atuando na base de conteúdos efetivos como deve ser um programa governamental.

PESQUISAS – Em vez de querer pautar matérias nas redes sociais, o governo Lula deveria divulgar as suas ações e ver o efeito da opinião pública através de pesquisas sérias e objetivas. O mercado de informação acolheria os textos baseados em seus interesses coletivos.

Caso contrário, o sistema de atuação do governo Lula se assemelha à versão do gabinete que funcionou do Palácio do governo Bolsonaro. Informação não é algo que se possa produzir sem a base concreta do que se tem a informar. Caso contrário, a notícia perde o seu poder de influir, o que exige conteúdos e argumentos claros e objetivos.

Se vocês acham que Moraes recriou a censura, esperem o que vem por aí

Charge sobre censura - Donny Silva

Charge do Nani (nanihumor.com

Roberto Nascimento

Vem aí mais uma vergonha protagonizada pelo Congresso, em especial da lavra do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, que aproveita a queda nas pesquisas e a atual fragilidade do presidente Lula para passar a boiada, literalmente.

São regras flexíveis, que serão votadas desfigurando o Código Eleitoral, para inviabilizar a punição de políticos que fizerem a festa nas verbas de campanha, oriunda de recursos públicos do Fundo Eleitoral. Vai ser um vale tudo, na qual deputados e senadores poderão fazer o que eles bem entenderem. Lei votada, ninguém mais vai botar o guizo no gato.

DESIMPROPIDADE – Outra mudança em andamento é a flexibilização da Lei de Improbidade Administrativa. Se tornará uma impossibilidade prática a punição de gestores corruptos.

Mas o pior está por vir e atingirá os críticos e comentaristas da Tribuna da Internet: Será considerado crime criticar deputados e senadores, em qualquer plataforma das redes sociais e na internet em geral.

Estão querendo uma pena de 4 anos de prisão em regime fechado, se escreverem que Arthur Lira é corrupto na gestão dos recursos da Câmara dos Deputados, por exemplo. Uma barbaridade, em comparação à Lei da Mordaça e à censura feroz da Ditadura Militar.

BLINDAGEM – Os defensores dessas restrições não têm medo do ridículo e querem acabar com as liberdades democráticas no país. Os chefes dos Três Poderes, por exemplo, não poderão ser criticados de maneira alguma, segundo os articulares dessa reforma medieval. Nenhuma crítica, sob pena de prisão inafiançável.

Lembram de uma PEC da Mordaça? Sim, aquela que José Dirceu tentou aprovar, impedindo o Ministério Público de divulgar trechos de inquéritos contra políticos e autoridades? Pois bem, a Câmara dos Deputados também colocou essa mordaça no radar, e para ontem.

Na prática, vão inviabilizar a ação investigadora do Ministério Público. Seria melhor acabar com o MP, porque aprovada essa PEC do fim do mundo, o procuradores e promotores não teriam mais serventia.

DELAÇÃO PREMIADA – A Lei da Delação Premiada, inspiração da presidente Dilma Rousseff, que foi execrada e depois impichada por não ter vetado essa PEC da Delação está em vias de ser votada em regime de urgência, decretada por Arthur Lira, para acabar totalmente com a Delação Premiada, principalmente se o delator estiver preso. Se trechos da Delação forem vazados, o responsável pela investigação pode ser demitido, a bem do serviço público.

Se todas essas medidas draconianas passarem, ninguém mais vai ser preso no Brasil. Os advogados criminalistas estão rindo à toa, porque essas leis terão o condão de livrar seus clientes das grades e cárceres.

Medidas surrealistas, parece brincadeira, mas não é. Trata-se da realidade nua e crua. Estão tramando tudo isso aí. E há chances robustas de serem aprovadas. Votos, eles têm. Será que a sociedade brasileira vai fazer ouvidos de mercador e aceitar o que deputados e senadores querem aprovar goela abaixo, contra o país?

Na matriz USA e na filial Brazil, líderes ultrapassados não querem largar o poder

Lula e Biden firmam parceria por trabalho digno e pela democracia

Biden e Lula, presidentes com prazo de validade vencido

Carlos Newton

Uma das maiores vaidades humanas é manter a juventude. Ninguém quer ser velho nem parecer a idade de que tem, como se fosse possível esconder os efeitos da passagem do tempo. A moda atual é a harmonização, em que o cirurgião, num só procedimento, tira rugas, aumenta as maçãs do rosto, corrige o nariz, infla os lábios e até implanta cabelos, se der tempo, ufa!

Neste esforço de transformismo (sem conotação sexual), algumas pessoas ficam tão diferentes que não são reconhecidas por parentes e amigos. Outros nem dão essa sorte e morrem nas salas de cirurgia, por imperícia médica ou uso de material venenoso. As notícias são frequentes, mas não há repressão, porque no Brasil a Polícia tem mais o que fazer, é claro.

GILMAR É EXEMPLO – Na política, também se faz cada vez mais harmonização. E o procedimento a que se submeteu recentemente o ministro Gilmar Mendes se transformou em exemplo bem sucedido.  

A harmonização de José Dirceu com implante de cabelos também ficou ótima, e ele é experiente nisso, pois sua primeira operação plástica foi feita há cerca de 40 anos, para escapar da Polícia no tempo da ditadura.

Por insistência de Janja da Silva, até Lula entrou nessa onda. Aproveitou a longa duração da cirurgia para implantar parte do fêmur e fez uma reforma geral no rosto. O presidente adorou o resultado e disse que ficou “mais bonitinho”.

PÃO BOLORENTO – Diz o velho ditado: “Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento”. Na política, chega a ser patética essa luta para manter-se jovem, sem possuir espelho de Dorian Gray, e Brasília continua sendo a Ilha da Fantasia. Até o último suspiro, ninguém quer deixar o poder.

Lula perdeu as estribeiras e já promete chegar aos 120 anos, para disputar mais dez eleições, vejam a que ponto chega a vaidade. Nos Estados Unidos, os democratas insistem com Joe Biden, cuja validade está mais do que vencida. Se ganhar a eleição contra Trump, assume o novo mandato aos 82 anos.

O destrambelhado Trump é quatro anos e meio mais jovem, e isso pode fazer a diferença na eleição de novembro, que escolherá quem vai presidir nossa matriz USA.  

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P.S. –
Biden está em estágio semelhante ao de Lula, também troca o nome das pessoas e diz bobagens. Na polarização da matriz USA, fica difícil saber qual é o pior candidato. Exatamente como ocorre aqui na filial Brazil, onde Bolsonaro quer ser anistiado para enfrentar novamente Lula, e mais uma vez teremos de votar com o nariz tapado, porque o fedor da urna é sentido a centenas de milhas daqui, como diria Djavan. (C.N.)

Lira, Gilmar e a repentina urgência para proibir as delações premiadas de presos

Acordão: Lira e Gilmar apostam em projeto para substituir PEC do Supremo

Quando Lira e Gilmar se encontram, a República estremece

Mario Sabino
Metrópoles

Ah, a cronologia da semana de Arthur Lira. Ela tanto pode ser reveladora como levar a conclusões que ignoram a coincidência, aquela maneira que Deus achou para permanecer no anonimato, na frase apócrifa atribuída a Albert Einstein: “Deus não se importa quando é chamado de coincidência.

Se não, vejamos. Na terça-feira, dia 4, o presidente da Câmara foi ao aniversário do presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Pedro Lupion.

COM GILMAR – Os jornalistas Gabriel Sabóia e Victoria Abel reportaram que “um dos momentos mais celebrados da noite foi o encontro entre Gilmar e Lira, com um forte abraço e cochichos ao pé do ouvido, seguido de risadas”.

O ministro e o deputado foram indagados sobre o conteúdo da conversa. Gilmar Mendes respondeu que não passou de um “papo informal entre amigos”. Arthur Lira, por sua vez, disse que a conversa tratou de uma pauta séria, mas reservada.

Na quarta-feira, dia 5, um deputado do PV, Luciano Amaral, pediu a Arthur Lira a volta da tramitação de um projeto de 2016, de autoria do petista Wadih Damous, que proíbe a delação premiada de réus presos e prevê que nenhuma denúncia poderá ser fundamentada apenas nas declarações do delator.

ANTILAVAJISTA – Quando era deputado petista, Wadih Damous apresentou o projeto para tentar deter a Lava Jato, que estava ceifando o PT e avançava sobre Lula, mas não houve clima político para levar a estrovenga adiante.

Na quinta-feira, dia 6, Arthur Lira tira da cartola um requerimento de urgência para que a tramitação do projeto pule etapas e vá diretamente para a votação em plenário.

De repente, um projeto de 8 anos atrás, feito sob medida para salvar chefões do PT da Lava Jato, ganha urgência para salvar Jair Bolsonaro da delação de Mauro Cid. Há controvérsias sobre se, uma vez aprovado, os seus efeitos retroagem, mas não é difícil encontrar um jeito jurídico de se fazê-lo.

INTERESSE GERAL – O PT faz circular a história de que está constrangido com a volta de um projeto feito para socorrer Lula e que, agora, poderá salvar Jair Bolsonaro. Sei as aporias que existem na esfera das convicções morais. Mas elas não são inabaláveis porque a proposta interessa a (quase) todos no Congresso e nas suas imediações por inviabilizar o instituto da delação premiada.

Voltando ao início da cronologia, a noite da festa na qual Arthur Lira e Gilmar Mendes trocaram cochichos. Em 2019, o ministro, um dos carrascos da Lava Jato, disse que “a prisão do delator ou a delação feita por alguém preso, de fato, sugere uma tortura”. Desde então, ele vem batendo na mesma tecla.

O projeto que proíbe delações de presos é uma pauta séria, reservada. Mas a sequência cronológica desta semana deve ser só coincidência, a maneira que Deus achou para permanecer no anonimato.

Há algo de errado, e o governo Lula está passando a impressão de um vazio inútil

Incapaz de se defender, Lula foge do tema corrupção como o diabo foge da  cruz

Lula não conseguiu dar uma sintonia a seu terceiro mandato

Janio de Freitas
Poder360

A memória dos dois primeiros governos Lula da Silva é, paradoxalmente, um peso sobre o terceiro. Eufórico e inovador na política social e nas relações externas, mas conservador na política econômica, o primeiro governo criou, em pouco tempo, um ambiente otimista que envolveu as velhas hostilidades a Lula e ao PT.

Era natural que a expectativa para o terceiro mandato, explícita ou não, fosse moldada pela memória dos dois primeiros. O ambiente não corresponde ao esperado. Com evidência até mais forte do que as indicações de várias pesquisas.

POUCA HOSTILIDADE – Excetuados os extremistas evangélicos/bolsonaristas, não há hostilidades que ajudem a explicar o cenário. Nem mesmo por parte da mídia, onde a oportunidade de oposição vantajosa ainda não é agressiva, ensaia nos limites da animosidade. Não é por aí.


O governo decepciona. O fato de não ter sido formulada não implica em negar à decepção a força de principal ingrediente no desgaste do governo e do próprio presidente. Tanto na conceituação pública como no Congresso. O reflexo desse enfraquecimento recai, antes de tudo, no governo mesmo.

A recusa do Congresso a dois vetos parciais do presidente a aprovações do Legislativo está tratada pela mídia com escândalo: derrota arrasadora de Lula e do governo.

LISURA NAS ELEIÇÕES – Com isso, não foi dito que grande maioria derrubou o veto que restabeleceria uma providência importantíssima para a lisura das disputas eleitorais.

Bolsonaro, em confissão indireta, vetara a penalização judicial da prática de fake news, as falsidades contra candidatos, nas campanhas eleitorais. Senadores e deputados, por motivo óbvio, preferiram proteger a calúnia criminosa com finalidade eleitoral. Lula e o governo foram derrotados, sim. Tal como se dá nas costumeiras apreciações de vetos, e de outras vezes com aprovação. “O problema é na pauta de costumes”, dizem, por contrariarem os evangélicos e o conservador Centrão.

A realidade, porém, é que as aprovações têm custo muito alto para o governo. Duas vezes. Na primeira, pela exigência extorsiva para a aprovação. Na outra, pela concessão, em cargo ou ato, negativa para o governo.

DENTRO DO GOVERNO -As dificuldades não são menores nem dentro do governo. Fina ou grossa, não há sintonia. Nem poderia haver, com a disparidade no alto nível composto, em grande parte, sem critério sequer razoável, por indicações originárias do Congresso com fins impróprios.

O governo inspira a impressão de um vazio inútil, em cujo entorno uns poucos se movem. Destes até vêm resultados, no entanto, distantes da percepção pública. Neste ano, não considerado maio, foram criados quase um milhão de empregos legalizados, a inflação está desarmada, a educação infantil avançou, e nem isso se salva da decepção.

Remodelar o governo e dar-lhe vida é necessidade elementar de Lula. O ambiente amorfo começa a atingir os êxitos e perspectivas da política econômica, um sinal claro. Mas remodelação ao gosto dos arthurliras os decepcionados dispensam.

Avanço da direita na Europa dá força ao racismo e ao nacionalismo

Marine Le Pen, política francesa, do partido de extrema direita Rassemblement National -- Metrópoles

Marine Le Pen, da extrema-direita, comemora sua vitória

Mario Sabino
Metrópoles

Não é insondável a explicação para o avanço da extrema direita na França e na Alemanha, os dois grandes países da Europa Ocidental, como se verificou pelo resultado das eleições para o Parlamento da União Europeia nesse final de semana. Os cidadãos estão com medo, e o nacionalismo, bem como tudo que se associa a ele, é o primeiro refúgio dos ameaçados.

Há o medo do radicalismo religioso nas comunidades muçulmanas já estabelecidas e do risco que isso representa para a identidade cultural, a estabilidade política e a segurança dos cidadãos. Há o medo da imigração ilegal ou desenfreadamente legal — e, não sejamos hipócritas, há o medo da criminalidade que resulta delas. Tudo somado, a percepção é a de que há um contínuo esgarçamento do tecido social.

RACISMO DE VOLTA – Na Alemanha, onde a extrema direita conquistou o segundo lugar nas eleições europeias, a polícia contabilizou a relação entre imigração e crime. O dado objetivo foi divulgado pela ministra do Interior, que pertence ao partido social-democrata do chanceler Olaf Scholz — ou seja, de centro-esquerda. Não se pode acusar social-democratas de xenofobia e racismo.

No ano passado, 923 mil delinquentes de origem estrangeira foram responsáveis por 41% dos crimes na Alemanha. Em relação ao ano anterior, houve um crescimento de 5,5% da criminalidade, em geral, e de 8,6% nos crimes violentos.

Na França, onde a extrema direita teve uma vitória acachapante, não é diferente. Os indicadores de criminalidade pioraram em 2023. Dezessete por cento de todos os crimes cometidos no país foram cometidos por estrangeiros, que compõem apenas 7,8 da população.

CRIMINALIDADE – No caso de determinados crimes, essa desproporção chega a ser de 4 a 5 vezes maior. Os estrangeiros são 40% dos indiciados por roubos em veículos (em 2016, eram 18%), 38% pela invasão de apartamentos e casas (12 pontos percentuais a mais do que há 8 anos) e 31% por assaltos violentos sem armas (10 pontos a mais).

Os estrangeiros de origem africana, inclusive Argélia, Líbia, Marrocos, Mauritânia e Tunísia., sem contar os que têm dupla nacionalidade, são 3,5% da população francesa. No entanto, eles respondem por 39% dos crimes cometidos no transporte público. Números do serviço de estatísticas oficial, repita-se.

Sim, a criminalidade na Europa não se compara à de países como o Brasil, mas há de se levar em conta os diferentes limites de tolerância. Para um francês e um alemão, os limites já estão sendo ultrapassados.

DIREITA, VOLVER – Na França, o avanço da extrema direita se explica também pela irritação crescente com Emmanuel Macron na pessoa física. O inquilino do Palácio do Eliseu, antecipando o desastre, tentou dar uma guinada à direita nos temas mais sensíveis. Foi um movimento esperto, mas fraco e tardio. Não convenceu.

Ato absolutamente legítimo, milhões de franceses usaram o seu voto como instrumento de protesto contra o “macronismo”. Votaram no partido daquela que foi a maior antagonista de Emmanuel Macron nas duas eleições presidenciais disputadas e vencidas por ele.

BICHO-PAPÃO – Emmanuel Macron aposta que conseguirá montar uma coalizão suficientemente forte para derrotar Marine Le Pen e o jovem Jordan Bardella, além de outros expoentes do campo adversário, como Éric Zemmour.

Para tanto, o presidente francês e os políticos de centro-direita e de centro-esquerda pintarão com tintas ainda mais fortes a extrema direita como um bicho papão capaz de destruir a França, a Europa, a democracia — e como aliada da Rússia de Vladimir Putin (o que não é inteiramente verdade, nem completamente mentira). E eles ainda têm pela frente a extrema esquerda do malucão, com método, Jean-Luc Mélenchon.

A questão será encontrar o ponto ideal para não demonizar o extraordinário número de eleitores que votou no Rassemblement National e no Reconquête.

Na avalanche de trevas, Tarcísio faz apologia das escolas cívico-militares

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Charge do Junião (Arquivo Google)

Muniz Sodré
Folha

Uma avalanche é feita do acúmulo de pequenas coisas, físicas ou mesmo morais, que convém esmiuçar para estimativa dos riscos. Foi assim obsceno, coisa de fazer tremer a compostura do espírito público, o prognóstico do governador paulista sobre escolas cívico-militares: daqueles alunos poderá surgir no futuro um novo Bozo.
Não é, aliás, a primeira vez que se pode pensar em obscenidade como categoria aplicável a esse político.

Foi como o jornal inglês “The Guardian” se referiu a uma das famigeradas motociatas em que Tarcisio de Freitas, em plena pandemia, subiu na garupa presidencial.

UMA CENA CRUA – Obscenidade, na acepção dada pela crítica pós-modernista da cultura, não faz referência à pornocultura, mas à ausência das mediações socialmente requeridas para a apresentação de fatos sensíveis da vida. É a cena crua, exibida sem véus. Algo pertinente aos tempos de estupidez sistêmica em que se rompem limites para proliferação de discursos alheios à verdade e ao consenso.

Não se consultaram famílias para saber se elas confiariam seus filhos a uma escola que tivesse como bedel ou professor um misógino, homofóbico, fetichista armado, expulso do exército, cujo ídolo é o único torturador condenado pela Justiça brasileira.

No entanto, o governador do estado mais opulento da federação pode declarar, sem qualquer mediação pedagógica ou comunitária, que a excelência educacional de jovens será aferida pelo padrão desse mesmo indivíduo,

ENGANAÇÃO TOTAL – “Os homens querem ser enganados”, dizia Ernst Bloch (O Princípio Esperança), mas ainda havia abrigos contra a mentira.

A obscenidade, entretanto, tipifica a falência da representação mediadora, portanto, da razoabilidade que lastreia bem ou mal as instituições.

Entrou-se no ciclo radioativo do vazio de sentido. A regra do tudo dizer nas redes é obscena por seu anonimato. O mesmo acontece de viva voz, porém, quando uma autoridade anuncia candidamente a pais e mães que o futuro de seus filhos será moldado pelo binômio fascista das armas e do retrocesso ideológico. Acrescenta-se escola ao ecossistema digital da mentira.

SPRAY DE PIMENTA – Obscenamente, para muito além do que supunha a pedagogia de Émile Durkheim, equacionou-se o problema da disciplina: spray de pimenta e algemas. É o que já ocorre em escolas cívico-militares paulistas, agora avalizadas por lei. A famílias às voltas com naturais dificuldades de seus adolescentes, isso pode parecer de somenos. Mas é também matéria de avalanche moral, já pressentida.

Na mentalidade plástica do jovem, disciplina militarizada, ainda mais sem a finalidade institucional do exército, é manufatura de hostilidade à consciência civil e de enrijecimento humano na mobilidade social: pedagogia para autômatos, desinteligência degenerativa. A avalanche por vir será feita de trevas.

Único projeto capaz de unir a Câmara é achacar o presidente da República

Charge

Charge do Son Salvador (Correio Braziliense)

Mario Sabino
Metrópoles

Há coisa mais irritante do que esse noticiário que trata das costuras para a eleição de presidente da Câmara? Quinta-feira, noticiou-se que Jair Bolsonaro apoiará o “candidato do Lira” para a sucessão no comando da Câmara — que só ocorrerá em fevereiro de 2025. Temos pela frente, portanto, oito meses de irritação.

NADA MUDARÁ – Quem seria o candidato de Arthur Lira? A imprensa fornece os seguintes nomes: Elmar Nascimento, Antonio Brito, Marcos Pereira, Isnaldo Bulhões, Hugo Motta, Doutor Luizinho, Aguinaldo Ribeiro.

Uns estão mais próximos do atual presidente da Câmara (o primeirão é Elmar), outros mais distantes (o azarão é Aguinaldo). O que vai mudar se qualquer um deles for eleito para suceder Lira? Nada.

Não se sabe qual é a ideia de país de cada um dos concorrentes, e isso nem sequer é assunto nas reportagens publicadas sobre a disputa. É porque eles não têm ideia nenhuma, assim como a maioria esmagadora dos seus colegas.

PROJETO ACHAQUE – A visão de Brasil dessa gente não ultrapassa os limites do seu próprio arraial. No Senado, é a mesma coisa.

O único projeto nacional da Câmara é achacar o presidente da República, não importa quem seja ele — e os últimos inquilinos do Palácio do Planalto sempre estiveram excessivamente expostos ao achaque.

Na sucessão de Arthur Lira, embute-se a anistia a Jair Bolsonaro. Quem quiser ficar com o cargo terá de prometer aos partidários do ex-presidente que levará o projeto de anistia adiante. Essa é a moeda de troca que o PL exige para dar apoio aos candidatos.

ANISTIA EM PAUTA – O projeto de anistia de Jair Bolsonaro também servirá para achacar o presidente da República. Mas, como eu já disse, pode ser até que Lula veja com bons olhos a volta do seu adversário à cena eleitoral. Repetir em 2026 o segundo turno da eleição de 2022, apostando em polarização mais nítida, talvez seja o melhor cenário para o petista desidratado de popularidade.

Já que tanto faz como tanto fez, sugiro aos deputados que tenham como critério de escolha um nome indubitavelmente nativo. É para ornar melhor com o ecossistema.

Sobrariam Elmar, Isnaldo e, bem, Doutor Luizinho. Entre os três, eu escolheria Isnaldo. Vai dar super certo. Ou seja, não vai mudar nada.

Ganso está jogando demais e deveria ser lembrado para a seleção brasileira

Ganso no São Paulo? Estafe do jogador consultou o time paulista

Belas atuações de Ganso deslumbram os torcedores do Flu

Vicente Limongi Netto  

Fluminense tem bom time. Não é inferior, tecnicamente, a nenhum time brasileiro. Ganso comanda a equipe. Nosso excepcional maestro. Sabe tudo. Considerado gênio pelo técnico Fernando Diniz. E é mesmo. Cabeça erguida, sabe os atalhos do campo. Antes da bola chegar nele, já sabe o que fazer com ela.

A bola vibra com o carinho do craque Ganso, que descobre buracos para enfiar bolas açucaradas para os atacantes. Ou para os laterais, que também sabem jogar e concluir jogadas. Deveria, inclusive, merecer chance na seleção. Dorival Junior conhece o valor dele. Da lucidez que impõe no meio de campo.

Chegou a hora do Fluminense reagir, vencer jogos no Brasileirão. Fica feio para um time grande ficar na rabiola da tabela. Vamos melhorar muito com a chegada do Thiago Silva. Apelidado de “monstro”, com razão. Começou no Fluminense, cresceu, foi embora. Enricou, fez por merecer, trabalhou para isso. Volta a Laranjeiras.

Felicidade raiando no elenco. Torcida feliz. Recebido com justo carinho. Não exagero avaliar que Thiago Silva tem futebol, saúde e categoria, para ser lembrado por Dorival Junior para a seleção.

Voltando ao fluminense:   Creio que o problema do time é exatamente no miolo da zaga. Felipe Melo é guerreiro. Sabe jogar. Impõe respeito. Mas quando começa a bater, sai da frente. Com o tempo, Diniz, acredito, colocará Martinelli ao lado de Thiago Silva. Há quem prefira Marlon. Vacila muito. Saídas de bola lá atrás estão deixando o torcedor aflito. Fábio, calejado goleiro, anda entregando a rapadura para os adversários.

SEM RACISMO – Exemplar, digna de elogios e aplausos, a condenação de três ordinários racistas que insultaram Vini Júnior, no jogo do Real Madrid com o Valência, válido pelo campeonato espanhol.

Pegaram 8 meses de cadeia e estão proibidos de ir a estádios por dois anos. Que isso lhes sirva de lição.

Governo e STF patrocinam a trapaça de restringir a liberdade de expressão

Gilmar Fraga: liberdade de expressão | GZH

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)

J.R. Guzzo
Estadão

Nada deixa tão fora de si o atual governo, o judiciário superior e a elite que se considera “politizada” do que a liberdade de expressão. Da mesma forma como a ditadura militar, 60 anos atrás, ficava transtornada com a “subversão”, os que mandam hoje no Brasil têm certeza de que o “uso errado” do direito à livre manifestação é o pior problema que o País tem pela frente.

Estamos de volta ao tempo da saúva: ou o Brasil acaba com a liberdade de expressão, ou a liberdade de expressão acaba com o Brasil. Como não podem dizer, logo de uma vez, que o cidadão deveria ser proibido de falar o que pensa, dizem que pode haver liberdade, sim, desde que fique nos limites autorizados por eles.

VALOR ESSENCIAL – A liberdade de manifestação, no Brasil, deixou de ser um valor – e um elemento essencial da democracia. Passou a ser tratada como um produto que tem tantas contraindicações, e tantos perigos, que sua utilização só deve ser permitida pelas autoridades competentes, com muito critério, e sob vigilância sanitária permanente. Não existe mais, na verdade, a liberdade de expressão no formato original.

Só é permitido dizer “liberdade de expressão”, pelo que se deduz das instruções baixadas pelos ministros do STF a cada vez que falam no assunto, em uma situação: se for dito, ao mesmo tempo, que ela tem “limites”. Não é “absoluta”. Não pode causar problemas. Não deve ser usada sem prescrição superior. Basicamente, não deve ser livre.

Toda essa conversa está armada em cima de uma trapaça fundamental: a premissa de que a liberdade de expressão deve ser racionada porque não é possível aceitar uma “terra de ninguém”, onde todo mundo tem direito a cometer qualquer tipo de selvageria com o uso da palavra. É mentira.

EXISTEM LIMITES – A liberdade de manifestação não é, e nunca foi, uma licença para se fazer o mal. É o contrário. A lei brasileira proíbe, e pune como crime, a calúnia, a injúria e a difamação – e explica, com clareza absoluta, o que é cada coisa dessas. O fato é que não existe nenhum delito sem punição nos abusos praticados através da liberdade de expressão.

A lei proíbe a prática verbal do nazismo, racismo e qualquer outro preconceito; proíbe falas de incentivo ao crime, o apelo à desordem e a pregação de golpes de Estado. E a ofensiva contra a liberdade de expressão se disfarça atrás da indignação oficial diante das “fake news”, a “mentira” e a “pregação do ódio”.

Há um problema insolúvel, aí. Nenhuma dessas condutas é definida pela lei – e não existe crime que não esteja descrito objetivamente na lei. A ordem que querem é a desordem legal – um mundo escuro em que o Estado, e não a Constituição, decide o certo e o errado.

Entenda os fatores que já preocupam Bolsonaro no crescimento de Tarcísio 

Se for anistiado, Bolsonaro terá apoio de Tarcísio na eleição

Bruno Boghossian
Folha

Como tantos conflitos internos do bolsonarismo, este ganhou a luz do dia com uma postagem caótica de Carlos Bolsonaro. No fim de maio, ele se queixou de quem fala em sucessão na direita sem considerar um possível retorno do pai às urnas em 2026. Chamou o movimento de “oportunista” e disse que a intenção era enfraquecer o ex-presidente.

A lavagem de roupa suja ganhou a adesão de agitadores e personagens influentes do grupo. O valentão Silas Malafaia disse que Bolsonaro deveria “dar uma prensa” em Tarcísio de Freitas, que se mexe para ser a alternativa ao ex-presidente. Michelle Bolsonaro criticou aqueles que tentam “acelerar o processo” e reduzir a importância do marido.

ACEITAÇÃO DE TARCÍSIO – A fúria tem relação direta com passos recentes dados pelo governador paulista. Os aliados mais fiéis de Bolsonaro entendem que a consolidação de Tarcísio como opção para 2026 e sua aceitação por um grupo mais amplo do que o núcleo do bolsonarismo limita a margem de ação política do ex-presidente.

A naturalidade com que a candidatura do governador passou a ser tratada em segmentos da direita atrapalha dois planos de Bolsonaro.

O primeiro é o sonho de reverter sua inelegibilidade e concorrer ao Planalto. O segundo é o controle sobre uma eventual transição para Tarcísio, exercendo influência quase absoluta sobre o afilhado.

ABRIU A PORTA? – Bolsonaristas trabalham com a convicção de que certas elites trocaram o ex-presidente por Tarcísio e com a impressão de que o governador abriu essa porta.

Os mais raivosos também reclamam que o ex-ministro de Bolsonaro vem buscando se firmar com acenos a um trio que incomoda o padrinho: Alexandre de Moraes, a TV Globo e Gilberto Kassab. Tarcísio defendeu uma aproximação com o ministro do STF, jantou com o apresentador Luciano Huck e tem o presidente do PSD como operador político.

As piores desconfianças de Bolsonaro recaem sobre o perfil de Tarcísio como candidato e, eventualmente, como governante. O ex-presidente quer um sucessor que abrace suas guerras, garanta sua blindagem e, acima de tudo, ofereça acesso irrestrito ao poder.

Aliados veem Lula sem disposição e sem paciência para disputar eleição em 2026

Lula garante recursos ao RS e anuncia lançamento de PAC voltado a encostas  | Jovem Pan

Lula tenta demonstra10r uma disposição que não mais existe

Sérgio Roxo
O Globo

Em seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem deixado transparecer uma falta de paciência incomum para as rotinas do dia a dia do governo e para os rituais da política, de acordo com a percepção de aliados históricos do líder petista. A avaliação é que essa postura tem se refletido nas dificuldades na relação com o Congresso, que ficaram evidentes mais uma vez em série de derrotas no Congresso.

Ao contrário do que fazia na sua passagem pelo Planalto entre 2003 e 2010, Lula tem evitado almoços e jantares com parlamentares. Também frequentes nos dois primeiros mandatos, os happy hours com políticos hoje são raros. Até os jogos de futebol e churrascos na Granja do Torto foram deixados de lado.

ATÉ NAS VIAGENS – O líder petista, ainda segundo aliados, também mostra menos disposição para levar deputados e senadores em suas viagens pelo país, outra prática que adotava no passado. Em 15 de maio, por exemplo, Lula foi ao Rio Grande do Sul para anunciar medidas para amenizar o impacto da tragédia provocada pelas chuvas, mas os congressistas do estado não embarcaram no avião presidencial com ele.

Praxe nos dois primeiros mandatos, a reunião de coordenação política às segundas-feiras para planejar as ações da semana havia sido descartada pelo petista e só foi retomada agora, diante das incertezas na relação com o Parlamento. Segundo integrantes do governo, numa decisão pouco compreendida inclusive pelos mais próximos, Lula se negava a seguir essa rotina.

Questionada sobre os relatos de impaciência de Lula para as costuras políticas, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) disse que não comentaria.

CRISES COM CONGRESSO – Assim como aconteceu em outros momentos em que as dificuldades do governo no Congresso ficaram mais evidentes, Lula anunciou a auxiliares que pretende agora se dedicar mais à articulação política. Mas o movimento é visto com ceticismo no Planalto, justamente porque ao longo deste terceiro mandato o presidente já havia assumido esse compromisso outra vezes.

Entre o fim de fevereiro e o começo de março, Lula organizou dois happy hours no Palácio da Alvorada, um para lideranças de partidos da base do Senado e outro para lideranças da Câmara. A promessa, na ocasião, era tornar esse tipo de encontro frequente, mas isso não aconteceu.

Na avaliação de um ministro de mandatos anteriores, Lula melhoraria a boa vontade do Congresso em relação ao governo se reservasse um tempo para “dar carinho” aos políticos. Mesmo que, aos 78 anos, não tivesse disposição para esticar a noite em jantares, poderia receber os parlamentares para conversas no próprio Palácio do Planalto, na opinião desse ex-auxiliar.

NÃO FAZ POLÍTICA – Nas palavras de um outro aliado, na comparação com os seus dois primeiros mandatos, Lula agora abandonou a política e tem se dedicado a maior parte do tempo às atividades institucionais da Presidência.

Em novembro de 2004, no segundo ano da primeira passagem de Lula pelo Planalto, o PMDB, maior partido aliado do PT, ameaçava deixar a base.

O presidente, então, em um espaço de cinco dias, participou de um jantar com a bancada de senadores do partido e de um almoço com a bancada de deputados. Houve disputas internas, mas, ao fim, o apoio ao governo foi mantido.

UM OUTRO LULA – Amigo e um dos principais conselheiros de Lula, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse em entrevista ao GLOBO que, “evidentemente”, o Lula dos mandatos anteriores era outro:

“Ele passou um ano e pouco preso, viu gente comemorar a morte da esposa (Marisa Letícia, ex-primeira-dama, em 2017)… O cara tem alma, não é de ferro”.

A falta de paciência tem feito com que aliados coloquem em dúvida a disposição do presidente de concorrer à reeleição. O sentimento de que o petista não tentará um quarto mandato cresceu, nos últimos meses, no círculo mais próximo do presidente, apesar de Lula, quando questionado, reafirmar a intenção de estar novamente nas urnas e destacar o seu bom estado de saúde.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Conforme temos comentado aqui na Tribuna, o presidente está com prazo de validade vencido. Não adianta o marqueteiro inventar fake news de que Lula se exercita e corre todos os dias, não adianta o próprio Lula dizer que está inteiro e vai disputar eleição até os 120 anos, não adianta fazer plástica, implantar cabelo e esticar as pelancas do rosto… A idade não perdoa e Lula não tem mais paciência e disposição para fazer política. Assim, os analistas precisam raciocinar diante dessa realidade. Sem Lula, o que será do PT? (C.N.)

Maior facção criminosa do Brasil já atua em 24 países e possui 40 mil membros ativos

PCC envia drogas aos cinco continentes

Pedro do Coutto

O consumo de drogas vem subindo de forma assustadora em todo o mundo, conforme revela a reportagem de O Globo de ontem. O PCC, maior facção criminosa do Brasil, revela a matéria, já atua em 24 países, possui mais de 40 mil membros e envia drogas para os cinco continentes. Com origem em São Paulo, a organização expandiu significativamente a sua influência e operações internacionais.

A poderosa rede criminosa, com cerca de 42 mil integrantes, tem representantes em diversas partes do mundo, incluindo os Estados Unidos, a Europa e o Oriente Médio, ligações com grupos mafiosos internacionais, como o clã Šaric da Sérvia e a ‘Ndrangheta da Itália.

TRÁFICO – O faturamento anual da organização é estimado em pelo menos US$ 1 bilhão, com 80% vindo do tráfico internacional de drogas. A facção começou a ganhar força após o Massacre do Carandiru, que deixou 111 presos mortos. Inicialmente focada em apoiar presos e suas famílias, a organização rapidamente se voltou para atividades criminosas lucrativas. A expansão do PCC incluiu a profissionalização do tráfico de drogas, utilizando portos brasileiros para enviar cocaína ao exterior.

É importante destacar que para o PCC ter chegado a essa imensa estrutura internacional, evidentemente teve que montar uma grande rede de convivência que permite o abastecimento aos mais diversos lugares do mundo, envolvendo para isso muitos casos que levam à morte de inúmeras pessoas, seja pelo consumo de drogas, quanto pela disputa desses mercados.

E, apesar do caráter ilegal, registra-se o avanço progressivo do comércio de entorpecentes pelos vários continentes. Impressionante é que são dezenas os países afetados pelas atividades criminosas e em todos as providências aparentam ser em vão, já que as teias da bandidagem continuam a crescer em escala internacional.

LISTA DE BLOQUEIOS – A capacidade da facção criminosa de operar em mercados de várias partes do planeta chamou a atenção do governo americano. Em 2021, o PCC foi incluído em uma lista de bloqueios da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) A facção também lavava dinheiro através de atividades lícitas e tinha ligações com o Estado em cidades de São Paulo. Além disso, a diversificação das operações da organização criminosa incluiu o uso de diferentes métodos para despachar drogas e a exploração de novos portos.

Um dos piores caracteres dessa expansão de envenenamento é o seu avanço que sintetiza um aumento desvairado do consumo e, com ele, todos os problemas decorrentes que incluem a aniquilação de pessoas e um processo terrível de cooptação de autoridades que deveriam desencadear uma luta contra os entorpecentes, mas que termina se mostrando ineficaz, o que aumenta o perigo progressivamente.

João Cabral, um poeta que se inspirava até na hora de catar feijão…

Nenhuma descrição de foto disponível.Paulo Peres
Poemas & Canções

O diplomata e poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999) utilizou em sua obra poética desde a tendência surrealista até a poesia popular, porém caracterizada pelo rigor estético, com poemas avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, inaugurando, assim, uma nova forma de fazer poesia no Brasil.

Segundo Vânia Duarte, graduada em Letras, “o poeta apresenta em sua obra duas linhas-mestras: a metapoética e a participante. A linha metapoética abrange os poemas de investigação do próprio fazer poético. E a participante é aquela que tem como tema o Nordeste, com todos os problemas voltados para a questão social, tais como a miséria, a indigência, a fome, e esta temática está retratada no seu famoso poema “Morte e Vida Severina”, que revela a história de um retirante de 20 anos que sai em buscas de melhores condições de vida.” 

CATANDO FEIJÃO
João Cabral de Melo Neto

Catar feijão se limita com escrever:
Jogam-se os grãos na água do alguidar
E as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.

Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

Ora, nesse catar feijão entra um risco,
o de que, entre os grãos pesados, entre
um grão imastigável, de quebrar dente.

Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco.