Pedro do Coutto
A verbalização na política, e até em todas as relações humanas, pode definir uma situação verdadeira, mas gera impactos e cria uma outra realidade, evidentemente não desejada por quem a comete. É o caso do presidente Joe Biden ao dizer durante uma entrevista coletiva que o líder chinês Xi Jinping é um ditador.
Ele respondeu a uma pergunta confirmando a declaração feita no passado sobre o presidente chinês. Mas, numa falha enorme, não considerou, pelo que se pode compreender ao interceptar o episódio, a visita que o líder de Pequim estava realizando nos Estados Unidos.
CONVERGÊNCIA – A afirmação, claro, reflete a verdade. Mas nem todas as verdades podem ou devem ser repetidas ou enfatizadas em todas as situações. Os entendimentos entre os Estados Unidos e a China tinham convergido para pontos comuns nos últimos dias.
Não quero dizer que tais pontos sofrerão alteração ou consequência, mas ficou evidente o mal estar estabelecido, dando margem às desconfianças quanto ao comportamento do presidente Biden em outras situações, sobretudo porque ele disputará a reeleição em 2024.
Poderia ter contornado a pergunta e evitado verbalizar uma situação evidentemente real. Mas o real, no momento, era absolutamente impróprio. São lapsos cometidos por autoridades que em função da importância do cargo ganham uma dimensão muito ampla e podem funcionar como freio a objetivos maiores. Na política não adianta perseguir-se o ideal porque este não existe.
DÉFICIT ZERO – Outro exemplo de verbalização que sensibiliza o tema déficit zero, no Brasil, foi feita pelo ministro Fernando Haddad, de acordo com ampla reportagem de O Globo desta sexta-feira, de Camila Turtelli, Alice Cravo, Sérgio Roxo, Alvaro Gribel e Bernardo Lima.
Haddad disse que a meta do déficit zero será mantida até março do próximo exercício. Deixou no ar, portanto, a existência de uma forte hipótese de em março futuro a meta ser alterada. Na Folha de S. Paulo, a reportagem, também bastante ampla, é de Renato Machado e de Idiana Tomazelli.
SELEÇÃO – Foi um desastre a atuação da seleção brasileira de futebol, na noite de quinta-feira, ao ser derrotada por 2×1 pela Colômbia. O treinador Fernando Diniz falhou na condução tática da equipe e nas substituições em série que realizou. Aliás, não só na parte técnica, mas também na convocação dos jogadores.
Agora, enfrentaremos a Argentina na terça-feira no Maracanã. Pessoas da minha família que desejavam ir ao estádio ficaram perplexas com o valor dos ingressos. Uma cadeira à margem do gramado teve o seu preço fixado em R$ 2600. Os ingressos de menor valor já estavam esgotados. É incrível.