Monica Gugliano
Estadão
Está a todo vapor o laboratório no Palácio dos Bandeirantes com o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à frente dos testes que têm funcionado como amostragem das chances de cada a um dos possíveis postulantes da centro-direita ao Palácio do Planalto em 2026. E desembaraço é o que não tem faltado a Freitas.
Além da agenda de entregas e de procurar transitar por todos os setores do espectro político, o governador tem emitido suas opiniões sem constrangimento. Com justificativas variadas, se reaproxima de antigos aliados, como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a quem homenageou quarta-feira com um jantar no Palácio dos Bandeirantes, logo após a entrega do Colar do Mérito Legislativo.
NEGAM ESPECULAÇÕES – Segundo reportagem de Amanda Puppo e Heitor Mazzoco, no Estadão, Campos Neto e Freitas negam especulações de que poderiam ter algum projeto em comum. O primeiro costuma dizer que não sabe ainda o que fará após terminado seu mandato à frente do Banco Central (ao final este ano).
Tarcísio, por sua vez, mantém firme o discurso de que pretende disputar a reeleição em São Paulo, conforme combinado com seu padrinho, o ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível até 2030.
O problema é que Tarcísio, com gestos e palavras, tem conseguido desagradar gregos e troianos, ou melhor, bolsonaristas e petistas.
JEITO CONCILIADOR – Os bolsonaristas, incluindo o ex-presidente, não estão gostando nem um pouco da desinibição e do jeito conciliador de Freitas. Há poucos dias ele incomodou as tropas do ex-presidente por se declarar “agradecido” à ex-presidente Dilma Rousseff. Ele foi diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no governo da petista.
Ao mesmo tempo, no PT cresce a desconfiança de que Campos Neto é um “inimigo infiltrado” em um dos postos mais estratégicos da Nação.
A especulação de que o presidente do BC teria ligações com o bolsonarismo e com o governador de São Paulo é fonte de críticas e as elucubrações aumentaram depois da última reunião do Copom que reduziu o ritmo dos cortes da Selic.
BOM MOMENTO – Mas, apesar de críticas e admoestações, Tarcísio está em um bom momento. Não só entre seus possíveis adversários da centro-direita, como em relação ao governo Lula.
Já o governo Lula, apesar dos bons índices econômicos, não tem conseguido passar essa impressão de bem estar à população e as pesquisas de opinião mostram um governo com muitos problemas. E não só na comunicação. Mas com um ministério fraco que não diz a que veio. E nessa relação se sobressaem Nísia Trindade (Saúde), Camilo Santana (Educação), André Fufuca (Esporte), Celso Sabino de Oliveira (Turismo), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação) e outros.
Ainda tão longe da escolha do próximo presidente e tendo as eleições municipais pela frente, Tarcísio pode ir bem se tomar cuidado com o que diz e se escapar ileso da praga que atinge todos os governadores de São Paulo que deixam o cargo sem concluir o mandato para concorrer à presidência da República: entre os últimos nenhum conseguiu se eleger.