Carlos Newton
Ao afirmar em depoimento à Polícia Federal que somente ficou sabendo da existência das joias sauditas milionárias em dezembro de 2022, mais de um ano após elas terem chegado ao país, o presidente Jair Bolsonaro indicou aos investigadores que o então ministro das Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque teria tentado roubar as joias e os outros presentes recebidos da Arábia Saudita.
Segundo sua defesa, Bolsonaro até disse que não se lembra de quem o avisou da apreensão das joias pela Receita Federal, o que é bastante estranho, pois teria ocorrido recentemente, em dezembro.
O QUE SE SABE – Faltam detalhes importantes, há muitos indícios a serem considerados. Porém, com toda a certeza, sabe-se que o almirante tem culpa no cartório. Foi ele quem recebeu as caixas de presentes – dois estojos de joias, um masculino e outro feminino, além da estatueta equestre de ouro.
Na viagem de volta, ficou com o estojo masculino e entregou ao assessor Marcos Soeiro o outro estojo de joias femininas e a estatueta de ouro, além de uma série de presentes de menor valor, o que até obrigou o assessor a pagar excesso de bagagem.
É evidente que foi o então ministro que mandou o assessor quebrar a base da estatueta de ouro para que a peça pudesse caber na mochila. Nenhum assessor de ministro quebraria uma valiosa estatueta de ouro sem ordem expressa do chefe. Mas como o almirante poderia mandar quebrar uma estatueta de ouro que nem lhe pertencia? Ele só podia estar à deriva e prestes a naufragar.
GUERRA DE EXTERMÍNIO – Na verdade, o único envolvido que se pode dizer que não está mentindo é justamente o assessor Marcos Soeiro, um militar que apenas cumpria ordens diretas do almirante e poderá contar aos federais, detalhadamente, tudo o que aconteceu nas Arábias.
Ou seja, está se travando uma guerra de extermínio entre o capitão Bolsonaro e o almirante Albuquerque, que terá de depor novamente para tentar desmentir o ex-presidente e ex-amigo Bolsonaro.
O militar, que hoje é do Conselho de Itaipu e ganha cerca de R$ 30 mil sem trabalhar, precisa provar que Bolsonaro sabia das joias desde sempre e agora mentiu à Polícia Federal ao dizer que só tomou conhecimento da existência delas em dezembro de 2022. E isso será até fácil.
BOLSONARO MENTIU – O Estadão descobriu que foram feitas oito tentativas de tirar as joias da Receita, a primeira delas logo após a apreensão, ainda em outubro de 2021, quando o gabinete de Bolsonaro enviou um ofício ao Ministério de Minas e Energia sobre a necessidade de destinação das joias para a presidência.
Houve três tentativas do Planalto em 2021 e até o Itamaraty foi acionado para tentar liberar as joias naquele ano. Ou seja, Bolsonaro sabia da existência das joias logo que foram apreendidas.
Mas ao depor ele disse que não sabia. Portanto, acusou indiretamente o almirante Bento Albuquerque de ocultar o recebimento das joias, para se apossar delas, em benefício próprio.
O ALMIRANTE, TAMBÉM – Em seu primeiro depoimento à PF, o almirante também mentiu abertamente, ao dizer que desconhecia o conteúdo dos pacotes e que os presentes seriam para a União.
Essa versão contrasta com a declaração que o próprio almirante deu aos fiscais da Receita, em 26 de outubro de 2021, quando afirmou que as joias eram para Michelle Bolsonaro.
Além disso, ao contrário do que disse ao depor, ele também sabia o que os pacotes continham, porque entregou pessoalmente as joias femininas e a estatueta para o assessor Marcos Soeiro levar na mochila.
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P.S. 1 – Bolsonaro não terá como provar que nada sabia sobre as joias até dezembro de 2022. Aliás, é estranho também que não se lembre de quem o avisou sobre a apreensão das joias, em passado tão recente… E conforme já dissemos aqui na Tribuna, com toda certeza é um desesperado festival e logo saberemos quem está mentindo mais, para lhe entregar o troféu Piada do Ano, como premiação antecipada. (C.N.)