Supremo se impõe com “Poder Moderador” e não aceita que sejam traçados limites

STF volta, de olho na eleição. | Opinião | Jornal da Manhã

Charge reproduzida do Jornal da Manhã

Demétrio Magnoli
Folha

A Constituição estabelece o notório saber jurídico como condição para ocupar uma cadeira no STF. Na campanha eleitoral, Lula prometeu obedecê-la, evitando indicar amigos e partidários, como fez em 2009, no caso de Toffoli. Já violou a promessa duas vezes, com Zanin e, agora, Flávio Dino. São violações diferentes. Zanin, opção pessoal, cumpre a função de proteger os interesses diretos do presidente. Dino, fruto de acordo político, reforça o projeto de poder do STF.

Constituição? Isso é para dias celebratórios. Assim, sem incômodo, Lula ignorou candidaturas que incluíam o notório saber jurídico, como a de Maria Paula Dallari.

LULA NÃO LIGA – O PT e a militância identitária reclamaram, por outros e distintos motivos, da escolha presidencial. Lula não liga: sabe que o PT precisa curvar-se humildemente a seus caprichos e, ainda, que a voz das correntes identitárias só encontra eco no ambiente universitário e em alguns veículos de comunicação. Tanto o petista de carteirinha quanto a mulher-símbolo (a “mulher-negra”) podem esperar.

Ministros de governo nascem, amiúde, de acertos espúrios com o centrão. O futuro ministro do STF também foi consagrado num conchavo, mas com Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Lula, que confia na fidelidade de Dino, não perde. Contudo, o prêmio maior vai para a dupla de juízes-políticos, que se torna uma trindade. Por essa via, o Supremo galga mais um degrau rumo ao estatuto de Poder Moderador.

A estrutura de equilíbrio de poderes da Nova República estiolou-se aos poucos, até entrar em colapso no período que separa o impeachment de Dilma Rousseff dos atos golpistas do 8 de janeiro. Nesse intervalo caótico, enquanto o Executivo cedia parte substancial de suas prerrogativas ao Congresso, o Legislativo tornava-se refém do centrão, abdicando de suas funções constitucionais.

STF MILITANTE – A cavalgada do Supremo militante, que encontrou uma pista plana entre as ruínas da arquitetura institucional, acelera-se no terceiro mandato de Lula.

Os juízes de capa preta almejam legislar no espaço abandonado pelos congressistas e, simultaneamente, cumprir o papel de tribunal criminal da elite política. O toque de reunir ecoou como reação às conspirações autoritárias do bolsonarismo. Alexandre de Moraes abriu um “inquérito de ofício” que confere prerrogativas excepcionais ao STF.

Gilmar Mendes evocou a noção de “democracia militante”, uma singularidade alemã formulada na reconstrução pós-nazista, para erguer os alicerces doutrinários que sustentam o novo Poder Moderador.

SEM OPOSITOR – Bolsonaro é um improvável beneficiário das ambições do STF. O TSE declarou-o inelegível por “flertar com o golpismo”, antecipando na esfera administrativa uma condenação de natureza criminal, e os soldadinhos de chumbo do 8/1 ouvem sentenças de prisão de até 17 anos.

Contudo, o autor intelectual do golpe frustrado permanece fora do banco dos réus.

Há lógica nisso. No cálculo dos magistrados supremos, o adiamento interminável do desenlace cumpre uma função política: a emergência perene, representada pela figura do chefe dos golpistas, alimenta o projeto de poder do Supremo.

SEM LIMITES – “A democracia sou eu” – eis a mensagem do STF. A PEC do Senado, que preserva leis aprovadas no Congresso dos efeitos de decisões judiciais monocráticas, foi falsamente descrita como uma “afronta à democracia”.

O Poder Moderador não aceita limites – e, para aplacar sua ira, um deputado governista deflagrou na Câmara uma operação preventiva destinada a remeter a PEC ao crivo do Supremo antes da deliberação parlamentar final.

Lula expressou, no passado recente, sua contrariedade com os excessos de protagonismo do STF. Coberto de razão, explicou que a Constituição delineia as fronteiras de atuação dos Poderes da República. Mesmo assim, decidiu perseguir as boas graças do Poder Moderador. É por isso que Dino vestirá uma capa preta.

11 thoughts on “Supremo se impõe com “Poder Moderador” e não aceita que sejam traçados limites

  1. Viva os Cieps do Brizolixo

    Viva o Método do paulolixofreriano…

    Logo teremos mais jovens ‘comunistando” celulares nas ruas do Páis…

    Apenas 1 em cada 4 alunos brasileiros sabem mais do que o mínimo de matemática, segundo Pisa 2022

    O novo relatório do Pisa mostrou que o Brasil ficou abaixo da média dos países membros da OCDE nas três frentes de avaliação

    https://www.terra.com.br/noticias/educacao/apenas-1-em-cada-4-alunos-brasileiros-sabem-mais-do-que-o-minimo-de-matematica-segundo-pisa-2022,e1792ee12dae67997cbc50d6c3b6a052geinptyh.html?utm_source=clipboard

  2. É por isso que Dino vestirá uma capa preta.

    “…No indicador de renda, o Maranhão fica em último lugar, com índice de 0,612. Vinte e três cidades do Maranhão estão entre as 100 cidades do Brasil com pior IDH, mas dentre as 200 cidades brasileiras com melhor IDH, nenhuma é maranhense….”

  3. Sr. Newton

    Veja como é a 8a. Maravilha do Mundo, O SUS do Bebum de Rosemary , cantado em verso o prosa pelo cachaça como sendo o Maior Plano de Saude Interplanetário….

    Como diz o Cachaça, “Vamu cuidá dus pobri”…

    Pacientes esperam 5 HORAS por remédios em AME no Centro de SP

    A repórter Maira Di Giaimo traz informações sobre espera por remédios no Ambulatório Médico de Especialidades Maria Zélia em São Paulo

    https://www.band.uol.com.br/videos/pacientes-esperam-5-horas-por-remedios-em-ame-no-centro-de-sp-17209983

  4. Os onze supremos estão certíssimos, como a sociedade lhes outorgou o direito e o dever de defender a Democracia, agora os onze estão acima da Lei, sempre defendendo a Democracia. O resto a gente cuida depois, não era assim que se dizia durante a pandemia?

  5. Se Flávio Dino preenche todos requisitos exigidos pela Constituição para ser indicado Ministro do STF, qual o problema e que medo é esse que os bolsonartistas tem de Flávio Dino.
    Os ataques ao STF atendem bem os interesses do bolsonarismo

  6. Taxar de comunistas os que são contra a extrema direita não cola mais.
    Se acham que toda ditadura é comunistas. No Brasil o único comunista era o governo Bolsonaro que queria implantar uma ditadura.
    Como bem disse Érico Veríssimo: “comunista é o pseudônimo que os conservadores, os conformistas e os saudosistas do fascismo inventaram para designar simplesmente todo sujeito que clama por justiça social.”
    De Érico Veríssimo.

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