Equipe de Lula pode adotar maquiagem fiscal que levou ao caos o governo Dilma

Lula anunciou que Ricardo Lewandowski assumirá a pasta da Justiça no lugar de Flávio Dino.

Lula despreza o superávit e pressiona a equipe econômica

Marcos Lisboa
Folha

A evolução da dívida pública pode parecer tema arcano para a maioria da população, mas afeta o seu dia a dia. Se a dívida do governo cresce seguidamente mais do que a renda do país, o resultado será maior inflação ou mais impostos. Existe outra opção, o calote. O governo simplesmente deixa de pagar o que deve no prazo previsto.

Esse tem sido um hábito frequente no Brasil. A PEC dos Precatórios impôs o adiamento do pagamento das dívidas da União com cidadãos que tiveram seus direitos reconhecidos pelo Judiciário.

MAIS CALOTE – No mês passado, o governo editou medida provisória que posterga o ressarcimento de contribuintes que, de acordo com decisão judicial, pagaram mais tributos do que deveriam. “Veja bem, eu devo para vocês. Só não posso pagar agora. Então, decidi ressarci-los mais tarde.”

A inflação implica perda do poder de renda. O que você podia adquirir ontem não pode mais comprar hoje. E a insegurança sobre as regras tributárias prejudica o investimento e a geração de empregos. Se as regras podem mudar arbitrariamente, como estimar o retorno do investimento? Melhor destinar os recursos para outro país.

Por isso, a importância do superávit primário, que deveria indicar o quanto a diferença entre receitas e despesas do governo impacta a dívida pública, no presente e no futuro. Desse modo, pode-se estimar parte importante da evolução da dívida pública e a eventual necessidade de novos tributos, o risco de inflação ou a possibilidade de novos calotes.

NO CAMIINHO ERRADO – Contudo, decisões recentes, tanto do Executivo quanto do Judiciário, têm dificultado utilizar o superávit primário para auxiliar na previsão da evolução da dívida pública.

No Brasil, a imensa maioria das despesas públicas é obrigatória. Para agravar, uma vez que as receitas aumentam, as despesas com salários, aposentadorias e benefícios são igualmente reajustadas, por determinação legal ou decisão política. E, depois, não podem ser reduzidas.

Como a imensa maioria das despesas é permanente, o superávit primário relevante para avaliar a evolução da dívida pública é o “recorrente’”, que exclui despesas e receitas extraordinárias, aquelas que ocorrem eventualmente, mas que não irão se repetir nos anos seguintes.

METAS INFLADAS – O governo, contudo, anuncia metas de arrecadação infladas por receitas extraordinárias, como as decorrentes de decisões do Carf, o tribunal administrativo que julga pendências de muitos anos entre o fisco e contribuintes.

Esse tribunal anuncia metas ambiciosas de autuações e de arrecadação. Trata-se, contudo, de receitas extraordinárias, referentes a disputas antigas entre a Receita e empresas. O problema é que essas receitas extraordinárias viabilizam gastos permanentes, que vão se repetir nos anos seguintes. Como eles serão financiados daqui para a frente?

Essa não é a única gambiarra. Em 2023, por exemplo, o Poder Executivo contabilizou como receita R$ 26 bilhões do PIS/Pasep que, pelas regras da contabilidade, deveriam ser utilizados para abater a dívida pública. Mas esses recursos extraordinários não poderiam ser utilizados para o cálculo do superávit primário. Foi maquiagem.

META PERDIDA – Em dezembro, foi identificado que os recursos de depósitos judiciais na Caixa Econômica, R$ 12 bilhões, deveriam ser contabilizados como receita do Tesouro. Trata-se, mais uma vez, de receita extraordinária.

E a meta de superávit primário para 2023 estava perdida. O governo anunciara déficit de 0,5%, mas o número deve superar 1,1% (2%, caso sejam incorporados os precatórios). Decidiu-se, então, que essa receita deveria ser registrada apenas em 2024. Ao mesmo tempo, o governo antecipou despesas de 2024 para o ano passado, como no caso de gastos com precatórios.

Com esses truques, tenta-se tornar mais factível a meta de superávit primário deste ano, recheada de receitas extraordinárias e aliviada por despesas antecipadas. Promete-se uma evolução da dívida pública que não irá se realizar nos próximos anos. As despesas irão aumentar permanentemente, mas o mesmo não ocorrerá com a receita.

DESONERAÇÃO – Para complicar, algo similar acontece com os benefícios para os grupos de interesses: uma vez concedidos os privilégios, o governo tem imensa dificuldade em reduzi-los. Um exemplo recente é a desoneração da folha salarial, introduzida pelo governo Dilma e que o governo Lula tenta revogar.

O governo que promete combater os benefícios tributários troca de discurso e os reinventa no fim do ano, como ocorreu no caso da indústria automobilística. Não bastassem os privilégios obtidos pelas empresas de aviação na reforma tributária, elas agora poderão receber subsídios para oferecer passagens mais baratas a aposentados e estudantes.

Existem propostas de criação de fundos para financiar grupos selecionados com recursos públicos, como na bolsa para alunos do ensino médio, que serão realizados fora do orçamento.

DÍVIDAS ESTADUAIS – A criatividade passa também pela concessão de garantias a novas dívidas de governos locais, cuja conta deverá ser paga pela União, como ocorre recorrentemente. Ou alguém imagina que Rio de Janeiro e Minas Gerais irão pagar integralmente suas dívidas com a União? Isso aumenta a dívida pública sem ter impacto no resultado primário corrente.

O aumento das transferências de recursos para municípios, durante a pandemia, permitiu o aumento das despesas com servidores e aposentados. Agora, que o dinheiro acabou, eles pegaram carona no projeto de lei que desonera a folha salarial para contribuir menos para a Previdência. Uma perda de receita permanente.

O Judiciário decidiu que os gastos adicionais com precatórios devem estar excluídos da conta do superávit primário. Só que a despesa efetiva irá aumentar, assim como a dívida pública.

CRIATIVIDADE – Há uma década, o país pagou o preço da criatividade nas contas públicas, que registravam uma solvência inexistente. Importante evitar que esse risco ocorra mais uma vez. A contabilidade das contas do governo deveria deixar clara a evolução esperada da dívida pública. Mas a equipe econômica parece optar pelas soluções criativas nas contas públicas.

A alternativa seria tornar disponível as tabelas e os dados sobre as receitas e gastos públicos, separando o que é recorrente do que é temporário, e os possíveis riscos de novas despesas, como ter de arcar com as dívidas não pagas dos governos locais.

Aparentemente, contudo, transparência não é a opção do atual governo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente artigo. Como temos alertado aqui na Tribuna da Internet, o novo governo Lula pode repetir a criatividade (ou maquiagem) fiscal que levou o governo Dilma ao abismo. Detalhe: o economista Marcos Lisboa tem conhecimento próprio, pois foi -secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula). Lisboa sabe exatamente o que está dizendo. (C.N.)

11 thoughts on “Equipe de Lula pode adotar maquiagem fiscal que levou ao caos o governo Dilma

  1. Não se preocupem, pois o diretor do IBGE, segundo divulgado em 15/11/2023 iria mudar o cálculo das estatísticas. Por isso é muito fácil mudar o cálculo da inflação, mascarando seu valor

      • A quadrilha pode manipular a inflação do jeito que o ladrão quer.

        Mas, a realidade é bem diferente.
        O povo vê com os dois olhos os preços nas feiras e mercados.

        E fatos a quadrilha não pode fazer aquela maquiagem.

        A propósito.

        Hoje vi com estes dois olhos os preços do filé mignon e da famosa picanha do ladrão

        O negócio está feio.

        • Armando, eu juro que se algum cúmplice disser para este mesmo povo que está tudo bem, tudo legal, o estúpido povo acreditará.

          Gonzaguinha aceitaria a carestia ou babaria por não estar sofrendo uma ditadura cruel, conforme o cúmplice “sofreu” de 2019 a 2022 ?

          Você deve notar que não tem mais tutu
          E dizer que não está preocupado
          Você deve lutar pela xepa da feira
          E dizer que está recompensado

          Você deve estampar sempre um ar de alegria
          E dizer: tudo tem melhorado
          Você deve rezar pelo bem do patrão
          E esquecer que está desempregado

          Você merece, você merece
          Tudo vai bem, tudo legal
          Cerveja, samba, e amanhã, Seu Zé
          Se acabarem teu carnaval?

          Você merece, você merece
          Tudo vai bem, tudo legal
          Cerveja, samba, e amanhã, Seu Zé
          Se acabarem teu carnaval?
          Você deve aprender a baixar a cabeça
          E dizer sempre muito obrigado
          São palavras que ainda te deixam dizer
          Por ser homem bem disciplinado
          Deve, pois, só fazer pelo bem da nação
          Tudo aquilo que for ordenado
          Pra ganhar um Fuscão no juízo final
          E diploma de bem comportado
          Você merece, você merece
          Tudo vai bem, tudo legal
          Cerveja, samba, e amanhã, Seu Zé
          Se acabarem teu carnaval?
          Mas você merece, você merece
          Tudo vai bem, tudo legal
          Cerveja, samba, e amanhã, Seu Zé
          Se acabarem com teu carnaval?

          Você…
          Você merece, você merece
          Tudo vai bem, tudo legal
          E um Fuscão no juízo final

          Você merece
          E diploma de bem comportado
          Você merece, você merece
          Esqueça que está desempregado

          Você merece, você…
          Tudo vai bem, tudo legal
          Que maravilha…

  2. O Brasil é grande demais para ficar encurralado entre “alternativas” políticas tão incompetentes.

    Não faz sentido repetir o experimento e nos jogar no precipício de mais uma crise.

    Se quiséssemos o país da maquiagem, elegeríamos Bocarrosa ou Juliette.

    Chega de Dilma.

    Basta de Guido Mantega.

    Pombini nunca mais.

  3. Com CANALHAS como Toffoli que da de presente +10 bilhões de reais a JBS e ainda recebe comissão pela decisão,fica claro que o Brasil só será uma grande nação quando o povo pegar em armas e jogarem no lixo os corruptos do Brasil.

  4. Vivemos como qualquer país pobre, um governo populista que gasta, gasta, gasta e fica bem a vista da população iletrada e outro governo que conserta, conserta para depois os populistas voltarem por cima. Enquanto não se investir na educação continuaremos nessa gangorra.

  5. Com conselheiros como Gleisi e a “Esbanja” se metendo em tudo, não vejo Lula terminando seu mandato. Lira mesmo já está de saco cheio das promessas descumpridas de liberação de recursos orçamentários .

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