Paulo Peres
Poemas & Canções
O advogado, poeta e compositor baiano Waly Dias Salomão (1943-2003), nos versos de “A Fábrica do Poema”, apresenta um acontecimento dúbio, porque depende do momento em que o poeta criou os versos, que, inclusive, podem ser uma mistura de fantasia com ideologia política.
A FÁBRICA DO POEMA
Waly Salomão
sonho o poema de arquitetura ideal
cuja própria nata de cimento encaixa palavra por
palavra,
tornei-me perito em extrair faíscas das britas
e leite das pedras.
acordo.
e o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
acordo.
o prédio, pedra e cal, esvoaça
como um leve papel solto à mercê do vento
e evola-se, cinza de um corpo esvaído
de qualquer sentido.
acordo,
e o poema-miragem se desfaz
desconstruído como se nunca houvera sido.
acordo!
os olhos chumbados
pelo mingau das almas e os ouvidos moucos,
assim é que saio dos sucessivos sonos:
vão-se os anéis de fumo de ópio
e ficam-se os dedos estarrecidos.
sinédoques, catacreses,
metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
sumidos no sorvedouro.
não deve adiantar grande coisa
permanecer à espreita no topo fantasma
da torre de vigia.
nem a simulação de se afundar no sono.
nem dormir deveras.
pois a questão-chave é:
sob que máscara retornará o recalcado?
(mas eu figuro meu vulto
caminhando até a escrivaninha
e abrindo o caderno de rascunho
onde já se encontra escrito
que a palavra “recalcado” é uma expressão
por demais definida, de sintomatologia cerrada:
assim numa operação de supressão mágica
vou rasurá-la dacqui do poema)
pois a questão-chave é:
sob que máscara retornará?
1) Conversei uma vez com Waly, ele já consagrado poeta, eu aprendiz. Ele viu alguns versos meus e gostou muito.
2) Eu vi os poemas dele, bons demais …
3) Combinamos então de continuarmos… a fazer o que melhor sabermos…
4) Escrever,,,
3) … sabemos …