Bolsonarismo interditou a direita moderada, que decidirá a sucessão

Esquerdas sobem na opinião pública; e a direita recua - por Pedro do Coutto  - Tribuna da Imprensa Livre

Charge do Duke (O Tempo)

Bruno Boghossian
Folha

De tempos em tempos, um ministro saía do gabinete presidencial e dizia que Jair Bolsonaro estava decidido a segurar a onda. A explicação era quase sempre a mesma: o capitão havia sido convencido de que suas atitudes incendiárias afastavam uma fatia crucial do eleitorado.

Bolsonaro nunca seguiu esse caminho. Confiante de que seria capaz de sustentar sua autoridade na máquina do governo, na fúria antissistema e no combate à esquerda, ele continuou apegado a seus princípios. Perdeu a aposta, mas conseguiu apoio suficiente para manter domínio sobre todo um bloco político.

LÍDER DE COALIZÕES – Uma avaliação estratégica da organização da direita passa necessariamente por uma análise sobre o papel de Bolsonaro como líder de coalizões desse campo. O ex-presidente instalou um modelo em que certos compromissos são considerados inegociáveis e concessões são vistas como traição. Os infiéis são, geralmente, ameaçados de banimento.

Pelos próximos tempos, nenhum sucessor de Bolsonaro terá poderes concentrados em sua pessoa física. Como o bolsonarismo é muito maior do que a direita não bolsonarista, os políticos pegam o atalho do alinhamento com o líder desse campo.

Por convicção ou pragmatismo (isso importa pouco), quase todos reproduzem uma plataforma que, em mais do que um punhado de casos, se desvia de compromissos com o que seria uma moderação real.

HERANÇA GORDA – A corrida pela herança de Bolsonaro envolve a adesão orgulhosa a alguns pontos-chave dessa cartilha. Ali estão políticos que tiram proveito do marketing da selvageria policial, se curvam a pressões ultraconservadoras na saúde e integram um pacto pela anistia a um ex-presidente que tramou um golpe de Estado.

Forças hegemônicas só têm incentivos para buscar moderação quando percebem que perderam a capacidade de alcançar maiorias. Nesses casos, o tamanho da inflexão depende da dimensão dessa perda e da ameaça de concorrentes internos. O bolsonarismo sempre trabalhou para anular esse segundo fator.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *