Juliana Bublitz
Agência RBS
Poesia numa hora dessas? Sim, especialmente numa hora dessas. Mario Quintana, escreveu, certa vez, que fazer versos é como abrir janelas e ajudar o leitor a “respirar”. Quem faz poemas, ensinou o mestre, “salva”.
Poeta das coisas simples, falecido há 30 anos, Quintana resgatou muita gente com suas palavras. Ele tinha o dom de escrever como um guri soltando pipa – alegre, simples, travesso. Talvez por isso tenha conseguido aproximar sua arte das pessoas.
SAPATO FLORIDO – Em 1948, o autor lançou um livrinho chamado “Sapato Florido”, que seria um de seus maiores sucessos. Lá pelas tantas, quase no fim da obra, eis que aparece o título “Reminiscências”.
Setenta e seis anos após o lançamento, o poema viralizou nas redes sociais. Motivo: os versos falam da grande enchente de 1941, considerada, até agora, a maior da história de Porto Alegre. Quintana viveu o drama de perto e escreveu sobre ele.
REMINISCÊNCIAS
A enchente de 1941.
Entrava-se de barco
pelo corredor da velha casa de cômodos
onde eu morava.
Tínhamos assim um rio só para nós.
Um rio de portas adentro. Que dias aqueles!
E de noite não era preciso sonhar:
pois não andava um barco de verdade
assombrando os corredores?
Foi também a época em que era
absolutamente desnecessário fazer poemas…