No papel de corregedor-universal do jornalismo, Moraes tenta censurar o UOL

Decisão de Moraes de censurar reportagens é questionável - 02/10/2022 -  Poder - Folha

Moraes alega que a reportagem sobre TSE é mentirosa

Carlos Andreazza

Alexandre de Moraes, gestor de inquéritos onipresentes e infinitos, também, claro, corregedor-universal do jornalismo, enviou nota ao UOL para lhe acusar de ser falsa uma reportagem. Não indica quais seriam as mentiras. Não precisa.

Trata-se de um de nossos salvadores. Pode tudo – os colegas togados, formalmente, e nós mesmos, imprensa, o legitimaram. Vige sobre este 8 de janeiro permanente. Líder do estado de vigília contra o golpe. Donde crava: “fake news e notícias fraudulentas não ficam restritas apenas às redes sociais”. Não está errado. O que crava sendo o mesmo que tem cravado o que será fake news e notícias fraudulentas.

MANTO DO SIGILO – Em defesa sempre da democracia, autorizado, pois, à aplicação de autoritarismos, escreveu: “Sob o manto do sigilo de fonte, a jornalista inventou fatos e versões”.

Seria o caso de temer pelo sigilo de fonte, não fossem as fontes ministros do Tribunal Superior Eleitoral.

O veículo reiterou a veracidade do conteúdo, publicado em 24 de maio. As repórteres Carolina Brígido e Carla Araújo conversaram com membros do TSE; que se sentiram à vontade para comentar a estratégia da defesa de Bolsonaro no processo que o declarou inelegível.

A tese dessa entidade oculta-vaga chamada ministros-de-corte-superior-falam é a seguinte: ao recorrer ao STF, o ex-presidente teria perdido a chance de investir em embargos capazes de lhe dar tempo até que a nova formação do TSE – especulada como mais favorável a ele – passasse a julgar.

JUIZ COMENTARISTA – Está tudo errado. Juiz comentarista de defesa. E juiz comentarista de defesa cuja análise se dá à margem do Direito.

Juiz comentarista de defesa cuja análise tornada pública se fundamenta na composição política do tribunal de que faz parte.

Xandão, guardião do estado de direito e fonte responsável, não gostou. Para ser justo, dessa vez não ordenou censura. Seria o caso do UOL agradecer, se lembrarmos do episódio fundador em que o inquérito xandônico original, ainda bebê, em abril de 2019, mostrou a que viria censurando reportagem da revista Crusoé que informava ser Dias Toffoli “o amigo do amigo do meu pai”.

ASSÉDIO JUDICIAL – A nota intimidadora de Moraes – resfriadora do debate público – veio pouco depois de o Supremo haver declarado inconstitucional o assédio judicial contra jornalistas. A prática consiste em ajuizar ações em série, em locais diferentes, para constranger, onerar e até impedir o exercício da profissão.

O STF agindo então – acredite – para, segundo Fachin, “evitar os efeitos nefastos da restauração indireta de um procedimento de censura e autocensura”. Cármen Lúcia, que votou – em 2022, bem diretamente – pela censura a um filme, fez coro:

“A democracia é caudatária de uma imprensa livre e independente”

7 thoughts on “No papel de corregedor-universal do jornalismo, Moraes tenta censurar o UOL

  1. Até agora Xandão cabeça de ovo era o herói da mídia mainstream, agora não é mais. Como ministro-chefe do Ministério da Verdade, Xandão cabeça de ovo decide o que é verdade e o que é mentira. Na terra de Macunaíma já vivemos a sociedade de 1984, onde a realidade é a ditada pelo Estado, o que hoje é verdade amanhã pode não sê-la, então é tratar de se acomodar, ou conformar, porque quem poderia por freio a isto está nem aí para isto, até o dia em que Xandão cabeça de ovo resolver mandar censurar, quiçá prender esta gente, coisa que ele já fez com um parlamentar no exercício do seu mandato. Onde isto vai dar não sei, mas com certeza não será em um bom lugar para se estar.

  2. Não entendi nada do que o articulista escreveu. As repórteres teriam reproduzido as opiniões de membros do TSE?

    Bem, Moraes, no caso, acha que o que foi reproduzido são versões dos fatos.

    Não sei. mas o importante é que não houve veto e foi preservada a liberdade da imprensa.
    Umberto Eco, no seu livro Número Zero, escreve sobre o tipo de notícia que, às vezes (muitas), a imprensa ressalta, sem que o principal seja destacado.

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