Paulo Peres
Poemas & Canções
O lexicógrafo e escritor alagoano (3/5/1910-28/2/1989) também usou as palavras para nos brindar com suas poesias, como este belo soneto de amor.
AMAR-TE
Aurélio Buarque de Holanda
Amar-te – não por gozo da vaidade,
Não movido de orgulho ou de ambição,
Não a procura da felicidade,
Não por divertimento à solidão.
Amar-te – não por tua mocidade
– Risos, cores e luzes de verão –
E menos por fugir à ociosidade,
Como exercício para o coração.
Amar-te por amar-te: sem agora,
Sem amanhã, sem ontem, sem mesquinha
Esperança de amor, sem causa ou rumo.
Trazer-te incorporada vida fora,
Carne de minha carne, filha minha,
Viver do fogo em que ardo e me consumo.
Caro Peres, aqui trago com vossa licença:
Abrólhos!
VERSOS SOLITÁRIOS
Evanir Fonseca
O mundo é obscuro para quem só sente a egoísta vontade de se livrar de tudo,
como num mar de lava que a terra cobre, deixando um rastro de destruição.
A vida inexiste onde a felicidade é utópica e a vontade de amar é só um vulgar prazer, onde o tudo se transforma em nada, além de um viver numa estática frigidez,
fingidamente escondida por um sorriso ou uma lágrima,
que nas faces rolam ou secam, parados na desfaçatez gélida, refletidos no espelho do destino, da verdade incontida e nas rugas de um grito calado que ecoa na surdez do silêncio, alertando-nos que o fim nos espreita como abutres,
expresso pela indescritível falta do som da batida de um coração solitário.
Deus, como se tentasse camuflar as perdas sutis do desconhecido destino, dá-nos opções, sem violar o direito do livre arbítrio, numa compensação sem diretrizes evidentes ou outra forma de expressão compensatória e cúmplice, nos nossos erros e acertos, sempre apresenta-nos oportunidades e mostrando ao julgar nossos sentimentos tristes, atormentados, egoístas ou sufocantes, nunca se afasta dos que, a ele, suplicam por novas oportunidades. Pedimos que nomes ou apelidos sejam afastados dos indivíduos, em contrapartida do que ocorre na realidade socialmente quando, como uma tatuagem, ficam gravados e encrustados nas almas estigmatizadas, numa busca tênue e discreta da sensatez fazendo com que logo caiamos no esquecimento, criado pelo labirinto de comportamentos resumidos pelo “tempo”, que, sem pena, nos cobra sob uma sentença arrogantemente imposta, apagando todos os nossos créditos, virtudes e lembranças, deixando vívidos os defeitos que maculam nossos eternos deslizes.
Gostaria de ver as pessoas completas e resignadas,
podendo despedirem-se da vida, dizendo a cada um dos outros seres:
“Perdoem-nos, pelos erros cometidos e rezem para que nós nunca mais renasçamos
com mágoas e rancores, sem conhecermos a palavra perdão!…”
Lembremo-nos sempre que “amar” não é o pecado maior e reconheçamos, assim, que fazer outros te amarem é imperdoável!
No hoje, nos vangloriamos da saudade que acreditamos ter causado em outras pessoas.
Porém, quando a tristeza na incerteza do amanhã nos alcança é aí, então, o momento… que já deveremos ter sido esquecidos
e na veracidade de que agora, sarcasticamente, seremos os que sofrerão…!
Joguem-se pela janela chamada poesia, como suicidas!
Este é o meu conselho para acabarmos espatifados em versos e prosas, atirados, largados nas solitárias noites, com ou sem luar.
Nunca sejamos hipócritas! Mas sim, seres que se encontram à espera do perdão incondicional e eterno, se permitido, num grande acalento no “Adeus”.