Biden, Lula e Macron mostram que a política é uma arte em escassez

Waack: Política é uma arte que está em escassez | CNN Brasil

Três políticos importantes que desabam nas pesquisas 

William Waack
CNN Brasil

O que têm em comum as situações políticas nos Estados Unidos, na França e no Brasil? Parece que está em falta a arte da decisão política. Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden e seu time de assessores foram empurrando com a barriga a questão da idade do presidente e dos seus óbvios sinais de senilidade.

Decidiram arriscar chamando um debate contra Trump bem antes da eleição. Perderam feio. Hoje só se fala da senilidade de Biden, e como ele faria melhor se desistisse da reeleição.

MACRON ARRISCOU – Na França, o presidente Macron achou que não dava mais para empurrar com a barriga quando os partidos da ultradireita aumentaram bancadas nas eleições para o Parlamento Europeu. Decidiu arriscar convocando uma eleição legislativa antes da hora. Perdeu feio.

Agora só se discute como o governo de Macron vai sobreviver com uma Assembleia Nacional de oposição, com chances de indicar o próximo primeiro-ministro.

No Brasil, o presidente Lula decidiu deixar para depois um ajuste de contas públicas. Teria sido mais fácil bem lá no começo.

COM A BARRIGA – Lula vem empurrando com a barriga o inevitável, isto é, corte de gastos, contenção de despesas, numa situação que teima em não se resolver por si mesma. Hoje, aumenta a desconfiança com a política fiscal e só ficou mais difícil a tarefa de Lula de governar.

Na política, que é uma grande escola de vida, aprende-se que arriscar tudo numa cartada só pode pôr tudo a perder. Aprende-se que empurrar com a barriga pode tornar tudo apenas mais difícil com o tempo.

Política é uma arte. E, ao que parece, está em certa escassez.

Comprem pipocas! Milei já chama Lula de “perfeito dinossauro idiota”

Milei é o presidente da América Latina mais bem avaliado em junho -

Milei morre de rir de suas próprias piadas sobre Lula

Ricardo Abreu
GloboNews

O Palácio do Planalto reagiu com muito incômodo à manifestação do presidente argentino Javier Millei em uma publicação no X, antigo Twitter, com uma série de ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No post desta terça-feira (dia 2), Milei se refere a um “perfeito dinossauro idiota”. E assinalou no X: “Se tivéssemos feito as coisas como esse grande dinossauro idiota dizia, já teria perdido”.

Em outro trecho, cita Lula dizendo que o petista foi “preso por corrupção” e que é “comunista”.

AUTOGOLPE – Na postagem, o presidente da Argentina também insiste na versão de que a recente tentativa de golpe militar na Bolívia foi uma fraude – posição argentina que já foi repudiada pelo governo de Luis Arce e que, inclusive, rendeu uma chamada ao embaixador argentino em La Paz.

A ideia de uma tentativa de “autogolpe” na Bolívia ganhou força depois que o general Juan José Zúñiga, que liderou o movimento golpista, afirmou ter agido a pedido de Arce para aumentar sua popularidade, algo que foi negado pelo presidente boliviano.

“Depois dos ataques de Lula (especialmente sua forte interferência na campanha eleitoral e sólido apoio à campanha mais suja da história) ele reclama porque eu lhe respondo com sinceridade (ele foi preso por corrupção e é comunista)”, diz trecho da postagem de Javier Milei.

SEM COMENTÁRIOS – A campanha “mais suja da história” mencionada pelo presidente argentino na postagem é a de Sergio Massa, peronista que contava com o apoio do governo Lula na disputa presidencial contra Milei no ano passado.

Assessores próximos a Lula reclamaram da postura agressiva do mandatário argentino, mas afirmam que não deve haver uma resposta igualmente provocativa via manifestação nas redes sociais. Eles avaliam que “seria dar o palanque que Milei quer”. “Não podemos rebaixar o debate”, disse uma fonte.

O Ministério das Relações Exteriores também descarta qualquer manifestação, mas vai acompanhar de perto a agenda do presidente argentino no próximo fim de semana, quando Javier Milei irá a Santa Catarina para participar de um fórum conservador.

O QUE DISSE LULA – Em uma entrevista em 26 de junho, Lula cobrou pedido de desculpas por parte de Milei ao Brasil. Segundo Lula, o presidente argentino falou “muita bobagem”.

Na ocasião, Lula não detalhou as falas de Milei incluídas na cobrança, mas deu a declaração ao ser questionado sobre as tratativas para repatriar cerca de 180 foragidos envolvidos nos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023 em Brasília.

“Nós estamos tratando da forma mais diplomática possível. Eu não conversei com o presidente da Argentina porque eu acho que ele tem que pedir desculpas ao Brasil e a mim. Falou muita bobagem”, disse o presidente na entrevista.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Conforme já recomendamos aqui, comprem pipocas para assistir à luta entre Milei e Lula. O primeiro assalto está apenas começando. E bota assalto nisso. A briga vai durar tantos assaltos quanto forem necessários. (C.N.)

“Não faça isso, Brasil!”, alerta Robin Brooks, sobre Banco Central e gastos 

Charge do JCaesar | VEJA

Charge do JCaesar | VEJA

Leandro Manzoni
Investing.com

O ex-economista-chefe do Instituto Internacional de Finanças (IIF), Robin Brooks, se tornou uma figura constante na comunidade de investidores no X (ex-Twitter), conhecida como Fintwit. Brooks é um entusiasta dos crescentes e constantes superávits comerciais proporcionado pelas commodities, fazendo projeção de uma taxa de câmbio justa de R$ 4,50 e classificando a economia brasileira como “Suíça dos trópicos”.

Nos últimos dias, porém, as postagens de Brooks são mensagens de alerta, para que o cenário projetado pelo economista se concretiza. “Não faça isto, Brasil”, finaliza Brooks em uma postagem no qual recomenda à manutenção da independência do Banco Central e a busca pelo equilíbrio fiscal.

CRÍTICAS DE LULA – O pano de fundo são as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central (Bacen), Roberto Campos Neto, que também indicam um provável perfil do indicado para sucedê-lo no comando da autoridade monetária a partir de janeiro de 2025.

Lula não está de acordo com a manutenção da taxa Selic em 10,5% decidida na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 19 de junho, além de sua equipe econômica não apresentar um programa de corte de gastos que elimine os déficits primário e nominal e acabe com a trajetória altista da dívida pública.

As falas de Lula nos últimos dias apontaram, pelo contrário, uma busca pela continuidade no ajuste fiscal pelo lado da receita, já esgotado nos primeiros 18 meses de seu terceiro mandato.

POLÍTICA ERRADA – Na avaliação do Copom, a política fiscal expansionista, juntamente com uma atividade econômica e mercado de trabalho aquecidos acima das projeções, é o que está deteriorando a expectativa de inflação para 2025 e 2026 acima da meta de 3% ao ano.

Além disso, os investidores têm receio de que o próximo presidente do Banco Central, que será indicado por Lula, possa ser leniente com a inflação e faça vista grossa com os déficits fiscais, mantendo uma taxa de juros artificialmente baixa para contemplar o Palácio do Planalto, o que tiraria, na prática, a autonomia do Banco Central estabelecida em uma lei aprovada pelo Congresso brasileiro em 2021.

“A Turquia é um conto de alerta para Brasil”, afirma Brooks ao comparar as possíveis intenções do atual governo brasileiro com que o governo turco, sob a liderança do presidente Recep Tayyip Erdogan, fez em março de 2021 ao demitir o presidente do Banco Central do país para forçar um corte nas taxas de juros.

EXEMPLO DA TURQUIA – “O que se seguiu foi um colapso da lira [moeda turca], hiperinflação e a taxa de juros da Turquia é atualmente muito maior do que seria sem esse experimento”, avalia o economista.

“O Banco Central do Brasil é a âncora da estabilidade, trazendo a inflação [do Brasil] ao nível dos países desenvolvidos”, diz Brooks, criticando a fala de Lula de querer “um presidente do Banco Central que não pensa nos mercados”.

“A maior âncora de estabilidade não é nem [o ex-presidente Jair] Bolsonaro nem Lula, é um banco central forte e independente. Se começa a desmantelar, tudo isso desmorona…”, prossegue o economista em outra postagem.

SUÍÇA DOS TRÓPICOS – Em meio às críticas ao presidente Lula, Brooks faz recomendações para que o Brasil realmente se torne a “Suíça dos trópicos”, abordando que a economia do país é um exemplo de “contração fiscal expansionista”.

“O caminho para um crescimento maior do Brasil não é pela expansão fiscal e mais dívida. Brasil já tem a maior taxa de juros dos títulos de 10 anos entre as economias emergentes. Se o Brasil reduzisse sua dívida, taxas de juros cairiam e a economia teria um boom. Uma contração fiscal expansionista…”, avalia Brooks, que aponta ser essa uma oportunidade à economia brasileira ao invés de focar esse quadro como um problema.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGEnviada por José Guilherme Schossland, a matéria mostra como é fácil um presidente idiota transformar o Brasil numa gigantesca Argentina. (C.N.)

Lula 3 está malogrando porque ele não sabe decifrar seu dilema institucional

Arquivo de Charges - Jornal de Brasília

Charge do Baggi (Jornal de Brasília)

Marcus André Melo
Folha

Os impasses atuais nas relações do presidente Lula com o Congresso evocam —mas como veremos apenas superficialmente— o padrão identificado por Celso Furtado em “Obstáculos Políticos ao Desenvolvimento Econômico” (1965). Nele, Furtado reflete sobre a crise de 64 e sua estrutura mais profunda: um executivo eleito pelo eleitorado urbano que se confrontava com um Congresso que obstaculizava uma agenda de reformas “de base”.

O resultado era um confronto paralisante cujo desenlace foi a ruptura da ordem constitucional. Já examinei o argumento aqui.

SEM PROGRAMA – O paralelo entre as duas situações é descabido por pelo menos três razões. A primeira é que Lula não é hoje uma liderança reformista. Inexiste uma agenda de governo, potencialmente transformadora (mesmo na forma de alguma utopia sem qualquer viabilidade) e com apoio amplo.

A situação geopolítica é outra e não há ameaças à vista. Lula não tem um mandato no sentido clássico da expressão; antes é expressão de uma maioria negativa que se formou contra um processo de erosão democrática.

Aqui nem sequer se forjou frente ampla em padrão histórico, mas uma solução ad hoc, sem musculatura. Por isso mesmo, não há conflito, como no passado, salvo entreveiros retóricos, que, contudo, têm repercussões.

SEM SUBSTITUTO – A segunda razão se entrelaça com a primeira: Lula é caso único no plano internacional de liderança à frente de um partido por quase 40 anos.

Não se trata aqui de sua idade, que, sim, contrasta com lideranças extremamente jovens em democracias longevas como França, Canadá e Inglaterra. Mas do papel partidário que cumpre, sem renovação, e que expressa —aqui sim— uma calcificação política.

A terceira razão é que embora não tenha agenda, Lula 3 persegue uma estratégia clara. Seu foco é o plano externo onde estão os frutos supostamente fáceis de colher, sobretudo na agenda ambiental. Como mostrei aqui. Aqui o Brasil tem vantagens comparativas e clara relevância global. Bem-sucedido, Lula entraria no panteão de estadistas.

COBERTOR CURTO – Para o plano doméstico, Lula 3 delegaria amplamente a barganha política, garantindo protagonismo aos líderes congressuais e, sobretudo, presidentes das casas legislativas. Mas o cobertor fiscal é curto.Decorridos um ano e meio de mandato podemos concluir que esta estratégia definitivamente malogrou..

A busca de protagonismo internacional deu com os burros n’água na Ucrânia e em Israel; a autocratização definitiva da Venezuela expôs as contradições de suas ambiguidades e lealdades.

No plano doméstico, Lula sobrestimou sua potência ignorando seu caráter hiperminoritário na sociedade e no Legislativo. E a situação fiscal e econômica se deteriora quando é instado a intervir na arena doméstica. Eis o dilema institucional atual.

Piada do Ano! CNJ pede que 13ª Vara explique o grampo na cela de Youssef

Policiais dizem à CPI que escuta na cela de Youssef estava ativa e era  ilegal - 02/07/2015 - Poder - Folha de S.Paulo

Doleiro Youssef inventou que o grampo estava na cela

Guilherme Naldis
Estadão

A 13ª Vara Federal de Curitiba terá de explicar ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) porque havia um grampo telefônico na cela do doleiro Alberto Youssef, no início da Operação Lava Jato. A intimação foi despachada neste domingo, 30, pelo corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão.

Agora, o juizado tem 15 dias para explicar o dispositivo, e porque estava ativo. A investigação é tocada pela Polícia Federal, no gabinete do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).

JUIZ APPIO – “Determino a correção do polo passivo deste Pedido de Providências, uma vez que, compulsando os autos, verifica-se que os supostos fatos narrados e as condutas alegadas como irregulares na condução do processo que apurava a existência de referida escuta não estão relacionados ao magistrado Eduardo Appio, mas, sim – a princípio – a outros magistrados que atuaram na 13ª Vara Federal de Curitiba. Desse modo, Appio foi incluído no polo passivo pois, à época de sua interposição, era o juiz titular da 13ª Vara Federal de Curitiba e havia desarquivado referidos autos para retomar a apuração de eventuais crimes cometidos, tendo em vista notícias de supostas fraudes anteriormente cometidas na sindicância realizada pela Polícia Federal e na condução do processo pelo Juízo da 13ª Vara Federal”, determina a medida.

A investigação pode anular os efeitos da delação do doleiro, a depender do rumo indicado pela vara curitibana. O depoimento de Youssef foi um dos mais importantes da Lava-Jato, que baseou muitas investigações e decisões da Justiça no Paraná.

O DOLEIRO – Pivô das investigações, o doleiro Alberto Youssef foi um dos primeiros presos na Lava Jato, em março de 2014.

Ele foi condenado por lavagem de dinheiro e organização criminosa no decorrer das investigações, mas, após fechar um novo acordo de delação, migrou para a prisão domiciliar em 17 de novembro de 2016 e, em 2017, para o regime aberto.

No ano passado, por ordem do juiz federal Eduardo Appio, da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, a PF voltou a prender Youssef em Itapoá, em Santa Catarina, onde mora, segundo sua defesa. Em menos de 24 horas, no entanto, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) determinou a soltura do doleiro.

Desde de que deixou a prisão, Youssef se mudou para Itapoá. Lá, passou a dar expediente num terminal de contêineres do Porto de Itapoá, em uma empresa de cargas.

Cela de Alberto Youssef tinha escuta clandestina, acusam doleiro e seu  advogado | VEJA###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É uma tremenda Piada do Ano. Na época, todo mundo soube que era um golpe de Youssef para ser libertado. Ficou famosa a foto do doleiro exibindo o equipamento de escuta, um modelo enorme, cheio de fios, obsoleto há décadas e que jamais poderia ser instalado numa cela de cadeia sem que ninguém notasse. E agora, tantos anos depois, o corregedor do CNJ vem de novo com isso. Sinceramente, parece não ter o que fazer. (C.N.)

Para não pagar indenização, Moraes absolveu Moraes de um erro judiciário

Gilmar Fraga: Telegram.. | GZH

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)

Deltan Dallagnol
Gazeta do Povo

O ministro Alexandre de Moraes, também conhecido como censor-geral da República, segundo seu coleguinha Dias Toffoli, absolveu a si mesmo, ou livrou ele mesmo de uma possível punição. O ministro cassou uma sentença condenatória de um juiz federal do Paraná que havia reconhecido um erro de procedimento ou abuso do próprio Alexandre de Moraes e condenado a União a indenizar em R$ 20 mil o ex-deputado paranaense Homero Marchese, do partido Novo.

Para resumir a história, o que aconteceu foi o seguinte: Moraes derrubou todas as redes sociais de Homero com base em uma informação falsa de que ele teria revelado a localização do hotel dos ministros durante uma viagem dos togados para palestrar em Nova York.

Homero jamais foi notificado para se defender e só descobriu que suas redes tinham sido derrubadas por ordem de Moraes quando ligou para o gabinete do ministro no Supremo. Um mês depois dos bloqueios, Moraes reativou as contas de Homero no Facebook e no X, mas esqueceu do Instagram. Homero ficou 6 meses praticamente banido das redes sociais.

PASSÍVEIS DE INDENIZAÇÃO – Desde há muito tempo os erros judiciais, como a prisão da pessoa errada, são passíveis de indenização.

Diante disso, o próprio Homero processou a União, que responde judicialmente pelos ministros do Supremo, e ganhou o caso.

Mas a AGU entrou com uma reclamação no Supremo, distribuída para o próprio Moraes, para derrubar a sentença condenatória conseguida por Homero. Há nesse caso 5 flagrantes e absurdas ilegalidades:

SUSPEIÇÃO DO JUIZ – Moraes jamais poderia decidir este caso, porque ele tem interesse direto em seu resultado, já que tratava da conduta dele mesmo e ele poderia vir a pagar a multa em última análise, já que a União poderia cobrar dele o valor no futuro em uma ação de regresso. O Código de Processo Penal, em seu art. 252, inciso IV, diz que o juiz não pode decidir quando ele próprio for interessado no resultado do julgamento. Ter interesse no processo é uma causa de impedimento absoluto do juiz, que torna suas decisões piores do que nulas: elas são inexistentes juridicamente.

Além disso, todo o caso gira em torno do fato de que Moraes cometeu um erro procedimental. Ao cassar a sentença que condena a União a indenizar o Homero por um erro dele mesmo, Moraes está, na prática, julgando e absolvendo a si mesmo de qualquer erro, o que, mais uma vez, viola as regras de impedimento. Mas Moraes, o Infalível, não se declarou impedido.

O ministro é expert em decidir casos que não deveria: você lembra de quando ele mandou prender duas pessoas investigadas por ameaças a ele mesmo e sua família, mas só se julgou impedido depois das prisões, que até hoje não foram revogadas?

RECLAMAÇÃO – O STF não tem competência para julgar a reclamação da União contra a decisão do juiz. A reclamação é uma ação que pode ser utilizada quando algum juiz ou tribunal usurpa competência do Supremo ou para preservar a autoridade de decisões da Corte. Ocorre que a sentença condenatória do juiz federal de 1ª instância não fez isso: em nenhum momento ele anulou, revogou, alterou ou interferiu em decisões tomadas por Moraes, mas apenas reconheceu um dano objetivo causado a Homero por um erro judicial e que deve ser indenizado pelo Estado.

Na reclamação, a AGU fez uma alegação fantástica: só quem pode reconhecer as ilegalidades das decisões do ministro Alexandre de Moraes é o próprio ministro Alexandre de Moraes. Pior ainda, a AGU disse que Homero só poderia pleitear o pedido de indenização dentro do inquérito das fake news, para o próprio Moraes.

As alegações são esdrúxulas, ridículas e patéticas: o Supremo não tem competência para ações cíveis de indenização, e ações deste tipo jamais poderiam ser promovidas em um inquérito criminal.

CÍVEL E CRIMINAL – É inacreditável que a AGU tenha dito isso: as duas esferas, cível e criminal, são independentes e separadas, não se confundem. Nunca se ouviu falar em ação de indenização cível em inquérito criminal.

Há ainda um outro problema: é simplesmente cômico, para não falar impossível, imaginar que Homero teria qualquer chance de sucesso se pedisse ao próprio Moraes, dentro do inquérito das fake news, que o ministro condenasse a União a indenizá-lo por erros do próprio Moraes. É óbvio que a competência para analisar este caso é, sim, da Justiça Federal da 1ª instância.

Moraes está beneficiando a si mesmo, no que talvez seja a maior ilegalidade deste caso. Alexandre de Moraes e a AGU provavelmente perceberam que, com a vitória de Homero, dezenas, centenas e milhares de outras vítimas de Moraes vislumbraram um possível caminho para reparar os abusos do ministro, por meio de ações de indenização na Justiça Federal de 1ª instância.

EFEITO MULTIPLICADOR – A AGU reconheceu isso ao dizer que a sentença continha o risco de “efeito multiplicador”. A possibilidade de que milhares de juízes condenassem a União no futuro por abusos de Moraes deve tê-los apavorado.

Mas é ainda pior do que isso: quando a União é condenada a indenizar alguém por erro de um agente público, ela pode cobrar o valor dessa indenização do próprio agente caso se comprove que ele agiu de maneira negligente ou intencional. Ou seja: o próprio Moraes estaria exposto a pagar centenas de milhares de reais em indenizações caso essas condenações começassem a pipocar na Justiça Federal de 1ª instância.

Ao cassar a sentença que deu ganho de caso a Homero, Moraes corta este possível risco pela raiz e blinda a si mesmo, o que, obviamente, é um abuso de seu poder como juiz.

ABUSO DE AUTORIDADE – O ministro Alexandre de Moraes praticou uma violência contra a independência judicial do juiz federal de 1ª instância e pode ter cometido, em tese, abuso de autoridade, já que mandou o CNJ investigar o juiz para as “providências cabíveis”, o que provavelmente significará puni-lo com todos os castigos imagináveis, como vimos o CNJ fazer de modo abusivo e ilegal contra juízes e desembargadores que atuaram na Lava Jato.

O art. 27 da Lei de Abuso de autoridade considera crime “Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal ou administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício (..) de ilícito funcional ou de infração administrativa”.

Ao decidir em caso que está impedido, o que é uma situação mais grave do que a da mera suspeição, e por violar o decoro do cargo julgando em benefício próprio, Moraes comete, em tese, os crimes de responsabilidade previstos no inciso 2 e 5 do artigo 39 da Lei de Impeachment.

CRIMES DE RESPONSABILIDADE – Qualquer pessoa do povo pode denunciá-lo por estes crimes de responsabilidade, mas um levantamento do Estadão mostrou que, dos 77 pedidos de impeachment de ministros do Supremo no Senado, 40 são apenas de Moraes, que é até hoje blindado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

As chances de um pedido de impeachment, enquanto Pacheco estiver no cargo, são piores do que mínimas.

Até quando nós, brasileiros, gritaremos no deserto contra esses abusos judiciais e ilegalidades monstruosas do ministro Alexandre de Moraes?

(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

Assange provou ter feito jornalismo na melhor acepção dessa palavra

Livre, Julian Assange chega à Austrália após acordo judicial com EUA | VEJA

Depois de 14 anos, Assange reencontra a ansiada liberdade

Janio de Freitas
Poder360

A liberação de Julian Assange, criador do WikiLeaks, deveria motivar comemorações eloquentes mundo afora, tanto por profissionais do jornalismo como por seus leitores e ouvintes.  Os primeiros, desde o início da perseguição que roubou quase 14 anos de Assange, deram a todo o caso tratamento burocrático e eventual. Dos outros surgiram incontáveis grupos de defesa de Assange, mais ativos do que volumosos.

O WikiLeaks foi criado para divulgar informações relevantes e de interesse público, no entanto sonegadas nos meios de comunicação por desvendar práticas inaceitáveis do poder político, econômico ou militar.

O PROCESSO – Acessível por jornalistas em geral, dotado de uma rede de confirmação e publicação, o WikiLeaks cumpriu o prometido. O governo dos Estados Unidos processou Assange, indiciado por quase duas dezenas de acusações. Pôr em risco a segurança nacional, divulgação de documentos secretos, arquivo de outros 250 mil documentos confidenciais, espionagem, traição, comprometimento do Exército. Enfim, um repertório para 170 anos de prisão, portanto prisão perpétua se condenado por todas as acusações.

Assange asilou-se por 7 anos na Embaixada do Equador em Londres, até ser expulso por um novo governo equatoriano. E posto na cadeia inglesa “preventivamente” por quase 5 anos, até esta semana.

Tinha 38 anos quando a perseguição começou. Está com 52. Entre um e outro marco, pôde apenas batalhar contra a deportação para os EUA ou para a Suécia, que o entregaria aos norte-americanos antes mesmo de julgá-lo por hipotética violência sexual contra duas suecas.

TORTURAS E MATANÇAS – As revelações que criaram a perseguição foram, por exemplo, vídeos de tortura em presos na invasão dos EUA do Iraque, documentos da espionagem norte-americana nas instituições superiores de outros países, vídeo do assassinato de cinco pessoas (dois jornalistas), que conversavam quando soldados norte-americanos decidiram fuzilá-los; provas de ordens ilegais, de instruções contra a população civil, o horror imposto aos afegãos e aos iraquianos pelo Exército dos EUA.

Com exceções mínimas, os meios de comunicação ocidentais aceitaram argumentos absurdos da acusação, como ameaça à segurança nacional, na revelação jornalística de tortura, assassinatos, crueldades contra civis, infiltração de espionagem em governos alheios.

Os crimes não foram de Assange. O WikiLeaks fez jornalismo na melhor acepção desse nome. O mesmo fez Edward Snowden, ainda perseguido pelas revelações de crimes contra o direito internacional por órgãos dos EUA.

CONTRA O BRASIL – Houve crimes inclusive contra o Brasil, como as gravações clandestinas de reuniões e telefones no Palácio do Planalto. Barack Obama não foi capaz nem de se desculpar, ainda que em nome do seu governo, pelas gravações e demais espionagens de que a então presidente Dilma Rousseff foi alvo.

É improvável que os russos algum dia tenham experimentado a liberdade de imprensa. Mas é outro exemplo de farsa ordinária a acusação que a imprensa europeia faz agora a Putin, pelo anunciado fechamento da Rússia a 80 publicações e emissoras da União Europeia.

Desde 2022, em represália à invasão da Ucrânia, a União Europeia fechou as portas a numerosas publicações russas, dando-as por financiadas pelo governo Putin. Réplica e tréplica de censuras, o resto é farsa.

BELA EXPRESSÃO – Liberdade de imprensa é uma bela expressão. Usá-la com legitimidade para fazê-lo tem muito menos adeptos do que inimigos, bem ou mal disfarçados.

Assim se entende que a perseguição a Julian Assange não mobilizasse a imprensa ocidental para defendê-lo. Nem movesse os jornalistas para celebrar sua liberação.

Pois é, Julian Assange passara a simbolizar a autêntica liberdade de imprensa.

França vai ao segundo turno sem acordo para ter governo majoritário

Partido de Marine obteve 33% dos votos e ainda é pouco

Pedro do Coutto

As eleições na França serão decididas no próximo domingo, dia 7 de julho, quando será o segundo turno do pleito. O partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen, saiu à frente no primeiro turno das eleições parlamentares realizadas no último domingo.

A sigla, segundo o Ministério do Interior francês, obteve 33% dos votos. A Nova Frente Popular, um grande bloco de partidos de esquerda, ficou em segundo lugar, com 28% dos votos, e o bloco centrista do presidente francês, Emmanuel Macron, terminou em terceiro lugar, com 20% dos votos.

RECORDE – O pleito, que havia sido convocado apenas três semanas atrás, teve recorde de participação em quase quarenta anos – na França, o voto não é obrigatório  – e concretizou o favoritismo do grupo político de Le Pen. O resultado seguiu o que projetaram pesquisas de intenção de votos.

Pelo sistema político da França, semipresidencialista, os eleitores elegem os partidos que vão compor o Parlamento. A sigla ou a coalizão que obtiver mais votos indica então o primeiro-ministro, que, no país europeu, governa em conjunto com o presidente — este eleito em eleições presidenciais diretas e separadas das legislativas e que, na prática, é quem ganha mais protagonismo à frente do governo.

REDUÇÃO – O resultado já implica em uma redução acentuada na presença do Renascimento — grupo político de Macron — na Assembleia Nacional. Após conquistar 250 cadeiras em 2022, tornando-se o grupo com maior representação parlamentar, os governistas terão entre 70 e 120 deputados eleitos, de acordo com as estimativas dos institutos de pesquisa. Mesmo no cenário mais otimista projetado pelos institutos, os aliados de Macron ficam atrás da Nova Frente Popular, que deve conquistar um mínimo de 150 assentos.

Novamente o panorama francês coloca a opção entre a direita e uma composição de centro-esquerda capaz de derrotá-la nas urnas. É preciso que haja união entre Macron e as esquerdas estabelecida no decorrer desta semana para que o eleitorado da França impeça a tomada do poder pela ultra-direita.

Não será uma tarefa fácil, mas também será difícil para a direita fazer qualquer união com outras legendas, uma vez que o radicalismo direitista o isola no conceito popular.  As urnas definirão o que acontecerá, mas as dificuldades de Macron serão grandes, pois ele não mostrou capacidade de liderança nesses últimos anos.

E o poeta Carlos Nejar pagou alto preço pelo excesso de amor a todas as coisas

Carlos Nejar | Poemas, Lygia fagundes telles, EscritoresPaulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, tradutor, ficcionista e poeta gaúcho Luís Carlos Verzoni Nejar, da Academia Brasileira de Letras, no poema “Coisas, Coisas”, lamenta o alto preço que pagou pelo excesso de amor a todas as coisas.

COISAS, COISAS
Carlos Nejar

A despeito do amor,
as coisas todas
se fizeram ao mar.
Não quis retê-las.
Não conheci regresso.

Coisas, coisas
vos amei por excesso.
E o universo
me foi alto preço.

Todos os bens
vendidos em leilão.
O ar vendido.
Os rios.
As estações.

Comprei arrobas de chuva
ao meu pomar.
Trouxe neblina
de arrasto
pela morte.

Comprei a noite
e dei o menor lance
ao horizonte.
Coisas, coisas
vos amei por excesso.

Lula se acostumou tanto a mentir que agora não sabe mais dizer a verdade

Brasil Soberano e Livre: Piada do Ano: Lula diz que não é dono do triplex  no Guarujá

Charge do Alecrim (Arquivo Google)

Deu no Estadão
(Editorial)

O Brasil já está tão habituado a ter sua inteligência ofendida pelo sr. Lula da Silva que passou sem causar a devida estupefação o discurso que o presidente da República fez na posse de Magda Chambriard na presidência da Petrobras. Linha após linha, ali está, documentado para a posteridade, até onde a mendacidade de Lula é capaz de ir para adulterar a realidade na ânsia de reescrever a história e adaptá-la a seus devaneios.

Esse nosso Hesíodo de fancaria quer fazer o País acreditar que os tenebrosos governos lulopetistas foram, na verdade, a época de ouro do Brasil e que, se a Lava Jato não tivesse aberto a caixa de Pandora, ainda estaríamos cercados de pastores e ninfas numa Arcádia onde reinaria a felicidade absoluta.

MILHARES DE EMPREGOS? – Disse o Guia Genial dos brasileiros que a Petrobras era a ponta de lança de um inebriante desenvolvimento nacional durante o mandarinato lulopetista.

Por exemplo, o demiurgo festejou a criação, naquela época, de milhares de empregos com o impulso que deu à indústria naval, tendo a Petrobras como única cliente, “para atender à demanda intensa de um período de ouro”.

Se piada fosse, não teria graça. Não sendo, é uma agressão aos fatos: como se sabe, grande parte dos estaleiros está abandonada em razão da evidente incapacidade do setor de concorrer com a indústria estrangeira – de resto um resultado óbvio diante da obtusa exigência de conteúdo nacional e da ausência de mão de obra qualificada, entre outros fatores que Lula e os petistas, na sua megalomania, ignoraram.

E A CORRUPÇÃO – E aqui nem se está falando na corrupção desbragada que esse projeto ensejou. Mas Lula tratou de tocar no assunto fazendo questão de violentar a memória coletiva nacional, não só ao negar que tenha havido corrupção, como ao responsabilizar pela destruição da empresa aqueles que denunciaram a corrupção.

“Com o falso argumento de combater a corrupção, a Operação Lava Jato mirava, na verdade, o desmonte e a privatização da Petrobras”, disse Lula.

E então, no melhor estilo lulopetista, o presidente atribuiu essa suposta ofensiva contra a Petrobras, capitaneada pela Lava Jato, à “elite política e econômica deste país”, que segundo ele “não tem nenhum compromisso com a soberania do Brasil e a vida do nosso povo”.

BRASIL GRANDE – Ou seja, na mitologia de Lula, a “era de ouro” do Brasil e da Petrobras foi subitamente encerrada quando uma tal “elite” decidiu destruir o País. Lula foi claríssimo:

“Eles querem que o Brasil seja pobre, eles querem que o Brasil seja pequeno, eles querem que o Brasil não possa tratar de seu povo. E nós queremos o Brasil exatamente ao contrário. Um Brasil grande, um Brasil rico e um país capaz de cuidar do seu povo com a dignidade que cada ser humano merece”.

Mas os brasileiros não têm mais com o que se preocupar. “Aqui estamos, de volta, para reconstruir a Petrobras e o Brasil”, anunciou Lula, triunfante, como se sua parolagem bastasse para que o País esquecesse que, na longa e tenebrosa era do lulopetismo no poder, a Petrobras praticamente quebrou e o Brasil empobreceu.

SEM LIMITES – Deu muito trabalho para interromper a razia promovida por essa turma, impondo limites de governança à Petrobras e de gastos para o governo. Em outras palavras, são esses limites que Lula quer demolir, em nome, segundo ele, da “realização de um sonho do povo brasileiro”.

Mas, é preciso admitir, há um trecho no discurso em que Lula, ainda que involuntariamente, está coberto de razão. É quando ele diz que “a desgraça da primeira mentira é que você passa o resto da vida mentindo para poder justificar as mentiras”.

Ele se referia à “leviandade das denúncias contra a Petrobras”, mas poderia perfeitamente, caso se tornasse subitamente honesto, estar se referindo a si mesmo.

PEDIR DESCULPAS – E Lula também está corretíssimo quando diz que é inútil esperar que pessoas levianas “tenham a coragem de pedir desculpas pelo engano cometido”, porque “o pedido de desculpa é uma demonstração de grandeza, e os acusadores não têm grandeza para pedir desculpa pelos erros que cometeram”.

Exato: se alguém está esperando que Lula afinal reconheça os incontáveis e brutais erros que cometeu, é melhor esperar sentado

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
No editorial enviado por Mário Assis Causanilhas, ficou faltando o Estadão falar sobre a falência da Sete Brasil, a macroempresa estatal criada por Lula e que virou central de corrupção. Quanto a Hesíodo, foi um dos maiores poetas gregos da Idade Arcaica. Viveu aproximadamente no ano 800 a.C. na Beócia, no centro da Grécia. Passou parte de sua vida na sua cidade natal, a aldeia de Ascra. (C.N.)

A que erros do Supremo o ministro Fachin está se referindo ao fazer críticas?

Fachin defende “comedimento” e “virtude da parcimônia” do Judiciário

Até agora, nenhum ministro respondeu às críticas de Fachin

Carlos Newton

Já era esperado. Um belo dia, algum dos ministros do Supremo Tribunal Federal iria acabar fazendo uma autocrítica sobre a necessidade de comedimento e compostura ao Judiciário. E isso aconteceu justamente nesta sexta-feira, dia 28, quando era encerrado o festivo Fórum Jurídico de Lisboa, organizado pelo ministro Gilmar Mendes.

Coube ao vice-presidente Edson Fachin, que declinou do convite para ir ao Fórum, mandar um duro recado aos demais ministros, ao destacar que “comedimento e compostura são deveres éticos, cujo descumprimento solapa a legitimidade do exercício da função judicante”.

ABISMO INSTITUCIONAL – Fachin foi adiante e acrescentou que “abdicar dos limites é um convite para pular no abismo institucional”, dizendo que estava cético em relação à capacidade dos tribunais processarem suas diferenças.

“Creio não estar sozinho aqui: em momento de mudanças sociais intensas, cabe à política o protagonismo, ao Judiciário e às cortes constitucionais, mais especificamente, a virtude da parcimônia: evitar chancelar os erros e deixar sedimentar os acertos, sempre zelando pela proteção dos direitos humanos e fundamentais”, disse.

As colocações de Fachin são claras, graves e irrespondíveis. Quatro dias depois, reina um silêncio protocolar, nenhum dos outros dez ministros fez o menor comentário a respeito.

MUITA COISA ERRADA – Engana-se quem pensa que Fachin estivesse se referindo especificamente ao macroevento de Lisboa, que este ano bateu recorde, recebeu mais de 160 autoridades brasileiras e pretende se transformar no maior espetáculo da Terra, deixando no limbo o cineasta Cecil B. DeMille.

Muito além do “Gilmarpalooza”, Fachin estava se referindo ao Supremo como um todo. Note-se sua ênfase. Ao reforçar a virtude da parcimônia, o ministro frisou que é preciso “evitar chancelar os erros e deixar sedimentar os acertos, sempre zelando pela proteção dos direitos humanos e fundamentais”.

E a que erros estaria se referindo Fachin? Ora, não faltam equívocos na trajetória recente, a começar pela Súmula 606, que veta habeas corpus para exame de possível erro judiciário cometido por decisão individual de ministro, de turma ou do próprio plenário.

OUTROS ERROS – Fachin pode estar se referindo também ao gravíssimo erro cometido em 2019, quando o STF transformou o Brasil no único país da ONU que não prende criminoso condenado em segunda instância, quando se esgota o exame do mérito da questão. Na ocasião, Fachin foi contra a decisão que libertou Lula da Silva.

Mas participou de outro erro grotesco, em 2021, quando ele próprio inventou a incompetência territorial absoluta em causas não-imobiliárias, para anular todas as condenações de Lula.

Depois disso, Fachin tem participado de outros erros clamorosos, como as condenações de invasores dos três poderes em 8 de janeiro, transformando pés-de-chinelo em terroristas merecedores de 17 anos de reclusão e uma enorme multa em dinheiro.

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P.S.
Em tradução simultânea, Fachin não é melhor nem pior do que os demais ministros. Todos os onze, sem exceção, têm culpa no cartório por erros judiciários que estão sedimentados. Como dificilmente eles farão autocrítica, poderiam, pelo menos, parar de errar daqui para a frente, cancelar a súmula 606 e voltar a prender criminosos após condenação em segunda instância, como os demais 192 países da ONU. É uma situação vexaminosa e que não tem mais sentido em ser mantido, pois Lula está solto e não precisa mais dessas decisões sob medida, digamos assim. (C.N.)

Marine Le Pen mais perto do poder e a instabilidade continua, a perder de vista

Marine se isolou do pai para crescer na política francesa

Vinicius Torres Freire
Folha

O muro de contenção da enchente de ultradireita na França está mais do que rachado. Tem buracos relevantes e pedaços feitos de areia, a julgar por declarações dos líderes dos partidos de centro e das minoritárias centro-direita e direita tradicional. Caso o eleitorado aceite as indicações das lideranças, pode ser que a Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen fique mais perto de uma maioria na Assembleia Legislativa, ainda muito difícil.

Esse é o resultado político mais significativo do primeiro turno da eleição legislativa. Como previam as pesquisas, a RN teve cerca de 33,2% dos votos. A Nova Frente Popular, coalizão de esquerda, 28,1%. O Juntos, coalizão liderada por Emmanuel Macron, presidente da República, ficou com 21%. O Republicanos, da velha direita tradicional, gaullista, teve 10%.

SEGUNDO TURNO – Tais números dizem algo da febre, mas não dão a temperatura precisa do resultado. Na eleição francesa, elege-se um deputado por distrito. Se o candidato não tiver mais de 50% dos votos, vai para um segundo turno com os adversários que tiverem mais de 12,5% dos votos. Cerca de 500 distritos devem ter segundo turno, no domingo que vem (7).

Em eleições para presidente ou para a Assembleia Nacional, desde 2002 forma-se uma “frente republicana” a fim de barrar a vitória da ultradireita. No caso das eleições legislativas, o plano de barragem é fazer com que os candidatos que tenham chegado em terceiro lugar em seu distrito desistam da disputa e apoiem o adversário com mais chance de vencer a ultradireita.

Neste 2024, a situação se complicou.

INDEFINIÇÃO – Macron e seu primeiro-ministro, Gabriel Attal, disseram que os candidatos do Juntos que chegaram em terceiro lugar devem desistir em nome de alguém que “defenda como nós os valores da república” (contra a ultradireita, contra a RN). Mas não deixam claro se o apoio deve se estender aos candidatos da França Insubmissa (LFI), partido majoritário e mais radical da coalizão de esquerda (que inclui o Partido Socialista, partidos ecologistas e o ora suave Partido Comunista).

Os partidos aliados de Macron, da pequena centro-direita, pedem também votos “republicanos”, mas excluem explicitamente candidatos da LFI.

O Republicanos declarou que o “macronismo morreu”, mas não recomendou voto. Aliás, assim que Macron dissolveu a Assembleia e convocou eleições, parte do Republicanos se bandeou para a RN, da ultradireita.

SALADA ESQUERDISTA – A recusa do voto na Nova Frente Popular se deve ao fato de que essa salada esquerdista é dominada pela França Insubmissa (LFI). A LFI é, por sua vez, liderada por Jean-Luc Mélenchon, ex-trotskista, ex-socialista e fundador do partido de esquerda de mais sucesso (embora não muito grande), deste século.

A fim de evitar rejeição, os líderes dos demais partidos coligados vêm alegando que Mélenchon, figura controversa e “radical”, não seria líder de nada em um eventual governo da esquerda.

O programa da Nova Frente Popular é esquerda padrão, ora algo chocante para a maioria da França: aumento de gastos, de impostos sobre ricos, de benefícios sociais e do salário mínimo, estatizações, revogação das reformas previdenciárias.

DIREITA PALATÁVEL – Por outro lado, com um eleitorado ora mais conservador e mais preocupado com imigração e segurança, a ultradireita se torna mais palatável. A RN é uma mutação da Frente Nacional, partido filonazista do pai de Marine, Jean-Marie Le Pen.

Marine mudou o nome do partido, excluiu filonazistas e antissemitas mais vocais, o pai inclusive, e baixou o tom contra a União Europeia.

Ainda que recomendações de voto evitem a formação de uma maioria da ultradireita, é muito provável que o parlamento fique ao menos rachado em terços. O governo seria, pois, minoritário. Assim, a instabilidade deve prosseguir, a perder de vista.

Ministros do Supremo deviam aproveitar o recesso para fazer uma bela autocrítica, mas….

A culpa é do STF - Espaço Vital

Charge do Duke (O Tempo)

Juliano Galisi
Estadão

Metade dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) está em recesso até o dia 1º de agosto. De 2 a 31 de julho, ficam suspensos os prazos dos processos que tramitam na Corte.

Cinco ministros continuarão em atividade, para a análise de medidas liminares ou de teor urgente: Alexandre de Moraes, André Mendonça, Dias Toffoli, Flávio Dino e Gilmar Mendes.

PRESIDÊNCIA – Além deles, a presidência da Corte será intercalada entre o vice-presidente do STF, Edson Fachin, que comandará os trabalhos de 1 a 16 de julho, e pelo presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, que assume as funções de 17 a 31 de julho.

Ainda que esteja em recesso, cada membro da Corte pode atuar dentro de seu acervo, ou seja, os processos nos quais é relator. No entanto, a tendência é que, nestes casos, o andamento dos processos seja postergado para o início do segundo semestre.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A parada para o recesso serve para descanso dos ministros, mas poderia ser usada também para que cada um faça uma autocrítica sobre os erros e exageros que vêm sendo cometidos, a pretexto de salvar a democracia, que já tinha sido salva pelo Alto Comando do Exército. A quem interessa transformar o STF numa fábrica de falsos terroristas?
(C.N.)

O conceito histórico de Estado moderno não conseguiu pegar na América Latina

1 julho 2024 Título: Promiscuidade A ilustração figurativa de Ricardo Cammarota foi executada em técnica digital vetorial em duas cores chapadas: imagem em preto e fundo em verde água. Na horizontal, proporção 17,5cm x 9,5cm, a ilustração, em estilo ícone figurativo, apresenta uma máscara de assaltante com furos nos olhos e boca brancos. Ao seu redor, vários elementos de representação de conexões digitais. No centro da testa da máscara tem um quadrado branco com as letras em preto, maiúsculas: AI

Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Saudade do corrupto honesto. Bastava-lhe um punhado de dinheiro e uma gostosa. Hoje, a corrupção é sistêmica, profissional, tem marketing e governança. Logo haverá um MBA.

O Brasil está à deriva. Uma jangada ao sabor das tempestades. Dominado pelos salamaleques de autoridades promíscuas. Antes se tratasse de sexo, mas não, trata-se de simples falta de vergonha na cara regada a muito “blábláblá”.

CRIME ORGANIZADO – As pautas humanistas, elas em si importantes, quando transformadas em foco das instituições públicas, tornam-se justificativas para a pura inação regada a festas e eventos. Inação diante da principal ameaça à democracia — tema da moda —, do cadafalso dos brasileiros no cotidiano, do desespero com as instituições judiciais: o crime organizado.

O Estado está atravessado pelas acomodações ao crime organizado. O mercado também acomoda-se às demandas dos “novos players” —o capital criminoso.

Claro que esse é um drama mundial. A globalização do capital do crime é muito mais ágil do que a do capital legítimo —não vou entrar no debate sobre essa legitimidade aqui, porque cada vez mais será difícil a separação entre dinheiro limpo e dinheiro sujo no mercado mundial.

SERÁ “PATROCINADOR” – Sobre isso, aliás, o filósofo britânico John Gray, autor do excelente “Cachorros de Palha”, já disse que sua principal objeção ao mercado da biotecnologia regada a inteligência artificial é que um dos seus patrocinadores “premium” será o crime organizado.

Argumento elegante que desvia o foco da crítica do comum debate ético para a incomum consciência de que o mundo, como sempre, capitula —para além dos seus eventos festivos, cada vez mais parecidos com a Disney— diante da violência organizada de cada época.

O conceito histórico de Estado moderno, nascido lentamente na Europa depois de guerras religiosas devastadoras, não pegou na América Latina, com possíveis exceções nalguns países, por algum tempo.

NARCOTRÁFICO – A principal ameaça à democracia no Brasil é o narcotráfico, “player” na vida institucional do país, de lavagem de dinheiro no mercado a incursões sólidas e sustentadas nos agentes públicos de vários graus.

Fala-se muito da incursão das redes e plataformas na soberania do Estado brasileiro, com palavras pomposas, mas, na verdade, quem está destruindo a soberania do Estado brasileiro é o narcotráfico.

Todo mundo sabe disso, inclusive os bonitinhos que fumam um baseado. Fume um baseado, mas não pose de santa Teresinha, mesmo com as bênçãos dos cardeais do STF. O país está à beira de uma guerra civil silenciosa, mata-se gente a rodo, mais do que numa guerra, e tudo que o brilhante presidente faz é posar de papa dos oprimidos.

É TUDO PROMÍSCUO – Mas a promiscuidade do Estado brasileiro não está limitada à participação nos negócios do crime organizado. O comportamento promíscuo junto a empresários poderosos, suas festas, eventos patrocinados, viagens caras ao exterior para discutir um país ingovernável, onde se morre de fome, onde bandidos matam gente honesta — claro, existem os bonitinhos que acham que bandidos são vítimas sociais —, onde você não pode falar no celular na rua, onde quando você para no trânsito você espera algo pior do que o trânsito em si.

A política sempre se deu bem com a patifaria, o crime, a promiscuidade, porque todos eles transitam pelo poder.

PACIENTE TERMINAL – Nas últimas décadas, a corrupção aqui atingiu um nível tal que o paciente parece terminal. O problema é que uma sociedade terminal implica um processo terrível de dissolução.

Afora simpatias ideológicas, oportunismos diversos, vaidades ciclópicas, a confiança nas autoridades do Estado recua. Mas elas continuam brincando de príncipes nos seus castelos financiados sabe-se lá por quem — além, claro, dos nossos impostos pagos para nada.

O problema da erosão da soberania do Estado é que ele precisa, cada vez mais, se tornar violento e autoritário, cercando quem ele considera um risco, para manter a soberania. Perde em legitimidade, mas ganha em aniquilar a liberdade de pensamento. Resumindo a ópera: pune-se o cidadão comum, mas se negocia — o próprio Poder Judiciário — 
com os bandidos de estimação.

Democracias nas mãos de governantes ineptos funcionam muito precariamente

Charge - Democracia - Vvale

Charge do Justino (Arquivo Google)

Marcus André Melo
Folha

Para Giovanni Sartori (1924-2017), a democracia consiste em um maquinismo e um conjunto de maquinistas que têm que pôr a máquina para funcionar. Mas quando nos queixamos da democracia e denunciamos sua crise geralmente focamos o maquinismo e esquecemos os operadores. Ou atacamos os maquinistas e esquecemos o maquinário.

O maquinismo é a estrutura constitucional do país. Embora defenda que o maquinário das democracias atuais é “decente”, embora esteja “caindo frequentemente nas mãos de mecânicos ineptos”.

QUASE SUICIDA – Sartori é cáustico em relação a nossa Constituição, que é repleta de “dispositivos quase suicidas” e “promessas irrealizáveis”. (Sim, a carta de 1988 continha um dos mais bizarros dispositivos já incorporados a uma constituição: o tabelamento da taxa de juros).

3Mas o núcleo duro do nosso maquinário é o presidencialismo de coalizão com um Poder Executivo constitucionalmente forte, e com forte delegação de poderes ao Judiciário e Ministério Público. Não tenho dúvidas que o nosso maquinário é “decente”: na realidade, o presidencialismo multipartidário é a forma modal de sistema de governo no mundo atualmente.

Ele produz, sob certa condições, governabilidade e bom governo. Os múltiplos pontos de veto garantem inclusividade —muitos atores participam dos processos decisórios— e certa irreversibilidade quando as decisões são tomadas (deixemos de lado por um momento a imprevisibilidade criada pelo STF). O sistema se move de forma lenta e ineficiente. Como um transatlântico. Mas por isso mesmo não permite transformações radicais, como aconteceu sob Bolsonaro.

IMOBILISMO – O risco de imobilismo é perene, sim. As democracias sempre produzem bom governo em um sentido negativo porque impedem a tirania. Mas não são sinônimos de bom governo.

As escolhas coletivas sob a democracia podem produzir resultados pífios. Mas há um mecanismo que potencialmente pode permitir correção de rumos —eleições novas—, e alternância de poder; (mecanismo que sob o parlamentarismo quando não temos mandatos fixos para o Executivo é eficiente).

Como já discuti neste espaço, o mal governo pode resultar também de crenças tecnicamente infundadas que produzem resultados pífios nas políticas públicas.

A máquina também exige um operador eficiente, como insiste Sartori. Para forjar consensos e maiorias. Aí está o nosso principal desafio: não temos tido operadores que combinem capacidade de forjar coalizões efetivas, crenças tecnicamente fundadas, e apoio popular. Ausência de confrontos institucionais paralisantes, portanto, governabilidade não equivale a bom governo.

Como é possível que a democracia americana tenha apenas Biden e Trump?

Biden vs. Trump 2.0: polarização política e fragilidade da democracia - OPEU

Estados Unidos têm dois líderes absolutamente imprestáveis

Mario Sabino
Metrópoles

Os democratas vinham tentando esconder a decrepitude de Joe Biden, mas a farsa ficou impossível depois do debate de quinta-feira à noite com Donald Trump. O candidato republicano deitou e rolou com as suas mentiras diante de um oponente com olhar vazio, balbuciante e que chegou a ficar congelado em determinados momentos.

É impensável que Joe Biden possa ser presidente por mais quatro anos. Na verdade, é impensável que ele ainda possa continuar à frente dos Estados Unidos até o final do ano.

UM EXEMPLO – Winston Churchill foi primeiro-ministro do Reino Unido pela segunda vez quando tinha perto de 77 anos. Não é uma idade avançada, mas ele já havia sofrido pequenos derrames. O rei George VI cogitava pedir a Winston Churchill que renunciasse, mas morreu antes disso, dando lugar a Elizabeth II.

O glorioso primeiro-ministro que ela herdou sofreu um grande derrame em 1953, chegou a ficar com uma parte do corpo paralisada, mas a sua condição médica foi escondida, e ele continuou no cargo até 1955, quando ainda estava para completar os 81 anos de Joe Biden.

Era outro homem (não se conhece nenhum episódio de decrepitude de Winston Churchill durante o seu governo) e era outra época: não havia tanta exposição midiática. Hoje, é de se duvidar que ele se sustentasse como primeiro-ministro em estado precário de saúde.

CAUSAR ESPANTO? Assistir a políticos e jornalistas democratas fingindo espanto com o estado físico e mental de Joe Biden é de dar náuseas. Desde há muito o atual presidente americano vem se mostrando trôpego, confuso e ausente. Os democratas, contudo, vinham colocando tudo na conta dos seguidores de Donald Trump, como se os vídeos que eles colocavam na internet fossem fake news.

No último encontro do G7, na Itália, a primeira-ministra Giorgia Meloni teve de intervir para trazer Joe Biden de volta ao grupo de chefes de governo — o presidente americano havia se virado de costas, completamente alienado do contexto, para observar um paraquedista que havia acabado de fazer uma exibição.

Pouco antes, durante um evento político, Barack Obama teve de abraçar Joe Biden e simular que conversava com ele para retirá-lo do palco onde havia permanecido paralisado.

QUADRO NEGATIVO – A decrepitude de Joe Biden e a recandidatura de Donald Trump fazem parte de um quadro muito negativo para o Ocidente. Os Estados Unidos e as demais potências ocidentais estão sem líderes à altura para enfrentar os desafios representados pelo russo Vladimir Putin e pelo chinês Xi Jiping. E não há perspectiva de que essa situação mudará para melhor no médio prazo. Pelo contrário, a tendência é piorar.

Quinta-feira, depois do debate, uma indagação permaneceu não só para mim, imagino: como é possível que a mais exuberante democracia do mundo não tenha sido capaz de produzir dois candidatos à Casa Branca que não fossem um mentiroso compulsivo e um senhor visivelmente decrépito?

O problema não é a polarização, mas a qualidade dela. Ainda bem que a democracia americana é forte o suficiente para aguentar este péssimo trecho de história. Só falta combinar com os russos — e com os chineses.

Querem impor que o pior da esquerda é menos ruim do que o pior da direita

Comparar judeus com nazistas revela a pulsão secreta do antissemitismo |  VEJA

Comparar judeus com nazistas revela existir antissemitismo

Mario Sabino
Metrópoles

Um advogado e um historiador franceses publicaram, nessa quinta-feira, um artigo no jornal Le Monde em que afirmam que o antissemitismo da esquerda é menos ruim do que o de direita. O antissemitismo é um tema central da campanha para as eleições legislativas antecipadas na França, o país que conta com a maior comunidade judaica da Europa e onde os ataques antissemitas se multiplicaram desde o ataque do Hamas, em 7 de outubro.

De acordo com Arié Alimi e Vincent Lemire, “não há equivalência entre o antissemitismo contextual, populista e eleitoreiro, utilizado por certos membros de La France Insoumise (de extrema esquerda) e o antissemitismo fundador, histórico e ontológico do Rassemblement National (de extrema direita)”.

ÓDIO CONTRA JUDEUS – Troque a palavra “antissemitismo” por “racismo contra negros” ou “homofobia” e a aberração da tese ficará ainda mais estridente aos ouvidos amortecidos.

Não há “antissemitismo contextual”, o ódio contra judeus independe de adjetivos, e o seu uso para fazer populismo e obter votos (no caso, entre os numerosos muçulmanos franceses) apenas faz do antissemita um cínico oportunista também.

A esquerda francesa, assim como todas as outras, vinha manifestando despudoradamente o seu antissemitismo, sempre sob o manto do “antissionismo” pró-Palestina, até o presidente Emmanuel Macron dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições. Agora, confrontada prematuramente com a sua posição indigna, está fazendo o que sempre faz: relativiza seus próprios defeitos.

APOIADOR DE ISRAEL – O Rassemblement National, por seu turno, renunciou ao seu antissemitismo “fundador, histórico e ontológico” e tem sido forte apoiador de Israel e da comunidade judaica na França desde muito antes da antecipação das eleições. Tanto é que um grande número de judeus decepcionados com a esquerda cogita votar no partido da extrema direita, apesar de ele ainda contar com membros racistas.

O dado que ultrapassa as fronteiras francesas e o âmbito do antissemitismo é este: basta você ser de esquerda para que todos os seus pecados passados e presentes tenham justificativa e sejam desculpados. Se você é de direita, contudo, já está condenado de antemão ao inferno mesmo que o seu presente virtuoso renegue o passado pecador.

IGUAL AO BRASIL – O caso brasileiro é visível até para as tias do zap por ser caricatural de tão paroxístico: a Lula e aos lulistas perdoa-se tudo aquilo que se deve condenar a Jair Bolsonaro e aos bolsonaristas. O primeiro é o bem; o segundo é o mal.

Existem as fake news do bem e as fake news do mal; existem a corrupção do bem e a corrupção do mal; existem o machismo do bem e o machismo do mal; existem a ignorância do bem e a ignorância do mal, existem a depredação do bem e a depredação do mal, inexiste golpe de esquerda e só existe o golpe de direita — e, a partir deste momento, macaqueemos a gauche francesa, existem o antissemitismo do bem e o antissemitismo do mal.

EXEMPLO DE ROUSSEAU – O cerne do marketing da esquerda é simples: tudo nela só pode ser bom ou desculpável porque a esquerda quer a redenção da humanidade. É assim desde o pioneiro Jean-Jacques Rousseau, que entregou os cinco filhos à adoção e ainda achava que se livrar da prole foi uma ótima ação.

Como a direita não quer redimir a humanidade, mas privilegia o direito e o mérito individuais, ela só pode ser associada aos baixos instintos e piores sentimentos. É coisa de gente egoísta e impiedosa e, portanto, portadora de uma culpa original.

Depois de ler o artigo do advogado e do historiador franceses, recomendarei a judeus vítimas de antissemitismo perguntar se o seu algoz é de esquerda ou de direita. Se for de esquerda, eles devem aceitar o contexto e deixar para lá. Quem sabe até agradecer quem os ofende, humilha e agride. Afinal de contas, é um bom antissemita, não um mau antissemita de direita.

Ao invés de brigar, Congresso podia aperfeiçoar a decisão do Supremo sobre drogas

Nani Humor: Tiras - legalização da maconhaDora Kramer  Folha

Como quem reconhece que transita na seara alheia, o Supremo Tribunal Federal fez uma ressalva à decisão ao criar critério de quantidade para diferenciar o usuário do traficante de maconha: 40 gramas “até que o Congresso legisle sobre a matéria”.

Um jeito, um tanto enviesado é verdade, de acenar ao equilíbrio institucional. O Parlamento pode ou não aceitar o aceno, embora num primeiro momento de reações acaloradas pareceu optar por ignorar o gesto algo encabulado do tribunal.

ENFRENTAMENTO – A sinalização, por ora, é de escolha pelo enfrentamento, levando adiante na Câmara a proposta aprovada no Senado que criminaliza porte e posse de todas as drogas em qualquer quantidade. Um retrocesso em relação à lei em vigor.

Justificativa? Dar uma “resposta” ao STF por alegada invasão de competência. O tribunal, por sua vez, argumenta que responde à omissão do Congresso e assim avança para além da questão posta em ação sobre a constitucionalidade do artigo 28 que livra de prisão o usuário, não só de maconha, sem estabelecer regra de diferenciação do traficante.

No quesito inércia temos uma situação em que o roto fala do rasgado. De um lado, os legisladores não se deram ao trabalho de aperfeiçoar no detalhe essencial o texto vigente há 18 anos, desde 2006. De outro, os magistrados levaram nove anos, numa ação de 2015, para dizer se um dispositivo era inconstitucional ou não.

SOLUÇÕES OBJETIVAS – Posto o cenário em que há arrazoados e desarrazoados de ambas as partes, há uma oportunidade de se escapar à competição rasa sobre quem é mais forte, para entrar no terreno das soluções objetivas.

Se o julgamento do Supremo deixou dúvidas, e deixou, o Congresso tem a chance de substituir o cabo de guerra pelo exame objetivamente sensato do tema e preencher as lacunas mediante sua inquestionável prerrogativa de legislar.

É o que a Constituição chama de exercício da independência e harmonia entre os Poderes.

Das cinco medidas para “cortar gastos”, sobra uma, que não tem a ver com isso…

Charge do Duke (O Tempo)

Charge do Duke (O Tempo)

Eliane Cantanhêde
Estadão

Além de descumprir uma regra elementar de política externa ao apoiar Joe Biden contra Donald Trump, correndo o risco de trazer problemas para o Brasil, o presidente Lula está desmontando, uma a uma, as medidas dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet para cortar gastos. Das cinco, sobra uma, exatamente a que não caracteriza corte nem gastos, mas apenas combate a fraudes, o que deve, ou deveria, ser mera rotina.

Se Lula de fato aprovou a lista em reunião com os ministros, como anunciado, ele disse uma coisa em privado e está fazendo outra em público. Ou… é tudo um jogo de cena, em que os ministros assumem medidas impopulares, dando a Lula a chance de vetá-las. Eles levantam a bola, Lula corta, a torcida aplaude. O foco continua sendo na receita, os gastos ficam prá lá.

É BRINCADEIRA… – O primeiro item da lista nem chegou a ser levado a sério, apesar de muito importante. Alguém está ouvindo falar em “fim dos supersalários”? Os que ganham acima do teto constitucional dão de ombros, porque sabem que não vai adiante. E juízes, promotores e procuradores podem dormir sossegados, com seus penduricalhos que consomem muitos milhões de reais e ninguém ousa derrubar.

O segundo item, também natimorto, foi a mudança na previdência dos militares. Em bom e alto som, Lula acaba de deixar claro que não vai mexer nesse vespeiro. Até com uma certa razão, convenhamos. Não pela proposta em si, que, mais cedo ou mais tarde, terá que ser discutida, mas pela questão de oportunidade.

Não é hora de jogar o Ministério da Defesa e a cúpula legalista das Forças Armadas contra suas tropas. Ao contrário, é hora de prestigiá-los e fortalecê-los na caserna.

NO PURGATÓRIO – A lista continua com a desvinculação de benefícios do INSS, como pensões e aposentadorias, do salário mínimo. Lula descartou com veemência, em entrevista ao UOL: “Não considero isso gasto, gente. A palavra salário mínimo é o mínimo que a pessoa precisa para sobreviver.”

Em seguida, despachou Haddad e Tebet para os arredores do inferno: “Se eu acho que vou resolver o problema da economia brasileira apertando o mínimo do mínimo, eu estou desgraçado, cara. Eu não vou para o céu, eu ficaria no purgatório”.

Ninguém quer os dois ministros no inferno – nem fora do governo –, mas um presidente de esquerda, com a marca histórica da igualdade e da distribuição de renda, num país onde o problema mais cruel, pai e mãe das grandes mazelas, é a desigualdade social? A pergunta seguinte é: qual a alternativa? A ameaça fiscal é também uma tragédia para o crescimento econômico e, ao fim e ao cabo, para a base da pirâmide.

REDUÇÃO DOS PISOS – O item cinco da pauta de corte de gastos é a mudança dos pisos constitucionais da Saúde e Educação, que cai no mesmo caso, pois dizem respeito exatamente aos mais pobres, que mais necessitam do Estado. E é uma escolha de Sofia.

De um lado, a estimativa é que consumam 112% do orçamento até 2028, sem margem para todo o resto, inclusive programas essenciais como habitação, auxílio gás e defesa civil. Do outro, Saúde e Educação podem perder até R$ 500 bilhões, em nove anos, caso haja mudanças nos pisos. O que é mais justo? Ou melhor, o que é menos injusto?

Bem, da lista do tal “corte de gastos”, sobrou a revisão de cadastros do INSS, que não tem nada a ver com corte nem com gastos, mas com fiscalização e fraude. E, assim, o governo finge que está decidido a cortar, os aliados fingem que acreditam, Lula tira uma casquinha populista e tudo continua como está. O equilíbrio fiscal? Balança, mas não cai. Ou será que cai?

Após multa, Elon Musk manda recado a Moraes: “A lei está violando a lei”

Estudo mostra que X saiu perdendo na briga entre Musk e Moraes |

Musk e Moraes vão se estranhar pelo resto da vida?

Do UOL

O bilionário Elon Musk, dono da rede social X, criticou o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), por decisões judiciais em que o magistrado determina a retirada de conteúdos ou perfis do ar.

Musk reproduziu comunicado publicado em perfil oficial da rede social. Na nota, o departamento para Assuntos Governamentais Globais de X disse que Moraes determinou a exclusão de publicações que criticavam um político brasileiro e deu à plataforma um prazo, segundo eles, irrazoável de apenas duas horas para cumprir a decisão.

ARTHUR LIRA – A rede social não cita o nome do político, mas se refere ao caso do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). O X acabou sendo multado por Moraes em R$ 700 mil por não retirar posts tidos como ofensivos ao parlamentar.

O ministro havia determinado o bloqueio de uma conta na rede social e a remoção de sete postagens da usuária, em até duas horas, sob pena de multa diária de R$ 100 mil, conforme noticiou o Estadão Conteúdo. A plataforma diz ter pago R$ 100 mil e aguarda recurso para não pagar os R$ 700 mil.

O bilionário reproduziu o comunicado publicado pela rede social, neste domingo (30), e acrescentou na legenda: “A lei violando a lei”.

SEM COMENTÁRIOS – O UOL procurou a assessoria de imprensa do STF, mas não obteve retorno até o momento. Se houver, a reportagem será atualizada.

O embate entre Musk e Moraes começou em abril. Na ocasião, o dono do X afirmou que o ministro estava promovendo a “censura” no Brasil e ameaçou não cumprir medidas judiciais que restrinjam o acesso a perfis da rede social. O empresário foi entãoincluído no inquérito das milícias digitais do STF, relatado por Moraes

Em resposta a um seguidor, o bilionário chegou a chamar o ministro de “Darth Vader do Brasil”. O personagem, que é o mais famoso vilão da série de filmes Star Wars, serve ao Império Galático, ajudando a manter a galáxia em repressão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A matéria foi enviada por Armando Gama (com quem a redação precisa se comunicar, mas o e-mail dele está desatuallzado).  O texto deixa uma dúvida, pois não esclarece se o prazo de duas horas é exíguo demais, já que exige que haja funcionários da X de plantão no Brasil 24 horas por dia. Será que é a isso que Musk se refere, ao falar em violação da lei (Marco Regulatório da Internet)? (C.N.)