Conservadores vão levar uma surra histórica nesta eleição no Reino Unido

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O primeiro-ministro e a esposa votaram de manhã cedo

Vinicius Torres Freire
Folha

O Partido Conservador deve apanhar na eleição desta quinta-feira. Não vai apenas ceder o poder para o Partido Trabalhista, alternância costumeira faz um século. Pode ter o pior resultado da história

É difícil estimar o número de cadeiras que caberá a cada partido, pois o voto é distrital. Pelas projeções mais recentes, os conservadores ficariam com 95 cadeiras (tinham 344 quando o Parlamento foi dissolvido). Os trabalhistas, com 452, 70% do total de 650 parlamentares. Os liberal-democratas teriam 60. O Reform UK, com 5.

OUTROS PARTIDOS – Pelas pesquisas de total de votos, o Partido Conservador, com 22%, não ficaria muito longe do Reform UK, do nacionalista xenófobo Nigel Farage, com 17%. Os trabalhistas teriam 39%. Os Liberal-Democratas, 12%.

Não se trata de mudança dramática ou tumultuária, como pode acontecer na França. O próximo premiê será sir Keir Starmer, trabalhista com gosto de biscoito água e sal e uma gota de geleia de frutas vermelhas. Os liberal-democratas são um biscoito de polvilho.

Mais notável é o esfarelamento de mais uma força política tradicional. Aconteceu com a centro-direita e a centro-esquerda francesas. Há grande risco de acontecer com o Partido Social-Democrata da Alemanha, atropelado na eleição legislativa europeia de junho.

REVOLTA ANTIGA – Faz mais de década, há revolta contra o “sistema”, ignorada pelas elites políticas tradicionais e por aqueles cientistas políticos para quem está tudo bem e operante, não importa o que pense o povaréu.

Os conservadores estão no poder desde 2010. Foram 14 anos de fato difíceis. A rebarba da Grande Recessão de 2008-09 feriu salários, empregos e finanças públicas, sangria agravada com a recaída europeia na crise, em 2012-2013. Veio a epidemia; a inflação por causa das crises da Covid, de energia e da Ucrânia.

Desde 2010, a renda (PIB) per capita britânica cresceu 11%; na Europa do euro, 13%; nos EUA, 23%. Desde a Covid, o PIB per capita britânico encolheu 0,5%; o alemão, 1%. O francês cresceu um nada de 0,4%; o americano, mais 6%.

NADA A OFERECER – Mas o que os conservadores ofereceram? Um premiê infame como Boris Johnson (2019-22). Liz Truss, a ultraliberal que durou menos que uma alface e quase quebrou o país no seu governo de 45 dias, em 2022.

O feito conservador mais importante foi a grande obra reacionária e de estupidez econômica do Brexit, em 2016, de resto o primeiro grande sucesso de público das campanhas de mentiras das direitas. O atual premiê, Rishi Sunak, tem sido tratado feito um palerma gerador de memes, dados o seu fracasso e gafes ridículas.

Considere-se o quadro pintado até pela “Economist” em um balanço da situação do país. Como se sabe, a revista britânica tem alergia sarcástica a esquerdismos, embora nesta eleição “vote” no trabalhista Starmer.

PIOR AVALIAÇÃO – “O quadro geral é de serviços públicos desmoronando”. O Serviço Nacional de Saúde, pilar da social-democracia britânica, tem a pior taxa de avaliação em sua história de 76 anos. “O despejo frequente de esgotos nos cursos de água do país… é outra metáfora já pronta”. “Os tribunais estão sobrecarregados e as prisões estão lotadas. Autoridades locais estão falindo; bibliotecas e piscinas fecharam”. “Parte do pano de fundo é o programa de austeridade (cortes profundos e rápidos na despesa pública) que começou em 2010. Regiões pobres, que dependem mais do apoio estatal, foram duramente atingidas”.

Segundo dados compilados pela Resolution Foundation, a pobreza absoluta caiu brutalmente no último governo trabalhista (1997-2010), mesmo sendo “Terceira Via”; a economia crescia.

Nos anos conservadores, a redução da pobreza foi lentíssima. Desde 2020, cresceu. Ruim. Mas, pelo menos, a direita extrema parece fora do cardápio britânico. Por ora.

Em plena crise, os problemas da confiança cega de Lula em um certo ministro

Incertezas em Brasília: No governo ninguém se entende e todos se queixam de  Lula | VEJA

Lula e Rui Costa inventaram um governo em que ninguém se entende

Matheus Leitão
Veja

Na última segunda-feira, 1º de julho, na Bahia, o presidente Lula surpreendeu ao fazer uma defesa inusitada do ministro Rui Costa, chefe da Casa Civil. Durante a inauguração da duplicação de uma estrada, federal em Feira de Santana, Lula afirmou que alguns de seus ministros mentem para ele, mas que Rui Costa e Miriam Belchior sempre desmentem essas mentiras.

Como é? Essa declaração levanta várias questões — entre elas algumas perguntas: Quem são esses ministros mentirosos? Não é assustador que chefes de ministérios estejam falando inverdades ao presidente?

VÁRIAS CONTROVÉRSIAS – Assim, agora, leitor, quero falar sobre a confiança cega de Lula em um ministro envolvido em várias controvérsias, por assim dizer.

Ao contrário do que Lula pensa, Rui Costa tem sido frequentemente apontado como articulador de intrigas no governo, criando um ambiente de desunião semelhante ao visto durante o governo de Jair Bolsonaro.

O episódio mais grave foi a demissão de Jean Paul Prates da Petrobras, que também afetou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Aliás, Haddad, frequentemente contrariado por Rui Costa, tem enfrentado dificuldades para manter a coesão na área econômica e até a segurança no cargo dentro do governo.

OUTRAS CONTROVÉRSIAS – Além disso, Costa tem se envolvido em outras disputas internas, como o contingenciamento de R$ 20 bilhões do PAC, defendido por Alexandre Padilha, e na disputa por vagas no STJ, quando foi derrotado.

E Rui Costa ainda está envolvido em algumas investigações em curso.

Esses episódios destacam os riscos da confiança cega de Lula em um ministro que, ao invés de promover a unidade, parece alimentar desavenças e instabilidades dentro do governo.

Milei volta a atacar Lula, acusando-o de interferir nas eleições na Argentina

Milei aposta no extremismo na busca por holofotes na política

Pedro do Coutto

Não se compreende à luz da lógica porque o presidente da Argentina, Javier Milei, ataca o presidente Lula da Silva de forma permanente, ampliando suas declarações nesta semana. Milei disse nesta terça-feira  que quem critica seus ataques contra o presidente Lula da Silva é um “perfeito dinossauro idiota”. O argentino voltou a acusar Lula de interferir nas eleições de 2023 e participar da “campanha mais suja da história”. O presidente brasileiro declarou no ano passado que torcia para a candidatura de Sergio Massa, que perdeu para Milei no segundo turno.

Em uma postagem no X, Milei voltou a chamar Lula de “comunista” e disse que o petista foi “preso por corrupção”. A tensão entre os presidentes vem após a notícia de que o líder argentino visitará o Brasil neste fim de semana, mas não se encontrará com Lula, segundo o porta-voz da presidência, Manuel Adorni.

GOLPE –  O texto na rede X começou com Milei insistindo que a tentativa de golpe de Estado na Bolívia na semana passada, fracassada, foi uma armação. A primeira vez em que seu governo defendeu essa teoria fez com que o governo boliviano convocasse o embaixador da Argentina em La Paz para prestar esclarecimentos, um ato de reprimenda no meio diplomático.

Em seguida, o ultraliberal volta a dizer que tinha apenas “falado a verdade” sobre Lula depois que o brasileiro condicionou um encontro com Milei a um pedido de desculpas por parte do argentino em uma entrevista. “Não conversei com o presidente da Argentina porque acho que ele tem que pedir desculpas ao Brasil e a mim. Ele falou muita bobagem. Só quero que ele peça desculpas”, disse o petista na ocasião.

MERCOSUL –  Javier Milei também desistiu de participar da Cúpula do Mercosul na próxima segunda-feira, em Assunção, no Paraguai, pois estaria com a “agenda sobrecarregada”. Integrantes da Casa Rosada confirmam que Milei participará, entretanto, da Conferência de Ação Política Conservadora, que será realizada em Camboriú (SC), onde deve se encontrar o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Não faz sentido algum as ações gratuitas de Milei contra Lula e também a sua aproximação com Jair Bolsonaro. É confuso o comportamento do argentino. A hostilidade é um mal sem razão, sem nada que possa ter projetado essa agressividade, demonstrando que há um desequilíbrio profundo no comportamento de Milei. São coisas que não tem sentido. É preciso que Lula suporte essas atitudes sem revide. O seu silêncio no caso é a melhor resposta.

“Hoje, trago em meu corpo as marcas do meu tempo”, cantava o genial Taiguara

Retratos: Taiguara — álbum de Taiguara — Apple Music

Taiguara foi o cantor mais censurado do país

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor Taiguara Chalar da Silva (1945-1996) nascido no Uruguai durante uma temporada de espetáculos de seu pai, o bandoneonista e maestro Ubirajara Silva, foi um dos melhores compositores da MPB e considerado um dos símbolos da resistência à censura durante a ditadura militar, tanto que teve, aproximadamente, 100 músicas vetadas, razão que o levou a se auto-exilar na Inglaterra em meados de 1973.

A letra da música “Hoje” foi censurada, porque fazia alusão ao governo militar, à tortura (trago em meu corpo, as marcas do tempo) e insinuava que a sociedade era infeliz sob o comando da ditadura militar. A música foi gravada por Taiguara no LP Hoje, em 1969, pela EMI-Odeon.

HOJE
Taiguara

Hoje
Trago em meu corpo as marcas do meu tempo
Meu desespero, a vida num momento
A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo…

Hoje
Trago no olhar imagens distorcidas
Cores, viagens, mãos desconhecidas
Trazem a lua, a rua às minhas mãos,

Mas hoje,
As minhas mãos enfraquecidas e vazias
Procuram nuas pelas luas, pelas ruas…
Na solidão das noites frias por você.

Hoje
Homens sem medo aportam no futuro
Eu tenho medo acordo e te procuro
Meu quarto escuro é inerte como a morte

Hoje
Homens de aço esperam da ciência
Eu desespero e abraço a tua ausência
Que é o que me resta, vivo em minha sorte

Sorte
Eu não queria a juventude assim perdida
Eu não queria andar morrendo pela vida
Eu não queria amar assim como eu te amei.

Lula abre o cofre e acelera pagamento das emendas do PT e da base aliada

Charge Clayton | Charges | OPOVO+

Charge do Clayton (O Povo/CE)

Camila Turtelli
O Globo

Mesmo não sendo a maior bancada do Congresso, o PT está no topo entre os partidos mais contemplados com emendas parlamentares individuais pagas pelo governo às vésperas das eleições municipais. Indicações de deputados e senadores da legenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberam R$ 1,2 bilhão em recursos em 2024, movimento que se acentuou nas últimas semanas. A sigla reúne menos congressistas que o PL, que abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro e aparece em quarto lugar no ranking.

As emendas individuais são distribuídas de forma equânime entre os parlamentares: cada deputado tem direito a R$ 37,8 milhões e, cada senador, R$ 69,8 milhões. O pagamento é obrigatório, mas é o Executivo que determina o ritmo de repasses.

OPOSIÇÃO RECLAMA – As emendas de parlamentares do PL, principal opositor do governo, já repassadas somam R$ 1,04 bilhão, o que coloca a sigla atrás também de PSD e MDB. O partido tem a maior bancada da Câmara, com 95 deputados, e a segunda do Senado, com 13 representantes.

Recentemente, o líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), disse que a gestão petista está represando a liberação de recursos de emendas impositivas individuais de deputados do partido na área da Saúde.

Em nota, a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), responsável pela relação com os parlamentares, disse que o calendário de emendas prevê o empenho de R$ 26,9 milhões e o pagamento de R$ 21,5 milhões até o próximo dia 5, sexta-feira. De acordo com a pasta, os repasses têm o “objetivo de viabilizar obras e acelerar o atendimento à população nos municípios”.

PRIVILÉGIOS – Em caráter reservado, líderes afirmam que “passam para a frente da fila” parlamentares que votam mais com o governo, mas que eles acreditam que o Executivo vai ainda acelerar os pagamentos ao longo da semana e corrigir possíveis distorções para não arranhar ainda mais sua relação com o Congresso.

— É notado que o governo acelerou muito o pagamento e os empenhos. Foi feito um acordo com o colégio de líderes para a execução dentro do cronograma preestabelecido pela própria SRI. Acredito que a SRI não vai em momento algum cair na gafe ou no erro de não honrar o seu compromisso. E no compromisso, não tinha nenhuma priorização por partido — afirmou o deputado Danilo Forte (União-CE), relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024.

Já a deputada Adriana Ventura (Novo-SP) criticou o mecanismo usado pelo Palácio do Planalto: — O governo manipula o momento da execução das emendas individuais para priorizar seus aliados e influenciar o resultado das eleições municipais.

VALA MAIOR – No mês passado, o governo fez o maior empenho (pré-pagamento) de emendas da história do país, às vésperas das eleições municipais. Foram R$ 14,2 bilhões em verbas indicadas pelo Congresso. Um valor maior do que foi empenhado durante todo 2019, ano de criação do extinto “orçamento secreto”, quando foram R$ 12,97 bilhões.

O ritmo que o governo impôs para o envio dos recursos é resultado da pressão de parlamentares para abastecer o caixa de prefeituras aliadas a tempo das eleições municipais de outubro e dentro do prazo permitido por lei.

O executivo tem até o próximo dia 6 para fazer os empenhos, que depois desse prazo ficam bloqueados até o final das eleições.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É um verdadeiro festival. Mas terá reduzido efeito nas eleições municipais, porque o Congresso já não liga para o governo, apenas usa e abusa dele. É impressionante. Faltando dois anos e meio de mandato, Lula já virou “pato manco”, como dizem os norte-americanos: não manda mais em nada. (C.N.)

Entre o otimismo e o pessimismo, devemos lembrar que sonhar não é proibido

Os otimistas acreditam que este mundo é... Zygmunt Bauman - PensadorCarlos Newton    

Temos razão para pessimismo, porque o planeta Terra corre sérios riscos de não só implodir ecologicamente, mas até mesmo explodir, em virtude da guerra-invasão da Rússia contra a Ucrânia, das instabilidades diplomáticas entre China e Estados Unidos, do conflito entre israelenses e palestinos, do crescente descrédito do sistema bancário-financeiro internacional, com reflexos em muitos países.

Nesse clima, o capitalismo brasileiro está desmoralizado, com os empresários mais ricos do país (Lemann, Sicupira e Telles) de alguma forma envolvidos nas inexplicáveis inconsistências contábeis de cerca de R$ 50 bilhões não auditadas nos balanços das Lojas Americanas.

MAIS PROBLEMAS – Estamos saindo da tragédia no Rio Grande do Sul, com 169 mortes e 56 pessoas ainda desaparecidas, além de 806 feridos e prejuízos bilionários, sem recomposição e previsão de reconstrução urbana, a curto prazo. Há também o quase extermínio sofrido por indígenas ianomâmis, em pleno governo Lula, e as queimadas na Amazônia e no Pantanal.

Na geleia real de Torquato Neto, há mesmo razão para pessimismo. E o assunto mais divulgado na imprensa nos últimos dias é a polêmica sobre os juros básicos da taxa Selic, com o próprio presidente Lula da Silva criando um clima altamente negativo.

Mas é preciso lembrar que a imprensa é assim mesmo. Em sua célebre obra “A Era da Incerteza”, o economista americano John Kenneth Galbraith dedica um capítulo inteiro a analisar as distorções da imprensa, cujo principal objetivo é simplesmente causar impacto.

FORÇA DO DINHEIRO – Além disso, há a força do dinheiro e os interesses econômicos. Com a volta de Lula, que distribui generosas verbas de publicidade, a corrupção saiu do radar das principais publicações, que hoje são absolutamente contra a Lava Jato e aceitaram passivamente a libertação de Sérgio Cabral e José Dirceu, vejam a que ponto chegamos.

Mesmo assim, não devemos ser pessimistas. É preciso lembrar que as coisas já foram bem piores. Não se pode negar que exista uma dinâmica para melhorar as condições de vida, circunstância que é comprovada pelo aumento da média de vida da população da imensa maioria dos países.

Ora, se estamos vivendo mais, não é somente devido ao avanço da ciência, mas também em função de melhores condições de vida. Eis uma realidade palpável e acima de opiniões divergentes, nao importa se você é pessimista ou otimista.

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P.S.  Na vida, tudo precisa ter limites. Ser pessimista significa ser infeliz. Manter o otimismo é bem melhor e custa mais barato, porque sonhar não é proibido e ainda não paga imposto.   (C.N.)

Soa estranho proibir os cassinos quando no celular já se joga no que quiser

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No celular, até os menores de idade conseguem fazer apostas livremente

Hélio Schwartsman
Folha

Parlamentares bolsonaristas alegam razões sanitárias para opor-se ao PL que autoriza o funcionamento de cassinos no Brasil. Para eles, a medida agravaria o já sério problema do vício em jogos.

É comovente ver esse pessoal que pontificava contra as vacinas quando morriam 4.000 brasileiros por dia de Covid-19 preocupado com a saúde pública. Nunca é tarde para converter-se à medicina baseada em evidências.

ALGO ERRADO – Mesmo que se admita essa hipótese mais benigna, é forçoso reconhecer que há algo errado com o timing desses congressistas. Hoje, qualquer indivíduo com um smartphone e um cartão de crédito já carrega um cassino no bolso, tendo acesso irrestrito, em sites brasileiros e estrangeiros, a qualquer modalidade de jogo conhecida ou por criar.

Aliás, ao procrastinar por vários anos a “nacionalização” das apostas em resultados esportivos, o Parlamento fez com que o Tesouro perdesse um volume considerável de arrecadação de impostos, que escorreu para outros países.

A diferença entre os cassinos e o status quo é que os primeiros ainda geram alguns postos de trabalho, como os de crupiê, garçom e prostituta (no Brasil a atividade é legal, não custa lembrar), que inexistem na modalidade virtual.

PROBLEMA REAL – O problema do jogo patológico é real. E quanto mais oportunidades de aposta houver, mais pessoas cairão em padrões compulsivos de comportamento. Mas a resposta adulta para essas questões não é proibição, que aliás soa patética num mundo com internet. Lidar com as próprias compulsões é um ônus individual. Um dos mais disseminados problemas de saúde mental no Brasil é o alcoolismo, mas ninguém defende seriamente que fechar todos os bares do país seja a solução.

Como sempre digo aqui, precisamos ser minimamente coerentes. Não dá para invocar o princípio da autonomia individual para justificar a legalização das drogas e do aborto, mas ignorá-lo quando o assunto é jogo.

O dia em que foi possível relacionar Lula a Einstein, por opiniões impróprias

Cena do documentário Einstein e a Bomba, da Netflix - Metrópoles

Como tudo é relativo, até Einstein falava muita bobagem

Mario Sabino
Metrópoles

O presidente da República tem um argumento definitivo para desqualificar os seus críticos. Ao dizer que a bancada petista deveria defender mais o seu governo, Lula disse o seguinte:

“Não há nada que a gente não tenha que dar resposta. A gente não tem que levar desaforo para casa porque quem nos critica não vale uma titica de cachorro.”

O nível do debate político no Brasil é impróprio até para os padrões de uma borracharia, que não se suspeitava tão elevados, mas é sempre possível enriquecê-lo.

DIÁRIOS DE EINSTEIN – Pouco antes de ler o argumento do presidente da República, tomei ciência do lançamento no Brasil do livro Os Diários de Viagem de Albert Einstein: América do Sul, 1925.

A passagem do pai da Teoria da Relatividade pelo Brasil foi registrada por ele de maneira um pouco mais lisonjeira do que a forma que utilizou para se referir aos argentinos, “uma gentalha repulsiva”.

Quando estava no Rio de Janeiro, Albert Einstein escreveu: “Por razões acústicas, a comunicação era impossível. Pouco senso científico. Aqui sou uma espécie de elefante branco para eles, e eles são macacos para mim”.

CLIMA QUENTE – O determinismo geográfico também levou o físico alemão, de origem judaica, a atribuir ao clima quente a nossa inaptidão para a vida intelectual:

“O europeu precisa de um estímulo metabólico mais intenso do que essa atmosfera eternamente mormacenta tem a oferecer. De que valem a beleza e a riqueza naturais nesse contexto? Acho que a vida de um escravo europeu ainda é mais rica e, acima de tudo, menos idílica e nebulosa”, registrou Albert Einstein.

Eu nunca imaginei que um dia escreveria um artigo que relacionasse Lula a Albert Einstein, mas este dia chegou. Eu e você que critica o governo não valemos “uma titica de cachorro” para o primeiro e seríamos incluídos pelo segundo no universo mais abrangente de “macacos” indolentes. Está explicado.

Bolsonaro critica ‘faculdades mentais’ de Lula e aponta a volta do ‘sistema’

Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro disputam o segundo turno das eleições. -  (crédito: Kleber Sales/CB/DA PRESS)

Charge do Kleber Sales (Correio Braziliense)

Deu na Folha

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez nesta quarta-feira (3) uma postagem em suas redes sociais na qual ataca o presidente Lula (PT) e cita o que considera uma série de feitos de sua gestão no governo federal.

“Qualquer inocente sabe que o filho do sistema não está com suas faculdades mentais normais. Um indivíduo dominado pelo ódio, pela mentira e pela traição”, afirmou Bolsonaro na postagem.

SISTEMA VOLTOU – “Desejamos a ele, como ser humano, que melhore o mais rápido possível para o bem do Brasil. Enquanto isso a picanha que virou abóbora agora se transformou em pé de galinha. O chefe da organização então taca imposto na cervejinha e na picanha, os principais produtos que fez campanha enganando o eleitor”, disse Bolsonaro, que00 0em seguida lista o que considera feitos de seu governo e concluiu: “Hoje, o sistema voltou”.

Bolsonaro comandou o país de 2019 e 2022 e perdeu a reeleição para Lula, um fato inédito entre presidentes que disputaram a eleição no cargo. O ex-presidente teve uma gestão marcada pelo negacionismo na pandemia e por declarações golpistas e ataques a outros Poderes.

À época, a Folha ouviu psicanalistas sobre o comportamento de Bolsonaro no governo. Lógica paranoica, messiânica e delirante, demonstrações de fragilidade e onipotência foram alguns dos elementos identificados pelos especialistas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Se os dois rivais forem submetidos a um exame de capacitação mental, a coisa ficará feia. Nem Lula nem Bolsonaro têm a menor condição de exercer a Presidência da República. O esforço que fazem é prejudicial a eles e ao Brasil. (C.N.)

Lembrem que é importante ter coragem, como nos ensinava Domenico De Masi

Domenico de Masi, sociólogo italiano, foi um admirador do Brasil

Domenico De Masi, sociólogo italiano, foi um admirador do Brasil

Vicente Limongi Netto

O pensador italiano Domenico De Masi partiu em setembro de 2022. Deixou obras marcantes. Entre elas, o livro “É importante ter coragem!”. Estimulante para milhões de brasileiros, que dormem vestidos de coragem para enfrentar as adversidades do dia seguinte.

Coragem para enfrentar malfeitores. Coragem para tentar conseguir emprego; coragem para enfrentar a bandidagem e a insegurança que tomaram conta do país; coragem para sofrer e ser humilhado nos postos de saúde e hospitais em busca de atendimento médico; coragem para repudiar o racismo e a homofobia; coragem para viver em barracos que são destruídos pelas enxurradas.

MAIS, AINDA – Coragem também para enfrentar o assédio moral e sexual; coragem para andar em ônibus imundos e caindo aos pedaços; coragem para multiplicar diariamente o alimento escasso para os filhos; coragem para se indignar com os governantes ruins e corruptos; e, por fim, ter força e coragem para, através do voto, mandar para o inferno, de uma vez por todas, a cambada de maus políticos que, com a maior cara lambida, mentem, desapontam e infelicitam os brasileiros.

E foi perda de energia a melancólica bravata de Lula chamando Trump de “mentiroso”. Não ganha nada com o patético destempero. Não cresce, política nem eleitoralmente. O dólar não vai abaixar, o Banco Central não vai reduzir os juros, os preços dos alimentos vão continuar altos, milhares de brasileiros continuam dormindo e esmolando nas ruas.

O bom senso e a boa política esperam que Lula também não responda aos insultos do presidente argentino, Javier Milei, que o chamou de “corrupto”. Perderia feio o arranca-rabo.

MATEMÁTICA ERRADA – Perdão, mas a manchete esportiva do Correio Braziliense de hoje, quarta-feira, “A matemática dos gols”, é incorreta. O texto fala de números, portanto, o correto seria “A aritmética dos gols”. 

Devemos lembrar que a matemática é a ciência dos números. Mas quem trata deles, somando, diminuindo, multiplicando e dividindo, é a aritmética.

O equívoco é comum, perpetuou-se. Em rádios, televisões e impressos. Mas é chato, irritante e desagradável.

SOFRIMENTO – Empate sofrido. Com sabor de derrota. Brasil começa jogando bem, se impondo em campo, mas logo volta a irritante mesmice. Permite que o adversário comece a gostar do jogo. A tirar proveito da apatia do Brasil. Astros dos quais o torcedor espera alegrias, Vini Junior e Rodrigo, horrorosos. 

Setores confusos, passes errados no meio de campo.  Com vantagem no placar, é preciso saber tocar a bola, ficar com ela, girar o jogo.  Com raras, produtivas e ameaçadoras jogadas de ataque.  Dorival erra feio, colocando o menino Endrick no sufoco, para jogar 10 minutos.

Muito cedo para tornar-se salvador da Pátria de chuteiras. Aspecto saudável foi ver os jogadores cantando o hino nacional, com a mão direita aberta no coração. Detalhe que estava faltando, que lamentei, aqui, na Tribuna, há 10 dias. 

Lula age mais como líder oposicionista do que como chefe do governo

Lula continua discursando no tom de quem faz oposição

Dora Kramer
Folha

O político Lula fez carreira apontando o dedo da acusação ao alheio. Perdeu três eleições presidenciais, ganhou outras três e a terceira vitória à chefia da nação parece ter incutido no cidadão Luiz Inácio da Silva a certeza de que é dono do monopólio da razão.

Ele exibe a convicção de que seus argumentos são mais certeiros que os fatos, por mais que as palavras se contraponham aos atos da realidade.

CRETINICES – Chama de cretinos os que relacionam as turbulências na economia às suas declarações contra o Banco Central autônomo. Menospreza a necessidade de o governo conter despesas em prol do equilíbrio das contas públicas.

Lula alega com isso direcionar seu foco aos mais necessitados, justamente as primeiras vítimas do risco inflacionário decorrente do desequilíbrio fiscal.

Sendo assim, fala aos menos informados, a fim de obter deles a concordância quanto à simplificação enganosa de suas diatribes de cunho populista. Ainda que venha a obter benefícios na popularidade com isso, por ora atraiu para si um semestre tormentoso que se fecha com o governo nas cordas.

PARECE OPOSIÇÃO – O presidente assemelha-se mais a um oposicionista que a um mandatário no exercício do poder que tem entre suas atribuições aplacar as crises quando elas se apresentam. Criá-las é característica da oposição.

E Lula tem atuado como se adversário fosse do bom andamento dos trabalhos governamentais. Só reclama, ao passo que dele se esperam soluções. Exequíveis, não fantasiosas, muito menos referidas num passado que passou.

Faz isso em detrimento do que deu certo no primeiro mandato para sinalizar agora a direção torta insinuada no segundo e adotada em vastidão de equívocos sob Dilma Rousseff. Até o tom exasperado da comunicação pessoal é inadequado para um presidente da República. Transmite angústia, quando precisaria demonstrar tranquilidade e irradiar sensatez.

Essa “nova filosofia” de Lula é velha e antigamente chamava-se “pedalada”

Charge do dia: Treinando no rolo – Bike é Legal

Charge do Reynaldo Berto (Arquivo Google)

Carlos Andreazza
Estadão

O governo não consegue reverter benefícios fiscais ineficientes. E cria novos. Enquanto se tenta levantar novo voo de galinha na economia, autoriza a Fazenda a pedalar. Não sei o que veio antes, o ovo ou a galinha. Sei que a palavra de presidente resulta. Em matéria econômica, faz preço. Tanto mais se acumulado o verbo. Lula sabe.

“O problema não é que tem que cortar [despesas]. Problema é saber se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação.”

DÓLAR SOBE – Nem ovo nem galinha. Dane-se a cronologia. Se falou antes ou depois de o dólar ganhar mais corpo. Fala sempre. Antes e depois. Quando provocado a tratar de corte de gastos. É como reage. Eleito o presidente do Banco Central (um exibido) como o adversário. E o dólar a expandir a mordida.

“Isso vai melhorar quando eu puder indicar o presidente do BC, e vamos construir uma nova filosofia.”

Qual a filosofia? “Isso” significa o chefe do BC cumprir as funções do cargo conforme compreendidas por Lula. Melhoraria para Lula. Já imenso o carrego de expectativas sobre indivíduo – qualquer que seja o galípolo – nem sequer indicado. O “vamos construir” a encurtar margem para trabalho autônomo. Projetado um novo Roberto Campos Neto. Ou ministro de Lula, ou ministro de Bolsonaro.

SEM MEDO – “Vamos parar de olhar a dívida pública brasileira com o medo que se olha. Dívida do Brasil não é dívida. É troco, de tão pequena se comparada à de outros países”.

Coragem ante a dívida pública não para controlá-la. Se a dívida não é dívida, por que medo? Estamos a 75,7% do PIB. E crescendo. Lula fala em troco.

Haddad fala num Lula que “nunca desautorizou o ministro da Fazenda na busca do equilíbrio das contas.” Não mente. Autorizado o equilíbrio das contas via aumento de receita – caminho já cansado – e revisão de gastos tributários, jornada em que se empilham reveses.

MAIS UM BENEFÍCIO – O governo não consegue reverter benefícios fiscais ineficientes. E cria novos. Dilma III. Está aí o Mover. Mais um para a indústria automotiva, na gordura do qual se malocou a taxação das blusinhas, conta (troco?) no lombo dos remediados. Projeto abraçado por Haddad – que é Lula, que sancionou.

A principal medida arrecadatória para 2024 tem adesão zero até aqui. A negociação para contribuintes derrotados pelo voto de desempate no Carf ainda não produziu um tostão.

Haddad esperando – previsto no Orçamento – R$ 55 bilhões. Lula autorizou.

NÃO FECHA – Com suas autorizações, a conta não fecha. Fecharia sob programa estrutural de desindexações-desvinculações, enfrentada a forma viciada como se compõe orçamento. Autorizará? Antes, proporia Haddad? Ora, não pode haver desautorização a plano não apresentado.

O plano em curso é o velho. Enquanto se tenta levantar novo voo de galinha, vai autorizada a Fazenda a pedalar – quem sabe uma PEC Kamikaze em 26? – por rolar o problema até 27.

É a filosofia. Por Dilma IV.

Senador diz ter provas de manipulação de Moraes para ajudar Lula na eleição

Chamado de “traidor“, senador Marcos do Val anuncia saída da política: “Não  merecem meu esforço“ | CNN Brasil

Marcos do Val diz ter coletado provas contra Moraes

Heitor Mazzoco
Estadão

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou em suas redes sociais ter provas de que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes manipulou as eleições de 2022 para beneficiar o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, nenhum documento foi apresentado pelo parlamentar para embasar as acusações. Procurado por meio da assessoria do Supremo, Moraes não se manifestou até o momento.

As acusações de do Val são postadas há dois dias na rede social X, antigo Twitter. Entre as publicações, o parlamentar cita exigências de Moraes contra a rede social de Elon Musk.

ILEGALIDADES – “Exigiram ilegalmente que o Twitter revelasse detalhes pessoais sobre usuários do Twitter que usaram hashtags que ele (Moraes) não gostou. Exigiram acesso aos dados internos do Twitter, em violação da política do Twitter. Procuraram censurar, unilateralmente, postagens no Twitter de membros efetivos do Congresso Brasileiro. Procuraram transformar as políticas de moderação de conteúdo do Twitter em uma arma contra os apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro”, afirmou o senador Marcos do Val, em um trecho da publicação.

O parlamentar ainda cita ter um dossiê contra Moraes “tratando apenas de uma das violações na exigência de retirada do ar de redes sociais de influenciadores”.

DIREITO DE DEFESA – “Moraes colocou pessoas na prisão sem julgamento por coisas que postaram nas redes sociais. Ele exigiu a remoção de usuários das plataformas de mídia social. E exigiu a censura de postagens específicas, sem dar aos usuários qualquer direito de recurso ou mesmo o direito de ver as provas apresentadas contra eles”, disse o parlamentar.

Entre apoio e questionamento, usuários do X chamaram as postagens do parlamentar de confusas. Um usuário disse que ele precisa publicar as provas, “porque o povo já não acredita mais em você”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nada de novo no front ocidental. O senador está apenas repetindo as acusações de Elon Musk, que são consistentes e provocaram reações no importante Comitê de Justiça da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, que controla os direitos humanos lá na matriz, mas também se mete quando há restrições a defesa e outras ilegalidades aqui na filial Brazil. Este assunto ainda vai render muito. Podem comprar pipoca. (C.N.)

Graham Bell e o telefone que encantou D. Pedro II: “Mas isto fala!”, exclamou

Na Filadélfia, Graham Bell surpreendeu o jovem imperador

Ruy Castro
Folha

Em maio de 1876, na Exposição do Centenário da Independência Americana, em Filadélfia, um jovem inventor se propôs a mostrar o funcionamento de sua última criação ao simpático monarca estrangeiro que se dirigira a ele —aliás, a única pessoa em toda a feira que lhe dera alguma bola. O jovem era o britânico Alexander Graham Bell. O monarca, aliás, também o único naquela comemoração eminentemente republicana, era o nosso Dom Pedro II, sempre atento às últimas da tecnologia.

Graham Bell passou a Dom Pedro uma espécie de corneta e pediu-lhe que a levasse ao ouvido. Afastou-se para o fundo do stand, tomou de um aparelho semelhante, ligado ao de Dom Pedro por um fio, e pareceu murmurar alguma coisa.

No mesmo instante, as palavras entraram pelos tímpanos do imperador: “To be or not to be…”. Dom Pedro não esperava por aquilo. Deu um salto para trás e exclamou: “Mas isto fala!”.

CLARO QUE FALAVA – Era o telefone, uma invenção a que Bell chegara ao tentar criar um aparelho que ajudasse os surdos a escutar e, sem querer, inventara um meio de comunicação que seria útil para todo mundo.

Ao dizer a Dom Pedro que pretendia comercializá-lo, o imperador respondeu: “Quando o senhor fizer isto, o Brasil será o seu primeiro cliente.” E foi. Pouco depois, Dom Pedro tornou-se o feliz usuário de uma linha ligando o Paço Imperial ao Paço de São Cristóvão —a primeira do Brasil e uma das primeiras do mundo. Desde então, ficou impossível imaginar o mundo sem telefone, não?

VOZ PASTOSA – Não. De uns tempos para cá, as pessoas deixaram de falar ou de atender ao telefone. Preferem receber mensagens escritas com os polegares e responder da mesma maneira.

Imagine se, ao ligar para D. Pedro naquele dia, Bell, depois de ouvir sua ligação chamar oito vezes, tivesse como resposta a odiosa voz pastosa:

“Deixe a sua mensagem na caixa postal.” Entre o ser ou não ser, ele só teria o não ser.

O que Brasil e Argentina têm a ver com a ridícula briga de Milei e Lula?

As aventuras de Milei no Brasil e a recepção de Lula e Bolsonaro

Charge do Baggi (Jornal de Brasília)

Marcelo Godoy
Estadão

“A mais triste forma de saber é estar ciente.” O verso do poeta Cassiano Ricardo mostra um dos dramas de Lula. O petista não parece ciente das consequências do que fala e faz. Os turiferários que o cercam fingem não enxergar o quanto se esgarça a política, afastando da República a moderação e a procura de consensos.

Busca-se a sobrevivência diante de um mundo exasperado, sem espaço para personagens como o francês Emmanuel Macron. Seu drama não se resume ao cálculo político desastroso ou à vaidade que acabou por destruí-lo. Há outro problema. E ele está no espírito do tempo. Uma nova era política parece condenar partidos e líderes à extinção catastrófica.

DISSE TROTSKY – No começo do século passado, a maré radical engoliu figuras como o social-democrata Karl Kautsky. Em 1918, ele repreendeu os bolcheviques em razão dos fuzilamentos na Guerra Civil russa. A história registra a resposta que Trotsky lhe deu:

“O terror do czarismo era dirigido contra o proletariado. A polícia czarista estrangulava os trabalhadores que militavam pelo socialismo. Nossas tchekas fuzilam os grandes proprietários, os capitalistas e os generais que se esforçam por restabelecer o regime czarista. Vocês conseguem captar essa… nuance?” O terror vermelho pretendia se justificar como a reação ao terror branco. Buscava-se legitimidade, comparando seus desmandos e diferenças com os do adversário.

Lula navega instintivamente em tempos de crispação. Sabe que políticos como Jean-Luc Mélenchon e Marine Le Pen atraem mais o eleitor do que quem lhe promete consenso e bom senso.

ANTAGONISMO – O presidente argentino Javier Milei tem a mesma consciência. É o antagonismo às elites corruptas, às castas insensíveis que se refestelam diante de um futuro que não mais promete dar às pessoas o mesmo que elas receberam de seus pais, que explica esse fenômeno.

Lula diz que Milei lhe deve desculpas. O argentino desdenha. E anuncia que virá ao Brasil. Não como chefe de Estado, mas como militante da direita radical, que promoverá um convescote em Santa Catarina. É possível que volte a chamar Lula de corrupto e crie novo incidente diplomático, a exemplo do que o envolveu com a Espanha. E, agora, com a Bolívia.

A diplomacia de Milei não é aquela das Nações, mas a dos partidos. O PT por muito tempo a exercitou, ainda que sem o histrionismo do argentino. Enquanto isso, pode-se perguntar: até onde os caprichos pessoais podem afetar as relações entre os países? Até onde Milei se arriscará diante da necessidade de exportar para o vizinho? O certo é que os atores desse drama parecem se manter distantes da mais triste forma de saber.

Biden precisa usar a lição de Roma Antiga para preservar a democracia

Sem condições de debater. Biden entrega o ouro ao bandido

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Foi duro assistir ao debate americano. Primeiro, pelo show de mentiras e demagogia de Trump. Segundo, e mais importante, pela agonia de ver Biden falar, torcendo a cada pergunta para que ele concluísse suas frases ao menos de forma inteligível. Nem sempre conseguiu. Trocava nomes, esquecia palavras, perdia o fio da meada.

Uma pesquisa da CBS News/YouGov publicada no domingo mostra que 72% dos eleitores creem que Biden não tem a saúde mental e cognitiva necessária para servir como presidente. Antes do debate, eram 65%. Os sinais estão claros. Ele perde para Trump em todas as pesquisas. Precisa virar o jogo: aparecer mais, gerar fatos positivos, surpreender o eleitorado. Qual a chance de consegui-lo? Entrevistas e aparições públicas realçam apenas sua fragilidade física e mental.

UM ATO FINAL – Biden cumpriu sua missão ao vencer um presidente que ameaçava a democracia em 2020 e ainda entrega números razoáveis. Crescimento médio do PIB de 3,5% ao ano; desemprego de 2024 a 4%. A inflação, alta até 2022, caiu e deve ficar em torno de 3% este ano.

Ele poderia declarar que cumpriu sua missão e que abrirá espaço para alguém mais jovem e dinâmico. Ao fazê-lo, coroaria sua carreira com um ato final de desprendimento.

No século 5 a.C, Lúcio Quíncio Cincinato, patrício romano já idoso e que levava uma vida modesta, aceitou relutante o cargo de ditador num momento de necessidade nacional. Venceu a guerra que ameaçava a existência de Roma em meros 16 dias e imediatamente abriu mão do poder absoluto e da glória advinda do cargo, voltando à humilde lavoura que cultivava com as próprias mãos. Foi duplamente louvado.

DESPRENDIMENTO –  Não sabemos se a história real foi assim, mas sabemos que esse era o nível de desprendimento do poder admirado numa República antiga.

Na República atual, todo mundo se agarra como pode a qualquer fiapo de poder que seus dedos consigam alcançar e só solta quando arrancado à força; o país que se dane. Um caso similar foi o da juíza da Suprema Corte Ruth Bader Ginsburg. Já tinha um mandato de décadas com votos importantes para o lado progressista. Com mais de 80 anos, poderia ter se aposentado ainda no governo Obama e permitido que ele escolhesse sua sucessora. Não o fez. Faleceu em 2020, dando a Trump a oportunidade de aumentar a proporção de conservadores na Corte, que está hoje em 6 a 3.

TODOS JUNTOS – Vozes de democratas na imprensa clamam para que a esposa, a família, os correligionários de Biden o convençam a desistir. Mas a real responsabilidade deveria ser do próprio Biden. Se fosse apenas sua trajetória política que estivesse em jogo, daria para entender o apego à miragem da reeleição.

Mas é a própria República e a ordem mundial que ela (mal e mal) sustenta que podem sucumbir, então a recusa em largar o osso ganha ares de um egoísmo doentio.

Doentio e irracional, dado que Biden provavelmente perderá. Além de prejudicar o país, perderá a chance de fechar sua carreira com um ato admirável de magnanimidade para acabar de forma melancólica, derrotado e humilhado, tendo entregue de bandeja a eleição mais crucial da história recente.

IMPACTO MUNDIAL – Isso importa inclusive para nós, brasileiros, porque a eleição de Trump terá impacto no mundo todo. E também porque, por aqui, presidentes e ex-presidentes têm uma dificuldade quase patológica de deixar o poder e preparar sucessores.

Seja como for, provavelmente já é tarde. Trump seguirá favorito independente de quem se oponha. A opção entre a certeza do fracasso e a possibilidade da virada, no entanto, não devia ser tão difícil.

Não dá para esperar de um presidente o desprendimento de um Cincinato; só o bastante para não empurrar o país do precipício.

E o poeta Carlos Pena Filho perdeu a amada nas cores do mapa-mundi…

Carlos Pena Filho, o Poeta do Azul inscrito na eternidade - Vermelho

Pena Filho, grande poeta pernambucano

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado e poeta pernambucano Carlos Pena Filho (1929-1960), neste “Poema”, lamenta ter perdido sua amada nas cores do mapa-mundi.

POEMA
Carlos Pena Filho

Senhora de muito espanto,
vestindo coisas longínquas
e alguns farrapos de sono,

eu vim para te dizer
que inutilmente contemplo
na planície de teus olhos
o incêndio do meu orgulho.

Senhora de muito espanto,
sentada além do crepúsculo
e perfeitamente alheia
a realejos e manhãs.

Eu vim para te mostrar
que se inaugurou um abismo
vertical e indefinido
que vai do meu lábio arguto
ao chumbo do teu vestido.

Senhora de muito espanto
e alguns farrapos de sono,
onde o céu é coisa gasta
que ao meu gesto se confunde.

Um dia perdi teu corpo
nas cores do mapa-múndi.

Deputado que cobra da Câmara despesas com chope promete devolver o dinheiro

Pedro Aihara cogita concorrer à Prefeitura de Brumadinho: Entenda os bastidores da decisão – Jornal Circuito

Herói em Brumadinho, Aihra ficou famoso e virou deputado

Levy Teles
Estadão

O deputado federal Pedro Aihara (PRD-MG) tornou-se o recordista em gastos com alimentação este ano na Câmara dos Deputados. Foram R$ 10 mil pagos com recurso público em restaurantes e bares apenas em um semestre. O bombeiro que virou congressista vem tentando usar o dinheiro da verba parlamentar para bancar, inclusive, bebidas alcoólicas, ainda que seja vetado pela Casa. Na lista tem até chope em Copacabana durante o Carnaval.

Aihara já comeu salmão ao molho de maracujá, em Balneário Camboriú; arroz de polvo, em Maceió e vieiras grelhadas, no Rio de Janeiro. Todas essas notas foram apresentadas para a Casa pagar.

ERRO DA EQUIPE – Procurado, o deputado informou por meio de seu gabinete que houve erro de sua equipe e vai pedir correção em relação ao pedido de ressarcimento por bebidas alcoólicas.

Na Câmara cada deputado tem dinheiro a uma verba parlamentar que varia entre R$ 36 mil e R$ 51 mil para despesas do exercício parlamentar, dependendo do quão distante o Estado do parlamentar está de Brasília. O deputado faz o gasto, pega a nota e entrega para a Casa legislativa reembolsar a despesa.

Além de pagar a alimentação, o recurso pode ser usado para pagar passagens aéreas, serviços de segurança, aluguel de automóveis, combustível e participação em cursos. Diferente de como funciona no caso do combustível, por exemplo, não há um valor limite para o gasto mensal com alimentação, mas há a restrição para o custeio.

MAIOR GASTADOR – Uma análise das despesas dos deputados feitas pelo Estadão identificou Aihara como o maior gastador com alimentação neste ano e um dos maiores no ano anterior.

Entre 2023 e junho de 2024, foram R$ 23,6 mil desembolsados da cota parlamentar em um tour gastronômico que passou pelos Estados de Santa Catarina, Alagoas, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Pará e Paraná, incluindo até mesmo o Japão. Desde fevereiro deste ano, deputados federais recebem R$ 44.008,52 mensais de salário.

Ele apresentou 16 notas fiscais que continham bebidas alcoólicas e pediu o reembolso de cinco delas. Em três ocasiões apuradas pelo Estadão, a despesa foi paga pela Câmara. Entram nessa conta um drinque alcoólico e dois vinhos.

BOAS DESCULPAS – Procurado, o deputado alegou, por meio de seu gabinete, que houve um erro técnico por parte da equipe responsável por apresentar as notas à Câmara, assim como erro da própria Câmara, que deveria ter abatido os gastos com bebidas alcoólicas.

O deputado alegou que, como presidente de comissão e de frente parlamentar, naturalmente, faz viagens para outros Estados. E disse que pedirá o ajuste de contas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– O bombeiro que virou herói em Brumadinho e se elegeu deputado dá um péssimo exemplo à nação. Como dizia Tom Jobim, é a lama, é a lama, é a lama. (C.N.)

Lula apoia anistia ao 8 de janeiro, para sonhar em vencer Bolsonaro em 2026

Tribuna da Internet | Lula parece tratar os ataques e as críticas ao  Supremo como se fossem uma coisa só

_Charge do Clayton (O Povo)

Carlos Newton

O futuro a Deus pertence, costumava dizer o ex-deputado cearense Armando Falcão, que o todo-poderoso empresário Roberto Marinho conseguiu emplacar como ministro da Justiça no governo do general Ernesto Geisel. Poucos sabem que Falcão eram um homem do gabinete de Marinho e dava plantão no segundo andar da sede de O Globo. Ele sabia quem mandava no país e sua dedicação a Marinho chegava a ser comovente. Vivia dentro do jornal, mas tinha horror de dar entrevistas.

De toda forma, Falcão era melhor do que Gama e Silva (governo Costa e Silva), e Alfredo Buzaid (Médici). Mesmo assim, não teve coragem de levantar a perseguição à Tribuna da Imprensa, o único jornal brasileiro a sofrer censura prévia de 1968 a 1978, enquanto os demais veículos da grande mídia usufruíam as verbas publicitárias dos governos militares.

OMISSÃO CANINA – Apesar de sua militância política no antigo PSD, Armando Falcão, Armando Falcão jamais lutou pela redemocratização do país, omitiu-se completamente. Enquanto esteve no poder junto com Geisel, jamais se viu o ministro defender a anistia, que viria a ser bandeira do general João Figueiredo no poder.

Agora, 45 anos depois, a anistia volta a ser tema político, e o presidente Lula da Silva (PT) admitiu na quinta-feira passada (dia 27) ser favorável a que se conceda o benefício aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, mas afirmou que não se pode “precipitar a discussão”.

Lula chutou ter defendido a anistia durante a ditadura militar no Brasil. “Passei parte da minha vida brigando pela anistia e não vou ser contra, mas nesse caso eles nem foram condenados ainda. A gente ainda nem sabe sobre todos que praticaram o golpe. É preciso que a sociedade saiba quem tentou dar o golpe nesse país”, ressalvou.

AGENTE INFILTRADO – Uma das principais características de Lula é sua capacidade de adaptação. Quem o vê criticando abertamente quem tenta dar golpe e, ao mesmo tempo, defendendo uma anistia, nem lembra que ele tem experiência contraditória no assunto, porque servia ao regime militar como infiltrado no movimento sindicalista do ABC, em São Paulo, seu contato era o delegado federal Romeu Tuma, cuja casa o jovem Lula frequentava assiduamente, conforme relato do também delegado Romeu Tuma Filho, em seus livros de memórias.

Agora, o que o Barba pretende é dar um jeito de o Congresso anistiar os envolvidos no 8 de Janeiro, para que Bolsonaro seja candidato;

Lula sabe que é proveitoso manter a polarização acesa, para enfrentar Bolsonaro na eleição de 2016, por entender que será mais fácil derrotá-lo do que vencer Tarcísio de Freitas, que está muito bem avaliado no governo paulista. E o resto é folclore, como diz Sebastião Nery, um dos heróis da resistência democrática de verdade.

Biden, Lula e Macron mostram que a política é uma arte em escassez

Waack: Política é uma arte que está em escassez | CNN Brasil

Três políticos importantes que desabam nas pesquisas 

William Waack
CNN Brasil

O que têm em comum as situações políticas nos Estados Unidos, na França e no Brasil? Parece que está em falta a arte da decisão política. Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden e seu time de assessores foram empurrando com a barriga a questão da idade do presidente e dos seus óbvios sinais de senilidade.

Decidiram arriscar chamando um debate contra Trump bem antes da eleição. Perderam feio. Hoje só se fala da senilidade de Biden, e como ele faria melhor se desistisse da reeleição.

MACRON ARRISCOU – Na França, o presidente Macron achou que não dava mais para empurrar com a barriga quando os partidos da ultradireita aumentaram bancadas nas eleições para o Parlamento Europeu. Decidiu arriscar convocando uma eleição legislativa antes da hora. Perdeu feio.

Agora só se discute como o governo de Macron vai sobreviver com uma Assembleia Nacional de oposição, com chances de indicar o próximo primeiro-ministro.

No Brasil, o presidente Lula decidiu deixar para depois um ajuste de contas públicas. Teria sido mais fácil bem lá no começo.

COM A BARRIGA – Lula vem empurrando com a barriga o inevitável, isto é, corte de gastos, contenção de despesas, numa situação que teima em não se resolver por si mesma. Hoje, aumenta a desconfiança com a política fiscal e só ficou mais difícil a tarefa de Lula de governar.

Na política, que é uma grande escola de vida, aprende-se que arriscar tudo numa cartada só pode pôr tudo a perder. Aprende-se que empurrar com a barriga pode tornar tudo apenas mais difícil com o tempo.

Política é uma arte. E, ao que parece, está em certa escassez.