O que faria Anielle se o assediador fosse branco e de direita? Teria ficado calada?

O triste fim de Silvio Almeida | Brasil 247Eduardo Affonso
O Globo

O presidente Lula considerou insustentável a permanência de Silvio Almeida em seu governo após as denúncias de que o ministro tivesse praticado assédio e importunação sexual. A insustentabilidade passou a existir quando a imprensa divulgou o escândalo. Lula e seu entorno já sabiam dos fatos, e o ministro continuava lá, firme e forte. O que a opinião púbica não vê a ética não sente.

Foi admirável o contorcionismo dos que não podiam deixar de apoiar a ministra Anielle Franco e tampouco se sentiam confortáveis em condenar o comportamento do único homem preto do Ministério (logo o padroeiro do conceito de racismo estrutural!). E que, para surpresa de ninguém, deu a carteirada racial para tentar desacreditar acusadoras e acusações.

COISA ANTIGA – As violações de conduta por parte do ex-ministro acontecem há mais de dez anos — as queixas não foram levadas em conta quando de sua nomeação. E não faltaram teorias conspiratórias acerca dos “reais” motivos da degola: sua proposta de uma nova Comissão da Verdade, sua oposição à privatização de presídios, uma queda de braço com o Me Too. Tudo, menos considerar que Almeida tenha “letramento de gênero” suficiente para entender o que é assédio, o que é importunação — e que “não é NÃO”.

(Antes de prosseguir, vamos ao mantra: “A culpa nunca é da vítima, a culpa nunca é da vítima, a culpa nunca é da vítima”.)

A ministra tem razão ao dizer que “tentativas de culpabilizar, desqualificar, constranger ou pressionar vítimas a falar em momentos de dor e vulnerabilidade também não cabem, pois só alimentam o ciclo de violência”. Entretanto, se essa vítima for alguém com visibilidade e peso político, convém lembrar a lição aprendida nos gibis: “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Quando uma ministra de Estado não se sente em condições de denunciar um abuso, que mensagem estará passando às mulheres que sofrem importunação no transporte coletivo, assédio físico e moral no trabalho, violência doméstica?

CAMINHO LIVRE – É preciso respeitar e preservar a intimidade e os sentimentos de quem sofre ataques desse tipo. E também ponderar que, quando o abusador é contumaz (no caso, era), seguirá fazendo vítimas até que alguém o detenha. Não denunciar — repita o mantra: a vítima não tem culpa… — deixa o caminho livre para o predador.

(Se o macho tóxico fosse branco e de direita, teria a ministra permanecido calada, resguardando sua privacidade por tanto tempo? Mais uma vez, não importa o que se faz, mas quem faz.)

A ministra alegou preferir enterrar o caso por não dispor de provas. É mesmo difícil haver materialidade nesse tipo de crime. Há câmeras nas ruas, nas portarias, até nas fardas de (alguns) policiais, mas ainda não ocorreu instalá-las debaixo das mesas em torno das quais acontecem reuniões ministeriais.

VITIMIZAÇÃO – Conclui-se desse episódio que as mulheres continuam a ser revitimizadas — não só nas delegacias ou em seu círculo social, mas também em função de uma causa. A fim de poupar o governo e as pautas identitárias, parece ter sido revisto e atualizado o (suposto) conselho vitoriano às mulheres para que enfrentassem estoicamente os “deveres conjugais”:

— Feche os olhos e pense no progressismo.

Pelo menos esse incêndio, provocado por fogo amigo, Lula conseguiu apagar — depois que apenas abafar não deu muito certo. O resto do país, esse continua em chamas.

18 thoughts on “O que faria Anielle se o assediador fosse branco e de direita? Teria ficado calada?

  1. Acusações de assédio são absurdas e ofendem a honra do homem, da sua esposa e da sua família.

    É muita pretensão afirmar que um homem honrado, casado, se insinuou para alguém.

    Precisa ser muito bem comprovado.

  2. Parabéns ao Ministro. Sílvio Almeida é o primeiro Ministro a ser demitido por assédio sexual desde a redemocratização! Que título maravilhoso!!! O Brasil está muito orgulhoso!!! Só poderia ser na era Lula! Aliás, o próprio governo Lula da Silva (em seu governo anterior) alterou o significado de “estupro” no código penal, lembram? Qualquer mãozinha boba nas coxinhas tanto de homem quanto mulher não é simples assédio. É ESTUPRO MESMO. Sílvio Almeida não é simples assediador. É um ESTUPRADOR!

  3. Se fosse branco e de direita, já tinha sido preso e condenado por Alexandre de Moraes. O Xandão do PCC. Mesmo sem ter feito absolutamente nada!

    • Sr. Newton.

      Sei não, mas algo me diz que deve ter uma podridão ainda maior que a quadrilha está escondendo.

      Segundo os especialistas de plantão, o casal marginal 171/51 sabiam do problema há 14 meses….

      Por que não denunciaram?

      Abraço.

  4. Senhor José Vidal , a suposta vítima a ministra Anielle Franco , na verdade usou esse suposto incidente e agressão da moda , como moeda de troca , ou seja , usou-o para chantagear seu suposto agressor o então ministro Silvio Almeida , mas como não obteve ganhos próprios em seu intento , ao invés de procurar a ” polícia ou seus superiores ” , usou o caminho tortuoso da fofoca ” boca á boca ” , por intermédio dos demais ministros do Presidente Lula .

  5. Aplicações da Lei Maria da Penha:

    “Se X ostensivamente der em cima de mim, eu me entrego; se Y fizer o mesmo, aguardo o momento adequado e o denuncio por assédio sexual”

  6. Sr. Newton

    Depende do branco..

    Se o branquelo for da patota, está liberado. não vai dar nada

    Imagine se o branquelo estuprador como o mamador da Lei Roubat e vagabundo profissional zé de abreu assediar alguma mulher .

    Com certeza seria o maior silêncio sepulcral do Planeta…

    Não daria nem para ouvir as flatulências dentro dos Apart-Mansões da Vila Madalena (SP) ou Lebron (RJ)..

    Todos quietos para não “ferir” a causa”….

    aquele abraço..

    PS>

    Ainda bem que o Pedrão está mandando chuva, se esperar pela “(in)competência do Prefeito Comuna para amenizar a crise da fumaça , estamos lascados.

    Agora o Prefeito está na corrida da Maldita da Reeleição.

  7. Até quando a ministra se aguenta no cargo não sabemos, mas Stalinácio ficou em um situação difícil, demitiu em ministro de cor preta e agora se vê que a ministra, também de cor preta não consegue explicar a relação com o ex-ministro. Quem está segurando a ministra no cargo?

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