Demétrio Magnoli
Folha
1 – Na hora do escândalo, Silvio Almeida usou a estrutura do ministério para contra-atacar —mas o denunciado por importunação sexual foi o indivíduo, não o ministro. No que essa captura da máquina estatal para fins pessoais distingue-se conceitualmente da operação de Bolsonaro de apropriação privada das joias sauditas?
2 – Naquela hora, Almeida ativou sua voz informal —isto é, a ONG que fundou— para acusar as denunciantes de uma ofensiva racista contra o “povo preto”. Na democracia representativa, só o voto produz representação. Desde quando o “povo preto” concedeu ao ex-ministro a prerrogativa de representá-lo?
3 – Segundo a ONG que serve de boneco de ventríloquo para Almeida, a suposta ofensiva racista abrangeria também vozes negras. Deve ser enquadrado em “racismo estrutural” qualquer um que contrarie as ideias ou os interesses de Almeida?
4 – Mulheres sujeitas a assédio por superiores temem denunciar judicialmente o agressor. Contudo, não existia assimetria de poder entre Anielle Franco e Almeida. Por que a ministra preferiu o caminho tortuoso da denúncia anônima ao Me Too à via cristalina do recurso ao sistema judicial? Teria, no caso, a indignação moral cedido ao cálculo político?
5 – “Taradão da Esplanada” —assim Bolsonaro rotulou Almeida. Na GloboNews, uma ativista da Coalizão Negra por Direitos revoltou-se contra a mera menção ao princípio da presunção de inocência. Será que o linchamento retórico é mais um traço comum à esquerda e à direita identitárias?
6 – Na sua defesa pública, Almeida alegou que “não existem provas contra mim” e murmurou algo sobre sua esposa e filha nenê. A mescla de linguagem de advogado com o recurso emotivo é pouco convincente. Mesmo assim, no Estado de direito, culpa ou inocência são definidas pelo devido processo legal. Os jornalistas que condenaram de antemão o ex-ministro já esqueceram da Escola de Base? Esqueceram-se, ainda, dos nomes Woody Allen e Kevin Spacey, ambos absolvidos nos tribunais anos depois de destroçados pelo linchamento público?
7 – A pluralidade de ideias é uma ideia estranha a Almeida. Antes de ser elevado a ministro, ele deflagrou uma campanha infame (porém vitoriosa) pelo veto à publicação de textos de Antonio Risério nesta Folha. O “crime” do “cancelado” teria sido apontar manifestações racistas oriundas de negros. Na opinião de Almeida, só ele mesmo tem o direito de sugerir, com ou sem razão, que negros também podem engajar-se em racismo?
8 – No rastro da demissão, ouviu-se uma enxurrada de lamentos: “Dia triste, uma derrota para os direitos humanos!”. Almeida publicou um texto evasivo que, na prática, atribuía a condenação da guerra imperial russa na Ucrânia a “reflexões “maniqueístas” e responsabilizava o “expansionismo capitalista” pela agressão russa (folha.com/v2tb0mrg). Desde a fraude eleitoral na Venezuela, não deu um pio sobre as prisões e torturas de opositores. Para ele, direitos humanos não são direitos universais, mas privilégio de aliados ideológicos. Não é mais apropriado celebrar sua queda como uma vitória para os direitos humanos?
9 – Quanto demorará até que Almeida e Anielle voltem a se abraçar (figurativamente, claro!) para rotular essa coleção de perguntas como um abominável ataque racista contra o “povo preto”?
Que delícia de texto, Magnoli estava com a pá virada nesse dia. Hahaha…
Nao temos mais casseta e planeta mas os contorcionismos ideologicos, verbais de uso e pureza da raca, alem dos onimigos fascistas é claro, nos permitem um quase orgasmo atras do outro.
Coerência, ética, justica, legalidade, empatia, respondabilidade e honestidade( de vida e principios) desta gente é realmente digna de riso.
Pena que sejamos vitimas destes puros e seus desvairios.
Mas que é divertifo isto é
Demétrio Magnoli se superando. É ótimo ler, só aperta aonde dói. Sem dó.
Senhor Silvio Almeida , pare com essa ” palhaçada , covardia e
imbecilidade de usar esses subterfúgios como escape ” de supremacias ” branca , amarela , azul , dos viados , das putas , dos pretos , dos cornos , dos índios , dos mamelucos , dos sararás , dos caboclos , dos corruptos e do ” escambau ” , apenas limite-se a provar sua inocência, e fim de papo .