Tostão
Folha
O Botafogo é campeão pela primeira vez da Libertadores. Mesmo com 10 jogadores desde o primeiro minuto de jogo, conseguiu fazer três gols. Artur Jorge foi brilhante, o craque da partida.
Como o Atlético-MG só ataca pelos lados, cruzando bolas na área, o técnico reforçou a marcação pelos lados e o Galo, sem nenhuma criatividade no meio-campo, só criou chances de gols com bolas altas na área. Assim fez o gol no segundo tempo, porém foi insuficiente.
FAZER O ÓBVIO – Muitos vão dizer que o técnico Artur Jorge fez o óbvio. Poucos fazem o óbvio. John Textor, dono da SAF do Botafogo, disse antes do jogo que o time chegou a uma final da Libertadores antes do previsto. É o campeão com grandes chances de vencer também o Brasileirão.
A equipe venceu também a desconfiança de que não suportaria a pressão psicológica por ter perdido o campeonato no ano passado quando tinha uma grande vantagem. Essas coisas só acontecem com o Botafogo.
No futebol e em todos os esportes de alta competitividade estão sempre presentes o medo dos atletas de não serem capazes e de perderem o jogo, ainda mais uma decisão. Os grandes times e atletas campeões são os que conseguem vencer essas dificuldades. Não são os que dizem estar tranquilos e que não sentem a pressão emocional.
MANEIRA DE JOGAR – O Botafogo parece com o Liverpool na maneira de jogar. Sem comparar a qualidade, os dois times são compactos, intensos, marcam e defendem em bloco, recuperam rapidamente a bola e unem a força física e a velocidade com o talento individual.
O Manchester City e o Real Madrid, que dominaram o futebol mundial nos últimos anos, passam por maus momentos. Diferentemente do Liverpool e do Botafogo, os dois times priorizam a posse de bola e a troca de passes até chegarem ao gol. Há vários jogadores contundidos nas duas equipes. Faltam os dois grandes meio-campistas: Rodri, que há muito tempo não joga, e Kross, que parou de jogar.
Os ótimos times atacam e defendem bem. Cruzeiro, Bahia e Grêmio trocam muitos passes, avançam com muitos jogadores, mas deixam muitos espaços na defesa. O Bahia, quase sempre, cria inúmeras chances de gols e com frequência perde, por causa dos erros de finalização e da fragilidade defensiva.
GANHAR E PERDER – O futebol possui também lógica. Em um campeonato longo e por pontos corridos, como o Brasileirão, no final prevalecem os times com melhores elencos, com raras surpresas.
O Fortaleza, que não tem jogadores com o mesmo prestígio dos de outras grandes equipes, está entre os primeiros colocados porque se prepara há tempos para isso. O Fluminense, que luta para não ser rebaixado, não suportou a glória e a pressão do título da Libertadores.
Nesta reta final de decisões, espero que os vencedores e os perdedores não criem tumultos. É preciso saber ganhar e perder. O Atlético-MG lutou bravamente. Após a eliminação da seleção brasileira na primeira fase da Copa de 1966, depois de ser bicampeão em 1958 e 1962, o poeta maior Carlos Drummond de Andrade, escreveu uma poesia para os atletas brasileiros: “Depois da hora radiosa/ a hora dura do esporte,/ sem a qual não há prêmio que conforte,/ pois perder é tocar alguma coisa/ mais além da vitória, é encontrar-se/ naquele ponto onde começa tudo/ a nascer do perdido, lentamente”.