Uma resposta imaginária de Campos Neto para Gleisi Hoffmann e o PT

Roberto Campos Neto está posicionado em um ambiente interno com iluminação suave. Ele usa um paletó escuro e uma camisa clara, olhando para frente com uma expressão séria. O fundo é desfocado, com luzes refletindo nas superfícies.

Teorias econômicas do PT surpreendem Campos Neto

Demétrio Magnoli
Folha

Prezada Gleisi Hoffmann,

Recebi sua carta com surpresa e alegria shorturl.at/YEAQ1). Escrevo-lhe, também em caráter privado, para externar uma esperança e uma confissão.

A esperança: que um dia, finalmente, o PT afaste-se do seu dogma econômico. Nunca duvidei de sua inteligência, nem na de Lula ou dos demais dirigentes petistas. Não sou político, mas imagino que seja muito difícil rever artigos de fé. Contudo, o Brasil precisa disso.

CONSERVADOR – Há tempos, o PT não é mais socialista – quanto mais comunista! De fato, talvez jamais tenha sido. Sou um conservador, mas reconheço no teu partido uma das mais relevantes correntes políticas nacionais. Já passa da hora de vocês atualizarem seu pensamento econômico, sem renunciar à alma de esquerda.

A esquerda, penso eu, não se distingue pela crença supersticiosa no poder mágico do gasto público, mas pelo combate à pobreza e às desigualdades. Por que flertar com a inflação, um imposto oculto que vandaliza a economia popular?

Galípolo no comando do BC talvez deflagre reflexões urgentes sobre as leis da economia, o sistema de metas de inflação e a necessidade de coordenação entre as políticas fiscal e monetária. Sonho, quem sabe, mas aguardo o dia em que a tua carta possa tornar-se um documento público. A militância irredutível espernearia, mas a revisão histórica impulsionaria o PT a voar na etapa pós-Lula.

SINCERIDADE – Você aventurou-se pela sinceridade. Sigo teu exemplo. Confissão: errei bastante. Não nas decisões sobre política monetária nem nas declarações sobre política fiscal. Meu equívoco foi misturar as bolas: na condição de presidente do BC, não tinha o direito de agir como garoto-propaganda do bolsonarismo.

Falo de direito no sentido amplo, “filosófico”. Todo cidadão pode expressar suas preferências políticas. Contudo, quando fui votar de camiseta amarela (e, ainda, em outras ocasiões) violei uma regra não escrita sobre o lugar do BC na arquitetura institucional do Brasil.

O BC autônomo não tem partido – e, portanto, seu presidente fica eticamente proibido de fazer política durante seu mandato.

CONSPIRAÇÃO – É pior. O presidente que apoiei consagrou seu tempo no Planalto a conspirar contra a democracia. Evitarei a desculpa (maltrapilha) do teu apoio à ditadura de Maduro: um gesto vergonhoso não redime o outro. Supostamente, liberais abominam tiranias, pois têm a convicção de que as liberdades econômica e política são indivisíveis.

Na prática, a regra comportou clamorosas exceções: Milton Friedman e Pinochet, meu avô e Castelo/Geisel, entre outras. Acreditamos mesmo, eu e você, no princípio do governo democrático?

Tua carta trouxe-me à mente a palavra “destino”. Você, que conta com a confiança de Lula, desperdiçou a oportunidade de alinhar o PT ao conceito de equilíbrio fiscal defendido por Haddad – apenas para garantir o aplauso da esquerda passadista.

AUTOSSABOTAGEM – Eu, que frustrei Bolsonaro cumprindo o dever de elevar a Selic em 2022, desperdicei a chance de ficar afastado da política bolsonarista – apenas para ganhar o aplauso da direita autoritária. Autossabotagem –será esse nosso destino compartilhado?

Segundo Marx (ôps, cito Marx, não Mises!), fazemos nosso destino, em circunstâncias que não controlamos. Que tal, no ano novo, sabotarmos a autossabotagem?

Atenciosamente,

Roberto Campos Neto, já ex-BC.

Num poema, Machado de Assis indagava: “Mudaria o Natal ou mudei eu?”

Frases de Machado de Assis... - Frases de Machado de Assis

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, crítico literário, dramaturgo, folhetinista, romancista, contista, cronista e poeta carioca Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), no “Soneto de Natal”, faz uma reflexão sobre o ato de criação artística.

SONETO DE NATAL
Machado de Assis

Um homem – era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno –
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações de sua idade antiga
Naquela mesma velha noite amiga
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto… A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.

E em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”

País que perdeu medo de prender generais tem de enfrentar a magistratura

Justiça-cumplicidade-charge-Justiça-cega - Flávio Chaves

Charge do Alpino (Yahoo Notícias)

Ricardo Corrêa
Estadão

Desde que o Brasil voltou ao regime democrático, causava arrepio em representantes das instituições do País a ideia de mexer com os militares encrencados. Prender um general de 4 estrelas, como se deu agora, ainda mais de forma preventiva, como Braga Netto, era dessas preocupações.

Havia a certeza em muita gente de que isso iria causar uma fúria na caserna suficiente para que a estabilidade institucional fosse ameaçada. Essa era acabou.

NENHUM PIO – Braga Netto foi preso e ninguém deu um pio. Até pelo fato de que muitos dos militares que poderiam dizer algo foram também vítimas do plano que a PF diz que ele costurou. E isso é sinal de amadurecimento democrático.

Boa hora para falar da necessidade de se enfrentar outros lobbies corporativistas existentes no Brasil. Nenhum deles atualmente é tão ativo quanto o da magistratura e de representantes do Ministério Público, de olho em manter privilégios que chamam de direitos adquiridos.

É do jogo que cada categoria lute por aquilo que é melhor para os seus. E ninguém há de negar o papel importante do Judiciário na sociedade. Não se trata disso.

REAÇÃO GROTESCA– Falar que eliminar supersalários seria “ameaça à estabilidade institucional”, como disse uma nota do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) no início do mês, ou que seria um “atentado constitucional”, como afirmou o presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), parece ir muito além disso.

Como se o que houvesse fosse chantagem justamente com o risco de que juízes possam tumultuar o andamento do País, se eles não puderem, como ninguém pode, ganhar acima do teto definido para o funcionalismo público.

A situação das contas públicas brasileiras traz reflexos que vemos diariamente. O nervosismo do mercado e a pressão por corte de gastos que impactam até nos que mais precisam, como os que ganham salário mínimo ou BPC, dão a dimensão do que é preciso fazer.

DESCUMPRIMENTO – E, no caso do Judiciário, nem é muito: é basicamente fazer valer a Constituição, que limita os salários em R$ 44.008,52 mensais. Se os nossos juízes não são capazes de cumpri-la, ninguém há de conseguir fazer com que alguém a cumpra.

O problema é que a missão principal de enfrentar esse lobby poderoso é de um Congresso que está muito mais preocupado com seus privilégios – como eu disse aqui na semana passada, ainda que para isso seja necessário quebrar o País.0

 Na votação da LDO, nesta quarta-feira, por exemplo, como bem detalhou o repórter Daniel Weterman, nossos parlamentares rejeitaram cortes em emendas, aumentaram o reajuste do fundo partidário e contrariam o pacote fiscal. Com alguns deles encrencados daqui e dali, não querem mexer com um Poder que costuma ser também protagonista de seus destinos e interesses. Essa chaga o Brasil ainda não venceu.

Lula faz última reunião do ano com todos os ministros

Encontro no Alvorada teve clima de confraternização

Pedro do Coutto

Na última reunião do ano, o presidente Lula da Silva aproveitou o encontro com os 39 ministros, no Palácio da Alvorada, para sinalizar que dará trégua às falas que colocam em xeque a responsabilidade fiscal do governo.

Lula disse não existir razão para “conflitos” e pediu cuidado com “brigas” no próximo biênio. A fala foi interpretada como uma “inflexão” após críticas recorrentes ao mercado financeiro e declarações que colocaram em xeque o compromisso do governo com a saúde das contas públicas e o pacote fiscal da Fazenda.

TAXA DE JUROS – Na última semana, em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo, o presidente chegou a dizer que “a única coisa errada no Brasil é a taxa de juros”. A afirmação levantou dúvidas sobre a eventual pressão contra o Banco Central, sob a gestão de seu indicado, Gabriel Galípolo.

No encontro desta sexta, Lula também reconheceu o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal e elogiou a atuação de líderes no Congresso, após aprovação do pacote de cortes de gastos. Aos ministros, Lula pediu atenção total às entregas dos próximos dois anos.

Lula não teria mencionado a possibilidade de trocas ministeriais, nem para abafar eventuais boatos sobre o assunto, o que, na visão de ministros, reforça a certeza de que substituições serão feitas. Sem mencionar outros ministérios, o presidente cobrou a ministra da Saúde, Nísia Trindade, sobre a entrega do programa “Mais Acesso a Especialistas”, que amplia a oferta de consultas, exames e cirurgias na rede pública. O programa foi lançado em abril, mas ainda não está ativo em todo país.

COBIÇA – A pasta da Saúde é alvo de cobiça do centrão e poderá entrar na reforma ministerial para acomodar aliados do governo. Esta não é a primeira vez que Lula cobra Nísia em reuniões ministeriais. Em março deste ano, a ministra chorou quando o presidente lhe pediu para “falar grosso” para se defender de ataques. Depois disso, o presidente disse, publicamente, que Nísia fala “manso”, mas tem “credibilidade”. Desta vez, a ministra deve ter entendido a mensagem e deve fazer mudanças na área da Saúde.

Lula comemorou a aprovação dos projetos do pacote fiscal do governo pelo Congresso. O Legislativo teve uma semana especialmente corrida para votar as propostas. Há uma cobrança do mercado financeiro por cortes de despesas do governo. Esse é um dos fatores que fez o dólar subir nas últimas semanas. O presidente citou o esforço de ministros para promover as votações enquanto estava internado. Por fim, desejou feliz Natal e Ano Novo a todos, e disse que voltará ao trabalho no começo de janeiro.

O encontro teve menos recados políticos do que o Lula costuma dar quando reúne seus ministros. Ele pediu para os auxiliares continuarem mobilizados e divulgarem as ações do governo. O publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro de Lula em 2022, é cotado para assumir o ministério que cuida da comunicação do Executivo. O presidente deseja mais uma volta no parafuso entre a administração e a política partidária. Difícil harmonizar, pois a política partidária tem um objetivo concreto, que nem sempre tem a ver com os objetivos do governos. Daí o desafio que fica para a gestão atual.

Bolsonaro aposta em Toffoli, Nunes e Mendonça para poder disputar 2026

Era só o que faltava”, diz Bolsonaro após diretor da PF responder sobre imunidade

Bolsonaro já tem dois votos e precisa arranjar mais dois

Paulo Cappelli e Augusto Tenório
Metrópoles

Jair Bolsonaro acredita que mudanças na composição do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em agosto de 2026, meses antes da disputa ao Planalto, contribuirão para que a Corte atenda a seu pedido e reverta a inelegibilidade a que foi condenado. Em entrevista à coluna, o deputado federal Eduardo Bolsonaro destacou que Kassio Nunes Marques assumirá a presidência do TSE e que André Mendonça também estará no colegiado.

Cármen Lúcia, por sua vez, dará lugar a Dias Toffoli, visto por Eduardo como “mais equilibrado” que a antecessora.

NOVA CONFIGURAÇÃO – “Reverter a inelegibilidade amanhã ou próximo à eleição não mudará o sentimento do brasileiro. A nova configuração do TSE para 2026 não vai nos privilegiar, mas vai ser muito mais equilibrada do que com Alexandre de Moraes”, opinou Eduardo Bolsonaro.

“Não vai ter só gente que Bolsonaro indicou. Terá o ministro Toffoli, que muitas vezes é mais equilibrado que Cármen Lúcia. Muito menos ideológico. Dos três ministros do STF no TSE, teremos Kassio Nunes, Dias Toffoli e André Mendonça”, completou Eduardo Bolsonaro.

Perguntado sobre qual o instrumento jurídico a ser utilizado para reabrir a discussão sobre a inelegibilidade de Bolsonaro, que já teve recursos negados pelo TSE, o parlamentar citou a possibilidade de apresentar à Justiça fatos novos e ações rescisórias. “Sempre há como [ingressar com pleitos judiciais]. Lula estava preso e inelegível. Aqui é Brasil”, comentou o congressista.

ESTÁ INELEGÍVEL – O ex-presidente foi condenado à inelegibilidade por decisão do TSE em junho de 2023. A Corte Eleitoral entendeu que ele cometeu abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao realizar uma reunião no Palácio da Alvorada com embaixadores estrangeiros, em 18 de junho de 2022.

A ministra Cármen Lúcia apresentou o voto que formou a maioria pela inelegibilidade, considerando que o evento teve caráter eleitoreiro.

Na ocasião, a Corte era presidida pelo ministro Alexandre de Moraes. Atualmente, o tribunal é presidido por Cármen Lúcia, que será sucedida por Kassio Nunes Marques em agosto de 2026, meses antes da eleição Presidencial de outubro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Bolsonaro realmente tem chance de revertera situação. O Tribunal Superior Eleitoral é formado por sete juízes: três do Supremo, dois do Superior Tribunal de Justiça e dois juristas da classe dos advogados. Bolsonaro já tem dois votos e precisa de mais dois. Um deles pode ser de Toffoli, caso Lula peça que ele absolva Bolsonaro. O interesse de Lula é enfrentar de novo o ex-presidente, por considerá-lo mais fraco do que outros candidatos, especialmente Tarcísio de Freitas. (C.N.)

Gilmar Mendes diz que STF não cumprirá a lei ao julgar golpistas

Gilmar Mendes afasta principal tese de Bolsonaro no inquérito do golpe |  Metrópoles

Na concepção de Gilmar, o golpe de estado foi concretizado

Paulo Cappelli, Manoela Alcântara e Augusto Tenório
Metrópoles

Ministro decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes refutou a principal tese usada por Bolsonaro para se defender no chamado “inquérito do golpe”. Em entrevista à coluna, o magistrado sustentou que o planejamento de um golpe de Estado configura crime, mesmo que os envolvidos não tenham pegado em armas para tentar viabilizá-lo.

“Há a ideia de que, em princípio, atos preparatórios nada têm a ver com a eventual prática de crime. Só que, nesses casos de crimes contra o Estado de Direito e crimes contra a própria democracia, normalmente nós falamos de atos preparatórios que já são criminalizados. Até porque se o crime é bem-sucedido, ele se complementa. Na verdade, nós não vamos ter mais o Estado de Direito. Aquela situação que era ilícita passa a ser lícita. Nós vamos ter uma nova ordem. Então é preciso entender isso nesse contexto”, afirmou Gilmar Mendes.

DIZ GILMAR – “E as coisas foram muito além de atos puramente preparatórios, como se fossem atos cerebrinos. A gente pode pensar assim: ‘Poxa, que vontade de dar um tiro em alguém’. Fiquei no livre pensar. Mas não era disso que se tratava”, prosseguiu o ministro.

“Quando há dinheiro entregue para kids pretos, se isto ocorreu de fato; se pessoas foram monitoradas para eventualmente serem presas ou eliminadas; [se houve] documentos e atos. As pessoas estavam nos prédios acompanhando. Nós temos bastante concretude nessas medidas. ‘Ah, por que não realizou?’ Porque desistiu ou porque foram aconselhados”, disse o ministro, citando as investigações da Polícia Federal (PF):

Tudo isso é extremamente grave e será devidamente examinado”,

PLANEJAR ASSASSINATOS – “O relatório tem mais de 800 páginas. Nós vemos atos muito mais concretos. Quando se trata, por exemplo, de falar do assassinato do presidente da República eleito, do vice-presidente eleito, do assassinato de um ministro do Supremo. São coisas de extrema gravidade. E não eram pessoas que estavam lá no Acre fazendo um exercício lítero-poético-recreativo. Eram pessoas que estavam com dinheiro, estavam com carros, estavam se deslocando, monitorando essas pessoas”.

“A investigação é bastante consistente. Acha documentos impressos em impressoras do Palácio do Planalto, comunicações entre essas pessoas, envolvimento dessas pessoas. E todos tinham cargos públicos. Então tudo isso é bastante sério”, continuou.

TESE DA DEFESA – Após a operação da Polícia Federal que antecedeu o indiciamento do ex-presidente, em 19 de novembro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) argumentou:

“Por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime. E, para haver uma tentativa, é preciso que sua execução seja interrompida por alguma situação alheia à vontade dos agentes. O que não parece ter ocorrido”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Ao contratar advogados, Braga Netto, Bolsonaro e os demais envolvidos estão jogando dinheiro fora. O caminho da condenação já foi traçado, passando por cima da lei e da jurisprudência. Da mesma forma com que o Supremo simplesmente acabou com a tese universal de presunção da inocência, para cassar o mandato do deputado Deltan Dallagnol, agora os ministros se preparam para sepultar a consagrada doutrina de que planejar não significa tentar. É realmente espantoso e repulsivo. Sobral Pinto com certeza vomitaria e depois recorreria à Lei de Proteção aos Animais. (C.N.)

Equipe de Lula recebeu relatórios de alerta da Abin antes do 8/1

Andrei Rodrigues, da equipe de Lula, recebia os informes

Caio Crisóstomo
Folha

A equipe de segurança de Lula (PT), composta majoritariamente por policiais federais, recebeu na transição de governo uma série de relatórios da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) com informações de atos que precederam os ataques do 8 de janeiro de 2023, como a tentativa de invasão da sede da Polícia Federal em 12 de dezembro de 2022.

Os documentos da Abin traziam informações de veículos que rondaram o hotel onde o então presidente eleito estava hospedado, relações de militantes bolsonaristas monitorados com potencial perfil agressor e até o relato de um homem que, ao se hospedar no mesmo local, teria tentado acessar por duas vezes o andar em que Lula estava.

HAVIA CONTROLE – Os relatórios evidenciam que havia um monitoramento antecipado da agência sobre manifestantes que apresentavam riscos à ordem pública. Caso o material tivesse sido trabalhado, o futuro rastreamento dos autores dos atentados do dia 8 de janeiro poderia ter sido facilitado.

Os informes da agência foram produzidos dentro de um grupo de trabalho presidido pelo então chefe da equipe de segurança de Lula, Andrei Rodrigues. No atual governo, ele foi nomeado diretor-geral da PF.

Não era de conhecimento público, até agora, que a Abin havia produzido, no final de 2022, informações de inteligência encaminhadas prioritariamente para a equipe de Lula no âmbito deste GT (grupo de trabalho).

TINHAM CONHECIMENTO – A Folha teve acesso aos documentos e também a mensagens que mostram que eles chegaram a membros da segurança do petista nas eleições de 2022. A reportagem questionou qual encaminhamento foi dado a eles, mas não houve resposta.

No dia 7 de janeiro de 2023, já como diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues fez um ofício em que alertou sobre possíveis atos violentos nos dias seguintes. Não detalhava quais informações embasavam esse prognóstico.

Como mostrou a Folha, em depoimento durante um processo administrativo disciplinar, o chefe da PF disse que não encaminhou nenhum relatório com detalhes dos riscos identificados à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal e que fez apenas a comunicação verbal na reunião.

EQUIPE DE ANDREI – O grupo de trabalho em questão tinha o nome de GT de Inteligência Estratégica e foi criado na transição, com participação de integrantes da Abin e da PF, convidados pela equipe de Andrei.

Na época, já havia atrito do atual diretor-geral com a administração da PF, especialmente com a diretoria de inteligência, então sob comando de Alessandro Moretti. Nos bastidores, Andrei dizia que não era possível confiar na gestão da PF sob Jair Bolsonaro (PL).

Os documentos da agência apresentam nomes de pessoas identificadas no início de dezembro em manifestações em frente ao hotel e, depois, reconhecidas como participantes de ações violentas em Brasília, como a tentativa de explosão no aeroporto de Brasília, na véspera do Natal de 2022, e também dos atos golpistas nos prédios dos três Poderes de 8 de janeiro de 2023.

BLOGUEIRO TERRORISTA – Um dos identificados e monitorados foi o blogueiro bolsonarista Wellington Sousa, condenado por tentar explodir a bomba no aeroporto. Ele aparece nos relatórios da Abin com potencial perfil agressor à segurança de Lula. Sousa foi preso em setembro de 2023 no Paraguai.

Outro mencionado é o major aposentado Cláudio Santa Cruz, da Polícia Militar do Distrito Federal, conhecido como um dos líderes do acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília. Foi preso na 9ª fase da Operação Lesa Pátria em março de 2023.

Lula ficou hospedado durante a transição no hotel Brasil 21 Meliá, no centro da capital federal. Enquanto Bolsonaro mantinha o silêncio após a derrota nas urnas, apoiadores acampavam diante do QG e pediam intervenção militar.

PROTESTOS E RONDAS – A partir de 5 de dezembro de 2022, bolsonaristas começaram a realizar protestos e rondas com veículos em volta do hotel. Os agentes da inteligência produziram três relatórios sobre essas movimentações.

A reportagem teve acesso a mais de 70 páginas desses informes, que foram difundidos com integrantes da PF por WhatsApp.

Uma primeira versão de um relatório da Abin de 11 de dezembro de 2022 identificou 15 participantes de um protesto em frente ao hotel ocorrido no dia 5 de dezembro. O ato foi conduzido pelo blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, atualmente foragido, e a Abin cita coros de “não vai subir a rampa” e “só por cima do meu caixão”.

OUTROS ENVOLVIDOS – Uma segunda versão de documento, de 14 de dezembro daquele ano, identificou 21 participantes de uma manifestação, também em frente ao hotel, na madrugada do dia 12 de dezembro, data da diplomação de Lula no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A segurança do presidente foi reforçada.

Foi no dia 12 que houve tentativa de invadir o prédio da PF após prisão de um indígena bolsonarista, Serere Xavante. Ele havia participado de protesto em frente ao hotel Meliá.

Uma última versão deste relatório é de 31 de dezembro de 2022, véspera da posse de Lula. O texto cita um novo fluxo de pessoas no acampamento em frente ao QG a partir de 29 de dezembro e traz informações sobre donos de veículos que rondavam o hotel. A Abin monitorou ao menos dez veículos que haviam rondado o Meliá ou tinham vínculo com acampados no QG.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Naquele momento difícil, com o término da primeira semana de governo, acampamento fervilhando etc. e tal, Lula foi “visitar” Araraquara sem nenhum motivo, apenas para encontrar o amigo petista Edinho Silva. Ora, é claro que Lula estava informado. Mas quem se interessa? (C.N.)

Braga Netto cria versão sobre reunião dos “kids pretos” em sua casa

O ex-ministro Walter Braga Netto (PL)

Braga Netto prepara sua narrativa sobre o golpe

Malu Gaspar
O Globo

O general Walter Braga Netto, preso no último sábado pela Polícia Federal (PF) sob a acusação de tentar obstruir as investigações, não só trocou de advogado como já delineou sua estratégia de defesa no inquérito da trama golpista, acusado de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.

Em entrevista ao blog, seu novo defensor, José de Oliveira Lima, afirmou que ele não planeja partir para a delação premiada.

REVERTER A PRISÃO – De acordo com interlocutores da família do general, ele acredita poder reverter a prisão com sua versão sobre os dois principais episódios que complicaram sua situação.

Sobre o primeiro deles, uma reunião em seu apartamento em Brasília em novembro de 2022 com um grupo de oficiais das Forças Especiais do Exército, os chamados! kids pretos! – que, segundo a PF, tinha como objetivo executar um plano de golpe de Estado –, Braga Netto diz que foi apenas um encontro para tirar uma foto com o coronel Raphael Oliveira.

O oficial foi um dos participantes de uma operação chamada de Copa 2022, em que militares se distribuíram por Brasília em locais por onde passava o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, como parte de um plano que incluiria até o sequestro do magistrado e o assassinato do então presidente eleito Lula e o vice eleito, Geraldo Alckmin.

CID CONFIRMA – A história da foto com Braga Netto, aliás, é corroborada pelo ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, em sua delação premiada.

Na versão do general, porém, a credibilidade de Cid termina aí. O tenente-coronel afirmou em seu último depoimento à PF, em 5 de dezembro, que Braga Netto entregou dinheiro para financiar os golpistas em uma caixa de vinho.

Disse, ainda, que o candidato a vice na chapa de Bolsonaro à reeleição procurou seu pai, o também general Mauro Lourena Cid, para tentar saber o que ele havia dito na delação – o que para a PF representou uma tentativa de obstruir a Justiça.

SOB PRESSÃO – Em sua argumentação, Braga Netto dirá que Cid falou o que falou sob pressão, porque não é possível que em nenhum dos depoimentos anteriores ele tenha se lembrado desses fatos.

A estratégia do ex-vice de Bolsonaro representa uma mudança em relação à sua primeira manifestação pública sobre o caso.

No comunicado divulgado dois dias após o indiciamento do general, de Bolsonaro e outras 35 pessoas por envolvimento na trama golpista, Braga Netto não negou diretamente ter participado dos planos de golpe de estado. Concentrou-se apenas em destacar sua “lealdade” a Bolsonaro “até os dias atuais”, além de negar a tese de um “golpe dentro do golpe” aventada por investigadores da PF após a revelação de que a ruptura democrática envolveria a criação de um Gabinete Institucional de Gestão de Crise vinculado ao GSI que seria coordenado por ele e comandado pelo general Augusto Heleno.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Cada vez fica mais evidente que houve apenas o planejamento para tentar dar um golpe, porém foi tão mal preparado que virou uma comédia sem a menor graça. Os golpistas são ridículos, não há a menor dúvida. (C.N.)

Achar que o real sofre ataque especulativo é apenas uma ilusão

A imagem mostra uma nota de 5 unidades monetárias à esquerda, acompanhada de quatro moedas de diferentes valores. À direita, há uma nota de um dólar americano. O fundo da imagem é azul.

Ilustração reproduzida da Folha

Vinicius Torres Freire
Folha

Há quem tente ganhar dinheiro com a perspectiva de desvalorização ainda maior do real. Quem invente operações financeiras engenhosas para tentar faturar com a variação frequente e grande do dólar (“volatilidade”). Há até operações automatizadas (“robôs”) que permitem identificar essas oportunidades.

É verdade também que, a julgar pelas condições econômicas do Brasil, dólar a R$ 6,27 parece exagero, assim como Selic a 17% ao ano, como se vê no atacadão do mercado de dinheiro.

PACOTE MALFEITO – Se há exagero, há necessariamente “ataque especulativo”? Não. A péssima recepção ao plano fiscal do governo agravou uma situação ruim que vinha desde abril.

O impacto do fracasso de público do pacote, que elevou dólar e juros, causou acidentes (perdas de dinheiro, reversão de planos de investir etc.). Que isso tenha acontecido no dezembro seco de dólares piorou a situação. Há um dominó em queda, bola de neve, o nome que se dê a problemas que se realimentam.

O que seria um “ataque especulativo? Uma tentativa de forçar a desvalorização de uma moeda que está em certo nível, por decisão de governo ou similar, e que está valorizada além da conta, dado um contexto ruim.

CENÁRIO RUIM – Qual contexto? O de um país com déficit externo crescendo rápido e para um nível perigoso. Um aumento rápido e sem limite da dívida pública. Reservas internacionais insuficientes para defender um certo nível de cotação da moeda.

Um ataque especulativo seria, grosso modo, um maciço e variado conjunto de operações com o objetivo de pressionar a desvalorização de uma moeda, induzindo governo e/ou banco central a vender dólar, no caso, a preço bom, “barato”, de real supervalorizado.

A fim de manter a taxa de câmbio desejada (tantos reais por dólares), o BC teria de vender dólares baratos, tirados de seu estoque de segurança (reservas internacionais).

JOGA A TOALHA – Quando o BC fica quase sem reservas, joga a toalha. A moeda, no caso o real, se desvaloriza (“o dólar sobe”). Lucra muito quem montou operações financeiras que ganham com a grande desvalorização da moeda.

Mas a moeda brasileira, o real, não está “supervalorizada”, por quase qualquer critério, faz tempo —ao contrário. Chutava-se ainda neste ano que o dólar poderia voltar a algo um tanto abaixo de R$ 5 (R$ 4,80?) se houvesse perspectiva de limite para o crescimento da dívida pública, inflação controlada e ambiente mais calmo nos EUA.

As autoridades econômicas brasileiras também não estão defendendo, tentando fixar, uma cotação ou uma faixa de flutuação para a moeda brasileira. O câmbio é flutuante. Com disparada na cotação, dólar turismo chega a R$ 6,66 em casas de câmbio

ORIGEM DO PROBLEMA – O BC não intervém a fim de evitar a tendência de alta do dólar, mas de evitar estrangulamentos e altas aberrantes por faltas pontuais de dólares (“pouca liquidez”). Por ora, nem está vendendo o suficiente ou operando de modo adequado (via swaps cambiais) para conter o preço do dólar.

Quem procura ganhar com a alta do dólar em regime de câmbio de fato flutuante, corre muito risco. Por outro lado, se o BC viesse a intervir a fim de fixar um preço para o dólar, estaria financiando o eventual especulador ou subsidiando em geral quem quer tirar dinheiro do país (torrando reservas), com alto risco de fracasso também.

Solução? Lidar com a origem do problema (fiscal), com o presidente Lula reconhecendo o motivo da crise e tomando providências.

Procudoria se manifesta contra pedido de liberdade para Braga Netto

Quem é Paulo Gonet, indicado de Lula para a PGR

Moraes errou ao prender, e Gonet finge não perceber

Mariana Muniz
O Globo

A Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou nesta sexta-feira contra um recurso da defesa do general Walter Braga Netto que pede a revogação da prisão preventiva do militar.

“Dada a permanência dos motivos que fundamentaram a decretação da prisão preventiva e a inexistência de fatos novos que alterem o quadro fático-probatório que embasou a medida, não há que se cogitar de sua revogação”, apontou o procurador-geral da República, Paulo Gonet, na manifestação

PRESO NO RIO – O ex-ministro foi candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL) está preso desde o último sábado, no âmbito das investigações que apuram uma tentativa de golpe após a eleição de 2022.

Braga Netto é suspeito de obstrução de Justiça. Ele teria tentado obter dados da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O militar foi indiciado no inquérito com outras 36 pessoas, que incluem o ex-presidente Jair Bolsonaro e Mauro Cid.

Segundo a PGR, ao autorizar a prisão preventiva no último sábado, a Polícia Federal, ao pedir a prisão preventiva de ambos, apontou que Braga Netto e Peregrino “estavam associados aos propósitos de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e execução de Golpe de Estado contra o governo legitimamente constituído” e atuaram para obstruir as investigações, interferindo nas informações prestadas por Mauro Cid.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Mais um parecer que desmoraliza o Ministério Público, considerado o “fiscal da lei”. Se os procuradores atuassem na forma da lei, seriam a favor da libertação de Braga Netto, que não é flor que se cheire e merece execração pública, mas tem todo direito de responder a processo em liberdade. Moraes e Gonet agem em dobradinha no descumprimento da lei. (C.N.)

Moraes se curva diante da Procuradoria e manda soltar Daniel Silveira

Daniel Silveira pede a Moraes para autorizar trabalho externo

Moraes embromou muito até libertar Daniel Silveira

Fabíola Perez e Mateus Coutinho
Do UOL

O ministro do STF Alexandre de Moraes determinou nesta sexta-feira, dia 20 liberdade condicional ao ex-deputado federal Daniel Silveira, preso desde fevereiro de 2023.

Ministro determinou o uso de tornozeleira. “Oficie-se, ainda, à Secretaria Estadual de Administração Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro – SEAP/RJ para que providencie a colocação da tornozeleira no sentenciado, bem como para que encaminhe a esta Corte relatórios semanais sobre o cumprimento da condição determinada.”

SEM CONTATO – Silveira está proibido de manter contato com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Moraes determinou que o ex-deputado não pode ter contato com os 40 indiciados no inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado, inclusive por intermédio de terceiros.

Ele também não pode ter contato com o capitão do Exército Lucas Guerellus, que foi alvo de buscas da PF na investigação sobre golpe mas não figura entre os indiciados.

Moraes determinou uma lista de 12 condições impostas por Moraes a Silveira, como uso de tornozeleira eletrônica; proibição de se ausentar da comarca e obrigação de estar em casa das 22h às 6h, e aos sábados, domingos e feriados;

OUTRAS EXIGÊNCIAS – Além disso, tem de comprovar ocupação lícita no prazo de 15 dias, a contar da concessão do benefício e comparecer semanalmente à Justiça. Não pode mudar de residência, sem prévia autorização ao STF;

Proibição do uso de redes sociais. Moraes determinou que Silveira não utilize grupos de aplicativos de mensagens (Facebook, Youtube, Instagram, LinkedIn, X, TikTok, WhatsApp, Telegram, Discord, entre outras), inclusive por meio de cônjuge, parentes e de terceiros;

O ex-deputado também está proibido de frequentar clubes de tiro, bares, boates e casas de jogos. E Silveira está impedido de conceder entrevista ou manifestação a qualquer veículo de imprensa, blog, site ou rede social, sem prévia autorização judicial, inclusive por meio de cônjuge, parentes e de terceiro — prevê o documento.

MAIS PROIBIÇÕES – Silveira não pode frequentar nem participar de cerimônias. Segundo o documento, ele não poderá participar de homenagens realizadas em unidades militares das Forças Armadas ou das Polícias Federal, Rodoviária Federal, Militar, Civil, Penal, Legislativa e Judicial, ou ainda, de Guardas-Civis.

Moraes proibiu Silveira de posse ou porte de qualquer arma de fogo.  E proibição de qualquer contato com 41 pessoas, entre elas Jair Bolsonaro. Na mesma decisão, o ministro determinou a manutenção da suspensão do passaporte e proibiu a obtenção de um novo documento.

PROCURADORIA EXIGIU – A PGR foi favorável à soltura de Daniel Silveira. A Procuradoria-Geral da República emitiu ontem um parecer favorável para a liberdade condicional do ex-deputado. De acordo com a PGR, Silveira já cumpriu mais de um terço da pena que foi imposta pelo STF, que o condenou a 8 anos e 9 meses de prisão, em 2022, por ameaçar o Estado Democrático de Direito e coagir o andamento do processo investigatório.

Como o crime não é hediondo, a progressão da pena é possível desde que cumpridas algumas condições.

O ministro Alexandre de Moraes levou em conta o fato de Silveira ter apresentado bom comportamento, sem ter cometido nenhuma falta grave na prisão em 12 meses, o fato de ter conseguido descontar 98 dias da pena com trabalho, estudo e leitura, além de ter pago a multa imposta a ele. Também foi levado em conta o fato de o parlamentar ter recebido duas propostas de trabalho formal.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Daniel Silveira não é flor que se cheire, muito bem contrário. Mas no processo dele o ministro Moraes cometeu uma série de barbaridades jurídicas. Só libertou o réu porque a Procuradoria exigiu, Na primeira vez que a PGR reclamou, Moraes fingiu que não notou. (C.N.)

Política está dividida entre petistas e antipetistas, diz Trauman

Governo aceita demissão de Thomas Traumann da Secretaria de Comunicação Social | Jovem Pan

Thomas Trauman fez uma excelente análise na CNN

Deu na CNN

A polarização política no Brasil tem se estendido para além dos períodos eleitorais, influenciando o posicionamento dos cidadãos em questões cotidianas, de acordo com o jornalista e analista político Thomas Trauman.

Em uma análise aprofundada no programa WW, Trauman destaca como esse fenômeno tem se manifestado em diferentes esferas da sociedade brasileira.

EFEITO MARÇAL – O analista observa que o surgimento de figuras políticas como Paulo Marçal, considerado o grande fenômeno da última eleição, é um reflexo dessa polarização.

Além de Marçal, Trauman cita outros exemplos em cidades como Curitiba, Belo Horizonte e Fortaleza, onde se observa a ascensão de uma ‘direita ANCAP’, caracterizada por uma recusa ao diálogo com opositores e pela criação de bolhas de comunicação isoladas.

Trauman argumenta que o cenário político brasileiro está dividido em duas grandes famílias: o petismo e o antipetismo.

DUAS VERTENTES – Dentro desse contexto, ele identifica uma disputa interna pela hegemonia do campo antipetista, que se debate entre uma vertente mais antissistema e uma direita conservadora tradicional.

O jornalista ressalta que essa polarização não se limita mais apenas ao período eleitoral. Ele observa que até mesmo decisões cotidianas, como a escolha de produtos ou o comportamento de artistas, passaram a ser interpretadas e discutidas sob uma ótica política.

‘A gente está discutindo qual que é o comportamento de um artista ou de um produto, ou de uma decisão de uma escola passa a ser uma questão em que as pessoas se posicionam em função da política’, explica Trauman.

É PREOCUPANTE – Essa extensão da polarização para o dia a dia dos brasileiros representa, na visão do analista, um fenômeno preocupante e sem precedentes.

A análise de Trauman sugere que a sociedade brasileira está vivendo um momento de intensa divisão, onde as linhas entre política e vida cotidiana se tornam cada vez mais tênues, afetando a forma como os cidadãos se relacionam e tomam decisões em diversos aspectos de suas vidas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A análise está perfeita. A divisão principal é entre petistas e antipetistas (ou lulistas e antilulistas). Entre os antilulistas, se incluem os bolsonaristas e os demais antipetistas de todo tipo. Juntos, bolsonaristas e antilulistas seriam maioria, mas não conseguem se entender, porque Bolsonaro é uma “porcaria de líder”, como diz o evangélico Silas Malafaia. (C.N.)

O amor e a fé podem fazer de um padre uma pessoa duplamente santificada

O beijo, amigo, é a véspera do... Augusto dos Anjos - PensadorPaulo Peres
Poemas & Paixões

O advogado, professor e poeta paraibano Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) mostra neste soneto que “Amor e Religião” podem fazer um padre duas vezes santo.

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AMOR E RELIGIÃO
Augusto dos Anjos

Conheci-o: era um padre, um desses santos
Sacerdotes da Fé de crença pura,
Da sua fala na eternal doçura
Falava o coração. Quantos, oh! Quantos

Ouviram dele frases de candura
Que d’infelizes enxugavam prantos!
E como alegres não ficaram tantos
Corações sem prazer e sem ventura!

No entanto dizem que este padre amara.
Morrera um dia desvairado, estulto,
Su’alma livre para o Céu se alara.

E Deus lhe disse: “És duas vezes santo,
Pois se da Religião fizeste culto,
Foste do amor o mártir sacrossanto.”

Sem Lula, como devem ficar o PT e as esquerdas no Brasil?

A CHARGE DE DOZE POR CENTO REJEITANDO O PT – Blog do Robson Pires

Charge do Nani (nanihumor.com)

Celso Rocha de Barros
Folha

Ao que tudo indica, Lula se recuperou bem do problema de saúde que teve semana passada. É um alívio gigante. Entretanto, episódios como esse tornam evidente um fato incontornável: em algum momento dos próximos anos, Lula vai se aposentar. Vai preferir passar seus últimos anos ouvindo o choro dos bisnetos ao invés do choro do centrão.

O Partido dos Trabalhadores não está bem posicionado para sobreviver sem Lula no jogo.

NA ESQUERDA – Durante as presidências petistas, o PT se esforçou para puxar o governo para a esquerda. Fazia todo sentido: o PT sempre governou com alianças amplas, com ministros de centro e de direita, negociando com um Congresso que sempre foi direitista.

Diante desse quadro, os petistas se esforçavam para não deixar que a identidade progressista do governo fosse inteiramente apagada. Nem sempre foi fácil, mas no geral o objetivo foi alcançado.

O lulismo sempre foi mais moderado que o petismo, sempre alcançou camadas mais amplas do eleitorado. Sem Lula, o PT terá que deixar de ser a ala esquerda do Lulismo para converter-se em herdeiro do lulismo como um todo.

FIADOR DE ALIANÇAS – Para isso, terá que tomar para si as tarefas que Lula desempenhou como fiador de grandes alianças. Terá que fazer os gestos para fora da bolha de esquerda que antes eram responsabilidade de Lula.

Não vai ser fácil. Mas alguma síntese entre o petismo e o lulismo será necessária se o partido quiser continuar vencendo eleições majoritárias.

Não sei como será essa síntese – cabe aos petistas e seu eleitorado encontrá-la – mas tenho uma sugestão: não enquadrar essa discussão nos termos “mais radicalismo vs. mais moderação”, ou “virada para o centro vs. retorno às bases”.

O QUE FAZER? – Essas alternativas não são tão claramente diferentes assim. A alternativa “voltar às bases”, por exemplo, costuma ser associada à esquerda mais radical. Mas muitos militantes que estão voltando às bases estão tendo que lidar com fenômenos novos, como o empreendedorismo popular, a uberização, e outras coisas que exigem ideias novas.

Na eleição passada, Guilherme Boulos, um dos grandes nomes da esquerda próxima aos movimentos sociais, fez uma campanha particularmente empenhada em conversar com essa nova classe trabalhadora.

Do outro lado, Fernando Haddad é provavelmente o principal nome do PT moderado no momento.

TAXAR OS RICOS – Mas justamente porque está tentando colocar as contas públicas em dia, Haddad foi o primeiro ministro da Fazenda petista a comprar a briga da taxação dos ricos. Guido Mantega, que muitos colocariam à esquerda de Haddad, notabilizou-se por conceder isenções fiscais para grandes empresas.

Uma outra questão é saber se o PT conseguirá construir essa alternativa sozinho. A reforma política de 2017 estabeleceu regras que já estão reduzindo o número de partidos brasileiros e criando grandes máquinas partidárias, quase todas de direita. Para o PT conseguir competir com esses partidos riquíssimos, é provável que precise organizar uma federação com outros partidos.

Uma coisa é certa: se a esquerda só começar a pensar no pós-Lula no dia seguinte à sua aposentadoria, há o risco real de não haver um partido de esquerda forte no Brasil por muitos anos.

Congresso conclui votação do pacote de corte de gastos

Charge de J. Bosco (oliberal.com)

Pedro do Coutto

O Congresso Nacional concluiu nesta semana a votação do pacote de corte de gastos do governo, com a promulgação nesta sexta-feira da Emenda Constitucional 135, que reduz as despesas obrigatórias do Poder Executivo. A alteração constitucional teve origem na PEC 54/2024.

Além disso, foram encaminhados à sanção presidencial outros dois projetos: o PLP 210/2024, que impõe limites aos gastos públicos em caso de déficit, e o PL 4.614/2024, que restringe o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) e limita o aumento real do salário mínimo.

ATÉ TARDE – As três propostas foram aprovadas pelo Senado em dois dias, após passarem pela Câmara dos Deputados. Na quinta-feira, os senadores votaram a PEC 54/2024 e o PLP 210/2024 em uma sessão que se estendeu até quase a madrugada, sendo suspensa temporariamente para garantir o quórum necessário para a votação do projeto restante, o PL 4.614/2024.

A apreciação deste último ocorreu ontem, a partir das 10h15. Em seguida, uma sessão conjunta do Congresso garantiu a promulgação da Emenda Constitucional 135 antes do início do recesso parlamentar.

SALÁRIO –  Como dito no início, neste novo capítulo, sobrou para o salário mínimo que vinha sendo reajustado acima da inflação. Pouca coisa, mas era o índice inflacionário mais o percentual de crescimento do Produto Interno Bruto. Agora voltou a ser reajustado apenas pela inflação, tendo avanço zero. É melhor isso do que se não houvesse reajuste algum.

Mas vale destacar que o salário mínimo é um direito, tal como a previdência, adquirida pelas contribuições. A classe política parece ignorar essa necessidade. Mas, enfim, o governo conseguiu vencer uma etapa importante para ele no sentido de alívio, pois o projeto de pacote fiscal estava se transformando em uma peça de confronto entre o governo e correntes de oposição.

Pessimismo vai muito além da economia e nem Poliana resolve…

Nani Humor: MOMENTO ECONÔMICO

Charge do Nani (nanihumor)

Elena Landau
Estadão

Lula acha que o único problema do País são os juros. Totalmente descolado da realidade. Começou seu mandato com a dívida representando 71,7% do PIB, e pode terminar em 85%. Até poucos meses atrás, o governo ainda contava com a esperança do mercado em um pacote de gastos para valer. Não veio. O aumento dos juros e a disparada do dólar refletem uma justificada desconfiança no governo.

O Executivo apresentou uma proposta claramente insuficiente para reverter expectativas. Não adianta culpar o Congresso, quando a negociação já começa em patamar muito baixo. Achar que parlamentar vai endurecer o pacote é muita ingenuidade.

ALÉM DA ECONOMIA – O pessimismo neste fim de ano vai muito além da economia. A sociedade não confia mais nas instituições. Aqueles que deveriam colocar o interesse público como prioridade são os primeiros a cuidar de seu pirão.

Parlamentares se recusam a cumprir determinação do STF. As emendas continuam sem transparência. E os escândalos no desvio de recursos públicos não intimidam ninguém.

Lira é o símbolo maior. Até criou uma estatal para chamar de sua – Docas de Alagoas. Ao mesmo tempo, o governo liberou suas estatais para tocar uma “gestão eficiente”, tipo Telebras e Ceitec. Com esse exemplo, não dá para exigir muito do Congresso.

ANTES DE ASSUMIR – Alcolumbre nem sequer assumiu e já está impondo seus indicados para as agências reguladoras. Logo o Senado, que deveria garantir com sabatinas a competência dos que vão zelar pela qualidade dos serviços públicos.

Os jabutis não param de elevar a tarifa de energia, chegando ao cúmulo de incentivar carvão em pacote de transição energética.

Cinco ministros deste governo indicaram suas próprias esposas para os Tribunais de Contas de seus Estados. E ninguém vê conflito de interesse. Como também não se vê em juiz relatando processo em que está diretamente envolvido.

NADA MUDOU – Temos mais de 5 mil generais na reserva. A integralidade na aposentadoria permanece intocável; 134 mil filhas de militares são pensionistas, inclusive de general que comandou um centro de tortura na ditadura.

Alguns juízes são presos por venda de sentença, outro acha que a prisão do assassino de um turista não é urgente. A população tem medo de sair na rua, e com razão: a chance de perder seu celular ou a vida não é pequena.

Enquanto crimes de bagatela muitas vezes chegam até a Suprema Corte, decisões liminares perdoam dívidas de corruptos confessos, liberando muitos deles para voltar a fazer negócios com o Estado. Não tenho esperanças de um ótimo 2025, só posso desejar um Feliz Natal e torcer para o velhinho colocar um pouco de juízo nessa gente.

STM deu show de corporativismo diante da viúva do músico que levou 57 tiros

Os militares deram 257 tiros num homem desarmado…

Bruno Boghossian
Folha

Quantos tiros um grupo de militares pode disparar contra uma família de civis desarmados sem cumprir pena na cadeia? O Superior Tribunal Militar liberou a marca de 257. Na noite de quarta (18), a corte reduziu a punição dos agentes que mataram o músico Evaldo Rosa e o catador Luciano Macedo, em 2019. Eles passarão três anos em regime aberto.

O julgamento consagrou a tese de que os oficiais, cabos e soldados que participavam da operação no Rio não tinham a intenção de matar ninguém, com tiros dados num contexto de confronto com bandidos.

ERAM VÍTIMAS? – Analisar as circunstâncias de dolo e culpa de agentes de segurança é dever de qualquer juiz. Os ministros vencedores, porém, preferiram tratar os atiradores como vítimas.

O tenente-brigadeiro Carlos Augusto Oliveira, relator do caso, aceitou a defesa dos militares, que dizem ter confundido o carro de Evaldo com um veículo usado por bandidos. Ele afirmou que os agentes tentavam “conter uma ação criminosa, ainda que imaginária”.

Num exercício de especulação, disse ainda que o músico pode ter sido morto numa troca de tiros com criminosos, sem a certeza de que os disparos partiram dos agentes do Exército.

PONDERAÇÃO –  No voto, o relator fez uma ponderação. Apontou que o grupo de militares errou na identificação do carro, deixou de verificar se Evaldo estava armado e não considerou a opção de ferir o motorista em vez de atirar para matar. Faltou explicar se alguma parte da abordagem estava certa.

Outros ministros encenaram um show de corporativismo diante da viúva e do filho de Evaldo. Revisor do processo, José Coêlho Ferreira descreveu a situação das mortes como “uma grande confusão”. O general Lúcio Mário de Barros Góes disse que lamentava sentenciar “pessoas de bem pela trágica ocorrência”.

A índole dos agentes não estava em julgamento. A única questão a ser considerada é se um grupamento que ignora as circunstâncias de uma abordagem e dispara 257 tiros assume ou não a intenção de matar. Militares “de bem” podem cometer erros, mas precisam ser responsabilizados na medida de suas ações. A Justiça Militar deu todas as provas de que não tem interesse em submeter os seus a essa provação.

Jair Bolsonaro sabia do golpe ou é tudo uma grande narrativa?

Bolsonaro já tinha plano de golpe e fuga em março de 2021, diz PF

Se houvesse golpe, Bolsonaro seria tirado do poder

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Braga Netto, agora preso preventivamente, era o cabeça do plano golpista. Bolsonaro participou apenas da elaboração de um decreto de estado de sítio, dispositivo previsto na Constituição. Foi dissuadido pelo general Freire Gomes. Todas os elementos mais sórdidos do plano que hoje se descortina —com sequestro e assassinato— eram obra de Braga Netto e outros militares extremistas.

O golpe seria dado, inclusive, no próprio Bolsonaro, posto que o comitê que assumiria o poder a partir do uso do artigo 142 não o incluiria.

“KIDS PRETOS” – Foi Braga Netto que, segundo Mauro Cid, arranjou o dinheiro e pagou os kids pretos. Era ele quem, por meio do general Mario Fernandes, mantinha contato com os acampamentos golpistas, dos quais saíram os atos violentos como a “noite do fogo” de 12 de dezembro e o atentado terrorista no aeroporto de Brasília.

A essa altura, você deve me considerar ou muito burro ou muito desonesto. É uma reação normal. Saiba, então, que não acredito na narrativa dos dois parágrafos acima. Estou apenas relatando a linha de defesa (ou ao menos uma delas) adotada pelo advogado de Bolsonaro em resposta ao inquérito que o indiciou.

Embora ela não convença, e até cause indignação, seus pontos centrais não são simples de se refutar, justamente porque exploram pontos fracos da acusação. De fato, ainda não há prova de que Bolsonaro soubesse dos planos de sequestro e assassinato, das operações dos kids pretos etc.

MINUTA DO DECRETO – É possível ligá-lo diretamente à minuta do decreto, para a qual ele inclusive sugeriu edições; mas tê-lo discutido —coisa que ele assumidamente fez— já configura crime? Isso não é claro.

É por esse caminho que a Justiça chega à verdade. Em vez de pedir a uma autoridade técnica perfeitamente imparcial para coletar provas e emitir uma conclusão, montam-se duas equipes antagonistas, assumidamente parciais, para que sustentem diferentes narrativas com base nos fatos conhecidos e busquem falhas na narrativa adversária. Podem inclusive negar fatos alegados pelo lado contrário.

O relatório final do inquérito da PF, com suas quase 900 páginas, também constrói uma narrativa. Os documentos puros —textos impressos, gravações telefônicas, prints de trocas de mensagens— são os elementos usados para tecer uma história que, ao contrário da narrativa da defesa, coloca Bolsonaro no centro da trama.

APENAS NARRATIVA – Chamar um conjunto de crenças de “narrativa” não é desmerecê-lo. Nosso conhecimento não é um mero empilhamento de fatos. Nós ligamos fatos pontuais em histórias maiores que dão sentido à realidade.

Nossa relação com o debate público polarizado, hoje, é similar a um tribunal: diferentes narrativas são construídas a partir dos fatos (ou supostos fatos) e se digladiam. Cada um de nós é um jurado no tribunal do debate público, chamados a dar vereditos diários para um lado ou outro. Podemos também nos fazer de advogados e promotores junto a nossos pares.

Nesse tribunal, de pouco vale nossa indignação com a posição de um adversário se não conseguimos mostrar seu ponto fraco. Em vez acusá-lo de burro ou desonesto, mais vale se interrogar: com base em qual argumento posso afirmar que minha narrativa é verdadeira e a de meu interlocutor é falsa?

Pânico cambial corre solto diante da impotência do governo Lula

O que está ruim pode sempre piorar - Política por Elas

Charge reproduzida do Arquivo Google

Deu na Bloomberg

Conforme o real vai se desvalorizando — colocando os mercados do país sob os holofotes internacionais pela primeira vez em anos — uma realidade sombria está se estabelecendo para os principais assessores econômicos do Presidente Lula da Silva. Eles temem não poder fazer muito para deter o pânico.

Lula, que está se recuperando em sua casa em São Paulo de duas cirurgias cerebrais de emergência consecutivas, não tem interesse em ampliar o pacote de austeridade que poderia, se executado com ousadia suficiente, acalmar as preocupações dos investidores com o aumento da dívida e conter a fuga de capitais que levou a moeda a níveis recordes de baixa.

CRISE DA DÍVIDA – Seus assessores tiveram que implorar ao longo de semanas para que ele fizesse isso em primeiro lugar. E os legisladores, observam a equipe econômica, também se opõem a cortar gastos. Os ajustes que estão sendo feitos no projeto de lei durante a tramitação no Congresso têm como objetivo enfraquecer o pacote de cortes de custos.

Fazia anos, desde o período que antecedeu a primeira eleição de Lula, em 2002, que os mercados brasileiros estavam convulsionados pelo temor de uma crise da dívida.

E, embora esta ainda possa ser insignificante em comparação com aquela – os títulos estrangeiros do país rendem uma fração do que rendiam naquela época, e há muito menos dívida em dólares agora – em sua essência, é disso que se trata. Assim como na França, os investidores não estão mais dispostos a financiar os déficits que explodiram durante a pandemia e que mal recuaram nos anos seguintes.

ALTO RENDIMENTO – Assim, independentemente da velocidade com que o Banco Central do Brasil aumente as taxas de juros, oferecendo retornos cada vez mais suculentos sobre os ativos locais, os investidores continuarão a retirar dinheiro até que tenham certeza de que o déficit será reduzido.

Haverá inícios e paradas nas saídas, dizem os analistas, mas as preocupações são reais demais para serem disfarçadas com títulos que rendam até 15% ao ano.

“O governo não tem credibilidade”, disse Daniela Da Costa-Bulthuis, que ajuda a supervisionar 200 bilhões de euros (US$ 207 bilhões) de ativos na Robeco Institutional Asset Management. “O mercado de ações e o real estão começando a precificar uma situação econômica muito complicada que será difícil de resolver.”

HADDAD REAGE – Os assessores de Lula estão fazendo o que podem. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem falado publicamente sobre os cortes de gastos do governo e deu a ideia de que haverá melhorias. E o principal contato do governo com o Congresso está fazendo declarações tranquilizadoras sobre sua intenção de persuadir os legisladores relutantes a aceitar a austeridade.

Mas, de acordo com pessoas próximas aos mais altos escalões do governo de esquerda, que pediram para não serem identificadas, discutindo debates internos, a opinião de Lula é que sua proposta de cortar R$ 70 bilhões de gastos até 2026, limitando o crescimento do salário mínimo e tornando mais rígidas as regras sobre os pagamentos da previdência social, é mais do que suficiente. Os analistas discordam, dizendo que o pacote poderia liberar um pouco mais da metade desse valor, de acordo com uma pesquisa do Banco Central.

A intransigência, mesmo com a convulsão dos mercados, está levantando preocupações entre os traders de que o país pode estar caminhando para um cenário conhecido como dominância fiscal. De fato, essa especulação está em alta nos bancos de São Paulo e nas salas de negociação do Rio de Janeiro.

NUMA ARMADILHA – Um coro cada vez maior de observadores do Brasil, desde o investidor veterano Luis Stuhlberger e o ex-banqueiro central Arminio Fraga até o Goldman Sachs e o Morgan Stanley, está alertando que o país está caindo em uma armadilha na qual a expansão fiscal diminui o impacto da tentativa do Banco Central de apertar a política com taxas de juros mais altas.

No quinto leilão da semana, BC vende US$ 3 bi após sucessivos recordes do dólar

O Banco Central é um dos poucos em todo o mundo que está aumentando os custos dos empréstimos. Este mês, o presidente Roberto Campos Neto aumentou as taxas em um ponto percentual, para 12,25%, e a diretoria – em uma decisão unânime – sinalizou dois aumentos adicionais semelhantes até março, em uma mensagem que surpreendeu até mesmo as mais hawkishes das previsões.

AÇÕES CONCRETAS – No entanto, os investidores continuaram a se desfazer dos ativos brasileiros, exigindo ações concretas do governo para resolver o problema fiscal.

O real ampliou as perdas acumuladas no ano para 23%, enquanto os rendimentos dos títulos do governo local subiram para os níveis mais altos desde que a ex-presidente Dilma Rousseff sofreu impeachment em 2016. Além disso, a curva local das taxas de swap foi vendida, com os vencimentos mais longos sendo mais afetados.

A dominância fiscal está “se tornando parte da conversa”, disse Katrina Butt, economista sênior da AllianceBernstein em Nova York. “A formulação da política fiscal está claramente afetando a tomada de decisões da política monetária.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O governo Lula é uma negação, que se empenha em transformar o país numa gigantesca Argentina. (C.N.)

Augusto Heleno submergiu para evitar ser preso como Braga Netto

General Heleno durante depoimento na CPI do 8 de janeiro

Augusto Heleno não é melhor nem pior do que Braga Netto

Bela Megale
O Globo

A tensão do entorno do general da reserva Augusto Heleno cresceu após prisão do também general quatro estrelas Walter Braga Netto, no sábado passado. Ambos foram ministros de Jair Bolsonaro e estão indiciados pela Polícia Federal no inquérito da tentativa de golpe de Estado.

Aliados de Heleno, que foi ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), avaliam que o militar adotou uma postura distinta daquela que teve Braga Netto desde que foi alvo de uma operação de buscas da Polícia Federal, no início do ano. Eles alegam que o general submergiu, enquanto o colega da caserna atuou para conseguir dados sobre a delação premiada do tenente-coronel e ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid.

CHANCE REMOTA  – O grupo de aliados militares acredita que a chance de uma prisão preventiva de Heleno é remota, mas avalia que a possibilidade do ex-ministro do GSI ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é grande. Heleno tem 77 anos de idade, fator que também pode pesar na decisão sobre uma eventual prisão.

Como informou a coluna, a estratégia de defesa de Heleno, no processo, é tentar argumentar que o então ministro do GSI teria sido escanteado por Jair Bolsonaro, quando o centrão passou a fazer parte do governo, em 2021.

O argumento é que a paródia “se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”, feita pelo militar, teria deixado Heleno sem clima para permanecer com trânsito na alta cúpula do Palácio do Planalto.

AS ACUSAÇÕES – O relatório final da PF diz que Heleno atuou de “forma destacada” no planejamento e na execução de ações para “desacreditar o processo eleitoral brasileiro e subverter o regime democrático”.

Entre as provas trazidas, há anotações de próprio punho atribuídas ao general, sugerindo estratégias para não cumprir decisões judiciais. Uma agenda de Heleno também continha orientações manuscritas de ataques à credibilidade das urnas eletrônicas.

A PF ainda aponta que o grupo golpista planejava criar um “gabinete de gestão de crise” comandado por Heleno e Braga Netto, depois da prisão ou execução do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Augusto Heleno não será preso preventivamente. O ministro Alexandre de Moraes já percebeu que errou infantilmente na prisão de Braga Netto, que tem direito de responder ao processo em liberdade. O duro é ver que Moraes erra (sempre por excesso), depois percebe que errou, porém jamais reconhece ou corrige o erro. (C.N.)