A enrascada do BRB no Banco Master e o silêncio estrondoso da grande mídia

Negócio entre BRB e Banco Master | LinkedIn

Charge reproduzida do Arquivo Google

Carlos Newton

No Brasil, quando o noticiário se cala de forma sincronizada sobre um fato público e notório, é preciso acender o sinal de alerta. A velha máxima do jornalismo — “o silêncio, às vezes, diz mais do que mil palavras” — nunca foi tão atual quanto agora, diante do escandaloso caso da aquisição do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília).

Um tema que deveria estar estampado nas manchetes e nas mesas de debate foi varrido para debaixo do tapete. E tudo indica que essa operação está cercada por uma névoa densa de irregularidades, com o beneplácito de setores que deveriam zelar pela lisura do sistema financeiro.

ANTES DO BALANÇO – Vamos aos fatos. A suspeitíssima “aprovação” da compra do Banco Master pelo Conselho de Administração do BRB ocorreu antes da publicação do último balanço do próprio Master.

Sim, leitor, você leu certo. A operação foi aprovada no escuro — ou então com base em informações privilegiadas, o que configuraria, em tese, crime de “insider trading”. Nenhum diretor de banco sério aprova uma aquisição dessa magnitude sem consultar, com lupa, os números mais recentes da instituição-alvo.

Para confirmar a gravidade da situação, basta consultar o parecer da auditoria — documento público que data de 1º de abril. Ora, para que esse parecer estivesse pronto, o balanço já teria de estar fechado e auditado, e já publicado muito antes.

ALTERNATIVAS NEFASTAS – Isso indica duas possibilidades, ambas nefastas: ou o Conselho do BRB aprovou a aquisição sem ter visto o balanço (o que seria imprudência temerária e talvez até improbidade), ou teve acesso prévio e exclusivo aos dados contábeis do Master, o que sugere violação grave das normas da CVM e do Banco Central.

Mas o enredo não para por aí. A coluna apurou que pelo menos um conselheiro do BRB manifestou sua indignação formalmente ao presidente da instituição, demonstrando inconformismo com a forma açodada e obscura com que se deu a aprovação da compra. Trata-se de uma informação de bastidor que já circula nos meios regulatórios e é motivo de inquietação no próprio Banco Central e na CVM.

Essa reação interna revela que a decisão não foi unânime nem pacífica — e reforça a tese de que o negócio está sendo empurrado com urgência artificial, talvez para evitar a exposição de problemas contábeis ou riscos ocultos nas operações do Master.

MÍDIA CALADA – E onde está a grande imprensa nesse vendaval? Curiosamente, em silêncio, como se nada estivesse acontecendo. Nenhuma reportagem investigativa. Nenhuma análise crítica. Nenhuma nota de rodapé nos cadernos de economia. Tudo em silêncio.

Um silêncio estrondoso, como se houvesse uma “concordata jornalística” para não incomodar Daniel Vorcaro, o controlador do Master, tampouco o próprio BRB — um banco estatal, que deveria agir com transparência redobrada, mas que tem a influência do poderoso Ibaneis e seus aliados.

A ausência de cobertura é ainda mais estranha considerando que estamos diante de um fato público, documentado, com potencial de repercussão institucional. Há risco real de dano ao erário, de quebra de confiança do mercado, e até de responsabilidade penal e administrativa por parte de conselheiros e dirigentes.

BANCO CENTRAL E CVM – Diante de tudo isso, impõe-se uma postura firme das autoridades reguladoras. O Banco Central não pode homologar essa transação sem uma devassa prévia e rigorosa.

A CVM deve investigar se houve vazamento de informações, omissão de deveres fiduciários e quebra do princípio da simetria informacional. A pressa, nesse caso, é o inimigo da legalidade.

Se houver o mínimo de prudência institucional, essa negociação será suspensa até que se esclareçam todas as circunstâncias. Caso contrário, estaremos diante de mais uma página vergonhosa da história do nosso sistema financeiro — com o aval tácito da mídia que deveria fiscalizar o poder.

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P.S. – A Tribuna está aberta aos esclarecimentos do BRB, do Banco Master, de Daniel Vorcaro e dos reguladores. Mas é preciso dizer com todas as letras: essa operação fede, e a blindagem midiática só agrava o mau cheiro. Quem cala, consente. E quem investiga, previne desastres. (C.N.)

6 thoughts on “A enrascada do BRB no Banco Master e o silêncio estrondoso da grande mídia

  1. “Moraes concede “prisão domiciliar humanitária” a Collor.
    O relator acatou parecer da Procuradoria-Geral da República a favor da prisão humanitária do parlamentar”

    Eu não sei do que se trata, mas me parece que ele esteve envolvido em desvio de dinheiro. Ou não? Se afirmativo, talvez um melhor castigo seria retornar o total do dinheiro e ficar detido em casa sem restrições: pode ter um piano no canto da sala de estar, um ar condicionado refrescando o ambiente, e um cafezinho de vez em quando,. Assim até eu!

  2. Quem ameaça à democracia? Patrimonialismo, corrupção, fraude, impunidade, incompetência e ignorância

    A ameaça à democracia nacional continua a ser o kit secular que nos aflige desde a época colonial — kit composto por patrimonialismo, corrupção, fraude, impunidade, incompetência e ignorância.

    Ameaça à democracia é, por exemplo, o roubo de R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas, sob o olhar negligente de dois governos, o de Jair Bolsonaro e o de Lula, se é que se trata só de negligência.

    Não é democracia um regime que permite roubos bilionários como esse e que, uma vez descobertos (…) pune apenas até os graus inferiores da hierarquia política, como deve ocorrer novamente.

    Fonte: Metrópoles, Opinião, 30/04/2025 11:07 Por Mario Sabino

    • 1º de Maio: Lula ficou no palácio para não dar outro vexame

      Lula resolveu não passar vexame outra vez e evitou ir ao ato de comemoração do 1º de maio, em São Paulo. No ano passado, havia minguadas 1.600 pessoas reunidas no estacionamento do Corinthians.

      A esquerda brasileira não consegue mais levar gente para a rua, seja para manifestações contra, a favor ou muito pelo contrário. É o caso curioso de esquerda sem povo.

      Os motivos de o Brasil ter uma esquerda sem povo (…): o PT aburguesou-se; o PT é mais um partido populista; o PT é parte do Centrão corrupto; o chefão Lula envelheceu com as suas ideias, sem criar herdeiro político.

      Em palavras mastigadas, como não é mais possível vender-se como o bem, muito poucos agora caem nesse estelionato, o PT vende-se como mal menor. Mal menor, contudo, não arrasta ninguém para as ruas.

      Tudo fica mais complicado com o 1º de maio, a data mais importante da esquerda. É simbólica demais para (…) simplesmente ignorá-la. Sem poder enganar de corpo presente, resta ficar no palácio e enganar na televisão, como fez ontem o Lula.

      Fonte: Metrópoles, Opinião, 01/05/2025 11:17 Por Mario Sabino

  3. URGENTE

    O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu prisão domiciliar ao ex-presidente Fernando Collor de Mello, preso em 25 de abril após ser condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A decisão, proferida nesta quinta-feira (1º), considerou a situação de saúde do ex-presidente, que inclui doença de Parkinson, apneia do sono grave e transtorno afetivo bipolar.

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