Setor privado faz manifesto e pede que Congresso derrube o decreto do IOF

Caio Junqueira
da CNN

As maiores confederações do setor privado elaboraram um manifesto no qual criticam o decreto do IOF anunciado pelo governo federal na semana passada e pedem que o Congresso anule a medida.

A Confederação Nacional do Comércio (CNC), da Indústria (CNI), da Agricultura (CNA), das Seguradoras (CNseg), das Instituições Financeiras (CNF), a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas) articularam no final de semana e publicaram na manhã desta segunda-feira (26) uma “Manifestação das Confederações sobre as mudanças no IOF”.

PREOCUPAÇÃO – O documento diz que “o setor privado brasileiro recebe com preocupação as medidas anunciadas pelo Governo Federal de aumento de alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras)”.

“A decisão gera imprevisibilidade e aumenta os custos para produzir no país. Com as medidas, os custos das empresas e dos negócios com operações de crédito, câmbio e seguros serão elevados em R$ 19,5 bilhões apenas no que resta do ano de 2025. Para 2026 o aumento de custo chega a R$ 39 bilhões”, afirma.

Depois, diz que “a medida encarece o crédito para empreendimentos produtivos, aumentando a carga tributária do IOF sobre empréstimos para empresas em mais de 110% ao ano e, ao mesmo tempo, expõe assimetrias”;

MÁS CONSEQUÊNCIAS – O manifesto acrescenta que “a tributação no câmbio impacta a importação de insumos e bens de capital necessários para o investimento privado e a modernização do parque produtivo nacional”.

Na sequência, afirma que “a tributação sobre VGBL amplia distorções no mercado financeiro, uma vez que outros produtos não foram tributados e desincentiva a formação de poupança nacional de longo prazo em favor de investimentos de curto prazo”.

Diz também que “Iniciativas arrecadatórias, com aumento de impostos, impactam negativamente a construção de um ambiente econômico saudável” e que “o IOF, aliás, é um imposto regulatório, e não arrecadatório. É preciso enfrentar os problemas crônicos do Orçamento para acabar com a contínua elevação de impostos”.

MAIS EFICIÊNCIA – “Construir um desenho institucional mais eficiente é a forma certa de garantir o equilíbrio fiscal, reduzir o enorme custo tributário que trava o crescimento do país e garantir previsibilidade para investidores”, complementa.

Ao final, pede que o Congresso derrube a portaria: “Esperamos que o Congresso Nacional se debruce sobre o tema e avalie com responsabilidade a anulação do teor do decreto do Governo Federal. O Brasil ostenta uma das maiores cargas tributárias do mundo. Precisamos de um ambiente melhor para crescer — e isso se faz com aumento de arrecadação baseado no crescimento da economia, não com mais impostos. É hora de respeitar o contribuinte.”

O Congresso deve analisar o assunto nesta semana, tendo em vista que desde a semana passada parlamentares apresentaram diversas propostas para derrubar o decreto do governo sobre o IOF.

Paixão e arte se misturam e se completam, na visão poética de Jorge de Lima

Paulo Peres
Poemas & Paixões

O político, médico, pintor, tradutor, biógrafo, ensaísta, romancista e poeta alagoano Jorge Mateus de Lima (1893-1953) mostra no soneto “Paixão e Arte” que, para fazer arte, tem que ter paixão, e esta não existe sem o verso, porque ele é a arte do verbo.

PAIXÃO E ARTE
Jorge de Lima

Ter Arte é ter Paixão. Não há Paixão sem Verso…
O verso é a Arte do Verbo – o ritmo do som…
Existe em toda a parte, ao léu da Vida, asperso
E a Música o modula em gradações de tom…

Blasfemador, ardente, amoroso ou perverso
Quando a Paixão que o gera é Marília ou Manon…
Mas é sempre a Paixão que o faz vibrar diverso;
Se o inspira o Ódio é mau, se o gera o amor é bom…

Diz a História Sagrada e a Tradição nos fala
dum amor inocente (o mais alto destino):
A Paixão de Jesus, o perdão a Madalena.

Homem, faze do Verso o teu culto pagão
E canta a tua Dor e talha o alexandrino
A quem te acostumou a ter Arte e Paixão.

Rebelo espera pedido de desculpas de Moraes, mas isso jamais haverá

Após ameaça de prisão, Aldo Rebelo critica STF: "situação quase sem limite"  - Gazeta da Jurema

Moraes ameaçou mandar prender Aldo Rebelo no STF

Julia Affonso
Folha

O ex-ministro Aldo Rebelo disse que o ministro do STF Alexandre de Moraes tentou intimidá-lo durante audiência da ação penal sobre tentativa de golpe de Estado, na sexta-feira (23). “Na verdade, o que houve ali foi uma tentativa de intimidação de testemunha”, disse Aldo ao UOL. “O juiz pode desconhecer o depoimento, pode não considerar. Agora, como agiu, pressionar testemunha, não.”

Moraes ameaçou prender Aldo durante o depoimento. O fato ocorreu após o ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff responder a um questionamento do próprio ministro do STF. Aldo é testemunha de defesa do ex-comandante da Marinha Almir Garnier no processo.

PEDIR DESCULPAS – “Acho que [Moraes] deveria pedir desculpas”, disse neste sábado (24) ao UOL. “Talvez, não quisesse fazer isso na hora, mas k          que teria sido dita por Garnier ao ex-presidente Bolsonaro na reunião com os comandantes das Forças Armadas em novembro de 2022.

Garnier falou em “colocar as tropas à disposição”, o que é um dos principais pontos da denúncia contra Bolsonaro. Ex-comandantes do Exército e da FAB (Força Aérea Brasileira) afirmaram que ele foi o único dos chefes das Forças Armadas a sinalizar apoio ao plano golpista. A defesa dele tenta contestar essa versão.

Aldo foi interrompido por Moraes. O ministro questionou se ele havia presenciado a reunião dos comandantes militares com Bolsonaro. Ele negou. Moraes mandou que ele tratasse apenas dos fatos.

SEM CENSURA – Na sequência, Aldo respondeu: “Eu não admito censura”. Moraes mandou que ele se comportasse, caso contrário, seria “preso por desacato”.

Após o diálogo tenso, a defesa de Almir Garnier retomou os questionamentos e não voltou mais para a discussão sobre a expressão. Ao final, Aldo respondeu à pergunta da defesa do militar e explicou como funciona a cadeia de comando na Marinha.

Moraes em seguida pediu que a audiência transcorresse de maneira regular. Ele disse que respeitava o advogado de Garnier, Demóstenes Torres, e exaltou o currículo de Aldo após a pergunta da defesa se a Marinha sozinha possuía condições de dar um golpe de Estado.

LER NA IMPRENSA – “Não há conhecimento técnico para saber se a Marinha sozinha consegue dar um golpe de Estado. Aldo Rebelo é historiador e inteligente, ele sabe, por exemplo, que em 64 não precisou de toda a cadeia de comando para dar o golpe de Estado. Por favor, doutor Demóstenes, tenho o maior respeito pelo senhor, mas vamos levar isso com regularidade.”

O procurador-geral Paulo Gonet também chamou a atenção de Aldo Rebelo. “Quem faz as perguntas são os advogados e o procurador.”

O ex-ministro da Defesa chegou a comentar que tinha interesse nos fatos, ao que o Moraes encerrou o assunto. “Se o senhor quer saber, depois o senhor vai ler na imprensa.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Rebelo precisa esperar sentado, porque Moraes é do tipo de gente que nunca pede desculpas, porque acha (?) que jamais erra. Ele é teatral e se julga um deus ex-maquina.  (C.N.)

Recuo no IOF expõe falhas na gestão e abala credibilidade do governo

Episódio gerou um embate direto entre Sidônio e Haddad

Pedro do Coutto

A recente tentativa do governo brasileiro de aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre investimentos no exterior, seguida de um recuo parcial, expôs fragilidades na coordenação interna da equipe econômica e gerou tensões políticas significativas. O episódio não apenas abalou a confiança dos agentes econômicos, mas também forneceu munição à oposição para questionar a condução da política fiscal do governo.

Em entrevista ao jornal O Globo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atribuiu a confusão à divulgação precipitada da medida pela Secretaria de Comunicação, liderada por Sidônio Palmeira. Haddad afirmou que a pasta não costuma participar da elaboração de relatórios finais, mas que, neste caso, divulgou a decisão de reajustar o IOF, o que teria causado a turbulência. Essa tentativa de transferir a responsabilidade para a comunicação institucional foi vista por muitos como uma estratégia defensiva para se desvincular das consequências políticas e econômicas da medida.

ALÍQUOTA – O aumento do IOF, que previa uma alíquota de 3,5% sobre investimentos de brasileiros no exterior, foi anunciado como parte de um esforço para aumentar a arrecadação e atingir as metas fiscais estabelecidas. No entanto, a medida gerou críticas imediatas de diversos setores, incluindo o Banco Central, que não teria sido consultado previamente. A reação negativa levou o governo a recuar parcialmente, mantendo a alíquota zero para transferências de fundos de investimento brasileiros para o exterior, mas mantendo aumentos em outras operações, como empréstimos corporativos e transações com cartões internacionais.

A reversão parcial da medida resultou em uma perda estimada de R$ 6 bilhões na arrecadação prevista até 2026, comprometendo os planos do governo de reforçar o caixa e cumprir as metas fiscais. Além disso, a forma como a decisão foi tomada e posteriormente revertida levantou questionamentos sobre a coordenação entre os diferentes órgãos do governo e a clareza na comunicação das políticas econômicas.

A oposição aproveitou o episódio para criticar a condução da política econômica do governo, apontando para a falta de planejamento e a instabilidade nas decisões. A situação também reacendeu debates sobre o papel do Congresso Nacional na definição das políticas fiscais, com Haddad reconhecendo que o ajuste fiscal depende cada vez mais da atuação do Legislativo, em um contexto que ele descreveu como de “semipresidencialismo”.

DIVERGÊNCIAS – A crise também expôs divergências dentro da própria equipe econômica, com relatos de que o Banco Central e outros setores do governo foram pegos de surpresa pela medida. A falta de alinhamento interno e a ausência de uma estratégia de comunicação eficaz contribuíram para a percepção de desorganização e improviso na condução da política fiscal.

Analistas políticos destacam que o episódio pode ter impactos duradouros na credibilidade do governo junto ao mercado e à sociedade. A confiança na estabilidade e previsibilidade das políticas econômicas é fundamental para atrair investimentos e garantir o crescimento sustentável. A instabilidade gerada por decisões mal coordenadas pode minar esses objetivos e dificultar a implementação de futuras medidas necessárias para o equilíbrio fiscal.

Em resumo, o episódio do aumento e recuo do IOF revelou falhas significativas na coordenação e comunicação das políticas econômicas do governo. A tentativa de transferir a responsabilidade para a Secretaria de Comunicação não convenceu e expôs ainda mais as fragilidades internas. Para recuperar a confiança dos agentes econômicos e da sociedade, será necessário um esforço coordenado para melhorar a governança interna, fortalecer a comunicação institucional e garantir a previsibilidade das políticas fiscais.

Ala do Supremo admite fazer acareação entre militares sobre o plano de golpe

Ex-comandante da FAB confirma ameaça de prisão de Bolsonaro por Freire Gomes  | Brasil 247

Há contradições nos depoimentos dos ex-comandantes

Basília Rodrigues
da CNN

Diante de inconsistências no depoimento dos ex-comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Baptista, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) passaram a admitir a possibilidade de fazer uma acareação entre os oficiais.

O relato dos dois militares impacta diretamente na defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, que são réus no processo da trama golpista.

SE HOUVER CONSENSO – À CNN, dois integrantes da Corte afirmaram que a acareação pode ser adotada, mas somente se houver consenso entre o ministro relator, Alexandre de Moraes, e a Procuradoria Geral da República (PGR).

Para auxiliares do STF, apesar das controvérsias das testemunhas, Moraes teria ficado satisfeito com os depoimentos, porque não houve mudança de versão quanto às acusações principais, como sobre a existência de um plano de golpe em andamento.

Freire Gomes negou que tenha ameaçado voz de prisão a Bolsonaro. Baptista, no entanto, afirmou que isso ocorreu. O ex-comandante da Aeronáutica também disse não ter mais certeza da participação do ex-ministro da Justiça em um dos encontros que constam na ação penal do golpe.

Só agora caiu a ficha em Brasília sobre a possível sanção dos EUA a Moraes

Alexandre de Moraes delira e ameaça proibir redes sociais, se não respeitarem a lei - Blog do B.Silva

Charge do Marco Jacobsen (Arquivo Google)

Deu na CNN

A possibilidade de sanções dos Estados Unidos ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), já é uma possibilidade vista como real em Brasília, segundo o analista político Leonardo Barreto.

Em entrevista ao programa WW nesta sexta-feira (23), o sócio da consultoria Think Policy afirmou que “caiu a ficha” em Brasília sobre o risco de aplicação da medida.

JOGO DE XADREZ – Barreto destacou que as autoridades brasileiras começam a perceber que a movimentação de líderes bolsonaristas nos EUA, especialmente do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-RJ), não se trata apenas de “bravata”.

“Existe agora um jogo de xadrez”, explicou o analista, referindo-se às declarações do secretário de Estado americano, Marco Rubio, sobre a “grande possibilidade” de sanções a Moraes.

“Como o Rubio disse, eles estão num processo de apresentação de provas e a depender do tipo de reação que o governo brasileiro pode ter, a simples ameaça da aplicação dessa lei pode criar o ambiente pra aceleração desse processo político nos Estados Unidos”, analisou Barreto.

DE SURPRESA – O analista ressaltou que as autoridades brasileiras foram pegas de surpresa por essa “tempestade” e agora tentam entender se o processo já está definido ou se ainda é possível uma gestão diplomática da situação.

Barreto concluiu alertando que a falta de atuação da diplomacia brasileira nos Estados Unidos resultou em uma narrativa unilateral sobre o assunto nos EUA.

O pior é que há outros ministros que também podem ser penalizados, caso apoiem nos exageros de Moraes contra a liberdade de expressão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É a matriz USA dizendo à filial Brazil o que pode e o que não pode em matéria de censura à liberdade de opinião nas chamadas redes sociais, que têm baixa sociabilidade e alta porradaria. (C.N.)

Ao processar Ives Gandra Martins, a OAB paulista está degradando a própria imagem

Julgamento de Ives Gandra na OAB-SP por incitação golpista é suspenso após  pedido de vista

O jurista Ives Gandra sofre uma perseguido absurda

Mário Assis Causanilhas 

“Um país que arrasta aos tribunais um jurista de 90 anos por estudar a Constituição não é mais uma democracia. É uma farsa”. Este é o título do artigo de Angela Gandra, filha do ministro aposentado e constitucionalista Ives Gandra da Silva Martins.

Publicado em redes sociais na quarta-feira passada, 21 de maio, é um texto que deveria ser manchete em todos os jornais, motivo de revolta nacional e repúdio internacional. E para nós, da Tribuna da Internet, é um orgulho transcrevê-lo, em nome da liberdade de expressão que Ives Gandra sempre defendeu.

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“UM PAÍS QUE ARRASTA AOS TRIBUNAIS UM JURISTA DE 90 ANOS POR ESTUDAR A CONSTITUIÇÃO NÃO É MAIS UMA DEMOCRACIA. É UMA FARSA”.
Angela Gandra

“Meu pai Ives Gandra teve que defender-se mais uma vez, sustentando oralmente na OAB, contra a acusação de incitação a golpe, com 90 anos, recém-infartado, 66 anos de advocacia, por algo que escreveu em 1988. A obsessão vai anulando completamente a consecução da justiça.”

Dr. Ives Gandra, é um dos maiores juristas do Brasil, professor emérito, membro da Academia Brasileira de Filosofia, autor de dezenas de obras, entre elas a trilogia “Conheça a Constituição”. Foi consultor do Congresso, do Executivo, das Forças Armadas. Ajudou a moldar a Constituição de 1988, e agora é tratado como criminoso por interpretá-la.

DIREITOS VIOLADOS – O processo contra meu pai foi aberto na OAB porque a PF encontrou, no celular de Mauro Cid, arquivos com reflexões jurídicas de Gandra sobre o artigo 142 da Constituição. Um texto legal, discutido em faculdades de Direito há décadas, virou “prova” de crime.

 A ABI – sim, a Associação Brasileira de Imprensa – move um processo ético vergonhoso para punir um jurista por fazer o que qualquer livre pensador deveria ter o direito de fazer: estudar, escrever, debater.

Ives Gandra sempre deixou claro que a possibilidade de intervenção militar prevista no artigo 142 é nula. Ele jamais defendeu rupturas, mas sempre explicou – como mestre do Direito – os limites da ordem constitucional. Mas tudo isso está sendo ignorado pelo tribunal midiático inquisitório.

INCITAÇÃO AO GOLPE – Hoje, basta ler a Constituição em voz alta para ser tratado como criminoso e golpista. Explicar a lei virou “incitação ao golpe”, ensinar virou subversão e pensar virou ameaça.

A Justiça foi corrompida a tal ponto que já não se reconhece nem a si mesma. E os “jornalistas” – servos submissos do sistema – aplaudem, como cúmplices de um teatro farsesco.

Estão salvando o quê? Uma democracia que nunca existiu? Ou estão apenas enterrando, de vez, as últimas liberdades que restavam?

Eventos cristãos com exagero de gastos entram na mira de tribunais de contas

Padre Fábio de Melo se apresenta em Carmo do Rio Claro, no Sul de Minas: cachê de R$ 280 mil

Padre Fábio Melo faturou R$ 280 mil num show religioso

Luiza Marzullo
O Globo

“A nossa meta é, pelos próximos quatro anos, realizar eventos voltados ao público cristão”, afirmou o prefeito Filipe Carielo (PSD) ao subir ao palco antes do show do padre Fábio de Melo em Carmo do Rio Claro, cidade de 20 mil habitantes no Sul de Minas. O cachê do religioso foi de R$ 280 mil. A nível de comparação, o valor equivale à metade do repasse feito ao principal hospital do município em março deste ano.

Um levantamento do Globo identificou que, entre junho de 2024 e o último fim de semana, ao menos 38 prefeituras em 16 estados destinaram recursos públicos a eventos de cunho cristão, somando mais de R$ 13,8 milhões. Foram apoiadas 27 celebrações evangélicas, 13 católicas e uma cristã sem especificação.

SEM CONTROLE – Não há legislação nacional que regulamente a destinação de verbas públicas para eventos religiosos. Mas os gastos — que geralmente se dão por inexigibilidade de licitação — incomodam alguns tribunais de contas estaduais, que veem nesse expediente pouca transparência, e geram representações no Ministério Público.

No Rio de Janeiro, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) tem um histórico crítico aos repasses. Um dos casos, em 2013, multou o então prefeito de Teresópolis Jorge Mario por destinar R$ 119 mil a um evento da Marcha Para Jesus em 2010.

Neste sábado, uma edição do mesmo evento ocorreu no Centro do Rio, com um aporte de R$ 1,9 milhão da Prefeitura. Outros dois eventos religiosos foram bancados recentemente pelo poder público: a Expo Cristã (R$ 3 milhões) e o Cariocão: Desbravando o Rio, promovido pela Igreja Adventista do Sétimo Dia.

CONTESTAÇÕES – Em nota, a prefeitura explicou que apoia manifestações culturais e religiosas “independentemente de credos” e afirmou que “a fé é uma escolha individual de cada carioca. É papel do poder municipal garantir que todos possam professar sua fé sem discriminação.”

Ainda assim, neste mês, uma representação foi protocolada no Ministério Público Federal contra o prefeito Eduardo Paes por suposto favorecimento ao público evangélico.

Contestações se repetem no Rio Grande do Norte. Lá, o Ministério Público recomendou à Prefeitura de Ouro Branco que evitasse gastar verbas públicas em eventos religiosos — como o Dia do Evangélico. Neste ano, contudo, uma festa católica recebeu R$ 17 mil.

CARNAVAL CRISTÃO – Já em Zé Doca (MA), o Ministério Público tentou suspender o “carnaval cristão” de fevereiro, chamado de “1° Zé Doca com Cristo”. A Justiça negou o pedido, e o evento foi realizado com um aporte de R$ 600 mil.

Municípios pequenos também contratam grandes nomes da música cristã. Em São Miguel das Matas (BA), a cantora gospel Bruna Karla recebeu R$ 180 mil no Dia do Evangélico. A verba representa mais de 80% do orçamento previsto para obras em unidades de saúde neste ano na cidade.

Em Campestre de Goiás (GO), de apenas três mil habitantes, a festa em louvor a São Sebastião e Nossa Senhora das Graças demandou um valor equivalente a 50,7% da arrecadação anual do IPTU.

TEMA COMPLEXO – Rodrigo Vittorino, coordenador do Centro de Estudos sobre Direito e Religião da Universidade Federal de Uberlândia, destaca a complexidade do tema:

— Há uma linha tênue entre religião e cultura. Muitas atividades religiosas têm componente cultural ou turístico, o que dificulta a fiscalização. Precisamos de critérios. Patrocinar proselitismo é inaceitável, mas há festas tradicionais que sempre receberam apoio.

As cidades citadas foram procuradas, mas apenas Carmo do Rio Claro se pronunciou. A gestão afirmou que os eventos seguem os princípios da impessoalidade, legalidade e interesse público: “O Estado, embora laico, não é antirreligioso — sendo legítimo fomentar atividades que contribuam para a formação cultural e espiritual da sociedade.”

No estado de Minas Gerais, onde a cidade é localizada, o TCE tem um entendimento flexível em relação aos eventos religiosos, tendo considerado a Marcha Para Jesus, em 2023, como de “caráter cultural e folclórico”.

DISCRIMINAÇÃO – O cientista político Vinicius do Valle, do Observatório dos Evangélicos, avalia que religiões de matriz africano são negligenciadas nesses eventos:

— Porque sua presença no espaço público é frequentemente reprimida. A ocupação religiosa do espaço público gera controvérsias pela desigualdade de tratamento – admitiu o especialista.

Em busca da reeleição, Lula vai tentar refazer o que resta dos cacos do PT

Charge do Jinbelt (Arquivo Google)

Vicente Limongi Netto

Lula certamente tem saudades dos seus tempos de sindicalista. Na época, cavou seu destino com as próprias mãos. O povo confiava nele. Ajudou a fundar o PT, cresceu na política. Era respeitado. Com o tempo, Lula e PT eram um só coração. Petistas em geral não eram nada sem o apoio de Lula.

Hoje, com a confusão geral no Brasil, com a intolerância crescendo cada vez mais em todos os ambientes, Lula tenta juntar o que resta, dos cacos do PT.

CUIDAR DO QUE RESTA – Informa a coluna “Brasilia-DF” (Correio Braziliense – 25/05) que Lula decidiu sacudir a poeira das trapalhadas do governo e cuidar, pessoalmente do que resta de bem feito para a população.

A tarefa é árdua. O tempo urge. Lula, PT e auxiliares batem cabeça. O presidente terá que reunir forças pessoais e pedir forças divinas para obter êxito. A oposição cresce como fermento de bola, diante dos erros do PT.

Governadores, deputados, senadores, redes sociais, todos os dias tiram o couro de Lula. Porque, sem Lula, o PT não existe. É apenas um quadro amarelado e gasto na parede. Urnas de 2026 serão dramáticas e empolgantes.

TRAGÉDIA EM GAZA – Cenas tristes de crianças com fome, na Faixa de Gaza dilaceram almas e corações. Espetáculo de lágrimas e pavor. Olhos miúdos e apavorados em busca de comida. O pesadelo parece não ter fim.

Crianças sem sonhos. Navegam na agonia e na desesperança. Restos amargos de famílias esmagadas. Vítimas de governantes intolerantes e enfurecidos, dominados pelo poder e pela ambição.

GÊNIO EM CAMPO – Renato Gaúcho sabe que tem um gênio na elenco: Paulo Henrique Ganso.  Renato tira da cartola peça que administra o jogo. Quem corre é a bola. Faz com que o Fluminense fique mais com a bola. Mestre em passes curtos e longos. Enfria o ânimo do adversário. Ganso dá inspiração ao time.

Sai da mesmice que irrita torcedores e a bola.  Orienta os mais jovens. É respeitado por todos. Contra o Vasco, mais uma vez Ganso transformou, em campo, a teoria em competente prática coletiva. O bom senso espera que Ancelotti procure saber quem é o mago Paulo Henrique Ganso.

Desrespeito de Moraes ao ex-comandante do Exército foi inconveniente e inadmissível

Freire Gomes: Moraes sobe o tom com general

Moraes subiu o tom e chamou o general de mentiroso

Marcella Matos
Veja

Militares próximos ao ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, não esconderam o incômodo com o tratamento dispensado ao general da reserva durante o depoimento prestado à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal.

Na última segunda-feira, 19, Freire Gomes falou como testemunha de acusação no âmbito do processo que investiga uma tentativa de golpe orquestrada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. De acordo com a avaliação de colegas de farda, só o fato de ter testemunhado contra oficiais é, por si só, motivo de desgaste para o militar.

MORAES E A MENTIRA –  Para piorar, o ex-comandante levou um pito do relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, que o acusou de estar mentindo durante o depoimento. “Não é natural ver um comandante do Exército, uma figura tão respeitada, tomando uma enquadrada de um ministro do STF”, afirmou um general a Veja.

Desde o início das investigações da trama golpista, os fardados reclamam de se sentirem perseguidos e por haver um suposto esforço de macular a instituição como um todo. Há mais uma dezena de militares investigados no inquérito, todos eles com mensagens e indícios contundentes de estarem envolvidos no enredo.

As articulações do principal deles, o ex-capitão e ex-presidente Jair Bolsonaro, foi narrada pelo próprio Freire Gomes em depoimento à Polícia Federal no ano passado. Desde que o caso veio à tona, o general submergiu, cortou laços com os colegas de farda e mergulhou em profunda tristeza, conforme narram pessoas próximas.

CONSTRANGIMENTO – Por isso, seus aliados viram um constrangimento desnecessário sobre uma pessoa que está colaborando com as investigações.

As declarações de Freire Gomes à PF foram tornadas públicas tempos depois por meio de um termo policial escrito. Desde então, ele jamais apareceu em público para comentar o caso.

Por ser o detentor da tropa terrestre, o ex-chefe do Exército é tratado nas investigações como o principal bastião para evitar que houvesse uma quartelada em 2022. Diante dos ministros do Supremo, porém, Freire Gomes minimizou a gravidade das articulações naquele momento.

PRENDER MORAES – O ministro Ele confirmou a série de reuniões com Bolsonaro e disse que o então presidente apresentou aos militares medidas como a decretação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), de estado de defesa e de sítio – o general reafirmou ainda que, entre as ideias levadas à mesa, estava a ordem de prisão do ministro Alexandre de Moraes.

No entanto, Freire Gomes afirmou que o ex-presidente apresentou “hipóteses” e “estudos” embasados na Constituição e não buscou influenciar ninguém. “Por isso não nos causou nenhuma espécie, não havia nada diferente disso”, afirmou.

Ele também evitou incriminar o ex-chefe da Marinha Almir Garnier, o único dos ex-comandantes tornado réu na trama golpista após supostamente colocar suas tropas à disposição de Bolsonaro.

MORAES ACUSA – Demonstrando uma visível irritação, o ministro Alexandre de Moraes interrompeu o depoimento e fez um alerta ao militar. “Eu vou dar uma chance à testemunha falar a verdade. Se mentiu à polícia, tem que dizer que mentiu à polícia. Não pode no STF dizer que não lembra, que talvez. A testemunha foi comandante do Exército. Consequentemente, está preparado a lidar sob pressão. Eu solicito que, antes de responder, pense bem”, disse o relator do caso. À essa altura, o militar respondeu que, com 50 anos de Exército, jamais mentiria.

O início dos depoimentos ao STF evidenciou divergências importantes entre Freire Gomes e o ex-chefe da Aeronáutica, Baptista Júnior. Questionado, o advogado João Marco Rezende, defensor do ex-comandante, nega ter havido qualquer mudança de postura de Freire Gomes.

“O general manteve o que foi dito à Polícia Federal. Mas aí vem a questão de divergências em termos de interpretação, o que é natural em qualquer processo criminal. Os dois comandantes retratam da mesma maneira as reuniões, o desenrolar dos fatos e como foi o posicionamento das Forças Armadas em relação ao que estava sendo proposto”, afirma o criminalista.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– O comportamento de Moraes é um enigma pior do que o da Esfinge do Planalto de Gizé. Ninguém sabe se ele é desequilibrado emocionalmente, bipolar ou apenas mal-educado. Façam suas apostas, porque o tempo voa e logo saberemos. (C.N.)

Em defesa de Janja, Lula manda fazer MP para censurar as redes sociais

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Desesperado, Lula não sabe o que fazer para agradar Janja

Sérgio Roxo
O Globo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu neste sábado a regulação das platafomas responsáveis pelas redes sociais e pediu uma discussão sobre o tema com o Congresso Nacional.

— É preciso que a gente discuta com o Congresso Nacional a responsabilidade de regular o uso das empresas (que operam as redes sociais) neste país. Não é possível que tudo tenha controle menos as empresas de aplicativos.

JUSTIFICATIVAS – Em discurso num evento em Mato Grosso, o presidente falava sobre a necessidade de combater as mentiras usadas na política. Citou a decisão do governo de proibir a entrada de celulares em escolas no país e também tratou de um caso de bullying contra uma estudante propagado pelas redes sociais, antes de defender a regulação das plataformas.

Na verdade, o governo já prepara um projeto de lei para regulação das plataformas digitais. O texto está sendo discutido por nove ministérios e deve ser mandado ao Congresso após o aval do presidente.

Em reunião no Palácio do Planalto na quinta-feira, ficou definido que o projeto vai propor que a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) deve ser a encarregada de atuar como “xerife” das redes, inclusive com poder de multá-las e até bloqueá-las caso as ordens de remoção de conteúdo sejam descumpridas.

COM JINPING – A regulação das redes sociais voltou a ganhar destaque depois que foi revelado que a primeira-dama Janja da Silva fez uma observação sobre o algorítimo do TikTok durante jantar de Lula e ministros com o presidente da China, Xi Jinping, em visita do brasileiro ao país há duas semanas.

Lula participou neste sábado da cerimônia de lançamento de um programa de recuperação de áreas agrícolas degradadas na cidade de Campo Verde, no Mato Grosso. A iniciativa busca melhorar os solos e, assim, aumentar a produtividade das lavouras. Batizado de Solo Vivo, o programa é voltado para a agricultura familiar. Tem investimento de R$ 42,8 milhões do governo e contempla dez assentamentos do estado.

Ainda em seu discurso, o presidente disse que o governo repassa recursos para estados e municípios, mesmo governados por adversários políticos. O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), que apoiou Jairo Bolsonaro (PL) em 2022, estava presente na cerimônia.

APELO POPULAR – Lula também citou em sua fala os programas de apelo popular que o seu governo já apresentou ou pretende implementa. Falou do financiamento de reformas de casas, que ainda será lançado, e do projeto de elevação da faixa de isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. Mencionou ainda a medida provisória do setor elétrico que visa isentar da cobrança de tarifa famílias inscritas no CadÚnico.

— Assinei uma medida provisória reduzindo o preço da energia elétrica para o povo brasileiro mais pobre. Porque o rico compra energia no mercado aberto, mais barato, e quem paga cara a energia é o povo pobre que compra no mercado regulado.

Na sequência, o presidente perguntou para a plateia quanto custava o botijão de gás na região e falou sobre a intenção do governo de ampliar o vale-gás.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Com o aumento da IOF, Lula vai distribuir dinheiro à população pobre. É bom que o faça, mas lamenta-se que seja às custas da classe média. Como dizia a presidanta Dilma, o PT faz o diabo para se eleger. E bota diabo nisso… Quanto à regulação das redes sociais, nenhum país conseguiu fazê-lo sem estabelecer censura. Então, é só pedir ao Alexandre de Moraes, porque ele sabe fazer isso com o maior prazer. Moraes tem uma cabeça brilhante, que reluz até no escuro. (C.N.)

Defesas de ex-comandantes questionam efeito prático de possíveis acareações

PGR vai esperar fim de depoimentos para avaliar acareação entre comandantes

As declarações têm sido muito contraditórias, diz a PGR

Julliana Lopes
da CNN

Segundo a analista de política Julliana Lopes, da CNN, as defesas dos envolvidos questionam a eficácia prática de uma possível acareação entre testemunhas e réus— processo jurídico que busca apurar declarações ou depoimentos divergentes, a ser instalado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Ela afirma que, no caso específico, que apura uma tentativa de golpe de Estado, há um entendimento entre os advogados de que tal procedimento não pode mudar o rumo das investigações.

QUESTÕES DÚBIAS – As defesas dos acusados argumentam que, apesar de algumas questões “dúbias”, já existe um entendimento claro da Suprema Corte sobre os fatos específicos relacionados às reuniões em questão, em que teria se discutido uma possibilidade de ruptura institucional após as eleições de 2022.

Portanto, na visão desses advogados, uma acareação neste momento teria pouco impacto no rumo das investigações.

RELATOS E REAÇÕES – Como explica Julliana Lopes, dois aspectos se destacaram na semana de depoimentos – os relatos sobre uma suposta pressão exercida por Jair Bolsonaro (PL) sobre os militares e as reações diante das exposições feitas pelos aliados e pelo próprio ex-presidente.

A investigação continua em andamento na primeira turma do Supremo Tribunal Federal, com a coleta de depoimentos sendo uma etapa crucial para esclarecer os eventos relacionados à suposta tentativa de golpe de Estado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
As acareações seriam divertidíssimas, uma atração a mais. Mas dificilmente Moraes aceitará programá-las. Ele gosta de ser atração máxima e única. (C.N.)

O poético roteiro do tempo de Lya Luft era construído junto com o destino

A maturidade me permite olhar com menos... Lya Luft - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora aposentada, escritora, tradutora e poeta gaúcha Lya Fett Luft 1938/2021, no poema “Não Sou Areia” revelava que, junto com o destino,  escrevia o roteiro para o palco do seu tempo.

NÃO SOU AREIA
Lya Luft

Não sou areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.

Não sou apenas a pedra que rola
nas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.

Sou a orelha encostada na concha
da vida, sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou mistério.

A quatro mãos escrevemos o roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos
a sério.

Israel decide ocupar toda a Faixa de Gaza, e a guerra nunca mais terá fim

Em 'cerco total' de Israel, número de deslocados em Gaza sobe 30% em 24  horas e chega a quase 340 mil

Israel não permitirá que os palestinos voltem às suas casas

Mario Sergio Conti
Folha

Às vésperas de completar 600 dias, a guerra em Gaza só piora. As atrocidades de hoje são maiores que as de ontem e menores que as de amanhã. Mais de 51 mil palestinos já morreram, incluindo 15.506 crianças e 916 bebês de menos de um ano. São cifras defasadas: Israel matou mais 29 meninas e meninos na quinta-feira (22).

A contagem é feita pelo Ministério da Saúde local, que, se não diferencia vítimas civis das militares, dá o nome de todas. Como o Hamas o dirige, Israel diz que as cifras mentem, mas oculta quantos cadáveres produziu. Tampouco autoriza a entrada de jornalistas no enclave.

HÁ VÍDEOS E FOTOS – Nem por isso Gaza é indevassável. Há vídeos de repórteres que moram ali e fotos de satélite. As imagens dos últimos dias mostram a agonia de crianças esquálidas e olhos saltados. Moleques de nariz escorrendo que estendem panelas vazias a adultos perplexos. Ruínas e mais ruínas

Como fundo sonoro para os filmes da fome, Netanyahu e seus ministros proclamaram que tanques tomarão territórios; os palestinos serão chutados para os quintos; Gaza será governada por eles. Nada de dois Estados, será Israel do rio ao mar, do Jordão ao Mediterrâneo.

Até os governos europeus protestaram. Pode ter sido um revide extraoficial às críticas, ou os soldados israelenses estavam distraídos, o fato é que mandaram bala em diplomatas europeus que entraram em Gaza. A resposta oficial foi a cabala de sempre: quem contesta a matança é antissemita.

MORTE DO CASAL – O aluvião de críticas refluiu graças a um terrorista norte-americano. Assim que ele fuzilou um casal de funcionários israelenses, Netanyahu gritou que seus críticos eram cúmplices de “assassinos em massa, estupradores, matadores de bebês e sequestradores”. Gastou mais tempo difamando Macron do que censurando o assassino em Washington.

O discurso tétrico lembrou o verso de W.H. Auden que fala da “fria e controlada ferocidade da espécie humana”. O poeta também foi lembrado por ser o autor de “Espanha, 1937”, a “Guernica” literária da Guerra Civil Espanhola, o canto que cata os cacos dos combates e os atira ao futuro. Ele parece se referir a Gaza, às angústias de agora.

Aos 30 anos, Auden era uma das figuras mais estimadas da esquerda britânica. Como Hemingway, engajou-se nas Brigadas Internacionais e foi defender a República na Guerra Civil. Na volta, escreveu “Espanha, 1937”, que logo estava em todas as bocas.

DISSE ORWELL – Houve quem o criticasse. George Orwell, um dos primeiros, fixou-se no verso “a aceitação consciente da culpa quando é necessário assassinar”. Amigos judeus dizem algo parecido: a morte de inocentes horroriza, mas é necessária para proteger Israel, temos consciência disso.

O autor de “1984” acusou Auden de escrever com essa dureza porque “nunca cometera um assassinato, nenhum de seus amigos fora assassinado, talvez nunca tenha visto o cadáver de alguém assassinado”.

Orwell, que também fora à Espanha, tomara um tiro no pescoço e vira pilhas de mortos, disse que “não escreveria com leveza sobre homicídios”. A primeira crítica, pois: Auden falava do que não sabia, compunha versos abstratos para falar de mortes concretas, fingia emoções.

PEGOU PESADO – “Eu não falaria levianamente sobre assassinatos”, continuou. “Para mim, o homicídio deve ser evitado. Qualquer pessoa comum acha isso.” Pegou pesado: “Os Hitler e os Stálin acham a morte necessária, mas não propagandeiam sua insensibilidade”. Segunda crítica, então: “Espanha, 1937” era irresponsável, amoral, insensível.

Auden mudou-se para Nova York e estava lá no dia em que Hitler invadiu a Polônia e deflagrou a Segunda Guerra Mundial. Rascunhou no balcão de um bar da rua 52 talvez a mais famosa das suas obras, “1º de Setembro de 1939”. Ela diz:

“O povo todo sabe, até eu,
O que toda criança aprende:
Aquele a quem se faz o mal
Revidará, e mais mal fará”

MAIS REVIDE – O povo todo sabe que os palestinos revidarão o mal de que são vítimas, e os israelenses se vingarão do mal que lhes é feito. Apesar do encadeamento categórico de maldade e revanche, o poema propõe: “Amemos uns aos outros ou morreremos“. Na época, Auden se afastava do marxismo e se aproximava do cristianismo, o que pode explicar o verso.

O poeta veio a voltar atrás e abjurou tanto “Espanha, 1937” como “1º de Setembro de 1939”. Justificou-se: eram poemas “desonestos”, expressavam “sentimentos e crenças que seu autor nunca teve”, uma evidente inverdade.

Nenhuma guerra satisfaz a todos, há vencedores e vencidos. A força faz com que uns ganhem e outros percam. A força, não a poesia.

Crise de direção, com claros sinais de desorganização na gestão econômica

Charge do Jorge Braga ( Arquivo Google)

Pedro do Coutto

O recente episódio envolvendo o aumento do IOF, seguido por um recuo constrangedor da equipe econômica, expôs mais do que um erro técnico ou uma mudança estratégica. Ele revelou uma profunda desarticulação entre os planejamentos e a execução das políticas financeiras do governo. O vaivém na decisão não apenas afetou o mercado, mas também comprometeu a credibilidade da gestão econômica perante investidores, analistas e a sociedade.

A hesitação do Ministério da Fazenda diante da pressão política e da reação pública evidenciou um problema maior: a falta de coesão entre os discursos e as ações. A impressão que se passa é de um governo que testa hipóteses em tempo real, sem considerar os impactos estruturais ou mesmo os compromissos assumidos anteriormente. A imagem que fica é a de uma gestão vacilante, sem uma bússola clara.

FRAGILIDADE – Esse tipo de comportamento, infelizmente, não é um caso isolado. A instabilidade econômica e a fragilidade nas decisões encontram paralelos nos escândalos recentes envolvendo o INSS. Como explicar a ocorrência de nove milhões de fraudes em um sistema que já havia sido denunciado publicamente? A resposta não está apenas na má gestão, mas na conivência passiva com o descontrole.

A intervenção direta do presidente Lula no INSS e a posterior demissão de Carlos Lupi demonstram que a crise extrapolou os limites técnicos e se tornou um problema político. A substituição de nomes, no entanto, não resolve a ausência de um projeto sólido. Sem uma estratégia coerente, mudanças de comando podem até sinalizar ação, mas não garantem eficiência.

Mais preocupante é a recorrência desse padrão de improviso e correção. A gestão econômica precisa de estabilidade, previsibilidade e responsabilidade. O Brasil, diante de desafios internos e externos, não pode se dar ao luxo de decisões tomadas ao sabor do vento, com recuos apressados que só reforçam a percepção de um governo desorganizado.

VULNERABILIDADE – A fragilidade das estruturas de fiscalização e controle, evidenciada no caso do INSS, expõe uma vulnerabilidade perigosa. Se nem mesmo denúncias públicas são capazes de provocar respostas rápidas e eficazes, o que esperar de outras áreas igualmente sensíveis? O dano institucional é profundo e de longo alcance.

O mais alarmante é que esses episódios não parecem provocar no governo uma reflexão estratégica de médio e longo prazo. A impressão que se tem é de um foco exclusivo na gestão de crises, sempre reagindo a escândalos e pressões, em vez de atuar preventivamente com base em dados e planejamento sério. Isso mina a confiança de todos os setores da sociedade.

Enquanto não houver um reposicionamento firme das lideranças da área econômica, com diretrizes claras, transparência e compromisso com a estabilidade, os sinais de fraqueza e vacilação continuarão a pautar a percepção pública sobre o governo. E em política, como se sabe, a confiança é um ativo difícil de recuperar uma vez perdido.

No encontro com Jinping, Lula e Janja confundiram a vida pública e a privada

Janja pede liberação de mais público na posse de Lula - 30/12/2022 - Poder  - Folha

Lula também não sabe separar vida pública e a privada

Demétrio Magnoli
Folha

O célebre jantar com Xi Jinping continua a assombrar Janja da Silva. As críticas, concentradas na primeira-dama, evidenciam duas inclinações paralelas do debate público brasileiro: a opção preferencial pela fofoca, especialmente quando o alvo é uma mulher, e o impulso diferencial de proteção do chefe de Estado, que seria vítima impotente de travessuras de seus familiares. No percurso, passa-se ao largo da política –e, no caso, da política de Estado.

De fato, a comédia chinesa abrange quatro erros. Janja cometeu o menor deles.

PRIMEIRO ERRO – A palavra de Lula precisa ser levada a sério, para o bem ou o mal. Segundo o presidente, foi ele, não sua esposa, que infiltrou o TikTok à mesa de refeições. Erro número um: o Brasil, nação soberana, tem os meios para regular as redes sociais e, portanto, deve abster-se de reclamar ações de outros países. Xi Jinping presenteou Lula com essa aula gratuita de relações internacionais.

Na versão de Lula, Janja teria seguido o rumo que ele indicou, descrevendo os pecados do TikTok. E o erro número dois é que o presidente fala pelo Brasil, pois dispõe de mandato popular, mas a primeira-dama não exerce representação.

“Não há protocolo que me faça calar”, exclamou ela, acendendo a tocha de um curioso feminismo amparado em atributos do marido.

PÚBLICO E PRIVADO – Nesse passo, revelou a ignorância típica dos ativistas: o “protocolo”, aqui, não é uma norma burocrática anacrônica, mas a fronteira que assinala a distinção entre o público (a soberania popular) e o privado (o laço de casamento).

Lula cometeu o terceiro erro, ao escandalizar-se com o vazamento dos diálogos. Na sua invectiva contra um sujeito oculto (Rui Costa?), o presidente definiu o evento como um “jantar privado”.

Na verdade, era um jantar de Estado –ou seja, um ato diplomático oficial. O normal, em países democráticos, é dar publicidade às conversas travadas em encontros dessa natureza, com exceção de temas de segurança nacional.

“ESPECIALISTA” – O erro mais grave foi obra de Lula. Segundo o presidente, Xi Jinping aceitou sua solicitação de enviar ao Brasil um “especialista” na regulação das redes sociais. A ditadura chinesa cerca as redes com a “Grande Muralha Digital”. S

eu alvo principal não são crimes de pedofilia ou pornografia, mas a palavra política dissonante. É como se Lula convidasse um especialista de Trump para contribuir com nossa política imigratória.

Numa tentativa heroica de consertar o erro capital, o chanceler Mauro Vieira emprega o recurso extremo de desmentir o presidente, jurando que “não há nenhum programa de visita de especialista chinês”.

CONTROLE DA MÍDIA – A comédia dos quatro erros não nasceu de um céu azul. Nos mandatos anteriores de Lula, o PT clamava pelo “controle social da mídia” —isto é, por algum tipo de censura da imprensa profissional.

Hoje, só militantes febris ainda cultivam a antiga obsessão, e o foco de quem manda voltou-se para as redes sociais. Sob o álibi da necessária regulação das redes, o governo sonha criminalizar a “desinformação” e o “discurso de ódio”, abstrações sujeitas à interpretação da autoridade estatal.

Diante de Xi Jinping, Janja teria afirmado que o algoritmo do TikTok favorece a direita. Crime digital? Não: trata-se da busca pelo “algoritmo certo”, capaz de favorecer a esquerda. Da Grécia clássica para cá, aprendemos que toda comédia contém uma tragédia.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A piada de confundir a vida pública com a privada é do Barão de Itararé, e não resisti em repeti-la, porque está acontecendo de novo. (C.N.)

Comprovado! Fraude no INSS é culpa de Dilma, mas Lula vai atribuir a Bolsonaro

Dilma cai cocô charge

Charge do Zappa (humortadela.com.br)

Hugo Marques
Veja

O Instituto Lula, que pertence ao presidente da República, divulgou nota informando que a fraude no INSS começou na gestão do presidente Michel Temer, que governou o Brasil a partir de 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff. Na mesma nota, Lula ressalta que a fraude passou a ser investigada no seu mandato.

Essa é a estratégia que o atual governo pretende adotar caso o Congresso instale uma CPMI para investigar o golpe contra os aposentados. “Tudo começou com ‘facilidades’ criadas por Michel Temer, em 2016 – após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. Uma transformação digital iniciada em 2017, ocorreu sem o devido aperfeiçoamento dos controles internos por parte do governo golpista”, diz a nota.

CULPA DE BOLSONARO – A mesma nota reproduz uma frase do presidente da República, acusando Jair Bolsonaro. “Estamos desmontando uma quadrilha que foi criada em 2019, e vocês sabem quem governava o Brasil em 2019. Vocês sabem quem era Ministro da Previdência em 2019, quem era chefe da Casa Civil em 2019. A gente poderia ter feito um show de pirotecnia. Mas a gente não quer uma manchete de jornal. A gente quer apurar. E aquelas entidades que roubaram vão ter seus bens congelados. Desses bens vamos repatriar o dinheiro para que a gente possa pagar as pessoas”, ressaltou Lula.

O Instituto Lula também tenta reforçar que lhe coube a atual gestão a descoberta das fraudes. “Somente com Lula começou a ser investigada. Após inquérito aberto pela Polícia Federal (PF), milhares de aposentados receberão seu dinheiro de volta graças às medidas determinadas por Lula”, diz a nota do Instituto.

NA VERDADE, PORÉM – A investigação não foi uma iniciativa do governo. Pelo contrário. Informado sobre as fraudes, o Ministério da Previdência nada fez para coibi-la. Coube à Polícia Federal e à Controladoria-Geral da União (CGU) – instados por denúncias publicadas pela imprensa – a apuração do caso.

Conforme mostrou Veja desta semana, depois de revelado o escândalo, o governo Lula chamou de volta a procuradora Márcia Eliza Souza para a direção de benefícios do INSS.

Em 2019, ela conseguiu enfrentar as associações que impunham cobranças indevidas aos aposentados do INSS, cobrando a devolução do dinheiro e suspendendo acordos de cooperação com a autarquia.

SUSPENSÃO E INQUÉRITO – Em maio daquele ano, Maria Elisa suspendeu por 60 dias os descontos realizados por uma das associações em função do volume considerável de reclamações que o INSS recebeu, o que gerou a abertura de um inquérito no Ministério Público de São Paulo.

Diante da ação do INSS, as associações tiveram de dar explicações ao Ministério Público sobre o esquema de arrecadação.

 Uma das pessoas ouvidas na época foi o sindicalista Canindé Pegado, da CGT, responsável pelo acordo da Centrape com o INSS, assinado em dezembro de 2015, durante o governo Dilma Rousseff – documento que, na sequência, permitiu à entidade descontar ilegalmente mensalidades das pensões dos aposentados.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Como se vê, o PT está pronto para atribuir a Bolsonaro mais essa herança política podre, que na verdade foi autorizada pela Dilma no início de seu segundo mandato. Parafraseando o que diz a Bíblia, vamos dar a César o que é de César, e a Dilma o que é de Dilma. (C.N.)

PT lança campanha em favor de Janja nas redes sociais, mas a ideia não colou

PT lança campanha em defesa de Janja após primeira-dama ser alvo de  críticas nas redes sociaisSamuel Lima
O Globo

O Partido dos Trabalhadores (PT) convocou uma campanha nas redes sociais em defesa da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, que tem sido alvo de críticas desde que veio à tona a informação de que ela teria atacado o algoritmo do TikTok em jantar com o presidente da China, Xi Jinping, alegando que este favorece influenciadores de extrema-direita.

“A primeira-dama Janja tem se posicionado com firmeza por um ambiente digital mais seguro, especialmente para mulheres, crianças e adolescentes, as maiores vítimas dos crimes virtuais”, afirma a peça de divulgação, que tentou levantar a tag #EstouComJanja.

FOI UM FRACASSO – Apesar do esforço, o assunto passou longe dos trending topics do Twitter, lista que aponta os termos que mais ganham relevância a cada hora. Fatos políticos como o depoimento do ex-ministro Aldo Rebelo no inquérito dos atos do 8 de Janeiro e o recuo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em alterar a cobrança do IOF tiveram mais repercussão.

Já na contagem do Instagram, foram menos de 100 publicações.

Enquanto isso, perfis de direita seguem explorando o assunto. O deputado federal Marcel Van Hattem (Novo-RS), compartilhou trecho de entrevista de Janja para o jornal Folha de S. Paulo para dizer que a primeira-dama defende “o modelo chinês de prisão por opinião”.

ATO DE MACHISMO – Janja declarou na mesma entrevista que considera o vazamento da informação sobre o encontro a portas fechadas com o presidente da China um ato de machismo.

Em entrevista a jornalistas após a repercussão da conversa, Lula afirmou que foi ele que tomou a iniciativa de abordar o tema e Janja “pediu a palavra” para mencionar os abusos cometidos na rede.

— Fui eu que fiz a pergunta. Eu perguntei ao companheiro Xi Jinping se era possível ele enviar para o Brasil uma pessoa da confiança dele para a gente discutir a questão digital, e sobretudo o TikTok. E aí a Janja pediu a palavra para explicar o que está acontecendo no Brasil, sobretudo contra as mulheres e contra as crianças.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É uma novela ao vivo, contando a repisada história de um homem velho, importante e rico, que se apaixonou por uma mulher mais jovem e pobre, que na época devia cerca de R$ 200 mil em condomínio. Casou-se com ela, que tenta ser famosa e quer aparecer a todo custo. O resultado aí está. O público que ainda tem paciência para assistir à novela odeia a personagem dela. E o homem velho, importante e rico se desespera cada vez mais… Comprem pipocas, porque essa bagaça não vai dar certo. (C.N.)

Imagine um país assim, onde a Justiça domina até a confederação de futebol

Charge do Mário César (Arquivo Google)

Conrado Hübner Mendes
Folha

Imagine país fictício. País onde realismo fantástico ganha contorno de legalismo fantástico. Lá, juiz decano da corte suprema é também empresário. Empresário do agro, empresário da educação, promoter e host de encontros multissetoriais da riqueza concentrada. Não reconhece conflitos de interesse quando julga caso da banca que remunera a esposa nem de patrocinador de sua empresa.

Ativista da política de nomeação para cargos judiciais e executivos, interlocutor partidário, amigo dos chefes de imprensa. Nenhuma das fontes geradoras de recursos de poder lhe escapa. Sem recato, ataca colega, ataca promotor, ataca legislador, ataca povos originários, ameaça ONGs, jornalistas e professores.

E MUITO MAIS – Organiza simpósios entre agentes políticos e econômicos do país hipotético. Simpósio, entenda bem, no sentido grego de “festejar junto”. Mas um festejar mais avacalhado e profano. Saem filosofia e poesia, entram magistocracia e oligarquia.

No banquete não tem Aristóteles nem Sófocles, não tem pergunta filosófica ou espiritual. Não há chistes contemplativos nem janela para humor inteligente e contra-hegemônico. Sobram impulsos espoliatórios e negociações extrativistas, inquietações desregulatórias e o fim de direitos trabalhistas. Permutas constitucionais em defesa do “interesse nacional”.

Desses simpósios participam quase todos os juízes de cortes superiores. Avessos à solidão, topam todo convite para comer com a advocacia que os paquera e para palestrar ao empreiteiro que estende a mão da amizade. Um campeonato de partidas e contrapartidas.

TUDO EM FAMÍLIA – Muitos dos juízes têm parentes-advogados. Homens de família e de bens, lutam pelo sucesso de filhos e esposas. A ponto de tornarem difícil praticar advocacia sem que advogados plebeus façam “parcerias” com advogados do patriciado dinástico.

Até a confederação de futebol desse país quimérico se joga na rede desse influencer de toga, no sentido latino, pré-digital.

A mídia não se sente livre para tratar do assunto. Não se atreve nem a perguntar, que dirá investigar e criticar. Sua coragem se encerra num cochicho privado. Pois tem medo das consequências.

MAIOR JOGADOR – Tamanho poder vertical de intimidação e retaliação faz do juiz imaginário o jogador mais granular e eficaz do Estado.

Nesse país zombeteiro, há jurisprudência lotérica sobre honra e liberdade de expressão para cidadãos comuns. E existe jurisprudência segura e previsível sobre a honra do juiz ornitorrinco. Toda uma jurisprudência da honra para si. Jurisprudência de um homem só.

Se “jurisprudência lotérica” e “jurisprudência individual” soam oxímoros, bem-vindo às charadas desse Estado de Direito tropical, em que jornalistas não podem interpelar cúpulas magistocráticas por sua libertinagem. Uma zona pouco franca aonde liberdade de imprensa e liberdade acadêmica não têm autorização para chegar.

O QUE TEMER? – A autoridade mais alta de proteção de direitos é a mesma que pode te assediar e punir. Por crítica objetiva e bem informada. Em língua culta.

E assim se faz a alquimia do legalismo fantástico: contra a lei, o maior operador da lei. De seu porrete se faz legalidade, dominação e silêncio.

Estamos em Magistocondo, cidade que García Márquez, tivesse mais preguiça e menos refino, poderia ter inventado: 500 Anos de Colusão (com pitadas de Acordão).

CPI do INSS pode ser CPI da Sucessão e dificultar muito a reeleição de Lula

Davi Alcolumbre

Alcolumbre, capanga de Lula, faz o jogo e atrasa a CPI

Josias de Souza
do UOL

A maior lente de aumento de Brasília é Davi Alcolumbre olhando para si mesmo. Tudo parece girar ao redor do umbigo do presidente do Senado e do Congresso. Ele acionou a barriga para empurrar da próxima terça-feira para 17 de junho a sessão em que seria formalizada a criação da CPI mista sobre o assalto contra os aposentados.

Bem pago pelo Planalto, Alcolumbre alegou que não faria sentido convocar uma sessão agora apenas para a leitura do requerimento de CPI. Faltou definir sentido. Supondo-se que a nova data seja para valer, o requerimento da CPI será lido no plenário do Congresso em meio às festas juninas e às vésperas do recesso parlamentar de julho.

Os partidos seriam, então, convidados a indicar os seus representantes. Com mais um ou dois golpes de barriga, o Planalto conseguiria facilmente retardar para agosto a instalação da CPI.

MUDAR DE NOME – Com a popularidade periclitante, Lula imagina que, até o início do segundo semestre, o avanço das investigações da Polícia Federal e a eventual descoberta de uma fórmula mágica para devolver o dinheiro às vítimas tornariam irrelevante a CPI.

Lula e seus operadores ainda não se deram conta de que a demora produzirá apenas a mudança do nome do problema. Enterrada ou instalada, a CPI do INSS vai sendo gradativamente rebatizada de CPI da sucessão. Com idade avançada, os aposentados já não se importam com o passar do tempo. O que incomoda é ser tratado como detrito. O custo eleitoral pode ser alto.