Após atritos com Congresso, o Supremo agora deve se desgastar com o governo

Conhecimento além da sala de aula: OAB defenderá, no STF, regra que obriga  cartório a aceitar casamento gay

Charge do Nani (nanihumor.com)

Danielle Brant
Folha

Depois de ser alvo de uma ofensiva do Congresso nas últimas semanas, o STF (Supremo Tribunal Federal) se prepara para se desgastar com o Executivo por causa da retomada do julgamento sobre a revisão da correção do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), marcada para esta quarta-feira, dia 18.

A ADI (ação direta de inconstitucionalidade) apresentada pelo Solidariedade questiona a atual correção do saldo das contas do fundo —TR (Taxa Referencial) mais 3% ao ano. O partido afirma que a fórmula prejudica o patrimônio do trabalhador por não repor perdas inflacionárias.

REMUNERAÇÕES – A caderneta é remunerada em 0,5% ao mês mais TR (Taxa Referencial) se a taxa Selic for maior que 8,5% ao ano. Se o juro básico for menor que esse patamar, rende 70% da Selic mais a TR. Para depósitos até 3 de maio de 2012, a remuneração é de 0,5% ao mês mais TR.

Em apresentação de agosto que acompanha memorial da AGU (Advocacia-Geral da União) sobre a ação, a Caixa Econômica Federal argumenta que, caso o FGTS passe a remunerar as contas vinculadas pela poupança, “haverá a inversão da lógica da gestão do Fundo”.

Alega a Caixa que o Fundo passará a privilegiar a rentabilidade ao invés da promoção da aplicação nas áreas prioritárias de desenvolvimento da infraestrutura, do saneamento básico e da moradia de interesse social.”

DIZ O MINISTÉRIO – Segundo estimativas do Ministério das Cidades validadas pela Caixa, se o FGTS deixar de cumprir esse papel, o custo para os cofres públicos seria de aproximadamente R$ 17 bilhões ao ano.

A pasta afirma que o fundo perderia “capacidade de financiar o público de menor renda, maioria dos cotistas, deixando-o sem alternativa de crédito para a aquisição da moradia própria.”

Nos bastidores, Barroso argumenta que, para minimizar o impacto sobre a política habitacional, o governo poderia estudar novas fontes de financiamento ao setor sem precisar prejudicar recursos do trabalhador.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É tudo conversa fiada. O dinheiro do FGTS pertence ao trabalhador e não é justo que o receba corroído pela inflação. E a mudança não vai prejudicar a política da casa própria. Pelo contrário, haverá muito mais recursos para distribuir em financiamento. Continuar o sistema atual é a mesmo coisa que assaltar o trabalhador na fila do ônibus. (C.N.)

Há digitais internacionais na trama para liquidar a indústria de petróleo do Brasil

A Margem Equatorial

Margem Equatorial da Amazônia é riquíssima em petróleo

Allan Kardec Barros e Alberto Garcia Figueiredo
O Globo

Os corais da Amazônia são um mito! Há anos circulam imagens que seriam de corais originários da Bacia Sedimentar da Foz do Amazonas. Elas causaram tanta comoção no Brasil que até apareceram em camisetas e novelas. E, em recente coluna no Globo, assinada por Miguel De Almeida, encontramos a afirmação de que “existe um recife de corais, descoberto em 2016, riquíssimo em biodiversidade, do tamanho do estado da Paraíba”.

Precisamos de mais ciência no debate brasileiro, até para dar conforto aos decisores sobre os próximos passos. Seguindo esse raciocínio, um grande grupo de cientistas foi formado e há cinco anos vem estudando e pesquisando a Margem Equatorial Brasileira (MEQ).

AMAZÔNIA AZUL – Hoje temos a maior rede de especialistas — formada por pesquisadores de 14 universidades brasileiras, entre instituições do Norte e Nordeste e outras com grande tradição e conhecimento sobre a Margem Equatorial Brasileira (MEQ) —, chamada Rede Amazônia Azul.

Os corais podem ser entendidos como pequenos animais marinhos que se agrupam em colônias e muitas vezes têm esqueletos duros. Algas calcárias, por sua vez, possuem carbonato de cálcio, um mineral que forma o calcário, em suas paredes celulares. Elas são como “algas que se tornaram pedra”.

Em termos simples, a borda da plataforma continental é como a “borda” ou “fronteira” entre a parte rasa do oceano próximo à costa e sua parte mais profunda. A região de borda de plataforma da Bacia da Foz do Amazonas é recoberta por algas calcárias, em sua maioria mortas, pois seu ápice de desenvolvimento aconteceu entre 17 mil e 11 mil anos atrás, quando o nível do mar estava entre cem e 120 metros abaixo do atual, portanto na última Era do Gelo.

FALSO CORAL – Na borda da plataforma continental da Bacia da Foz do Amazonas, é possível que se encontre um ou outro indivíduo de coral vivo, mas não são formadores de colônias ou recifes, tanto pela espécie de coral quanto pela quantidade.

Da mesma forma, algas calcárias vivas também podem ser encontradas, mas tampouco formam recifes em função das qualidades ambientais atuais, em que são essenciais luminosidade, transparência da água e pequena profundidade.

Não foram os cientistas, mas leigos, possivelmente ligados a movimentos internacionais muito ricos e muito bem articulados, que criaram o mito, distribuindo imagens de corais cujas características nos fazem suspeitar que possivelmente foram feitas no Caribe.

OUTRA REALIDADE – Faixa carbonática de borda de plataforma é uma região geológica onde as rochas sedimentares predominantes são compostas de carbonato de cálcio. No Brasil, as algas calcárias formam uma faixa carbonática na borda de plataforma da Bacia Sedimentar da Foz do Amazonas e se estendem rumo ao sul até Santa Catarina.

A faixa carbonática atravessa também as bacias sedimentares de Sergipe-Alagoas, Espírito Santo, Campos e Santos.

A presença de algas calcárias vivas é bem maior nessas duas últimas e, bom enfatizar, é também onde há maior proximidade dos campos de petróleo quando se compara com a Bacia Sedimentar da Foz do Amazonas.

ABAIXO A PETROBRAS – Subjacente ao debate sobre os corais — ou maior que ele — é a clara intenção de acabar com a indústria de petróleo e gás do Brasil, o que se entende como um claro movimento com digitais internacionais. Em termos simples, o intuito claro é fechar um dos maiores orgulhos da História nacional: a Petrobras.

Nenhuma fonte de energia nos dois últimos séculos foi dizimada ou desapareceu no mundo. Todas continuam sendo usadas há décadas, algumas sem seu uso cair (lenha ou nuclear) e outras (petróleo, carvão, gás natural, renováveis) com seu consumo aumentando diariamente, com tendência de alta.

A História mostra que a diversificação da matriz energética aconteceu — e nesse quesito o Brasil está onde o planeta gostaria de estar em 2050 — com uma matriz exuberantemente limpa. Mais ciência e menos ardil!

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Os autores do artigo estão entre os maiores especialistas brasileiros em energia e sabem muito bem o que estão denunciando. Allan Kardec Barros é professor titular da Universidade Federal do Maranhão e presidente da Gasmar, tem pós-doutorado no Riken, Japão, é ph.D. pela Universidade Nagoya, Japão, e foi diretor da Agência Nacional do Petróleo. Alberto Garcia Figueiredo é professor titular da Universidade Federal Fluminense e doutor em geologia e geofísica marinha pela Universidade de Miami. O artigo deles, curto e grosso, é um primor de informação. (C.N.)

Gilmar critica empresários bolsonaristas e diz que foi o Supremo que elegeu Lula

Gilmar defende reforma para proibir militar no Ministério da Defesa

Gilmar deixa claro: Quem manda no Brasil é o Supremo

Hugo Marques
Veja

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirmou neste sábado, 14, que parte dos brasileiros mais ricos deu apoio a ideias contrárias à democracia no Brasil e à atuação da Corte. O ministro participou de painel no Fórum Internacional do Grupo Esfera, em Paris.

Além dele também participaram do evento o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas.

DEFESA DA DEMOCRACIA – Gilmar Mendes foi incisivo: “Contamos a história de sucesso de uma instituição que soube defender a democracia até contra os impulsos de uma parte significativa da elite”, disse o ministro.

“Certamente, muitos aqui defenderam concepções que, se vitoriosas, levariam à derrocada do Supremo Tribunal Federal”, criticou o ministro, no discurso para uma plateia formada em grande parte por empresários famosos.

No mesmo discurso, Gilmar Mendes exaltou o papel do Supremo ao enfrentar a parcela que queria um golpe. “Se hoje nós temos a eleição do presidente Lula, isso se deveu a uma decisão do Supremo Tribunal Federal ”, disse Gilmar. Ele também não poupou a Lava-Jato. “Nós estávamos ordenando, em nome do combate à corrução, um modelo totalitário de Estado”.

PACHECO REAGE – O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou que há no Brasil uma crise de legitimidade de decisões judiciais e que as medidas que o Senado discute sobre o Supremo, no sentido de limitar o poder da Corte, seria para melhorar o quadro atual. Pacheco disse que “não há perspectiva de enfrentamento e retaliação” do Senado em relação ao STF.

Bruno Dantas afirmou que o descontentamento em relação a decisões do Supremo seria resultado do excesso e processos que a Corte julga. Ele lembrou que o Supremo julga cerca de 20 mil processos por ano. “Em 20 mil casos, sempre teremos um momento de tensão”, disse, lembrando que a Suprema Corte dos Estados Unidos julga cerca de 60 casos por ano.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Gilmar Mendes, cujo codinome é “Vaidade”, sonhava em ser aclamado em público como salvador da democracia e grande responsável pela eleição de Lula. Infelizmente, na vida real não é bem assim. Ao contrário, tornou-se um homem odiado e que não pode entrar num supermercado ou assistir a um simples jogo de futebol. Vamos voltar ao assunto, que é tragicômico. (C.N.)

Há monstros que relativizam crimes de guerra e se despojam do senso de humanidade

Chamado de "lixo", Leonardo Boff ganha processo contra | Geral

Boff esquece as criançs e diz que nesta guerra não há inocentes

Eduardo Affonso
O Globo

Cerca de 3 mil jovens se divertem num festival de música eletrônica. Em poucos minutos, ao menos 260 estarão mortos. Haverá estupros. Transeuntes serão baleados, aleatoriamente, nas estradas, nas ruas. Famílias, chacinadas dentro de casa. Pessoas torturadas serão exibidas como troféus. Pelo menos 150 civis — entre eles, idosos e crianças —, levados como reféns.

Talvez tenha havido um tempo em que a simples leitura desse parágrafo fosse suficiente para definir quem são os algozes, quem são as vítimas. Não mais. Um filósofo contemporâneo terá material de sobra — nos jornais, nas conversas, nas redes sociais — para desenvolver uma teoria sobre a relatividade do mal.

“UM DIA HISTÓRICO” – Poderá começar com as notas do Partido Comunista Operário (PCO), presidido pelo jornalista Rui Costa Pimenta. Com os cadáveres ainda insepultos, ali se festejava:

“Ontem foi um dia histórico não só para o povo palestino, mas para todos que querem ver o mundo livre da opressão, da tirania e do terrorismo. Todo apoio ao Hamas! Fim de Israel!” e “A violência e a guerra pode [sic] ser um espetáculo repugnante, mas elas são parte da política”.

E prosseguir com as declarações do jornalista Breno Altman, para quem “A guerra de um povo subjugado contra um Estado colonial é sempre justa. Esse é um marcador essencial para ler a situação palestina”. Quem precisa da Convenção de Genebra quando está do lado progressista da Força?

DISSE BOFF -“O que o Hamas fez contra Israel é condenável e repudiamos. Mas nesta guerra não há inocentes”, ecoou o teólogo, filósofo e defensor dos pobres e excluídos, o ex-frei Leonardo Boff. Do seu ponto de vista, as crianças mortas no ataque de 7 de outubro carregariam o pecado original de ser judias.

Todos ignoram, por conveniência, que, além dos mais de mil assassinados em Israel, o Hamas também condenou à morte milhares de palestinos, ao fazê-los de escudo humano. Que, para o grupo terrorista, vidas palestinas importam tão pouco quanto quaisquer outras.

Soubemos, por fotografias e relatos, das tragédias do colonialismo, da escravidão, do Holodomor, do Holocausto. Pela televisão, tomamos contato com as atrocidades no Vietnã, na Bósnia, no Camboja, no Iraque, em Ruanda e Burundi. No que parecia ser o limite, assistimos aos vídeos da degola de prisioneiros, feitos por jihadistas. Chegamos agora a outro patamar: a transmissão, ao vivo, das execuções e dos abusos, orgulhosamente gravados pelos criminosos. Nossa geração não precisa estar no campo de batalha para ter uma experiência imersiva no horror.

NÃO SE HORRORIZAM – “A ocasião faz o furto; o ladrão já nasce feito”, escreveu Machado de Assis. Esses que olham o horror nos olhos e não se horrorizam — ao contrário, debocham das vítimas em rede social, celebram nas universidades, abusam das conjunções adversativas, transbordam em eufemismos — há pouco bradavam por vacinas para salvar vidas, se comoviam com o drama dos ianomâmis, tinham na ponta da língua slogans para preservar o planeta.

São monstros que sempre estiveram, mais ou menos despercebidos, à nossa volta. Bastou a ocasião, e ei-los relativizando crimes de guerra, em negacionismo do pacto civilizatório. Monstros que desalojaram do cérebro todo senso de humanidade, para acomodar uma ideologia.

A sabedoria judaica ensina que quem salva uma vida salva o mundo inteiro. Mundos inteiros se perdem, neste instante, em Israel, na Faixa de Gaza. Os monstros comemoram.

Barroso justifica “protagonismo” do STF e defende a volta do imposto sindical

Em Paris, Barroso faz defesa do empreendedorismo | LeiaJá

Incoerente, Barroso compra outra briga com o Congresso

Bruno Caniato
Veja

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, apresentou uma série de razões que explicam, em sua visão, “um certo protagonismo” desempenhado pelo STF em relação às atividades das Supremas Cortes em outros países. As declarações foram dadas nesta sexta-feira, 13, no discurso de abertura do evento empresarial Fórum Esfera Brasil Internacional, em Paris.

Segundo o ministro, o Brasil tem uma Constituição mais abrangente que a de outras grandes democracias, que em geral se limitam à organização do Estado e dos poderes políticos e a definição dos direitos fundamentais.

ENGLOBA TUDO – A Carta Magna brasileira, disse, engloba também os sistemas tributário, previdenciário, de saúde, educação, proteção ambiental, proteção da comunidade indígena, da família, criança e adolescente, cultura e meios de comunicação. “Trazer uma matéria para a Constituição é, de certa forma, tirá-la da política e trazê-la para o direito”, afirmou Barroso.

Outra pontuação feita pelo ministro é a relativa facilidade de acesso ao STF por meio de ações diretas que, além dos poderes Executivo e Legislativo, podem ser movidas por partidos, entidades de classe e confederações sindicais.

Segundo Barroso, isso torna possível que leis e políticas públicas sejam questionadas com mais frequência mediante o Supremo.

ALTA VISIBILIDADE – Além disso, o presidente da Corte destacou que as sessões do STF são integralmente televisionadas, ao contrário do que ocorre em outros países – dada a grande quantidade de temas políticos, econômicos e sociais discutidas pelo tribunal, isso aumenta a exposição pública dos julgamentos e incentiva uma cobertura mais extensa por parte da imprensa.

“Com muita frequência, é preciso vir ao espaço público e explicar o que está acontecendo”, declarou.

As justificativas de Barroso vêm em momento de acalorado debate na esfera pública sobre o papel do Judiciário na política brasileira. Nos últimos meses, têm se intensificado os questionamentos de parlamentares – principalmente, ligados à oposição ao governo – em relação a uma suposta interferência do STF em temas que seriam de competência do Legislativo, como demarcação terras indígenas e descriminalização do aborto e da posse de drogas para consumo próprio.

IMPOSTO SINDICAL – O ministro, inclusive, citou um dos casos que geraram controvérsia nas últimas semanas – o retorno do imposto sindical obrigatório, que havia sido extinguido pela reforma trabalhista sancionada em 2017 e foi reinstituído por decisão do Supremo em setembro. Barroso explicou que o STF validou a nova legislação, à época, e que a reversão da norma foi “um grande equívoco que é preciso superar”.

Entre outras pautas, o presidente do Supremo abordou a insegurança jurídica no país, particularmente na complexidade do tributário, que, segundo ele, pode ser parcialmente atribuída à “voracidade fiscal do Estado” e representa uma barreira aos investimentos da iniciativa privada no Brasil.

“Temos um grande problema nessa área e penso que a reforma tributária pode ajudar a diminuí-lo”, pontuou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG Barroso perdeu uma boa oportunidade de ficar calado. Na entrevista coletiva que deu no dia seguinte à sua posse, com um serviço impecável de café da manhã que encantou os jornalistas, ele disse uma verdade absoluta e irretratável. Admitiu que o Supremo só tem poderes para contestar decisão do Congresso que descumpra cláusula pétrea. Poucos dias depois, dá uma recueta e agora defende a volta do imposto sindical, que acaba de ser rejeitada no Senado. E a coerência, ministro? Onde está a coerência? (C.N.) 

Em meio às discussões, é claro que o STF deve decidir logo sobre o aborto

Manifestação no Rio de Janeiro pela legalização do aborto

Conrado Hübner Mendes
Folha

A criminalização do aborto mata mulheres negras e pobres. A criminalização do aborto não diminui o número da realização de abortos. Pelo contrário, só faz aumentar, pois dificulta orientação à saúde reprodutiva de mulheres. Em todos os países em que foi adotada, a descriminalização representou queda da morte materna. Curiosamente.

Esses dois postulados empíricos são reiterados pesquisa após pesquisa no Brasil e no mundo. A saúde reprodutiva de mulheres, quando tratada pela política criminal e sua ameaça de prisão, desagregação familiar e reprodução da pobreza, consegue essa façanha dupla contra a vida.

PELA VIDA – Além da autonomia e da saúde, portanto, é em nome da vida da mulher que a regulação do aborto deve ser discutida. E também em nome do interesse do Estado em proteger a vida em potencial e o embrião. E também em nome de qualquer doutrina religiosa interpretada sem a mediação do autoritarismo religioso. Sem dose de pânico moral.

O STF tem a oportunidade de decidir sobre a criminalização do aborto. Rosa Weber deixou para o tribunal um dos votos mais rigorosos, tanto do ponto de vista da argumentação jurídica quanto da análise empírica, da história do STF.

Luís Roberto Barroso suspendeu o julgamento. O adiamento do STF foi elogiado por editorial desta Folha como “prudente”. Uma “matéria tão explosiva na arena política”, se decidida pela corte, poderia ser vista como “ativismo judicial” que invadiria “terreno do Legislativo”. Seria mais recomendável a “autocontenção” e preferível a “mais sólida” via congressual.

TUDO É DISCUTÍVEL – Os argumentos do editorial são conhecidos e equivocados. Tanto do ponto de vista da teoria política que professa e do exemplo exclusivo que invoca. Vale discutir os conceitos de autocontenção, ativismo judicial e superioridade da via congressual. Vale também esclarecer os termos dessa relação entre parlamento e cortes constitucionais na proteção de direitos em democracias.

Combinar os ideais da democracia e do constitucionalismo significa aceitar que o poder é do povo, mas ele tem limites. E se o povo costuma estar mais bem espelhado no Parlamento eleito, esse Parlamento está sujeito ao contrapeso de uma corte constitucional.

E se as decisões de uma corte constitucional são falíveis, também é falível a representatividade popular de um Parlamento. Cada vez mais.

LINHA NEBULOSA – Em nenhuma democracia constitucional o Parlamento decide sozinho sobre a extensão de direitos fundamentais. E se isso torna nebulosa a linha entre legislar e interpretar o direito, que supostamente organiza a divisão de trabalho entre parlamentos e cortes, conviva com isso. Porque toda decisão judicial que desagrada será acusada de “ativismo judicial”.

O Congresso brasileiro já decidiu sobre aborto. Há décadas decidiu deixar tudo como está: a mulher que interrompe a gravidez em clínicas clandestinas, se não morrer, estará sujeita ao assédio do sistema de saúde, do fundamentalismo religioso e do sistema de Justiça.

O Congresso não tem ficado em silêncio: quando fala em aborto, tem sido para aprofundar a violação de direitos e revogar as três hipóteses de aborto legal hoje (risco de vida da mulher, estupro, feto anencéfalo).

SEPARAÇÃO DOS PODERES – Se o STF descriminaliza o aborto, o Congresso poderá regular as formas em que isso se dá. Poderá até mesmo confrontar o tribunal. Se censurável do ponto de vista constitucional, é viável do ponto de vista político. E o jogo da separação de Poderes continua. Nem Parlamento nem corte, sozinhos, “pacificarão” o conflito.

Da perspectiva histórica, não há evidência de que decisão do Parlamento “concilia” uma sociedade. De que o tema deixa de ser “explosivo”. O Parlamento argentino aprovou o aborto e a sociedade continua a lutar. O seu novo candidato a autocrata, líder das pesquisas, está gritando contra o aborto e pode ganhar as eleições.

Da perspectiva da teoria democrática, há muito se sustenta a legitimidade de decisão judicial contra o Parlamento. Decisões judiciais que descriminalizaram o aborto, como na Colômbia e no México, lidam com riscos políticos adiante. Mas têm protegido a vida. Além da prudência, o STF precisa de coragem para proteger a vida. Pois não controla o futuro.

Para todos os países, está cada vez mais difícil equilibrar as contas públicas, diz o FMI

Tribuna da internet: "O esquema internacional das dívidas públicas  transforma os países em reféns", por M.L.Fattorelli - Auditoria Cidadã da  DívidaRosana Hessel
Correio Braziliense

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê o endividamento dos países crescendo um ponto percentual por ano a médio prazo, os desafios têm origem na demanda cada vez maior por gastos públicos, associada às altas expectativas sobre o que o Estado pode e deve fazer, circunstância que eleva o endividamento e as taxas de juros.

Diz o Fundo que  as dívidas públicas estão elevadas em todo o mundo e os custos dos empréstimos estão crescendo devido aos juros cada vez mais elevados pelos bancos centrais, no intuito de convergir a inflação para a meta, algo que, pelas estimativas, só deverá ocorrer a partir de 2025.

AUMENTO ANUAL – Pelos cálculos, a dívida pública mundial deverá crescer cerca de um ponto percentual por ano, a médio prazo. “A dívida pública global está, agora, substancialmente mais alta e prevê-se que cresça consideravelmente mais rápido do que nas projeções pré-pandemia.

No ritmo projetado, a média da dívida pública global aproximar-se-ia dos 100% do PIB até ao fim da década”, alertou o relatório Monitor Fiscal, divulgado nesta semana, durante o evento do organismo multilateral em Marraquexe, Marrocos.

Conforme as projeções do FMI, que tem uma metodologia diferente do Banco Central no cálculo da dívida pública bruta, incluindo títulos do Tesouro sob custódia da autoridade monetária, por exemplo, prevê que a dívida pública bruta do Brasil volte a crescer neste ano, chegando a 88,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e subindo para 90,3% do PIB, em 2024, apesar de prever rombos fiscais menores do que o mercado, de 1,2% do PIB, neste ano, e de 0,2%, no ano que vem.

ACIMA DA MÉDIA – Os números brasileiros estão bem acima da média dos países emergentes projetada pelo FMI, de 68,3% do PIB, em 2023, e de 70,1%, em 2024. 

 Pelas estimativas do Fundo, a dívida pública bruta do Brasil continuará crescendo nos próximos anos e voltará aos patamares de 2020, de 96% do PIB, em 2028, bem a cima da média prevista para as economias emergentes, de 78,1% do PIB. 

 De acordo com dados do relatório, a restrição orçamentária varia amplamente entre os países pobres, que têm mais dificuldade para conseguir financiamento e têm os juros como grande consumidor das receitas de impostos, e os mais ricos, que estão vendo as atuais políticas caminhando para uma trajetória fiscal insustentável.

ARROCHO FISCAL – “Além disso, há outra consideração importante quando ponderando políticas orçamentárias. Em muitos países, são necessárias políticas fiscais mais rigorosas, não apenas para reconstituir reservas e conter riscos para as finanças públicas, mas também para contribuir para os esforços dos bancos centrais em favor de um retorno oportuno às metas de inflação”, alertou Vitor Gaspar, diretor do Departamento de Assuntos Fiscais do FMI.

O Monitor Fiscal também analisa as implicações fiscais da transição verde, pois é possível identificar “lacunas de ambição” – a diferença entre contribuições definidas nacionalmente pelos próprios países e o que é necessário para cumprir o Acordo de Paris objetivos.

Da mesma forma, há “lacunas políticas” – a diferença entre as metas nacionais e os resultados alcançáveis sob condições de normais de negócios.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, reina a irresponsabilidade administrativa, e muitos outros governantes querem fazer como Lula e declarar ultrapassados os compêndios e as teses principais da Economia Política, com a criação de novas doutrinas, como a de que “o dinheiro vai sair de onde está para ser aplicado onde deveria estar”, uma das favoritas de Lula. (C.N.)

Norte-vietnamitas conseguiram vencer os Estados Unidos sem agir como terroristas

7 fatos para entender o que foi a Guerra do Vietnã

Maior potência militar foi vencida e humilhada no Vietnã

Elio Gaspari
Folha/O Globo

Diplomatas israelenses compararam o ataque terrorista do Hamas ao 11 de setembro de 2001, quando aviões sequestrados por militantes suicidas da Al Qaeda destruíram as torres gêmeas de Nova York, matando cerca de 3.000 pessoas. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu evitou essa comparação. Fez muito bem, porque se há uma semelhança original entre os dois episódios, o paralelo mais próximo é outro, com a ofensiva do Vietnã do Norte e do Vietcongue, durante os festejos do Tet, em janeiro de 1968.

A ofensiva do Tet fracassou militarmente, mas quebrou a espinha dorsal do apoio popular à intervenção americana no Vietnã e custou a ruína política ao presidente Lyndon Johnson. Em março, ele anunciou que não disputaria a reeleição, foi para seu rancho, deixou o cabelo crescer e morreu em 1973. Foram necessários mais de 30 anos para que ele fosse defendido como um grande presidente, noves fora o Vietnã.

TUDO TRANQUILO – Até a semana passada, os generais israelenses e seu famoso serviço de informações estavam tranquilos. Os egípcios teriam avisado que alguma “coisa grande” estava a caminho. Se esse aviso chegou a Tel Aviv, não se sabe, mas a “coisa grande” aconteceu. Em dezembro de 1967, os generais americanos estavam seguros de si.

No final de janeiro, mais de 50 mil soldados do Vietnã do Norte e cerca de 250 mil vietcongues atacaram bases americanas e dezenas de cidades do Sul. O impensável aconteceu. (Impensável, mas vários avisos foram ignorados.)

Apesar dessa semelhança militar, o paralelo não deve ir muito longe. Mesmo tendo praticado atrocidades, sobretudo na cidade de Hue, os vietnamitas do Norte e os vietcongues não agiam como terroristas, sequestrando inocentes para usá-los como escudos humanos. O Vietcongue atacou a embaixada americana, o Hamas matou 260 pessoas num festival de jovens. (Em 1968, dois generais americanos e um almirante cogitaram usar armas nucleares táticas para defender uma base militar sitiada. Johnson vetou a ideia.)

TERROR EM GAZA – Em 2014, quando a tropa israelense entrou na Faixa de Gaza, 1.462 civis morreram. Pelo menos 142 famílias palestinas perderam três ou mais membros, 18 mil casas foram destruídas e 108 mil pessoas ficaram sem teto. Israel perdeu apenas 67 soldados e seis civis.

O Hamas fez do assassinato de civis e dos sequestros de cerca de 150 civis, inclusive mulheres e crianças, o coração de sua ofensiva. Um episódio teve características militares, o outro, características terroristas. Eis a diferença.

O uso de civis como escudos humanos é uma violência velha como as guerras. Na guerra civil da falecida Iugoslávia, ela custou pesadas condenações a chefes militares, saídas do Tribunal Internacional de Haia. Na batalha pela posse da cidade de Mosul, em 2016, o grupo islamita Isis valeu-se de escudos humanos para mover seus combatentes.

ESTILO DO ISIS – O primeiro-ministro Netanyahu comparou os sequestros do Hamas às práticas do Isis (Estado Islâmico). De certa maneira, o que o Hamas fez foi mais radical: os escudos humanos de Mosul eram civis que viviam na cidade. As vítimas do Hamas foram sequestradas em território israelense.

Os pilares da política de Netanyahu caíram na frigideira que fritou Lyndon Johnson. Ao contrário dos regimes árabes do Oriente Médio, Israel tem um regime democrático e liberdade de imprensa.

Jornalistas da esquerda imparcial atacam um Legislativo que apenas tenta legislar

Senador Rodrigo Pacheco, atual presidente do Senado - Metrópoles

Pacheco conduz o Legislativo a assumir postura afirmativa

Mario Sabino
Metrópoles

É curioso observar a imparcialidade de jornalistas de esquerda (quase um pleonasmo). Foi um Deus nos acuda quando o ministro Kassio Nunes, indicado por Jair Bolsonaro ao Supremo, suspendeu monocraticamente a quebra dos sigilos do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal pela CPI do 8 de janeiro. Como assim um ministro pode dar uma decisão monocrática dessas? Quebra de sigilos é uma das atribuições de uma CPI! Quem esse sujeito pensa que é para afrontar o Legislativo? Loucura, loucura, loucura!

Um dia depois, os mesmos jornalistas da esquerda imparcial indignaram-se porque a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou a PEC que proíbe as decisões monocráticas dos ministros do Supremo com efeito suspensivo sobre atos dos presidentes dos outros Poderes. Ela também muda as regras para os pedidos de vista — que deverão, segundo a PEC, ser coletivos e ter um prazo limitado a seis meses.

COMO ASSIM? – A gritaria ainda se ouve. Como assim, a aprovação se deu em 43 segundos? Essa é uma afronta ao Supremo! Quem esses sujeitos pensam que são? Loucura, loucura, loucura!

Houve jornalista da esquerda imparcial que chamou a CCJ de “Comissão de Chantagem à Justiça”. Houve jornalista da esquerda imparcial que decretou, da própria cachola, que é inconstitucional o Congresso dizer como o STF deve se organizar. Houve jornalista que acusou a CCJ de dar um golpe.

Houve jornalista da esquerda imparcial que disse que as mudanças sobre decisões monocráticas e pedidos de vista já foram feitas pelo próprio Supremo e que as aprovadas pela CCJ do Senado seriam inúteis, portanto. Só esqueceram de que o regimento do tribunal pode ser mudado da noite para o dia, ao contrário de emenda à Constituição.

ESTRANHA ACUSAÇÃO – Entre mais enfadado do que propriamente perplexo, concluí que o Legislativo está sendo acusado de legislar, no que interpretei como criminalização da política, lembra dela? Constatei, mais uma vez, que os jornalistas da esquerda imparcial não leem a Constituição. Está lá: cabe ao Legislativo “zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes”.

Como decisões monocráticas dos ministros do Supremo, assim como pedidos de vista, vêm atingindo a competência do Poder Legislativo, o motivo da mudança está justificado, assim como a legitimidade da decisão da CCJ, que terá de ser submetida ao Congresso para entrar em vigor.

Quanto aos 43 segundos que a CCJ levou para aprovar a PEC, recordo que o TSE levou pouco mais de um minuto para cassar Deltan Dallagnol.

MANDATO PARA O STF – Há parlamentares, como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que defendem mandato de prazo fixo para ministro do STF. Quem é contra diz que isso poderia causar mudanças constantes de jurisprudência e insegurança jurídica. Parece piada, não é?

O tema é tão sensível que o decano do Supremo foi à plataforma X para afirmar que a eventual mudança seria “acompanhada do loteamento de vagas, em proveito de certos órgãos”. Se diz isso em público, fico imaginando o que ele diz em privado. Só no Brasil.

Nessa linha de “só no Brasil”, há parlamentar defendendo até que o Legislativo possa reverter na lata decisões do STF. Aí não dá. Aí, sim, é inconstitucional. E, para falar a verdade, ninguém precisa ficar muito preocupado com imutabilidade jurídicas, porque o tribunal já reverte de tempos em tempos um monte de decisões que ele próprio tomou.

CHAMAM DE GUERRA – Toda essa movimentação parlamentar está sendo chamada de “guerra” contra o Supremo. É uma facilitação jornalística, mas é fato que deputados e senadores, principalmente da direita, estão incomodados com os sucessivos julgamentos no STF de temas sobre os quais caberiam aos parlamentares decidir.

O do marco temporal para demarcação de terras indígenas é o exemplo mais recente. O STF votou a favor e o Congresso votou contra logo em seguida. Outro julgamento delicado é sobre a descriminalização do aborto, iniciado sob Rosa Weber e interrompido sob nova direção.

Essa encrenca, por enquanto, não terá seguimento, segundo garantiu a Lula o agora presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso. Aprovar a descriminalização do aborto nos STF causaria desgaste ao presidente da República e acirraria o atrito do Judiciário com o Legislativo. E todas aquelas mulheres que morrem de aborto, segundo a esquerda especializada e escandalizada? Respondo com outra pergunta: o que são as convicções diante das conveniências?

COISA DO CENTRÃO – Os jornalistas de esquerda imparcial dizem que a PEC aprovada pela CCJ é do interesse fisiológico do Centrão e que Rodrigo Pacheco só quer ficar bem com a bancada da direita ao ameaçar dar uma enquadrada no Supremo. Pode ser. Como pode ser também que Gleisi Hoffmann tenha sido porta-voz de Lula ao afirmar que a Justiça Eleitoral deveria ser extinta. Ela voltou atrás, disse que não era bem assim, mas parte do PT acha que a cúpula do Judiciário está poderosa demais e, um dia, poderá se voltar contra o partido.

Nada disso tira a legitimidade do jogo do Legislativo, embora não o torne moralmente bom. Quem atacou a Lava Jato afirmando que ela criminalizava a política não pode ver a política como crime, só porque ela a desfavorece. Você pode julgar que a política é má, mas ela não deixa de ser política.

Quem defendeu tanto a democracia, aplaudindo até medidas de exceção, não deveria esculhambar o Congresso dizendo que ele afronta o STF ao legislar. Essa democracia, com esses democratas, é o que temos.

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P.S.
Rodrigo Pacheco disse nessa sexta-feira que o Senado também discutirá o fim da reeleição no Brasil para cargos no Executivo, como o de presidente da República. Espero que a coisa vá adiante. Como a emenda da reeleição de presidente da República foi a pior coisa que poderia ter acontecido ao Brasil, o seu fim seria a melhor coisa que poderia acontecer ao Brasil. (M.S.)

“Envolvimento de Bolsonaro em decreto golpista é gravíssimo”, diz relatora da CPI

Saiba quem é Eliziane Gama, senadora escolhida relatora da CPMI do 8 de janeiro | O TEMPO

Eliziane Gama quer incriminar Bolsonaro, mas faltam provas

Eduardo Gonçalves
Correio Braziliense

A relatora da CPI de 8 de Janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), classificou como “gravíssima” a informação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro supostamente participou da elaboração de uma minuta golpista. A palamentar viu no episódio elementos que configuram o crime de abolição ao Estado Democrático de Direito.

A participação de Bolsonaro consta em um trecho da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e foi revelada pelo Globo nesta quarta-feira.

ENGENHARIA TRAÇADA — “A informação que vem à tona sobre a delação de Mauro Cid é gravíssima, pois revelaria os detalhes sobre como se daria a engenharia traçada para tentar abolir o Estado Democrático de Direito. A CPI, ao longo desses meses de investigação, já recebeu outros dados que também sustentam essa operação golpista” — afirmou a parlamentar.

Eliziane Gama deve entregar na semana que vem o relatório final da CPI atribuindo responsabilidades pelos atos golpistas de 8 de janeiro. Ela não revela os nomes, mas integrantes da base do governo declaram ver elementos suficientes para pedir o indiciamento de Bolsonaro como mentor intelectual dos ataques.

Interlocutores da relatora avaliam que o caminho seria solicitar à Procuradoria-Geral da República o aprofundamento das investigações sobre a suposta participação de Bolsonaro na trama. Procurada, a defesa do ex-presidente não quis comentar porque não teve acesso ao conteúdo da delação de Cid.

DISSE O HACKER – Para destacar o papel de Bolsonaro, Eliziane relembrou o depoimento do hacker Walter Delgatti, dado à comissão. Delgatti relatou que o ex-presidente lhe pediu pessoalmente para assumir um grampo contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, fato que Bolsonaro nega.

“São fatores importantes que exigem a ampliação de toda essa investigação” — diz ela.

Para a base governista, que tem maioria dos votos na CPI, o conteúdo da delação de Mauro Cid reforça a tese de que Bolsonaro deve ser indiciado pela comissão.

RESPONSABILIZAÇÃO — “O depoimento é alarmante. Esses atos foram praticados durante o exercício do mandato do ex-presidente. Por isso, é essencial que todos os envolvidos nesses planos antidemocráticos, incluindo o próprio ex-presidente, sejam responsabilizados perante a lei. Há possibilidade de indiciá-lo por organização criminosa, abolição ao Estado Democrático de Direito e incitação a inúmeros crimes” — disse o deputado Duarte Júnior (PSB-MA).

Também da ala governista, o deputado Rogério Correia (PT-MG) afirmou que a delação de Cid é “peça fundamental” para “elucidar o que foi essa tentativa de golpe e como trabalhou o entorno de Bolsonaro”.

“Além de ter conhecimento das tratativas, Bolsonaro atuou fortemente para construir, viabilizar, articular e insuflar a intentona golpista” — acusou o parlamentar do PT.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– É tudo conversa fiada e jogo de cena, pois houve um acordo para blindar os militares e não incriminar ninguém. Segundo o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, houve uma reunião, na qual o ex-presidente pediu alteração na chamada minuta do golpe. Não existe prova material, somente a delação de Cid, que precisa ser corroborada por depoimentos de outros participantes da reunião. A minuta teria sido entregue a Bolsonaro por Filipe Martins, então assessor da Presidência, amigo dos filhos de Bolsonaro. (C.N.)

PROBLEMAS NO BLOG

Carlos Newton

Estamos com problemas no Blog. Como vocês percebem ao acessá-lo, está inteiramente fora do padrão. Além disso, há dificuldades para inserir novas matérias.

Já pedimos apoio técnico ao servidor UOL e estamos aguardando.

Em breve daremos outras informações,

Abs. a todos

C.N.

A explicação da estupidez das guerras, na troca de ideias entre Einstein e Freud

A carta de Freud a Einstein - por que a guerra? Pulsão de morte e pulsão de  vida - YouTube

Fotomontagem reproduzida do Arquivo Google

Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense

Quem acompanha as imagens na Faixa de Gaza, do ponto de vista estritamente militar, o chamado teatro de guerra tem muito a ver com a Batalha de Stalingrado, na Segunda Guerra Mundial, do que com a sangrenta batalha de Hué, durante a Guerra do Vietnã, vencida pelos mariners. Manobrar em campo aberto, encostas e zonas rurais é muito diferente do combate numa cidade destruída por bombardeios, mas na qual a resistência se mantém rua por rua, prédio a prédio, andar por andar, dentro dos porões e galearias subterrâneas, como aconteceu em Stalingrado.

Esse é o cenário que o Exército israelense encontrará pela frente se entrar em Gaza antes de um cessar-fogo ou da rendição do Hamas.

SEDE, FOME E FRIO – Como na Faixa de Gaza, em Stalingrado os civis passaram sede, fome e frio, sem energia e combustível, mas o Exército soviético foi orientado a resistir até o último homem. No final, cercou o Exército alemão, que se rendeu, fazendo 200 mil prisioneiros. Mas na batalha morreram 2 milhões de pessoas. Em Stalingrado, o major-general Vassily Chuikov adotou uma “defesa ativa”, ou seja, nunca perdeu a iniciativa.

O que mais aterrorizava as tropas alemãs eram pequenas unidades de combate, que foram denominadas de “porco espinho”, com um franco-atirador e equipada com um morteiro e uma metralhadora. Essas unidades se escondiam nos escombros, deslocavam-se à noite, atacavam de surpresa e se evadiam, quando possível.

Não existe a menor possibilidade de derrota militar de Israel pelo Hamas, mas esse é o tipo de combate que o Exército israelense encontrará nas ruínas de Gaza, se invadi-la.

POR QUE A GUERRA? – A reação de premier Benjamin Netanyahu, na Faixa de Gaza, até agora obedece a objetivos estritamente militares, e não humanitários.

Isso fará com que os ânimos se acirrem ainda mais no mundo árabe e cresçam os questionamentos na opinião pública mundial e israelense quanto à escala da retaliação.

Metade da população da Faixa de Gaza tem menos de 17 anos, qual será o futuro das crianças e dos jovens que sobreviverem à nova tragédia palestina?

EINSTEIN E FREUD – Albert Einstein e Sigmund Freud entram nessa história porque uma famosa troca de cartas entre o autor da Teoria da Relatividade e o criador da Psicanálise circula nas redes sociais.

Em 1932, Albert Einstein, em nome do Instituto Internacional para a Cooperação Intelectual, pertencente à Liga das Nações, enviou uma carta para Freud, na qual fez a seguinte pergunta: existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça da guerra?

Einstein tinha esperança de que Freud sugerisse métodos educacionais que promovessem a paz. Em vez de dar soluções, Freud preferiu destrinchar o problema. Destacou a relação entre direito, poder e violência. Assinalou que a dominação sempre esteve em poder daquele que detivesse um poder maior, seja pela violência bruta, seja pela violência apoiada no intelecto. Detentores de poder se colocam acima dos demais, e os oprimidos tentam se pautar em uma justiça igual para todos, argumentou.

AUTORIDADE CENTRAL – Para Freud, as guerras somente serão evitadas se a humanidade se unir para estabelecer uma autoridade central a que lhe será conferido o direito de arbitrar todos os conflitos, tese que hoje fundamenta a existência da ONU.

“Por que o senhor (diz Freud), eu e tantas pessoas nos revoltamos tão violentamente contra a guerra? Penso que a principal razão por que nos rebelamos contra a guerra é que não podemos fazer outra coisa. Somos pacifistas porque somos obrigados a sê-lo, por motivos orgânicos, básicos”, escreveu.

“Ora, a guerra se constitui na mais óbvia oposição à atitude psíquica que nos foi incutida pelo processo de civilização, e por esse motivo não podemos evitar de nos rebelar contra ela; simplesmente não podemos mais nos conformar com ela”, completou Freud.

“Que atrocidade o Hamas teria de praticar para ser tido como terrorista?”, indaga PSB

Carlos Siqueira dá ultimato sobre aliança entre PSB e PT nos estados e lança data para bater martelo | Paraíba Já

Omissão do governo contraria Siqueira, presidente do PSB

Roseann Kennedy
Estadão

A explicação formal do Itamaraty sobre o motivo de não classificar o Hamas como grupo terrorista não foi suficiente para desfazer o mal-estar que o tema provoca no governo Lula. O assunto divide, diretamente, o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin.

O incômodo foi verbalizado pelo presidente do PSB, Carlos Siqueira, que elevou o tom nesta sexta-feira, para cobrar que o governo reavalie o conceito oficial sobre o Hamas. “Não consigo, sinceramente, entender o fato de o nosso governo não classificar o grupo Hamas como grupo terrorista. Que outra atrocidade ele precisaria praticar para receber esse carimbo?”, afirmou à coluna do Estadão.

ALCKMIN CALADO – O vice Geraldo Alckmin mantém distância do assunto. Ele fez uma manifestação nas redes sociais, no dia do início dos ataques, alinhado com o tom do Itamaraty. Repudiou os ataques e os relatos de sequestros de civis, além de defender a retomada das conversas pela paz. Mas, depois disso, evitou falar novamente publicamente sobre o tema. Alckmin também não deverá interferir no posicionamento de Carlos Siqueira, apostam os mais próximos ao vice-presidente.

Desde o início dos ataques, no dia 7 de outubro, o PT e o governo relutam em não chamar o Hamas de terrorista. Na Câmara, por exemplo, foram aprovadas 17 moções de repúdio, mas somente o texto apresentado e assinado por um grupo de petistas não faz nenhuma menção a terrorismo e ainda inclui repúdio ao Estado de Israel.

DIZ O ITAMARATY -Diante da cobrança que tem sofrido de segmentos políticos e da sociedade para classificar o Hamas de organização terrorista, o Ministério das Relações Exteriores divulgou nota para explicar sua postura. No texto, reforça que repudia o terrorismo em todas as suas formas e manifestações.

Mas justifica que “no tocante à qualificação de entidades como terroristas, o Brasil aplica as determinações feitas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas”.

O Conselho de Segurança mantém listas de indivíduos e entidades qualificados como terroristas, contra os quais se aplicam sanções. Estão incluídos o Estado Islâmico e a Al-Qaeda, além de grupos menos conhecidos do grande público.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A desculpa arranjada pelo Itamaraty é patética. A ONU ainda não incluiu o Hamas como terrorista, mas irá fazê-lo, com toda certeza. Além disso, o Brasil é soberano e nada impede que ele designe o Hamas como grupo terrorista. O Brasil tem autonomia em relação a essas decisões. Não fazê-lo é uma vergonha para o país. Apenas isso. (C.N.)

STJ aguarda, há 10 meses, regulamentação da PEC da Relevância que reduzirá a pauta

Professora Maria Thereza de Assis Moura é eleita presidente do Superior Tribunal de Justiça

Maria Thereza Moura, presidente do STJ, está aguardando

Natália Portinari
Metrópoles

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) aguarda desde o final do ano passado a aprovação da regulamentação da PEC da Relevância no Senado. Esta emenda constitucional tem objetivo de prever que o STJ só terá que julgar recursos quando houver relevância comprovada, o que pode desafogar os trabalhos da Corte, foi aprovada em julho do ano passado, mas só passará a valer depois da regulamentação no Código de Processo Civil.

Para adiantar o andamento, em dezembro do ano passado a presidente do STJ, Maria Thereza de Assis Moura, entregou ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, um anteprojeto sugerindo uma regulamentação

PONTO DE DESGASTE – Além da demora do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Davi Alcolumbre, em fazer as sabatinas dos indicados ao STJ, esse é um outro ponto de desgaste no Senado com os ministros da Corte.

A proposta sugerida pelo STJ prevê que, de forma semelhante ao que ocorre hoje no Supremo Tribunal Federal (STF) com questões constitucionais, após a relevância ser reconhecida, devem ser suspensos os processos idênticos no Judiciário.

O texto sugerido pelo STJ está em estudo no Senado, mas ainda não foi protocolado formalmente como um projeto de lei. Líderes não se movimentaram ainda para tentar colocar o tema em pauta.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Vejam como esse pessoal é ruim de roda. O Senado, com milhares de funcionários, leva um tempo enorme para “avaliar” um texto de apenas uma lauda que já chega pronto do Superior Tribunal de Justiça. Sinceramente, é muita preguiça e incompetência. (C.N.)

Direita liberal procura se reinventar para “sobreviver” no mapa da América Latina

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

José Casado
Veja

Sebastián Piñera já presidiu o Chile por duas vezes e é um empresário afortunado, com patrimônio estimado em 3 bilhões de dólares, equivalentes a mais de 15 bilhões de reais. Aos 73 anos poderia estar aposentado, mas está inquieto. Desde que deixou o poder, em março do ano passado, percorre capitais latino-americanas para submeter uma ideia à crítica de líderes políticos, empresariais e ativistas locais.

— Creio naquilo que dizia Dante Alighieri: os piores lugares do inferno estão reservados àqueles que se declaram neutros em tempos de crise — vem repetindo, amparado nas alegorias do poeta italiano, autor do clássico “A Divina Comédia””

Dias atrás, em Buenos Aires, Piñera juntou-se a Mauricio Macri, ex-presidente da Argentina, e a dezenas de antigos chefes de Estado, parlamentares, empresários e acadêmicos para discutir a reconstrução da direita na América Latina.

AGENDA COMUM – O projeto é ambicioso. Prevê agenda comum, supranacional, baseada em ações “claras, transparentes e comunicadas” entre os engajados — 21 partidos inscreveram-se até a semana passada.

A proposta é inédita. Pela primeira vez, líderes da direita tradicional preocupam-se em coordenar posições na disputa pelo poder na região, dentro das regras do regime democrático. Se vai dar certo, nem Piñera nem Macri e os demais sabem, mas na reunião de Buenos Aires todos acharam válido tentar. Eles têm bons motivos.

O principal é a percepção de que está em jogo a sobrevivência das famílias e dos núcleos políticos que, tradicionalmente, sustentam o ideário da direita liberal nos palanques e nas urnas da América Latina. Sentem-se desafiados por um trio de adversários. 

OS TRÊS RIVAIS – O mais antigo é a esquerda que, pela primeira vez, domina governos das cinco principais economias latinas (Brasil, México, Colômbia, Argentina e Chile). E o competidor emergente é a extrema direita radicalizada. Ela tem conseguido capitalizar votos com eficiência sem paralelo, surfando ao estilo “trumpista” numa “rebeldia conservadora”.

Seus ícones na América do Sul são o argentino Javier Milei, o chileno José Antonio Kast e o brasileiro Jair Bolsonaro. Não têm partidos, mas possuem votos. Corroem a base eleitoral de uma direita conservadora, secular, dona de grandes estruturas partidárias, mas cada vez mais nanica em votos. Por óbvio, não foram convidados ao tango político portenho.

O rival percebido como mais perigoso, porém, estaria na casta da direita tradicional latino-americana. São os liberais aninhados em berço esplêndido, na autocrítica de Dionisio Gutiérrez, ativista guatemalteco e empresário bilionário, herdeiro de um império de agricultura, energia e comunicações na América Central:

SE ACOMODARAM — “A partir da crise financeira de 2008, nós, os liberais, nós, da direita, nos acomodamos e deixamos de defender os valores e princípios da democracia que pensamos estar estabelecidos com segurança. Não foi assim”— diz Gutierrez, acrescentando:

“Olhem como estamos hoje, com mais da metade da América Latina perdida e outra metade em perigo — provocou, em Buenos Aires. — Nós, da elite, dormimos, abandonamos a política, nos acomodamos. A elite acadêmica ficou nas bibliotecas, e a sociedade civil se dispersou. As elites econômicas seguiram em suas bolhas, ocupadas com suas empresas, esquecendo-se de que, se perderem seus países, também vão perder suas empresas.

Gutiérrez assumiu a coordenação do projeto que define como “refundação liberal”.

CHUTAR OS TRASEIROS – “Teremos propostas coordenadas e comunicadas de cada país e, em seguida, vamos chutar o traseiro dos rapazes das elites econômicas, dizendo: ‘Vejam, senhores,  aqui faltam uns centavitos’. Será para formar partidos, montar boas instituições dedicadas à formação de tecnocratas e de dirigentes políticos, enfim, uma nova geração que seja capaz de nos governar melhor.

Três de cada quatro líderes políticos insistiram na necessidade de que o redesenho da direita liberal latina tenha foco na eficácia dos programas sociais e ênfase na segurança pública. Em alguns países, advertiram, o narcotráfico já é um dos cinco maiores empregadores.

Ronaldo Caiado, governador de Goiás, reclamou da cegueira deliberada sobre o tema no Brasil: “Infelizmente, não querem ver. No entanto, o narcotráfico está avançando com parlamentares do narcotráfico, magistrados do narcotráfico e advogados do narcotráfico. Antes, o tráfico queria parcerias com os governos; hoje, quer assumir os governos”.

Duas décadas de políticas israelenses em relação aos palestinos viraram cinza

Uma bola de fogo aparece após bombardeio israelense à Faixa de Gaza em 9 de outubro

Reação de Israel está matando quem estiver pela frente

The Economist

É difícil projetar o choque do ataque sangrento do Hamas contra Israel — porque a ação envolveu milhares de foguetes e combatentes atacando o sul do país por terra, mar e ar; e porque a ação foi completamente inadvertida apesar de sua escala, infligindo um golpe humilhante contra os celebrados serviços de inteligência israelenses; mas acima de tudo em razão da matança de centenas de pessoas inocentes e do sequestro de muitas outras pelo Hamas. Conforme as Forças de Defesa de Israel (IDF) ponderam sobre sua resposta, a atenção do mundo se voltará para o seu martírio desesperado.

É cedo demais para saber como transcorrerão as próximas semanas. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, jurou cobrar “um preço enorme”, e ele está certo: o Hamas deve pagar por suas atrocidades, que incluem o massacre de mais de 250 jovens israelenses em um festival no sul do país.

RISCOS GRAVES – Mas a resposta de Israel engendra riscos graves. Mandar tropas terrestres entrar em Gaza poderia envolvê-las em um sangrento combate urbano — além de colocar os reféns em risco. Quanto mais os combates se arrastarem, maior a chance da violência se espalhar para a Cisjordânia e o Líbano.

Mortes de muitos civis em Gaza, especialmente se consideradas injustificadas, poderiam prejudicar a posição de Israel no mundo e não deixariam de ser profundamente erradas em seus próprios termos.

Mas não é cedo demais para ser claro afirmando que este ataque marca o fim de uma convicção de décadas em Israel de que as aspirações palestinas por soberania poderiam ser deixadas de lado indefinidamente enquanto o restante do Oriente Médio avança. Além de tudo mais que possa emergir deste conflito, decorrerá uma nova busca por respostas à dúvida sobre como israelenses e palestinos podem viver em paz.

TRÊS CÁLCULOS – A política de Netanyahu de escantear os palestinos dependia de três cálculos, e todos foram pelos ares com o ataque do Hamas. O primeiro: mesmo que a questão palestina seja abandonada os israelenses poderão permanecer seguros. Como resultado das baixas terríveis da Segunda Intifada, que terminou em 2005, Israel cercou as populações palestinas com muros de segurança. Superioridade em inteligência e poder de fogo arrebatador, incluindo o sistema antifoguetes Domo de Ferro, significavam que a ameaça armada dos combatentes palestinos era controlável.

Parece que agora esta noção se rompeu. Uma razão para os serviços de inteligência israelenses poderem ter desviado a atenção de Gaza é que a Cisjordânia está agitada pelos objetivos expansionistas da extrema direita de Israel.

No sul do Líbano, o Hezbollah possui um arsenal temível, grande parte fornecido pelo Irã. Não há dúvida de que Israel será capaz de restabelecer seu domínio militar sobre os palestinos, mas mesmo que seus soldados e espiões acreditarem que é possível garantir a proteção dos cidadãos israelenses, os eleitores dificilmente concluirão que um retorno ao status quo seria bom o suficiente.

SEGUNDO CÁLCULO – O segundo cálculo era que a existência do Hamas ajuda Israel a lidar com o Fatah, o partido palestino que governa a Cisjordânia. Assumia-se que a doutrina de dividir para controlar mantinha os palestinos enfraquecidos e que a influência de facções radicais poderia minar a credibilidade dos moderados enquanto parceiros para a paz — o que atendia completamente aos interesses de Netanyahu.

Com estes ataques, essa noção também saiu dos trilhos. Uma razão para o Hamas atacar foi a doutrina de dividir para controlar ter criado condições que deixaram o Fatah decadente e isolado; seu líder, Mahmoud Abbas, está enfermo.

Com seu ataque, o Hamas está reivindicando a posição de porta-voz verdadeiro da resistência palestina. As rivalidades internas dos palestinos deveriam proteger os israelenses, mas acabaram transformando-os em alvo.

TERCEIRO CÁLCULO – Pensava-se que Israel seria capaz de fortalecer sua posição no Oriente Médio perseguindo diplomacia regional mesmo que deixasse os palestinos apodrecendo. Esse terceiro cálculo foi endossado pela assinatura dos Acordos de Abraão, entre Bahrein, Israel e Emirados Árabes Unidos, em 2020 — e a adição posterior de Marrocos e Sudão.

Até o fim de semana passado, parecia que a Arábia Saudita também poderia se juntar, e eventualmente os sauditas ainda poderão aderir, mas o Hamas mostrou que os palestinos também têm algo a dizer.

A próxima operação contra o Hamas somente contribuirá para a sensação de que chegou a hora de uma nova abordagem. Após o derramamento de sangue do sábado, Israel não pode fulminar o Hamas nem permitir que o grupo permaneça no poder em Gaza como se nada tivesse acontecido.

MUITO COMPLICADO – Contudo, nenhuma alternativa simples está em oferta. As Forças de Defesa de Israel  não querem ocupar Gaza — por este motivo o enclave é autogovernado. A ideia de uma força de paz internacional também é difícil imaginar: nenhum país quer assumir essa responsabilidade.

E ainda assim, se Israel destruir o Hamas em Gaza e depois marchar de volta para casa, quem saberá que forças destrutivas poderão ocupar o vácuo deixado para trás.

Ninguém deve subestimar as dificuldades adiante. A Segunda Intifada dissuadiu jovens israelenses de se posicionar por negociações com os palestinos. O atual ultraje certamente criará uma nova geração de israelenses incapazes de imaginar como facções palestinas podem ser parceiras para a paz. Ao mesmo tempo, a coalizão de extrema direita que governa Israel tem colocado foco em anexar partes da Cisjordânia — e redobrará esses esforços.

VOLTAR A NEGOCIAR – Apesar disso, israelenses cabeça-dura precisarão aceitar o fato de que devem voltar a negociar na questão palestina. O aparato de segurança de Israel precisa de uma contraparte com a qual possa trabalhar se quiser exercer qualquer tipo de influência sobre os territórios palestinos. Isso significa que os israelenses precisam de um interlocutor palestino.

O que virá depois dependerá enormemente de quem estiver ocupando o poder em Jerusalém. No momento, Israel está unindo esforços, mas logo passará por um amargo acerto de contas que ainda poderá levar a uma nova coalizão ou até a um novo primeiro-ministro.

Para os israelenses poderem estar seguros, quem ocupar o poder precisará deixar de pensar nos palestinos como um problema que pode ser engavetado e começar a pensar neles como um povo que deve ser ouvido.  (Tradução de Guilherme Russo/Estadão)

Ao visitar Israel, Caetano e Gil notaram que a paz existente era “frágil e ilusória”

Gil e Caetano fizeram uma visita a Israel e à Cisjordânia

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

Em 2015, após apelos de Roger Waters, ex-líder do Pink Floyd, e do bispo sul-africano (e Nobel da Paz) Desmond Tutu, para que cancelassem shows em Israel, Caetano Veloso e Gilberto Gil decidiram manter o que estava programado. Em resposta a Waters e seu movimento BDS (boicote, desinvestimento e sanções), Caetano expôs suas razões. Dizia ele na carta, em junho daquele ano:

“Eu preciso lhe dizer como meu coração é fortemente contra a posição de direita arrogante do governo israelense. Eu odeio a política de ocupação, as decisões desumanas que Israel tomou naquilo que Netanyahu nos diz ser sua autodefesa. E acho que a maioria dos israelenses que se interessam por nossa música tende a reagir de forma similar à política de seu país”.

EXPLICAÇÕES – “Eu cantei nos Estados Unidos durante o governo Bush e isso não significava que eu aprovasse a invasão do Iraque. Escrevi e gravei uma música que se opunha à política que levou à prisão de Guantánamo — e a cantei em Nova York e Los Angeles”, escreveu, acrescentando:

“Eu quero aprender mais sobre o que está acontecendo em Israel agora. Eu nunca cancelaria um show para dizer que sou basicamente contra um país, a não ser que eu estivesse realmente e de todo o meu coração contra ele. O que não é o caso. Eu me lembro que Israel foi um lugar de esperança. Sartre e Simone de Beuvoir morreram pró-Israel”.

Meses depois, por sugestão do compositor uruguaio Jorge Drexler, num encontro em Madri, Caetano aceitou o convite para uma visita à Cisjordânia, guiada por ativistas do grupo Break the Silence, formado por ex-soldados israelenses que serviram na Cisjordânia e se revoltaram com ordens que recebiam. Gil o acompanhou.

NA CISJORDÂNIA – O relato de Caetano sobre a visita foi publicado em novembro de 2015 pela Ilustríssima. O texto mescla impressões, nada animadoras, sobre a situação da Cisjordânia com reflexões a respeito dos radicalismos latentes.

“Vi muita loucura de ambos os lados”, resumiu numa passagem. Ao mesmo tempo, Caetano problematiza seus sentimentos sobre o país e Tel Aviv, cidade pela qual nutria espontânea simpatia. Lá, “perto mar, longe da cruz”, a sensação de paz era um alívio e um incômodo. A contradição é resumida pelo autor com o título de uma canção de Marcelo Yuka, do Rappa: “A paz que eu não quero”.

Diz o texto a certa altura: “Ao voltar ao Brasil, recebi e-mails com atualizações do “Breaking the Silence”. Numa das mensagens estava anexado um vídeo em que Nasser, o palestino com quem conversamos em Susiya, era surrado com pedaços de pau por jovens israelenses moradores de um assentamento”.

ILUSÃO DE PAZ – “É uma imagem brutal. Soldados do Exército de Israel assistem à cena impassíveis. Agora que uma terceira intifada se esboça –e que Netanyahu se vê isolado não só pela oposição mas também por correligionários que o acusam de não conseguir proteger Israel – constato, de longe, que a paz que eu julgava ver dentro de Tel Aviv – e que começava a pensar ser a paz que eu não quero – era, como, no entanto, eu sabia o tempo todo, frágil, superficial e ilusória”, assinala o cantor.

Oito anos se passaram, e em lance macabro dessa guerra que não começou ontem, a milícia terrorista Hamas promove uma inédita e inominável matança de civis israelenses —e usa concidadãos como escudo. Estranhamente apanhado de surpresa, o autocrático e extremista Netanyahu, há 13 anos no poder, ainda lidera o governo do país ao qual prometia paz com políticas criminosas.

É impossível ter esperança quanto a um bom desenlace para essa insanidade. Mas como diz um verso de Caetano, “coragem grande é poder dizer sim”. Que possamos dizer sim ao Estado de Israel e a seu direito de defesa e sim a um Estado palestino. Sobretudo sim a uma paz que não seja superficial e ilusória.

Conheça o discurso de Reagan que Cid gravou logo após Bolsonaro perder eleição

Reagan

Reagan fez um discurso apocalíptico que Mauro Cid adorou

Nicholas Shores
Veja

Dados do celular de Mauro Cid em poder da CPMI do 8 de Janeiro mostram que, poucos dias depois da vitória de Lula sobre Bolsonaro nas eleições de 2022, o então ajudante de ordens baixou um vídeo de um discurso em que Ronald Reagan anunciava uma “guerra” contra “o inimigo mais perigoso que já enfrentou a humanidade”.

“E foi dito que, se perdermos essa guerra e, assim fazendo, perdermos esse nosso caminho de liberdade, a história lembrará com o maior espanto que aqueles que mais tinham a perder foram os que menos fizeram para evitar que isso acontecesse”, diz o americano no pronunciamento salvo por Cid em seu celular.

ANTES DE SER ELEITO – Reagan fez o discurso em 27 de outubro de 1964, dezesseis anos antes de ser eleito para a Casa Branca, em um evento de campanha do candidato presidencial do Partido Republicano naquele ano, Barry Goldwater – que acabou derrotado pelo democrata Lyndon Johnson.

“Se perdermos a liberdade aqui, não há nenhum lugar para onde escapar. Esta é a última resistência na Terra”, afirma Reagan no fim do vídeo.

Cid baixou o conteúdo do perfil “Tradutor de Direita”, no X (ex-Twitter), que o havia publicado em 3 de novembro de 2022, às 19h45.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Vejam como as aparências enganam… Um oficial do Exército, sempre primeiro colocado e que tinha tudo para ser “tríplice coroado” e chegar ao generalato, na prática demonstra ser um tremendo idiota, a ponto de acreditar numa fala apocalíptica de um político vulgar como Ronald Reagan, aquele que levou um tiro no pulmão e não queria fazer anestesia geral, com medo de passar a Presidência ao vice George Bush e não voltar ao poder. Esse Mauro Cid é um patético imbecil, mas, junto com sua família, ele sabe enriquecer ilicitamente sem ser apanhado. Coisas da política, como diz Pedro do Coutto. (C.N.)

Governo divulga nota tentando “explicar” por que não chama Hamas de terrorista

Lula acerta sobre universitários e erra sobre Mais Médicos - 22/07/2022 -  Poder - Folha

De óculos escuros devido à plástica, Lula enxerga mal…

Luísa Marzullo
O Globo

Desde o início dos conflitos em Israel, iniciados no último sábado, o governo brasileiro tem sido cobrado por parlamentares da oposição para enquadrar o Hamas como grupo terrorista. Em resposta a esta pressão, o Ministério das Relações Exteriores emitiu nesta quinta-feira um comunicado explicando o motivo pelo qual o país não estar utilizando esta classificação.

Na nota publicada pelo Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores esclarece que segue o critério estabelecido pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

LISTA INCOMPLETA – “O Conselho de Segurança mantém listas de indivíduos e entidades qualificados como terroristas, contra os quais se aplicam sanções. Estão incluídos o Estado Islâmico e a Al-Qaeda, além de grupos menos conhecidos do grande público”, diz trecho do pronunciamento.

O texto também afirma que o país “repudia o terrorismo em todas as suas formas e manifestações” e que a prática brasileira “habilita o país a contribuir, juntamente com outros países ou individualmente, para a resolução pacífica dos conflitos”.

O movimento do Itamaraty ocorre em meio às pressões. Na última quarta-feira, um grupo de 61 parlamentares enviou um requerimento ao ministro Mauro Vieira, pedindo para que o Brasil classifique o Hamas como terrorista.

ÍNTEGRA DA NOTA – Em aplicação dos princípios das relações internacionais previstos no Artigo 4º da Constituição, o Brasil repudia o terrorismo em todas as suas formas e manifestações. No tocante à qualificação de entidades como terroristas, o Brasil aplica as determinações feitas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, órgão encarregado de velar pela paz e pela segurança internacionais, nos termos do Artigo 24 da Carta da ONU.

O Conselho de Segurança mantém listas de indivíduos e entidades qualificados como terroristas, contra os quais se aplicam sanções. Estão incluídos o Estado Islâmico e a Al-Qaeda, além de grupos menos conhecidos do grande público.

A prática brasileira, consistente com a Carta da ONU, habilita o país a contribuir, juntamente com outros países ou individualmente, para a resolução pacífica dos conflitos e na proteção de cidadãos brasileiros em zonas de conflito – a exemplo do que ocorreu, em 2007, na Conferência de Anápolis, EUA, com relação ao Oriente Médio.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A resposta do Brasil é ardilosa, porque a relação da ONU foi feita muito antes desse ato terrorista do Hamas, um dos maiores da História.  Atualmente, a ONU confere esta classificação aos grupos Al Qaeda, Talibã e o Estado Islâmico. Porém, Estados Unidos, Reino Unido e Japão são alguns dos territórios que vão na contramão da ONU e já reconhecem o Hamas como grupo terrorista. (C.N.)

Golpe foi planejado após Moraes multar PL por ter pedido invalidação das urnas mais antigas

Inelegibilidade de Bolsonaro abre disputa por sucessão na direita |  Política: Diario de Pernambuco

Multa de R$ 22,9 milhões revoltou Bolsonaro

Cézar Feitoza
Folha

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mudou a estratégia de contestar o resultado eleitoral e passou a consultar chefes militares sobre a possibilidade de um golpe após o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, multar o PL por tentar invalidar urnas eletrônicas de modelo antigo. A mudança de postura ocorreu em uma reunião entre Bolsonaro e os comandantes das Forças Armadas em 24 de novembro, no Palácio da Alvorada.

Na véspera, Moraes havia rejeitado o relatório do PL que pediu a invalidação de votos de urnas de modelo antigo. O ministrou também condenou a campanha de Bolsonaro a pagar R$ 22,9 milhões por “litigância de má-fé”.

DELAÇÃO DE CID – Irritados com a forma como Moraes reagiu aos relatórios de fiscalização feitos pelas Forças Armadas e pelo PL, alguns militares da ativa e da reserva e aliados passaram a incentivar Bolsonaro a liderar uma ruptura para reverter a eleição de Lula (PT).

O tema é alvo de investigação da Polícia Federal, e o encontro do dia 24 foi relatado pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid em sua delação. O tenente-coronel indicou que foi nesse dia que Bolsonaro consultou se os chefes militares apoiariam uma intervenção no TSE, com possível prisão de ministros e convocação de novas eleições.

O foco principal, segundo militares e auxiliares do ex-presidente ouvidos pela reportagem, seria a decretação de uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para que as Forças Armadas cercassem o TSE, com limitações de entrada de pessoas e preservação de documentos.

NOVAS ELEIÇÕES – Uma comissão formada por militares e civis seria criada para investigar possíveis irregularidades no sistema de votação. Caso a comissão indicasse algo nesse sentido, seriam convocadas novas eleições. Trata-se de estratégia semelhante à sugerida na minuta de decreto encontrada pela PF na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

O entorno de Bolsonaro se valia de uma interpretação distorcida da Constituição para justificar uma eventual operação de GLO contra o Tribunal Superior Eleitoral — que, se ocorresse, seria uma tentativa de golpe de Estado.

Aliados do ex-presidente citavam o artigo 142 da Constituição, que trata das atribuições das Forças Armadas. Na visão dos militares palacianos, o dispositivo daria margem para uma ação se fossem relatados os abusos do Poder Judiciário nas considerações do decreto.

BOLSONARO NEGA – Em nota, a defesa de Bolsonaro afirmou que o ex-presidente “atuou rigorosamente dentro das quatro linhas da Constituição”.

Em setembro, em entrevista à Folha, o ex-presidente afirmou que desde que assumiu seu mandato foi “constantemente acusado de querer dar um golpe”, mas que nunca agiu fora da lei. “Não seria depois do segundo turno [das eleições de 2022] que eu iria fazer isso [tentar liderar um golpe]. Muito menos no 8/1.”

Bolsonaro mudou sua estratégia pós-eleitoral ao longo dos meses de novembro e dezembro do ano passado. O relato feito à Folha por militares e auxiliares do ex-presidente aponta que, em novembro, o ex-presidente apostava nos relatórios das Forças Armadas para questionar formalmente o TSE.

NÃO DEU CERTO – O relatório das Forças, porém, não apontou nenhuma irregularidade. Enviado ao TSE em 9 de novembro, o documento mostrou que os procedimentos estatísticos ocorreram sem ressalvas. A análise dos boletins de urna tampouco identificou divergências.

A expectativa no Palácio da Alvorada, depois, passou a ser um relatório contratado pelo PL. Em 22 de novembro, o partido pediu a invalidação de votos de urnas de versão antiga, mesmo sem mostrar provas de fraude. Eles argumentaram que 279,3 mil urnas eletrônicas “apresentaram problemas crônicos de desconformidade irreparável no seu funcionamento”.

Apesar de os mesmos equipamentos terem sido usados no primeiro turno, quando o PL elegeu a maior bancada da Câmara, o partido pediu a anulação dos votos somente para o segundo turno.

MORAES MULTA PL – Em 23 de novembro, Moraes negou a ação do PL e condenou a campanha de Bolsonaro ao pagamento da multa milionária.

No dia seguinte, Bolsonaro convocou os comandantes das Forças para uma reunião. Participaram o general Marco Antônio Freire Gomes (Exército), o almirante Almir Garnier (Marinha) e o brigadeiro Carlos Baptista Junior (Aeronáutica).

No encontro, Almir Garnier mostrou-se disposto ao golpe, conforme relatado por Cid em sua delação. Já Freire Gomes informou que a cúpula do Exército era majoritariamente contra a investida. Baptista Júnior teve postura parecida, segundo os relatos obtidos pela reportagem.

MINUTAS DO GOLPE – Foi após a reunião que diversas minutas de decreto de GLO contra o TSE surgiram no Palácio da Alvorada. Um deles foi apresentado pelo assessor Filipe Martins, segundo delatou Cid.

Outra minuta golpista foi encontrada no celular do ex-ajudante de ordens. O documento foi enviado pelo tenente-coronel de um telefone para outro, como se estivesse fazendo uma cópia, em 28 de novembro.

O documento foi obtido pela Polícia Federal e apresentado ao STF em um primeiro relatório da análise do celular de Cid. O texto dizia que o Judiciário teria tomado decisões inconstitucionais que colocam em “evidência a necessidade de restauração da segurança jurídica e de defesa às liberdades em nosso país”.

GENERAL VILLAS BÔAS – Bolsonaro recebeu diversos militares das cúpulas das Forças para discutir a adesão que teria após a derrota no segundo turno das eleições.

O general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, foi duas vezes ao Palácio da Alvorada, em 7 e 20 de dezembro, segundo registros obtidos pela Folha da agenda confidencial do ex-presidente. Os encontros foram relatados em e-mails trocados entre os militares da ajudância de ordens de Bolsonaro.

O ex-presidente ainda recebeu mais de uma dezena de vezes os comandantes das Forças, em reuniões conjuntas ou separadas, e generais alinhados ao bolsonarismo — como o chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, general Estevam Theophilo.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGA grande novidade da reportagem são essas duas visitas do general Villas Bôas, que está muito doente e praticamente não sai de casa. Como ele foi o principal responsável pela eleição de Bolsonaro, essas visitas são bem significativas. Vamos voltar ao assunto. (C.N.)