A bailarina que adorna poeticamente a caixa de joias está sempre girando, girando…

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Fátima Guedes, cantora e compositora carioca

Paulo Peres
Poemas & Canções

A cantora e compositora carioca Fátima Guedes, na letra de “A Bailarina”, retrata os segredos e os valores familiares que a menina da caixa de música guarda através de gerações. Essa música foi gravada por Fátima Guedes no LP Lápis de Cor, em 1981, pela EMI-Odeon.

A BAILARINA
Fátima de Guedes

Gira a bailarina
Na caixa de música
Lívida menina
Rodando, rodando…
Num pequeno círculo
De ouro e de espelho
Escrava do delicado
Mecanismo

Pálida e suave
Em seu bailado frívolo
Quantas vidas passa
Dançando, dançando…
Com a orgulhosa pose
De uma estirpe distante
Finita num infinito
Narcisismo

Roda a bailarina
A sua sina
De tonta
Guardiã de jóias e segredos
De família
Com a roupinha de balé
Com a sapatilha
Relíquia de passar
De mãe pra filha

Ela se persegue
Em seu passeio lúdico
Presa na caixinha
Girando, girando, girando

“Pavão misterioso, pássaro formoso, tudo é mistério nesse teu voar…”

Poesia em Si: Romance do Pavão Misterioso ( cordel de José Camelo de Melo)

Pavão misterioso é um famoso cordel nordestino

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor cearense José Ednardo Soares da Costa Sousa, foi buscar inspiração no cordel de José Camelo para compor Pavão Mysteriozo, uma das sagas de amor similares à Romeu e Julieta, que conta a história de jovem turco muito rico que resolveu roubar uma condessa e casar-se com ela, independentemente da vontade dos pais e, para isto, mandou construir uma nave em forma de pavão e cumpriu seus objetivos.

Ao contrário de Romeu e Julieta, esta saga tem um final feliz. Ednardo compôs esta canção em ritmo de novena, que no Ceará é mais lento apara acentuar um clima de lamento. O LP “Ednardo – O Romance do Pavão Mysteriozo” foi gravado em 1974, pela RCA Victor. Em 1976, a música foi tema da novela Saramandaia.

PAVÃO MYSTERIOSO
Ednardo

Pavão misterioso, pássaro formoso,
tudo é mistério nesse teu voar
Ah, se eu corresse assim, tantos céus assim
Muita história eu tinha pra contar

Pavão misterioso nessa cauda aberta em leque
Me guarda moleque, de eterno brincar
Me poupa do vexame de morrer tão moço
Muita coisa ainda quero olhar

Pavão misterioso, meu pássaro formoso
No escuro desta noite, me ajuda a cantar
Derrama essas faíscas, despeja esse trovão
Desmancha isso tudo que não é certo, não

Pavão misterioso, pássaro formoso
Um conde raivoso não tarda a chegar
Não temas minha donzela, nossa sorte nessa guerra
Eles são muitos, mas não podem voar.

Lembrando a belíssima Marina morena, que enfeitiçou o jovem Dorival Caymmi

Caymmi, sempre inspirado no mar da Bahia

Paulo Peres
Poemas & Canções

O pintor, violonista, cantor e compositor baiano Dorival Caymmi (1914-2008), na letra de “Marina”, deseja conservá-la jovem, bonita, sem maquiagem, num quase apelo que ela renuncie a sua descoberta como mulher através da pintura do rosto e, para isso, apela para a singela beleza da moça. Este samba-canção foi gravado pelo próprio Caymmi, em 1947, pela RCA Victor.

MARINA
Dorival Caymmi

Marina, morena
Marina, você se pintou
Marina, você faça tudo
Mas faça um favor
Não pinte esse rosto que eu gosto
Que eu gosto e que é só meu
Marina, você já é bonita
Com o que Deus lhe deu

Me aborreci, me zanguei
Já não posso falar
E quando eu me zango, marina
Não sei perdoar
Eu já desculpei muita coisa
Você não arranjava outro igual
Desculpe, Marina, morena
Mas eu tô de mal
De mal com você

Malu Mourão, uma poeta que se preocupa com o que vê de sua janela…

TRIBUNA DA INTERNET | Category | Paulo Peres | Page 5

Malu Mourão, uma poeta de rara sensibilidade

Paulo Peres
Poemas & Canções

A professora e poeta cearense Maria Luíza Mourão, conhecida como Malú Mourão, no poema “Olhando da Janela”, confessa que guardará no coração a imagem triste das favelas.

OLHANDO DA JANELA
Malú Mourão
 

Do alto da montanha se ostenta,
De um povo, a marca de uma vida,
Que na verdade em nada lhe contenta,
O vil poder que a muitos intimida.

Vejo a favela assim imperiosa,
Onde esconde sutil a incerteza,
De uma vivência às vezes duvidosa,
Que do morro faz parte da beleza.

Mas naquela hipotética comunidade,
Existem os sonhos e as decepções,
Que se misturam a cada realidade,
Mesclando de anseios as emoções.

Ali surgem incógnitas impetuosas,
Onde a vida arquitetada na carência,
Entrega-se confusa às teias laboriosas,
Do escárnio prepotente da violência.

E no compasso da eterna esperança,
A comunidade no seu pensar latente,
Deseja ter um viver de bonança
Onde a paz ilumine cada vivente.

Moradores da Rocinha, Sereno ou Fé,
Quitungo ou Complexo do Alemão,
Coroa , Caixa D’água ou Guaporé!…
Guardarei esta imagem no coração.

Machado de Assis imortalizou as graças excelentes da nossa cara e lépida Maria

Pode ser uma imagem de texto que diz "Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução. MACHADO DE ASSIS Faceboak facebok.com/antrietalitgatubi"Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, crítico literário, dramaturgo, folhetinista, romancista, contista, cronista e poeta carioca Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Neste soneto, Machado de Assis descobre que a beleza existente nos olhos e no andar de ”Maria” assemelham-se ao marchar de um pássaro.

MARIA
M
achado de Assis

Maria, há no seu gesto airoso e nobre,
Nos olhos meigos e no andar tão brando,
Um não sei quê suave que descobre,
Que lembra um grande pássaro marchando.

Quero, às vezes, pedir-lhe que desdobre
As asas, mas não peço, reparando
Que, desdobradas, podem ir voando
Levá-la ao teto azul que a terra cobre.

E penso então, e digo então comigo:
“Ao céu que vê passar todas as gentes
Bastem outros primores de valia.

Pássaro ou moça, fique o olhar amigo,
O nobre gesto e as graças excelentes
Da nossa cara e lépida Maria”.

Uma canção de Renato Teixeira e Dominguinhos, para louvar a grande amizade entre eles

Renato Teixeira & Dominguinhos Amizade S Compacto Vinil Raro | Parcelamento  sem juros

Teiixeira e Dominguinhos, amigos desde sempre

Paulo Peres
Poemas & Canções

O instrumentista, cantor e compositor pernambucano José Domingos de Morais (1941-2013), o saudoso Dominguinhos, em parceria com o cantor e violonista Renato Teixeira, retrata nesta letra o que significa uma “Amizade Sincera”. A música faz parte do CD Renato Teixeira no Auditório Ibirapuera, gravado em 2007.

AMIZADE SINCERA
Renato Teixeira e Dominguinhos

Amizade sincera é um santo remédio
É um abrigo seguro
É natural da amizade
O abraço, o aperto de mão, o sorriso

Por isso se for preciso
Conte comigo, amigo disponha
Lembre-se sempre que mesmo modesta
Minha casa será sempre sua

Amigo
Os verdadeiros amigos
Do peito, de fé
Os melhores amigos
Não trazem dentro da boca
Palavras fingidas ou falsas histórias
Sabem entender o silêncio
E manter a presença, mesmo quando ausentes
Por isso mesmo, apesar de tão raro
Não há nada melhor do que um grande amigo

Uma rara e bela parceria de Caetano com Djavan, que também se chama Caetano…

Djavan e Caetano Veloso têm tremor essencial; em que difere de Parkinson? -  10/08/2022 - UOL VivaBem

Djavan e Caetano, grandes amigos e parceiros

Paulo Peres
Poemas & Canções

O produtor musical, cantor e compositor alagoano Djavan Caetano Viana, na letra de “Linha do Equador”, em parceria com Caetano Veloso, utiliza diversas metáforas para explicar o quanto gosta da sua amada. A música foi gravada por Djavan no CD Coisa de Acender, em 1992, pela Sony Music.

LINHA DO EQUADOR
Caetano Veloso e Djavan

Luz das estrelas
Laço do infinito
Gosto tanto dela assim
Rosa amarela
Voz de todo grito
Gosto tanto dela assim

Esse imenso, desmedido amor
Vai além de seja o que for
Vai além de onde eu vou
Do que sou, minha dor
Minha Linha do Equador

Esse imenso, desmedido amor
Vai além que seja o que for
Passa mais além do Céu de Brasília
Traço do arquiteto
Gosto tanto dela assim
Gosto de filha
Música de preto

Gosto tanto dela assim

Essa desmesura de paixão
É loucura de coração
Minha Foz do Iguaçu
Pólo Sul, meu azul
Luz do sentimento blue

Esse imenso, desmedido amor
Vai além que seja o que for
Vai além de onde eu vou
Do que sou, minha dor
Minha Linha do Equador

Mas é doce morrer nesse mar de lembrar
E nunca esquecer
Se eu tivesse mais alma pra dar
Eu daria, isso pra mim é viver

Um poema sob medida, para exaltar a belíssima natureza da Amazônia

Lisie Silva

Lisie Silva, poeta amazonense

Paulo Peres
Poemas & Canções

A poeta amazonense Lisiê Silva, por ter nascido e viver até hoje em Manaus, junto à Floresta Amazônica, tornou-a fascinada por tudo que faz parte da natureza.

FADINHA DA FLORESTA
Lisiê Silva

Eu não vivo nas grandes cidades.
Não pertenço às multidões.
Vivo junto à natureza.
Onde ouço o canto dos pássaros,
O murmúrio do vento.
A canção da brisa.

Para a Floresta, eu digo:
Deixa eu permanecer
para sempre contigo!
e serei para sempre tua…
De dia me banho nos teus igarapés…
e de noite me visto de lua…

Eu vivo onde a natureza me colocou.
Por que sou parte integrante do universo.
Para a Floresta, eu digo:
Deixa eu te fazer poesia!
E te colocar nos meus versos…
Da árvore, eu sou a seiva
que corre quando ela é cortada.

Sou a brisa que sopra
No rosto da madrugada…
Sou a tranquilidade da manhã.
Sou a alegria da tarde ensolarada…
De dia sou natureza pura…
e de noite, sou alvorada…

No recomeço do poético romance, um encontro marcado que não se concretizou

Poeta - O site do poeta brasileiro >>>

Lena Basso, poeta paulista

Paulo Peres
Poemas & Canções

A pedagoga, professora e poeta paulista Merilena Ferioli Basso, conhecida por Lena Basso, tentou o recomeço de um romance, mas se enganou, virou-lhe as costas e seguiu em frente.

RECOMEÇO
Lena Basso

Penso não ter mais obrigação
de continuar aqui
de pé na praça
a lhe esperar.

A chuva que cai
gelada e de graça
lava meu corpo,
encharca minha alma.

Extrema e distante
fica a promessa de fidelidade.
Dia e hora do encontro marcado
estão prestes a fugir do calendário.

Trouxe comigo doces sonhos
de um reatar risonho.
Mas, minha mente errou nos pensamentos
que ora se sobressaltam em desespero.

A chuva ainda cai mansa.
A praça está deserta.
Viro as costas e
busco o caminho da solidão.
Tudo recomeça…

Era muito linda a camisola do dia, que marcou o fim de um grande amor

Herivelto e Nasser, dois grandes compositores

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, escritor e letrista, nascido em Jaú (SP), David Nasser (1917-1980) é autor de diversos clássicos do nosso cancioneiro popular, entre os quais “A Camisola do Dia”, em parceria com Herivelto Martins. Este belo samba-canção teve sua primeira gravação feita por Nelson Gonçalves, em 1953, pela RCA Vitor.

A CAMISOLA DO DIA
Herivelto Martins e David Nasser

Amor, eu me lembro ainda
Era linda, muito linda
Um céu azul de organdi
A camisola do dia
Tão transparente e macia
Que eu dei de presente a ti

Tinha rendas de Sevilha
A pequena maravilha
Que o teu corpinho abrigava
E eu era o dono de tudo
Do divino conteúdo
Que a camisola ocultava

A camisola que um dia
Guardou a minha alegria
Desbotou, perdeu a cor
Abandonada no leito
Que nunca mais foi desfeito
Pelas vigílias de amor

Dizia Lêdo Ivo: “Não confie a ninguém seu segredo, a verdade não pode ser dita” 

Veredas da Língua: Lêdo Ivo - PoemasPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, cronista, romancista, contista, ensaísta e poeta alagoano Lêdo Ivo (1924-2012), da Academia Brasileira de Letras,  aconselha (queime tudo o que puder) no poema “A Queimada”, pois a verdade não é para ser dita, ela é o eterno segredo. Vale ressaltar que, se este poema fosse escrito atualmente, poderíamos dizer que o teor foi inspirado em certas autoridades brasileiras.

A QUEIMADA
Lêdo Ivo

Queime tudo o que puder:
as cartas de amor
as contas telefônicas
o rol de roupas sujas
as escrituras e certidões
as inconfidências dos confrades ressentidos
a confissão interrompida
o poema erótico que ratifica a impotência
e anuncia a arterioesclerose
os recortes antigos e as fotografias amareladas.

Não deixe aos herdeiros esfaimados
nenhuma herança de papel.
Seja como os lobos: more num covil
e só mostre à canalha das ruas
os seus dentes afiados.

Viva e morra fechado como um caracol.
Diga sempre não à escória eletrônica.
Destrua os poemas inacabados, os rascunhos,
as variantes e os fragmentos
que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas.

Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha.
Não confie a ninguém o seu segredo.
A verdade não pode ser dita.

Com tristeza, o poeta constata que a vida está se tornando uma natureza morta

Jorge Ventura faz poesia sobre o homem dos grandes centros urbanos no livro  "Outras Urbanas" - Revista Arte Brasileira

Ventura faz poemas sobre os centros urbanos

Paulo Peres
Poemas & Canções

O publicitário, ator, jornalista e poeta carioca Jorge Ventura, no poema “Emoldurados”, inspirou-se em telas da natureza morta.

EMOLDURADOS
Jorge Ventura

a laranja cortada à faca
sobre a mesa (gomos e gumes)
não exala mais o cheiro das manhãs

móveis da sala cozinha e quarto
abrigam tardes e noites imóveis
como cestas de nozes e avelãs

restam flores palavras secas
migalhas rostos tristes
expectativas inanimadas

afora o sol pela porta pintada a óleo
o  silêncio dos olhos e a certeza
de que a natureza agora é morta

Uma canção muito especial, para exaltar a belíssima natureza em Lumiar

São Pedro da Serra, Lumiar e Nova Friburgo: aproveite o paraíso da região  serrana | Turismo e planejamento de viagem - Eco Resort Serra Imperial

A beleza de Lumiar, destacada no circuito das cachoeiras

Paulo Peres
Poemas & Canções

O administrador de empresa e poeta carioca Marcos Fernandes Monteiro, conhecido como Coquito, na letra de “Lumiar”, com seu parceiro Johnny do Matto, fala de um vilarejo bucólico que pertence ao Município de Nova Friburgo (RJ), repleto de vida, diversão e um ótimo lugar para quem deseja somente descansar. A música “Lumiar” foi gravada por Johnny do Matto no CD Parcerias, em 2009, produção independente.

LUMIAR
Johnny do Matto e Coquito

Nada mais que rotina
Nada mais que colina
Nada mais verde no olhar
Nada mais simples do que Lumiar

Nada mais do que o barro
Amassado pelo pé
Que caminha léguas distantes
Nada mais do que a palha
Que queima no cigarro
Mas sustenta o sonho adiante

Nada mais que um abrigo
Um recanto, um amigo
Gente na praça
Gente no beco
Na travessa
Gente que peca
Mais que confessa

Tudo é muito sem pressa
Onde o tempo se expressa
Tudo apenas humano
Meio Froidiano
Mais muitos anos
Tudo na essência da terra
O milagre daquela serra

No exemplo de Homero, o poeta Jorge de Lima busca o significado das dores do mundo

Enio Lins - Salve Jorge! Vamos nos vestir com as armas de Jorge

Jorge de Lima, retratado por Portinari

Paulo Peres
Poemas & Canções

O político, médico, pintor, tradutor, biógrafo, ensaísta, romancista e poeta alagoano Jorge Mateus de Lima (1893-1953), no soneto “Dor do Mundo”, demonstra que embora não goste, aceita a provação de suas dores.

DOR DO MUNDO
Jorge de Lima

Apenas eu te aceito, não te quero
nem te amo, dor do mundo. Há honraria
que nos abate como um punho fero,
mas aceitamos com sobrançaria.

A um vate grego certo rei severo
vazou-lhe os olhos para não fugir.
Ó dor do mundo, eu vivo como Homero,
aceito a provação que me surgir.

Homero, a tua história sinto-a; e urdo
o teu destino, o meu e o de teu rei.
Mas só teus olhos nossos passos guiam,
e inda tens vozes para o mundo surdo,
e luz para os outros cegos, luz que herdei
com a aceitação dos olhos que não viam.

O sonho de João Cabral sobre um futuro construído por todos, livremente, para todos

A vida não se resolve com palavras. João Cabral de Melo Neto - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O diplomata e poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999) utilizou em sua obra poética desde a tendência surrealista até a poesia popular, porém caracterizada pelo rigor estético, com poemas avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, inaugurando, assim, uma nova forma de fazer poesia no Brasil. O poema “Tecendo a Manhã” significa o sonho do poeta com um futuro construído por todos, livremente, para todos, isento de “armações”, maracutaias e intrigas. Um mundo verdadeiramente socialista?

TECENDO A MANHÃ
João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

Um coração vadio que busca repartir felicidade, na canção de Claudio Nucci e Paulinho Tapajós

Claudio Nucci Estrela da manhã parceria com Paulinho Tapajós - YouTube

Paulinho Tapajós e Claudio Nucci

Paulo Peres
Poemas & Canções

O produtor musical, cantor e compositor paulista Claudio José Moore Nucci,  conhecido como Claudio Nucci, e seu parceiro Paulinho Tapajós (1945-2013), falam de um “Coração Vadio” em busca de repartir felicidade entre as pessoas, embora a letra também possa se entendida como uma forma de traição amorosa. A música foi gravada por Jackie Hecker no CD Isso e Aquilo, em 2005, pela Dabliú.

CORAÇÃO VADIO

Paulinho Tapajós e Claudio Nucci

Quisera que o meu coração,
Apenas quisesse você,
Mas ele sadio, vaidoso, vadio,
Enxerga o mundo que vê

Os passos do meu coração,
Só fazem traçar bem-querer,
Fazendo o destino,
Total desatino,
Seu sangue é latino, é viver

Abrindo a prisão,
Bancando o vilão,
Soltando as amarras da vida,
Vivendo aprendiz,
Da alma que diz

Saber ser feliz é uma arte,
Amor quando a gente reparte,
Retorna dobrado depois.

“Prefiro tê-la jovem no meu sonho, do que velha, apertá-la nos meus braços…”

Veredas da Língua: J.G. DE ARAÚJO JORGE - POEMASPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, político e poeta acreano José Guilherme de Araújo Jorge (1914-1987) ou, simplesmente, J. G. de Araújo Jorge, tornou-se conhecido como o Poeta do Povo e da Mocidade, pela sua mensagem social e política e por sua obra como no poema “Romance” que trata do mais velho e o mais belo dos temas, renovado sempre na poesia e no sonho de um poeta, segundo o próprio J. G. de Araújo Jorge, em seu livro “No Mundo da Poesia”.

ROMANCE
J. G. de Araújo Jorge

“Venha me ver sem falta… Estou velhinha.
Iremos recordar nosso passado;
a sua mão quero apertar na minha
quero sonhar ternuras ao seu lado…”

Respondi, pressuroso, numa linha:
“? Perdoe-me não ir… ando ocupado”.
Amei-a tanto quanto foi mocinha
e de tal modo também fui amado.
Passou a mocidade num relance…
Hoje estou velho, velha está…

Suponho que perdeu da beleza os vivos traços.
Não quero ver morrer nosso romance…
– Prefiro tê-la, jovem no meu sonho,
do que, velha, apertá-la, nos meus braços!

A devastação da Amazônia sempre foi preocupação do compositor Vital Farias

Desmatamento: Amazônia perdeu 20% e Cerrado, 50%, desde 1970, aponta relatório do WWF - BBC News Brasil

Há 41 anos Vital Farias lançava esse desabafo

Paulo Peres
Poemas & Canções

O músico, cantor e compositor paraibano Vital Farias lançou, em 1982, pela Poligram, o Lp Sagas Brasileiras, que traz o épico “Saga da Amazônia”, cuja letra expressa a preocupação do artista com a degradação das espécies, a exploração desenfreada da mão de obra infantil, a poluição galopante dos rios e mananciais e, consequentemente, a defesa da preservação da natureza e a sustentabilidade das ações do homem, antecipando o movimento ecológico crescente no final daquela década mas que, atualmente, parece não existir mais.

Logo, foi uma visão vanguardista do mestre Vital Farias que, além de construir uma belíssima letra, ainda conclamava as pessoas a repensarem as suas atitudes, há 41 anos,  sob pena de inviabilizarem a vida no planeta para as gerações vindouras, gerações estas que, no século atual, sobrevive sob o domínio de péssimos governantes, inclusive, estrangeiros.

SAGA DA AMAZÔNIA
Vital Farias

Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d’água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
e os rios puxando as águas

Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir
era: fauna, flora, frutos e flores

Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro, pra comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante, pra acabar com a capoeira

Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
pra o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:
se a floresta meu amigo, tivesse pé pra andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá

O que se corta em segundos gasta tempo pra vingar
e o fruto que dá no cacho pra gente se alimentar?
depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar

Mas o dragão continua a floresta devorar
e quem habita essa mata, pra onde vai se mudar???
corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura

No lugar que havia mata, hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só pra lhe roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave-de-arribação

Zé de Nata tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão:
Pos mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiro
que um estrangeiro roubou seu lugar

Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez, desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu
levando essa mágoa dentro do seu coração

Aqui termina essa história para gente de valor
prá gente que tem memória, muita crença, muito amor
prá defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
era uma vez uma floresta na Linha do Equador…

“Quanto esforço da manhã, para riscar tão alto um corisco de esperança”, dizia Guimarães Rosa

João Guimarães Rosa | O que é filosofia, Pensamentos, PalavrasPaulo Peres
Poemas & Canções

O médico, diplomata, romancista, contista e poeta João Guimarães Rosa (1908-1967), nascido em Cordisburgo (MG), é um dos mais importantes escritores brasileiros de todos os tempos, sendo o romance “Grande Sertão: Veredas”, que ele qualifica como uma “autobiografia irracional”, a sua obra mais conhecida. Entretanto, Guimarães Rosa também enveredou pelos veios poéticos, tanto que registrou em versos a “Tentativa” da manhã em busca de um corisco de esperança.

TENTATIVA
Guimarães Rosa

Manhã básica, alcalina,
neutralizando a gota ácida do sol.
O tornassol do céu, no fundo
do grande tubo de ensaio,
vai se espessando, cada vez mais azul.

Dos poços da marna alagada,
cheios, como frascos chatos sem gargalos,
sobem vapores alvacentos.
A pressão calca cinco atmosferas,
e o calor cresce,
nas alavancas de pirômetros negros,
dilatando as sombras.

Rápida,
uma revoada triangular de periquitos
estraleja e crepita,
flambada em alça enorme de platina,
como o fio de chama, fugidio e verde,
de um sal de boro…

Quanto esforço da manhã,
para riscar tão alto,
um corisco de esperança… 

O milagre das mãos do pai, nas poesias geniais de Mário Quintana e Paulo Peres

76 ideias de Quintana | frases de mário quintana, pensamentos, frases  inspiracionaisCarlos Newton

Para comemorar o Dia dos Pais, uma data que precisa ser alegre, embora em muitos casos possa ser triste, selecionamos hoje dois poemas relativos ao tema. Um deles, do gaúcho Mário Quintana, e o outro, do carioca Paulo Peres, que, quando trabalhamos com o jornalista, cronista e poeta Rubem Braga, com ele aprendeu que a poesia é necessária.

AS MÃOS DO MEU PAI
Mario Quintana

As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos…

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas…

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas…
essa chama de vida — que transcende a própria vida…
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma…

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DIA DOS PAIS
Paulo Peres

Festejai, pai material,
Este dia especial.
Receba o carinho celestial
– Família, luz e amor –
Através à bênção do Pai Maior,
O Nosso Deus-Pai Espiritual