Pedro do Coutto
O Banco Central revelou na segunda-feira, através do seu boletim Focus, a realização de uma pesquisa ouvindo bancos e empresas sobre as perspectivas do mercado. Porém, não ouviu os assalariados que são a parte insubstituível do consumo que, no fundo, assegura tanto a produção quanto a comercialização dos bens fabricados.
A reportagem é de Alvaro Gribel e Vítor da Costa, O Globo desta terça-feira, e revela que o Banco Central decidiu ampliar a pesquisa, antes restrita aos bancos e empresas financeiras, às empresas de modo geral, sem ouvir os assalariados, porém, a realidade não refletirá o processo produtivo e também consumidor.
EXCLUSÃO – O BC considera o setor produtivo, incluindo os bancos, as finanças e a indústria, e não inclui, como ao meu ver deveria fazer, o comércio e o consumo, abrangendo os supermercados, setores onde o consumo é diário e permanente.
A situação dos negócios financeiros é apenas uma parte do universo econômico. Portanto, a pesquisa não deve estar restrita ao plano onde se concentra o capital, e sim deveria se estender à escala onde encontra o consumo que somente pode evoluir sem endividamento se os salários pelo menos não perderem para a inflação. Com os salários perdendo para a inflação, vão se tornar necessárias sucessivas operações “Desenrola”, já que a que está em curso abrange 74 milhões de pessoas inadimplentes com dívidas a partir de R$ 100.
A base do endividamento é múltipla, mas com frações pequenas, o que revela a incapacidade de os salários serem suficientes para assegurar especialmente o consumo exigido pelos seres humanos como indispensável à própria segurança alimentar e as tarifas de transportes e de energia, neste caso incluindo o gás de cozinha. Seria importante que o Banco Central, através de sua pesquisa Focus, incluísse por amostragem que seja a versão das classes assalariadas, compostas por seres humanos das diversas faixas de idade, a partir da infância.
ORIENTE MÉDIO – No território de Gaza, a ofensiva de Israel continua e o projeto é dividir o território, esvaziando a parte norte onde se concentra o comando do Hamas segundo a visão de Benjamin Netanyahu. As reportagens internacionais, sobretudo as divulgadas pela GloboNews e pela CNN, mostram que a Faixa de Gaza está se transformando em um cemitério a céu aberto.
O reflexo é péssimo na opinião pública universal, destacando-se que 40% dos óbitos e mutilações atingem crianças palestinas. As pressões sobre a fronteira com o Egito continuam e o governo do Cairo abriu para a passagem de feridos necessitando de socorros urgentes. Os brasileiros que estão sendo esperados por um avião da FAB na cidade do Cairo ainda não conseguiram o sinal verde para atravessar a fronteira.
GREVE DE FOME – A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2023, Narges Mohammadi, presa em Teerã por lutar pelos direitos das mulheres, iniciou uma greve de fome como forma de denunciar as condições da prisão que lhe foi imposta no Irã e que inclui outras mulheres ativistas por direitos humanos.
É incrível que um país que possui até a produção de energia atômica, e que ocupa uma posição de peso no Oriente Médio e no plano internacional, possa manter em prática uma política que joga a mulher como um ser humano de segunda classe sem vontade e sem independência para existir.
O Prêmio Nobel alcançado por Narges Mohammadi está sendo uma resposta ao comportamento selvagem e discriminatório. A greve de fome desloca-se, assim, para uma situação limite envolvendo a existência humana.