É injusto colocar as Forças Armadas no paredão, porque foram elas que evitaram o golpe

MILITARES NO GOVERNO - Miguel Paiva - Brasil 247

Charge do Miguel Paiva (Brasil 247)

Mario Sabino
Metrópoles

A tentativa de implicar as Forças Armadas no golpe de Estado que Jair Bolsonaro queria perpetrar continua em curso. A reunião entre o então presidente da República e os comandantes militares, depois da eleição de Lula, relatada por Mauro Cid à Polícia Federal, deu mais combustível a essa irresponsabilidade.

De acordo com o noticiado pela jornalista Bela Megale, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, disse ter participado, no ano passado, depois da eleição de Lula, de uma reunião do então presidente com a agora ex-cúpula das Forças Armadas e ministros da ala militar do seu governo, para avaliar a possibilidade de uma intervenção que impedisse a posse de Lula, prendesse autoridades e organizasse novo pleito.

SOA PLAUSÍVEL – Mauro Cid afirmou à PF que o então comandante do Exército, o general Freire Gomes, negou-se a participar do plano golpista, ao passo que o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, teria dito a Jair Bolsonaro que a sua tropa estava pronta a aderir. Soa plausível: Almir Garnier Santos é bolsonarista e recusou-se a passar o comando da Marinha ao almirante Marcos Sampaio Olsen na presença de Lula.

Depois que a notícia foi publicada, a jornalista Maria Cristina Fernandes revelou que, nessa mesma reunião, o brigadeiro Carlos Batista, comandante da Aeronáutica ficou calado, e que o general Freire Gomes disse a Jair Bolsonaro: “Se o senhor for em frente com isso, serei obrigado a prendê-lo”. Perfeito.

Ainda assim, insinua-se que o general não disse o que disse por convicção democrática, mas por inexistir condições objetivas para um golpe. Francamente, a convicção de Freire Gomes pode coexistir com a realidade circunstante.

SERVIR DE EXEMPLO – Se for confirmado o que Mauro Cid afirmou, o almirante Almir Garnier Santos precisa ser punido, da mesma forma que os demais militares golpistas que participaram do governo anterior, e cabe até expulsá-lo da Marinha.

Não por representar ameaça, mas para servir de exemplo ao punhado de lunáticos da ativa das patentes inferiores. Exército, Marinha e Aeronáutica saberão purgar-se, para além das decisões judiciais que alcancem integrantes seus.

Isso posto, é preciso repetir que as poucas laranjas podres não contaminaram as muitas laranjas boas das Forças Armadas. Jair Bolsonaro buscou mais de uma vez atrair os diversos comandantes militares para a aventura de um golpe de Estado. Recebeu negativas.

UMA EXCEÇÃO – O almirante Almir Garnier Santos é uma exceção que confirma a regra, e é assim que o assunto deveria ser tratado. Se houve perda de confiança nas Forças Armadas, ela se deu principalmente entre os bolsonaristas, justamente porque elas não aderiram a um golpe.

Ao falar da sua própria Força, o atual comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, foi cristalino no sentido de que é preciso individualizar as culpas. Ele disse:

“Definitivamente essa não é a posição da Marinha. O interesse da Força é que seja o quanto antes esclarecido (o fato) e que se procure individualizar as condutas e se retire esse manto de suspeição da Força. Naturalmente que a exposição de um ex-comandante da Marinha em alguma medida implica a Força.”

ESCLARECIMENTO – E acrescentou: “Nosso interesse é no esclarecimento dos fatos. Naquilo que a Marinha puder contribuir e compor com o processo, estamos prontos. A Marinha se pauta nos princípios de legalidade, moralidade, publicidade e transparência. Assim que procuramos nos portar e vamos prestar qualquer tipo de esclarecimento à Justiça.”

Vale para o Exército e vale para a Aeronáutica. É deletério colocar as Forças Armadas, seja uma delas ou o seu conjunto, no banco dos réus. No paredão.

Não por elas estarem acima da lei ou por receio de se voltarem contra a democracia. É porque é injusto. É porque, se não estão acima, também não estão abaixo da lei e das demais instituições. É porque é uma irresponsabilidade com a própria democracia.

8 thoughts on “É injusto colocar as Forças Armadas no paredão, porque foram elas que evitaram o golpe

  1. O texto, explica com clareza que os poucos militares bolsonaristas, contaminados pelo vírus “mito”, não contaminaram a maioria dos militares, imunes ao vírus “mito”, pois estavam vacinados com a vacina: “respeito a Constituição e hierarquia”.

  2. O PONTO DE PARTIDA DA DEMOCRACIA BRASILEIRA
    A Democracia brasileira partiu, da Estação ‘’Ditadura’’, no trem da alegria ‘’Diretas-Já’’, rumo à Estação ‘’Brasil, País do Futuro’’; todavia, após 40 anos viajando na maionese da corrupção, violência e impunidade, ainda não conseguiu atravessar a ‘’Barreira do Inferno’’! (L. C. Balreira).

    NINGUÉM AFRONTA DEUS!
    Frente a todas as desgraças e catástrofes diárias do Brasil, ninguém afronta Deus; muito antes, pelo contrário! (L. C. Balreira).

    A BAJULAÇÃO POLÍTICA É O PORTAL ABERTO DA TRAIÇÃO!
    Enquanto o Brasil não for uma Grande Dinamarca, pelo menos em termos de justiça social e segurança para cidadãos do bem, todo e qualquer elogio ou culto à personalidade a todo e qualquer eleito ou concursado dos Três Poderes das Diretas-Já é hipocrisia, puxa-saquismo, bajulação ridícula, caricata, cômica, burlesca! (L. C. Balreira).

  3. As Forças Armadas não evitaram golpe nenhum.

    Não evitaram o golpe real dado pelo judiciário brasileiro e não evitaram o golpe imaginário que a imprensa criou.

    É impressionante o esforço da mídia para parecer que estamos vivendo algo normal, que Lula é um presidente normal.

  4. De se notar em todo o contexto que a presença arrogante, em breve sequência, de quatro dignatários dos Estados Unidos em território nacional justamente nas proximidades do momento em que ocorreria o tal golpe jamais seja citada. A repulsiva subsecretária de estado Victoria Nuland fez questão de deixar bem claro o anúncio de que os Estados Unidos não tolerariam o fracassado movimento. Seu discurso intervencionista foi repetido e enfatizado por mais três outros funcionários de governo, sendo que o alerta final coube a não menos que o secretário de defesa da poderosa matriz general Lloyd Austin. Não se descarta a possibilidade de reunião deste último com a cúpula de nossas forças armadas, o que poderia ter resultado num repensar de propósitos.

  5. Sabino, Sabino, Sabino…

    Que é que é isso!?

    Se o caminhão tivesse explodido no aeroporto, a ditadura já estaria a todo vapor no Brasil.

    Se os militares tivessem agido na hora certa, lá no forte apache, nada disto teria acontecido.

    Há bons militares e maus militares.
    Isso já ficou comprovado.

    Os maus militares não podem se escudar nos bons agora, e serem salvos pelos militares exemplares, que obviamente, ainda há!

    Cadeia nos golpistas, doa a quem doer!

    José Luis

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