Bolsonaro no banco dos réus: O legado de um Brasil que resiste

O julgamento do ex-presidente é  um divisor de águas

Marcelo Avelino Copelli
Revista Fórum  

O Brasil atravessa um momento decisivo em sua história democrática. O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, previsto para o próximo dia 2 de setembro, não trata apenas da responsabilização de um ex-chefe de governo acusado de graves crimes contra a democracia, mas também da reafirmação da força das instituições e da capacidade do país de resistir ao autoritarismo. Refere-se a um processo que ultrapassa o indivíduo e alcança a própria essência do Estado de Direito.

Bolsonaro enfrenta acusações graves, incluindo tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada e tentativa de abolição violenta do regime democrático. Se condenado, poderá enfrentar até quatro décadas de prisão. A Procuradoria-Geral da República tem sido incisiva na acusação, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) demonstra firmeza inabalável em suas decisões.

CONTRAPONTO – Essa postura é um contraponto fundamental diante de um histórico recente em que setores conservadores da política nacional testaram os limites da democracia, ora flertando com a ruptura institucional, ora pressionando o Judiciário em busca de impunidade.

Recentemente, o ministro Alexandre de Moraes determinou o reforço da vigilância na residência de Bolsonaro após a descoberta de um rascunho de pedido de asilo político na Argentina e informações sobre uma possível fuga para a Embaixada dos Estados Unidos.

Embora a defesa alegue que o documento não tem validade, o episódio expôs a fragilidade e imprevisibilidade do ex-presidente. Diante do peso das acusações, ele buscou alternativas fora do país, o que compromete sua imagem de “estadista”. A tentativa de transformar uma estratégia de fuga em argumento de perseguição política revela mais sobre a fragilidade da defesa do que sobre qualquer suposta arbitrariedade do Judiciário.

RESISTÊNCIA – A crise que se desenha não é inédita. A democracia brasileira já enfrentou ameaças semelhantes no passado: da quartelada de 1964 às tensões institucionais que marcaram o processo de redemocratização e os anos seguintes. Em todos esses momentos, a capacidade ou incapacidade das instituições de resistir à pressão definiu os rumos do país.

Hoje, novamente, o Brasil se vê diante da mesma encruzilhada — e, ao contrário de outrora, encontra um Supremo disposto a resistir firmemente, mesmo diante de ataques pessoais, ameaças digitais e sanções internacionais.

As mensagens privadas divulgadas pela Polícia Federal explicitam fissuras dentro da base bolsonarista, revelando disputas internas e desconfianças em torno da candidatura de Tarcísio de Freitas para 2026. A revelação de transferências financeiras suspeitas para Eduardo Bolsonaro no exterior e a aproximação com líderes estrangeiros de extrema-direita reforçam a percepção de que o bolsonarismo buscou apoio externo para enfraquecer o Poder Judiciário. Contudo, tais articulações não foram capazes de impedir o avanço do processo, que segue rigorosamente dentro dos marcos constitucionais.

DESTAQUE – No plano internacional, a postura firme do STF contrasta com experiências recentes de democracias mais antigas, como a americana. Não por acaso, a revista The Economist destacou que o Brasil oferece aos Estados Unidos uma lição de maturidade democrática.

Enquanto a política norte-americana ainda luta para responsabilizar Donald Trump pelos eventos de 6 de janeiro de 2021, com a invasão do Capitólio, o Brasil demonstra que não há líderes acima da lei. Essa distinção projeta o país no cenário global como exemplo de que democracias jovens também podem ser resilientes, mesmo sob enorme pressão.

O julgamento de Bolsonaro é, portanto, mais do que um processo jurídico: é um divisor de águas. A escolha que o Brasil tem diante de si neste momento — entre justiça e impunidade, entre democracia e autoritarismo — terá efeitos de longo prazo sobre a política nacional e a confiança das futuras gerações em suas instituições.

GUARDIÃO – O Supremo, alvo de críticas e ataques, emerge como guardião último da ordem constitucional, reafirmando que a soberania nacional não pode ser negociada nem refém de pressões externas.

A maturidade de uma democracia se mede, sobretudo, pela capacidade de enfrentar seus fantasmas sem ceder ao medo ou ao populismo. Se o Brasil souber atravessar este julgamento com firmeza, transparência e respeito ao devido processo legal, não apenas reafirmará seu compromisso com o Estado de Direito, mas também enviará ao mundo uma mensagem poderosa: aqui, a democracia não se dobra.

 

8 thoughts on “Bolsonaro no banco dos réus: O legado de um Brasil que resiste

  1. “Mensagens divulgadas pela PF explicitam fissuras dentro da base bolsonarista, revelando disputas internas e desconfianças em torno da candidatura de Tarcísio de Freitas para 2026.”

    ___________

    Tarcísio como ‘pule de 10’ na corrida presidencial de 2026

    A partir do momento que a ‘pré-candidatura a presidente’ do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, for ‘oficialmente’ lançada, se dará início, na direita e no centro, à uma acirrada disputa pela vaga de vice em sua chapa.

    A vaga de vice de Tarcísio, no entanto, deverá ser ocupada pela ex-primeira-dama Michelle, com a decisão, também já dada como certa, do ex-mito apoiar o governador de SP para presidente.

    Os governadores Caiado, Zema, Eduardo Leite e Ratinho Junior, hoje pré-candidatos a presidente, fariam então o papel de coadjuvantes de Tarcísio no 1º turno, com a ainda remota possibilidade de Ratinho Jr ser o ‘azarão’ do pleito, correndo mais pelo centro.

    (Análise de contexto impessoal.)

    • Silencio ensurdecedor: Laranjão já teria dado o caso como perdido?

      Terça-feira, no Tribunal, o processo do ex-mito entra na sua fase mais aguda; e faz 45 dias que, paradoxalmente, Laranjão deixou de enviar mensagens para o seu suposto aliado.

  2. É preciso fazer com que a lei seja respeitada independentemente da posiçao social. Se nada acontecer ao ex-presidente, o descaso pela lei vai ser acentuado.
    A gente tem que tomar vergonha na cara, combater as ideologias nocivas (esquerda, direita) e ser patriota. É para o nosso bem.

  3. Jornalista fiel aos princípios assim como Torquemada fiel aos aos princípios do Tribunal do Santo Ofício, aquele que queimava infiéis em nome de Deus.
    Vou sugerir ao Paulo que leia a íntegra do auto de excomunhão do Baruch Spinoza para atestar seu ato de fé.

  4. Mesmo sofrendo as ameaças mais medonhas e intimidações homéricas nossa frágil democracia se vê amparada por um baluarte dos princípios democráticos Sir Alexandre, o Maior que o Grande.
    O Grande Satã do norte vai ser exorcizado pelos Varões de Plutarco redivivos na Corte Suprema, essa que atesta a infalibilidade tal qual aos dos deuses do Olimpo.

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