Crise política brasileira já começa a desmoralizar os principais atores

Brasil-Corrupção-2016-Charge-Crise-Charge de Alexandre de Oliveira em  07.09.2016

Charge do Oliveira (Arquivo Google)

William Waack
Estadão

Olhando para a PEC da Blindagem na Câmara pode-se argumentar se é a esculhambação na política que leva a uma perda de juízo generalizada, ou se é o contrário. O resultado permanece o mesmo.

É o agravamento de uma situação em si bastante perigosa, que vem se disseminando há bastante tempo e se solidificando em vastos estratos sociais, ignorando divisões ideológicas. É a ideia de que o “sistema” está quebrado.

TUDO ERRADO – Por “sistema” entende-se “tudo”, ou seja, partidos, Poderes, leis, instituições, normas, regulamentos. Esse conjunto é percebido como incapaz de responder às questões mais desafiadoras (como crescimento da economia, por exemplo) ou é visto como viciado para favorecer determinada corrente grupo política e perseguir outra.

A crise brasileira mais abrangente pode ser descrita como a incapacidade de enfrentar os principais problemas “estruturais” (os grandes responsáveis por desigualdade, miséria e injustiça), tais como a janela demográfica, a estagnação da produtividade e os péssimos resultados em educação.

A expressão mais imediata dessa grande crise é o clima de cada um por si.

EXEMPLOS FORTES – A reforma tributária (na qual quem podia garantiu o seu) e as renúncias fiscais (a exceção vira direito adquirido) são exemplos fortes desse arraigado estado de espírito.

No sentido ainda mais imediato a PEC da Blindagem (ou da bandidagem, como se quiser) é mais um retrato nítido de como o corporativismo de agentes públicos opera principalmente para conquistar ou defender o que é “seu”.

A erosão da legitimidade e a desmoralização dos Poderes tem sido, nesse sentido, uma obra coletiva de longa duração.

DESMORALIZAÇÃO – O sistema de governo colabora para desmoralizar a figura do chefe do Executivo (que nada faz sem o Legislativo).

O sistema proporcional de voto colabora para tornar principalmente a Câmara uma casa de baixíssima representatividade, fracionada e dissociada de interesses nacionais abrangentes (fora todo o resto).

Integrantes do STF tem dificuldades em reconhecer como a própria instituição está sendo desmoralizada na luta política da qual passou a fazer parte como ator. A realidade política que a Corte enfrenta é a do crescente descrédito junto a uma enorme parcela da sociedade que não pode ser designada como “adversários liberticidas bolsonaristas”.

REINA A ANSIEDADE – Os avanços incrementais que alguns operadores políticos detectam (como melhoria na legislação eleitoral, por exemplo) contrastam com um ambiente geral no qual prevalecem hoje imprevisibilidade, insegurança jurídica e a falta de lideranças abrangentes dentro ou fora da política.

Cabe tudo, porém, na palavra do momento: ansiedade.

5 thoughts on “Crise política brasileira já começa a desmoralizar os principais atores

  1. “A expressão mais imediata dessa grande crise é o clima de cada um por si.”

    Waack é um brilho, uma luz.

    E eu, que nada sou nem jamais fui, venho insistindo: tudo se resume no lema nacional “Farinha pouca, meu pirão primeiro “.

  2. Diante do quadro caótico de fim de feira, assustador, com o país coalhado de organizações criminosas, gangues, quadrilhas e máfias de todos os tipos, estirpes e tamanhos, que crescem a olhos vistos, em alguma medida detectas pela zelosa e briosa banda sadia da PF que não brinca em serviço e atua até a moda “urubu do bem, farejando e degustando limpar o país e o conjunto da sociedade da carniça criminosa ditatorial que, por seu turno, na contramão da evolução, busca cooptar e dominar tudo e todos, incrustadas em todos os segmentos sociais, com o voto vulnerável, cooptado pelo dinheiro, pelas armas e pela violência, com a república improvisada há 135 anos transpirando decadência terminal por todos os seus poros, a pergunta inescapável e que não quer calar há muito tempo é o que fazer pelo Brasil, doravante, de modo a torná-lo uma nação viável, mais evoluída, mais civilizada e melhor para todos a espera, tb há muito tempo, da Resposta à altura da problemática, e que, por ora, apenas a RPL-PNBC-DD-ME, há cerca de 35 anos na estrada, se dignou a respondê-la satisfatoriamente indo direto ao ponto, sem rodeios, sem passar pano para bandidos de estimação e sem medo de bater de frente contra o sistema apodrecido, via Internet, posto que censurada, cercada, boicotada, sabotada, cancelada e excluída da cena política e eleitoral pelos partidos e pela imprensa falada, escrita e televisionada dos me$mo$. https://www.tribunadainternet.com.br/2025/09/19/crise-politica-brasileira-ja-comeca-a-desmoralizar-os-principais-atores/#comments

  3. Moral é uma palavra que não combina com uma grande maioria dos nossos políticos e de muitos agentes públicos nesse País, basta dizer aquela reunião com Aécio Neves, Paulinho da força e o Temer, três envolvidos com corrupção.

  4. Fenômeno do “autoritarismo competitivo”

    Líderes que se alimentam do caos, fragilizam a democracia por dentro e sobrevivem da crise permanente

    Instrumentalizam agências governamentais, intimidam críticos, desafiam a Constituição e fragilizam a sociedade civil.

    Recorrem à demagogia, à desinformação e até à violência.

    Hoje as novas tecnologias digitais de comunicação foram apropriadas pela extrema-direita com mais competência técnica e retórica de fácil assimilação nas redes sociais. Eis a nova ameaça à democracia.

    Manipulam narrativas e corroem a confiança coletiva, e transformaram algoritmos, fake news e ressentimentos em método político.

    No Brasil, o ex-mito espelhou esse fenômeno, ao encenar narrativas conspiratórias, quando ele próprio conspirava, e recorrer à engenharia digital para multiplicar fake news.

    Nas eleições passadas, já houve deepfakes em disputas locais, manipulação de áudios e vídeos, difusão massiva de conteúdos falsos por IA.

    Se o bolsonarismo já explorou ao limite WhatsApp e Telegram para chegar ao poder em 2018, a próxima eleição pode assistir à multiplicação de clones virtuais de candidatos de extrema-direita capazes de dialogar com cada eleitor em tom personalizado, em todo o território nacional, para abordar problemas locais. Nem gravar os candidatos precisarão.

    A campanha eleitoral pode se tornar uma selva digital, na qual engenheiros, magos e predadores encontrarão na inteligência artificial um instrumento sem precedentes para dominar corações e mentes.

    Fonte: Correio Braziliense, Política, 14/09/2025 – 07:01 Por Luiz Carlos Azedo

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