Pedro do Coutto
Com a delação premiada do ex-PM Élcio de Queiroz, as investigações para finalmente esclarecer o assassinato, ocorrido em 2018, da vereadora Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes, aproxima-se da identificação dos mandantes e do verdadeiro motivo de terem pago a um grupo de assassinos profissionais pela tarefa de eliminar a parlamentar que se tornou um símbolo na resistência ao crime e do combate aos criminosos, que, pelas condições de suas moradias, possuíam recursos financeiros muitas vezes além do normal para profissionais da Segurança. Na verdade, eles transformaram-se em profissionais da insegurança e da morte.
Sobre o crime que ocorreu há cinco anos, reportagens de O Globo, Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo, edições de ontem, chamam atenção sobre a possibilidade de que o fato que poderia ter ocorrido não em 2018, mas em 2017. Portanto, aconteceu algo no início de 2017, ou um pouco antes, que enfureceu e ameaçou os criminosos e que poderia gerar implicações mais profundas até do que as contidas no universo trágico das milícias do Rio de Janeiro.
DENÚNCIA – Alguma vinculação estava para ser denunciada publicamente pela vereadora, verdadeiro motivo de seu assassinato. Não era apenas uma denúncia sobre as milícias. Essas já haviam sido devassadas pelo então deputado estadual Marcelo Freixo. Ele, inclusive, recebia proteção policial em tempo integral. Era, pelo que se pode deduzir, uma implicação ainda mais grave, capaz de colocar em risco os financiadores da empreitada macabra que se mobilizaram ao extremo para evitar que a voz de Marielle ecoasse algo até então profundamente mantido em segredo.
No O Globo, a reportagem é de Vera Araújo. Na Folha de S. Paulo, de Camila Zarur, Fábio Serapião, Ranier Bragon, Raquel Lopes e José Marques. No Estado de S. Paulo, de Pepita Ortega, Daniel Haidar, Levi Teles, Rayanderson Guerra e Rubens Anater. As matérias foram publicadas com grande destaque, manchetes principais das três publicações e também objeto de extensas reportagens na tarde e na noite de segunda-feira pela GloboNews e pela TV Globo.
A revelação dos mandantes, é claro, não será fácil. Inclusive porque na trilha dos assassinos, foi morto um dos participantes que funcionou como uma espécie de elo entre os maiores interessados no silêncio e os que perpetraram o crime hediondo.
PISTA – Tem que haver uma pista concreta que leve aos mandantes. O que teria ocorrido em 2017 que desencadeou o projeto do assassinato? Que comentário foi feito pela própria Marielle sobre o assunto que chegou ao seu conhecimento? Serão indícios capazes de aprofundar ainda mais a investigação por parte da Polícia Federal, já que no Estado do Rio de Janeiro as investigações não saíram do papel para os fatos.
Com a delação premiada, a opinião pública brasileira sentiu, como acentuou o ministro Flávio Dino, que o avanço reduziu a distância entre os financiadores e os carrascos da noite de 2018. Máscaras caíram, mas ainda não as dos verdadeiros interessados na morte da vereadora que ficou como símbolo da resistência ao crime na Cidade do Rio de Janeiro.
Pelo que as evidências indicam, surgem sombras sobre a vinculação entre grupos políticos e o crime organizado das milícias e outros grupos que ainda não vieram à tona. Pela impressão que se tem das afirmações de Flávio Dino é provável que a Polícia Federal já possua uma relação de suspeitos que não se encontram longe de suas identificações e revelações.