Fazer crítica é perigoso e deixa de ser exercício da liberdade de expressão 

LRF proíbe o aumento bilionário no Judiciário e recomenda veto de Temer | ASMETRO-SI

Charge do Mariano (Charge Online0

José Paulo Cavalcanti Filho
Jornal do Commercio

Fernando Pessoa disse, um dia, “Tenho saudades de mim” (em Há quase um ano não escrevo). Se assim for, creio que posso também dizer quero tirar férias de mim. Porque nosso Brasil anda complicado. E chato. Faltam esperanças, desalentos sobram. Faltam caminhos, porteiras sobram. Faltam horizontes, sobram tristezas. Falta luz, sobra sombra. O otimismo, que teima em sobreviver nas entranhas dos brasileiros, vai sendo impiedosamente soterrado.

A Constituição, que nos países maduros é uma Lei Maior, referência e obrigação para todos, aqui vai virando enfeite. Corruptos passeiam alegremente, pelas praias ou em shows musicais (como o de Madonna), fazendo selfies. Preparando-se para brincar o Carnaval, onde vão acabar (talvez) destaques em alguma escola de samba controlada por bicheiros.

CRITICAR É PERIGOSO – Criticar deixa de ser o exercício da Liberdade de Expressão e passa a ser algo (muito) arriscado. Perigoso. O Paraná Pesquisas aponta que 61% dos brasileiros temem punição por falar o que pensam. A favor do governo, sem problema; contra, cuidado.

Penas de quase 300 anos de cadeia são apagadas, multas milionárias perdoadas, confissões assinadas consideradas inexistentes e alguns ministros do Supremo agem como se tudo fosse muito natural. Com a consciência em paz. Trata-se de uma “defesa da Democracia”, assim justificam.

No Recife, um dos carros da vice-governadora, a querida Priscila Krause, foi vítima de assalto. Fotos mostram o vidro da frente furado por balas. O bandido, alvíssaras, acabou preso. Continua? Que nada, meus senhores, era só o que faltava! Um juiz plantonista já emitiu, para ele, o correspondente “Alvará de Soltura”.

Talvez por ser pardo e (aparentemente) pobre. Fosse pouco determinou (é inacreditável) que os policiais militares, responsáveis por essa prisão, fossem encaminhados à “Central de Inquérito do MP”. O receio é que possam acabar atrás das grades. Por terem tido a ousadia de prender um bandido. (Depois do artigo pronto voltou a ser preso, ainda bem ) .

LET DAS ESTATAIS – Em Brasília, terça, o Supremo declarou constitucional Lei que proíbe políticos de ocupar cargos públicos. Nem podia ser diferente, era o que faltava. Ocorre que, sem qualquer fundamento jurídico decente, manteve nos cargos todos os nomes escolhidos pelo governo para funções que deveriam ser ocupadas por pessoas qualificadas para isso. É dando que se recebe.

Talvez não por acaso a Petrobrás, que estava em mãos de um desses políticos amigos do Poder, que era presidente do PT no Rio Grande do Norte, teve queda de 38% nos lucros, comparados aos do ano passado. (Depois do artigo pronto foi demitido, ainda bem).

Políticos nas estatais eram protegidos, todos, por decisão monocrática do então ministro do Supremo Ricardo Lewandowski. Que, coincidência ou não, é hoje ministro da Justiça desse mesmo governo que nomeou seus protegidos. E todos a rir. De nós, provavelmente.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
José Paulo Cavalcanti Filho e escritor e advogado, membro da Academia Brasileira de Letras. É pena que escreva tão pouco. (C.N.)

Tribunal manda Israel suspender ataque a Rafah, mas Netanyahu nem responde…

Corte Internacional de Justiça

Tribunal diz que israel quer matar palestinos de fome e sede

Deu no Poder360

O Tribunal Penal Internacional (TPI), principal órgão judicial das Nações Unidas, determinou que Israel interrompa imediatamente suas operações militares na região de Rafah, localizada no sul da Faixa de Gaza. A decisão emitida nesta sexta-feira (dia 24) visa a proteção de civis e facilitar a ajuda humanitária. 

A medida foi tomada depois de um pedido urgente do governo da África do Sul, que acusou Israel de cometer genocídio. O governo israelense rejeitou a acusação e alega estar agindo em legítima defesa, segundo informações da Al Jazeera.

AJUDA HUMANITÁRIA – Além da suspensão das atividades militares, o Tribunal ordenou que Israel facilite a entrada de ajuda humanitária através da fronteira com o Egito, e assegure o acesso de observadores internacionais para monitorar a situação. Israel também deve reportar TPI, em um mês, as ações tomadas para cumprir com a ordem. Apesar da presumida obrigatoriedade de cumprimento da decisão, o tribunal não possui meios próprios para garantir sua implementação.

Em resposta, o ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, em seu perfil do X, demonstrou recusa do país em aceitar a decisão, criticando e argumentando que isso equivale a uma negação da existência de Israel.

“Aqueles que exigem que o Estado de Israel pare a guerra, exigem que este decrete que deixe de existir. Não vamos concordar com isso”. Smotrich ainda finalizou dizendo que “a história julgará quem hoje apoiou os nazistas do Hamas e do ISIS”.

REDUTO DO HAMAS – Israel justifica a operação, alegando que Rafah é um reduto do Hamas.

A cidade é um ponto crucial para a entrada de ajuda humanitária, abrigando aproximadamente 1,5 milhão de pessoas, mais da metade da população total da Faixa de Gaza.

O veredito da Corte coloca uma pressão diplomática adicional sobre o governo de Benjamin Netanyahu. Isso ocorre depois de o procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional, sediado em Haia, solicitar mandados de prisão contra Netanyahu e outros líderes israelenses e do Hamas, sob acusações de crimes de guerra e contra a humanidade.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Netanyahu simples ignora a existência do Tribunal Penal Internacional. Manda um dos ministros responder, e estamos conversados. Não está entrando ajuda humanitária, há mais de um milhão de refugiados na pequena cidade, que só tem 21 mil habitantes. Como o próprio tribunal assinalou, isso significa que Netanyahu quer matar os palestinos de fome e sede, algo inimaginável e aterrador. (C.N.)

Surpresa! Paraná Pesquisas traz Bolsonaro na frente, com 38,8%, e Lula tem 36%

Genial/Quaest: Lula sobe dois pontos e vai a 46%, Bolsonaro tem 33% a 4  dias do 1º turno

Ao que parece, Lula está conseguindo perder eleitores

Paulo Cappelli e Petrônio Viana
Metrópoles

Em cenário eleitoral, Bolsonaro teria 38,8% das intenções de voto contra 36% de Lula, caso o ex-presidente estivesse elegível. Foi o que apontou levantamento divulgado pelo instituto Paraná Pesquisas nesta sexta-feira (24/5). Lula venceria Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, e ficaria três pontos percentuais à frente da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, presidente do PL Mulher e apontada como possível opção do partido desde que a inelegibilidade do ex-presidente foi decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

De acordo com a pesquisa, no cenário estimulado contra Michelle, o presidente também teria 36% dos votos, e a ex-primeira-dama, 33%.

EMPATE TÉCNICO – Contudo, tanto contra Bolsonaro quanto contra Michelle, o resultado pode ser considerado um empate técnico, uma vez que a diferença entre os candidatos fica dentro da margem de erro da pesquisa, que é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

No cenário em que Lula enfrentaria Tarcísio de Freitas, o presidente apareceu com 36,9% das intenções de voto, contra 25,6% para o governador de São Paulo.

O levantamento apontou que Lula também seria vencedor se os adversários fossem os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema; do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; do Paraná, Ratinho Júnior; e de Goiás, Ronaldo Caiado. Ciro Gomes, que disputou as eleições de 2022, também seria derrotado pelo presidente.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O mais impressionante é a alta rejeição dos políticos. Bolsonaro apareceu com o maior número de eleitores que não votariam “de jeito nenhum” no ex-presidente, com 48,4%. Lula apareceu com 47,4%, seguido por Michelle, com 45,8%. Tarcísio apareceu em quarto lugar, com 34,8%, porque é o menos conhecido pelos eleitores. (C.N.)

Toffoli inventa a caneta que apaga crimes gravíssimos e inocenta notórios criminosos

JOSÉ PEDRIALI: Fora do comando do STF, Toffoli é peça fundamental para  futuro da Lava-Jato

Charge do Iotti (Charge Online)

Francisco Leali
Estadão

Na semana que vai chegando ao fim, o Supremo Tribunal Federal (STF) produziu decisões na mesma direção: atos que esvaziam ou invalidam condenações perpetradas pelo ex-juiz Sérgio Moro nos idos da Operação Lava Jato. Não foram os primeiros e, certamente, não serão os últimos.

Primeiro, a Corte anulou condenação do ex-deputado José Dirceu porque o crime já estaria prescrito. Depois, o ministro Dias Toffoli, apôs seu chamegão em despacho anulando todos os atos de Moro que tiveram como alvo Marcelo Odebrecht, ex-presidente do maior conglomerado da construção civil do País, embora o Grupo Odebrecht, agora como Novonor, tenha entrado para a história como um dos maiores pagadores de propina do esquema de corrupção na Petrobras.

DEFESA REPETIDA – A decisão de Toffoli guarda em si um script que vem sendo seguido por outros investigados pela turma do ex-procurador Deltan Dallagnol em Curitiba. É mais ou menos asssim:

1) A defesa do condenado, no caso Marcelo Odebrecht, entrega ao STF um calhamaço de documentos incluindo as gravações da chamada Vaza Jato, aquela em que hackers conseguiram invadir redes sociais do povo lavajatista, revelando que as conversas ali transbordavam a ética investigativa, para dizer o mínimo;

2) Como o STF já havia anulado processos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por encontrar nas conversas vazadas indícios de atuação parcial, o réu, no caso Marcelo Odebrecht, sustenta que o mesmo aconteceu com ele;

3) Toffoli concorda, citando as mesmas conversas vazadas de Deltan, Moro e cia.

LIBERANDO GERAL – O ex-executivo da Odebrecht não foi o primeiro a pedir a extensão dos benefícios da decisão original que atingiu Lula. E o despacho do ministro do STF indica que se houver gravações citando outros réus no mesmo contexto de desvio de conduta podem também ser beneficiados.

No mundo jurídico costuma-se usar a metáfora botânica de que uma árvore envenenada só pode produzir frutos também ruins. A lógica está servindo para a Lava Jato. O que saiu do gabinete do então juiz Sérgio Moro e estava no contexto de usar a investigação com fins políticos deve ir para lata do lixo, é o entendimento atual do STF.

No passado, a mesma corte preferiu não atropelar os lavajatistas que estavam na crista da onda, até mesmo quando Moro fez divulgar gravação de conversa de Dilma Rousseff, então presidente da República, com Lula, candidato a ministro de seu governo para não ser preso pelo juiz paranaense. No episódio, Moro levou uma reprimenda, mas a maioria da corte não esboçou querer punir o magistrado de primeira instância.

TUDO IGUAL? – Neste 2024, o juiz que um dia já foi capa de revista e comparado a super-herói é rebaixado à mesma condição dos pagadores de propina. “Em outras palavras, o que poderia e deveria ter sido feito na forma da lei para combater a corrupção foi realizado de maneira clandestina e ilegal, equiparando-se órgão acusador aos réus na vala comum de condutas tipificadas como crime”, escreveu Toffoli, na decisão.

Nas 117 páginas de seu despacho, o ministro do STF quase não trata do que de fato veio a público na investigação: corrupção sistemática na estatal petrolífera com participação, conivência e benefício de vários partidos políticos. Chega-se então à conclusão de que essa parcela revelada pela Lava Jato, mais do que provas contaminadas pela conduta dos investigadores, são fruto proibido. Melhor esquecer.

Sem piedade, planos de saúde abandonam usuários que sofrem de doenças crônicas

Mulher branca maquiada de cabelos castanhos escuros ao lado de um menino branco de cabelos castanhos em uma piscina de bolinhas verdes

O menino Bruno foi descartado pelo plano, porque é autista

Hélio Schwartsman
Folha

Planos de saúde estão cancelando de forma unilateral os contratos de usuários “caros”, isto é, de pessoas com condições crônicas e custosas, como o autismo, ou em meio a tratamentos particularmente dispendiosos, como os oncológicos. Alegam que estão zelando pela viabilidade financeira de sua carteira de clientes.

Em tese, a lei lhes faculta rescindir apólices das modalidades empresarial ou por adesão que não tenham interesse em manter. Mas fazê-lo é dar um tiro no pé.

POUPANÇA E SEGURO – Planos de saúde são uma combinação de poupança (usada nas despesas médicas ordinárias, como consultas e exames periódicos) com seguro (usado em eventos catastróficos como acidentes ou a descoberta das tais moléstias “caras”).

É a parte seguro que faz com que as pessoas contratem as operadoras. Se fosse só para guardar dinheiro para consultas e check-ups, poderiam recorrer à velha caderneta de poupança. E não é preciso ser um gênio dos negócios para perceber que, se as seguradoras param de honrar seus compromissos, é questão de tempo para que as pessoas parem de contratar seguros.

Regulações no Brasil tendem a ser malfeitas, mas, no caso dos planos de saúde, capricharam. Deixaram o consumidor ao relento no que há de mais importante, que é assegurar que ele não tenha seus tratamentos interrompidos, e o encheram de mimos de duvidosa eficácia médica.

CUSTO-BENEFÍCIO – Os reguladores vêm há anos ampliando as coberturas sem uma boa análise de custo-benefício.

Um exemplo: como não há mais limites para consultas com psicólogos, um usuário pode passar 20 anos vendo um psicanalista cinco vezes por semana e repassar toda a conta para o plano. Difícil crer que não existam terapias mais breves igualmente eficientes.

Os planos não são santos, mas têm razão quando se queixam das fraudes, que foram profissionalizadas e se tornaram endêmicas, e da generosidade dos reguladores, que impossibilita um gerenciamento racional do sistema.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGA Secretaria Nacional do Consumidor, vinculada ao Ministério da Justiça, notificou 20 operadoras de planos de saúde sobre cancelamentos unilaterais de contratos. As empresas têm 10 dias para enviar esclarecimentos sobre os casos. A regulamentação é cheia de furos. Há um número enorme de hipocondríacos que vivem consultando médicos e fazendo exames sem a menor necessidade, é um nunca-acabar. O ideal era ter uma eficaz medicina pública, como existe na Inglaterra. mas isso é sonhar alto demais.  (C.N.)

As elites já desistiram da igualdade cívica e desprezam o homem comum

Tesla (TSLA) Shareholder Group Slams Elon Musk's $56 Billion Pay Package -  Bloomberg

Musk quer salvar a humanidade, mas nao liga para o povão

João Pereira Coutinho
Folha

Para que servem os ricos, afinal? A pergunta é de Benjamin Wallace-Wells na revista New Yorker. Um cínico, como eu, poderia responder: servem para bancar revistas onde você escreve por um cheque chorudo, Benjamin. Não vou ser cínico. Caso contrário, gastaria meu latim denunciando toda a intelligentsia anticapitalista que gosta de pregar seus sermões em púlpitos —TVs, jornais, revistas, institutos, universidades etc.— financiados por capitalistas.

Até porque Benjamin Wallace-Wells tem certa razão. Os ricos podem bancar revistas. Com relutância, podem até pagar impostos. Mas desistiram de um ideal de “igualdade cívica” que era estrutural na democracia americana e não só.

EIS A IRONIA – Wallace-Wells, talvez sem o saber, está bem próximo de um autor conservador como Christopher Lasch (1932–1994), de quem vou lendo “A Revolta das Elites e a Traição da Democracia”. O livro, publicado pela Ediouro em 1995, acaba de ser republicado pela Almedina, com tradução e posfácio (excelentes) de Martim Vasques da Cunha.

Impressionante: a obra é de 1994. Mas Lasch, que morreu no mesmo ano, consegue acertar em alvos que só 30 anos depois nos parecem óbvios.

E o mais óbvio é a “revolta das elites” do título: em meados do século 20, as elites cortaram o contato com o resto do povão. Sempre foi assim? Não nos Estados Unidos, defende Lasch: as diferenças econômicas não cancelavam uma igualdade cívica que impressionava qualquer visitante europeu, ainda marcado pelo “rapport” aristocrático que sobreviveu à Revolução Francesa.

CUMPRIMENTOS – É uma grande verdade. Alexis de Tocqueville (1805–1859), que viajou pelo país no século 19, deixou páginas notáveis sobre a forma como os americanos (brancos, obviamente; a escravidão é a mancha nessa paisagem) se cumprimentavam nas ruas, apertando as mãos, mesmo que um deles fosse um magnata e o outro um modesto artífice.

Tudo mudou a partir de 1960, quando começou a grande separação entre as elites (econômicas, culturais etc.) e as massas. Tocqueville, hoje, não notaria diferenças entre a hierarquia social europeia do século 19 e a americana do século 21.

Isso é especialmente visível na educação e na cultura. Ao contrário do que pensam os conservadores mais básicos, as elites progressistas não procuraram “doutrinar” o povo com suas teorias (aquela conversa sobre o “marxismo cultural”, que faz a delícia dos ingênuos).

SEM CONTATO – Pelo contrário: a ideia era não ter contato com o povo, criando um mundo paralelo onde a realidade não existe. A doutrinação é um fenômeno de elites para elites – um mecanismo de reprodução. O “cesto dos deploráveis” (lembra?) não merece qualquer conversa ou atenção.

Esse mundo paralelo não é apenas uma criação intelectual. É um fato da própria existência cotidiana das elites pós-década de 60: por que motivo elas se importam com educação pública, saúde pública e segurança pública?

Sim, elas podem falar nessas maravilhas. Mas, na hora da verdade, têm educação privada, saúde privada e segurança privada. É por isso que a ignorância, a doença ou a violência, que afligem os mais humildes, são apenas conceitos vagos para as elites contemporâneas, sejam elas de esquerda, sejam de direita.

RESULTADO? – “As classes privilegiadas em Los Angeles sentem maior afinidade com seus iguais no Japão, Singapura e Coreia do que com a maioria dos seus compatriotas”, escreve Lasch.

O problema dessa alienação é que a democracia, ao contrário de outras formas de governo, não funciona assim. Para começar, e como lembrava Abraham Lincoln, democracia significa não sermos escravos e não sermos senhores de escravos. Iguais, em suma.

Para acabar, a democracia pressupõe que os mais afortunados se sintam responsáveis pelos menos afortunados. Como? Desde logo, reconhecendo-os como iguais, habitando o mesmo espaço, partilhando o mesmo destino.

EXEMPLO DE MUSK – Como escreve Benjamin Wallace-Wells, ecoando Christopher Lasch, não é por acaso que os ricos mais famosos de hoje – Elon Musk, por exemplo – estão mais interessados em salvar a humanidade do que em salvar o homem comum.

Vem nos livros. “Quanto mais amo a humanidade em geral, menos amo o homem em particular…“, dizia Dostoiévski, que, como sempre, sabia do que falava.

Em ano eleitoral, Joe Biden se vê obrigado a “apoiar” a fúria genocida de Netanyahu

Biden e Netanyahu

Biden quer parar a guerra, mas netanyahu nem liga para ele

Janio de Freitas
Poder360

A ideia consagrada de que o presidente dos Estados Unidos é a pessoa mais poderosa do mundo, com o maior dispositivo militar da história, está entre os destroços de Gaza. De outra parte, o Tribunal Penal Internacional provoca, sem buscar, a subversão na engrenagem de domínio do mundo.

Ainda pouco percebida, a situação caótica tem originalidades quase divertidas, mas também algum risco de desenvolvimentos sem precedentes. Dentre eles, por exemplo, a hipótese de um presidente norte-americano ver-se sob denúncias formais ao TPI.

Aliados que se opõem, é como se pode definir o Estado atual do grupo de países seguidores dos Estados Unidos nas questões básicas de política internacional. O pedido de prisão de Benjamin Netanyahu e do general Yoav Gallant, pela matança que conduzem contra a população de Gaza, foi repelido pelos Estados Unidos com ataques duríssimos de Joe Biden ao TPI.

 Alemanha, França e Bélgica, embora sem exigência de pronunciar-se, puxaram imediato apoio ao Tribunal, declarando-se países submissos às suas decisões. A discordância vai muito além do ocasional.

Candidato à reeleição, Biden precisa atacar o o Tribunal e a decisão que lhe traz maior desgaste eleitoral. Ser o mais decisivo sustentáculo do réu de crimes gravíssimos em Gaza é um ônus, político e público, de superação improvável.

Aliados dos Estados Unidos contra a Rússia de Putin por meio da Ucrânia, na devastação de Gaza os europeus limitaram-se ao apoio pelo silêncio sobre os crimes israelenses.

Não te atacar o TPI. Necessitam do oposto: também Putin, que é seu medo e seu pretexto, está sob pedido de prisão pelo TPI. Atacar o pedido sobre Netanyahu é atacar todos os anteriores. E, de quebra, deslegitimar o Tribunal é a melhor homenagem que Putin pode receber – além do mais, vinda dos inimigos.

Netanyahu isola Israel, Biden isola os Estados Unidos. Igualados na ambição de permanência no poder. Contrários no que um recebe do outro. Foi clara, por exemplo, a crença do governo norte-americano na eficácia e pouca duração da represália de Israel à incursão criminosa do Hamas no 7 de outubro.

A ferocidade e a continuidade do ataque exigiram de Biden uma atitude para neutralizar a má repercussão. À vista dos milhares de mortos que se sobrepunham, Biden fez pedidos de moderação. Apenas. Netanyahu respondeu sempre, em público e aos emissários, que nada se alteraria. Não recebeu contravapor. Nem deixou de receber mais armas e bombas.

aviso de invasão da cidade de Rafah, com 2 e tantos milhões de pessoas, assustou Biden. Sua reiterada advertência de morticínio foi respondida com mínimas variações de “Israel não vai mudar nada”. Já em última instância, Biden passou a dizer que “os Estados Unidos podem suspender a ajuda” bélica. Netanyahu, várias vezes:

“Ninguém no mundo muda o plano de Israel”. E mandou a população abandonar a cidade. Netanyahu iniciou o ataque e a invasão de Rafah. Fechou a entrada de cargas. A ONU, há 3 dias, suspendeu a distribuição de alimentos: o ataque não preserva o seu pessoal. Nem os alimentos e os medicamentos desembarcados no cais improvisado por norte-americanos vão além da praia.

A fome e a sede atacam também, e fazem seus mortos, sobretudo crianças. A repulsa a Netanyahu aumenta no próprio Israel. Não na Casa Branca. Se o presidente dos Estados Unidos o confrontar, assim reconhecerá o erro de apoiá-lo sem reserva. O que pode levar algum país – como fez a surpreendente África do Sul contra o primeiro-ministro israelense – a acusar Biden, no Tribunal Penal Internacional. de municiar Netanyahu nas ações consideradas crimes contra a humanidade.

Sem política econômica, Lula usa números imaginários para fingir que está governando

Lula usa números imaginários para driblar problemas que são reais e urgentes para o Brasil

Lula ”inventa” os números e sai chutando noa discursos

J.R. Guzzo
Estadão

A política econômica do governo Lula começa e acaba num fundamento essencial: não há nenhuma política econômica, nunca, em nenhum governo Lula. O que há, do primeiro ao último dia do mandato, é uma novena sem data para acabar, na qual o presidente promete entregar o “crescimento” em troca de “investimentos” públicos.

“Gasto é vida”, diz ele – e com isso dá por resolvida a imensa chateação de executar um programa real para a economia. A ideia-chave, claro, é ficar só na primeira parte da proposição: há o gasto, mas não há a vida. O dinheiro dos impostos sai correndo do Erário, sempre.

SEM CRESCIMENTO – O progresso, o bem-estar e a “justiça social” que as despesas do governo deveriam trazer ficam mortos. Em 40 anos de despesa, déficit e dívida, o país não teve crescimento econômico, não eliminou a pobreza e não fez outra coisa que não fosse concentração de renda direto na veia. Enquanto isso, Lula continua pregando que a despesa, o déficit e a dívida são exatamente o que o Brasil precisa para se desenvolver.

Lula não ficou esse tempo todo no governo, mas durante o tempo em que ficou foi isso: soca imposto, gasta tudo, faz dívida e diz a cada meia hora que tem de ser assim porque é “o Estado” quem vai fazer o Brasil crescer. Não lhe ocorre que isso, comprovadamente, não tem dado certo – ou, se ocorre, não cogita em sair do erro.

Seu time está se dando muito bem desse jeito, e em time que está se dando bem não se mexe. Parece óbvio, para Lula e o seu sistema, que não há nenhuma necessidade de fazer qualquer esforço para acertar. Basta se “comunicar” – e rechear a comunicação com números que não têm nenhuma conexão com as noções de quantidade, espaço, volume e outros elementos da realidade.

QUALQUER NÚMERO – Diante de um problema, qualquer problema, jogue um número em cima dele, qualquer número. Pronto: não há mais o problema.

A matemática tem números imperfeitos. Tem números deficientes. Tem, até mesmo, números irracionais. Mas não tem nada que se compare aos números de Lula. Seu último feito na velha prática de citar cifras imaginárias para fazer de conta que está dando resposta a problemas reais foi o surto que deve numa reunião com prefeitos.

 O serviço de propaganda do governo anunciou, e aparentemente foi levado a sério, um “pacote” de R$ 900 bilhões para as prefeituras. E de onde é que o governo tirou esses 900 bilhões? Não existem 900 bilhões. Vai se ver de perto e entram ali “desoneração” da folha, adiamento de dívidas, acertos com a Previdência – entram até os frutos de um futuro “crescimento da economia”. Mas o que Lula vai dizer é isso: “Dei R$ 900 bilhões para os prefeitos”. É mais um avanço do “programa econômico”.

Castro escapa por um voto de cassação por cargos secretos

Por um voto, TRE-RJ não cassou a chapa do governador

Pedro do Coutto

Há algo de estranho em todo o estado do Rio de Janeiro, sobretudo no que se refere aos seus governantes estaduais que se sucedem no tempo. Nesta quinta-feira, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro rejeitou pedido de cassação e manteve os mandatos do governador do Rio, do vice-governador, Thiago Pampolha, e do presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar.

Por 4 a 3, a maioria dos magistrados da Corte não acompanhou o relator, o desembargador Peterson Barroso Simão, e votou pela absolvição do governador e dos demais acusados. Castro foi acusado pelo Ministério Público Eleitoral de abuso de poder político e econômico pelo uso de estruturas do Centro Estadual de Pesquisa e Estatística do Rio (Ceperj) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) para pagar cabos eleitorais na eleição de 2022. O caso agora pode ser levado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por meio de um recurso.

DENÚNCIA – Na semana passada, apenas o relator do processo, o desembargador Peterson Barroso Simão, apresentou o voto, que foi favorável à denúncia. Na sequência, o desembargador Marcello Granado pediu vista, ao considerar que era necessário mais tempo para analisar o processo.

Foi dele o primeiro voto da sessão desta semana, contrário às denúncias e a favor da absolvição dos réus.O desembargador defendeu que, apesar de não poder negar a existência de irregularidades, não há provas claras de que elas tenham impactado o resultado das eleições. Portanto, não caberia à justiça eleitoral julgar tais fatos.

Cláudio Castro escapou por um voto de ter o mandato cassado pelo TRE-RJ. Portanto, a posição política do governador não é das melhores. Incrível a série de governantes do estado que foram objetos de medidas judiciais, incluindo a prisão. Só mesmo uma onda de atraso pode explicar a maré ruim que envolve o Rio de Janeiro. A matéria de atividades e pressões eleitorais que garantiram a reeleição de Cláudio Castro é contestada em sua base e origem. Mas, enfim, Castro respira o ar do Palácio das Laranjeiras por mais tempo.

SUPER-RICOS –   O ministro Fernando Haddad afirmou nesta quinta-feira que a proposta do Brasil de taxar os super-ricos “ganhou peso em pouco tempo” no G20, o grupo que inclui as principais economias do mundo, a União Europeia e a União Africana. A ideia de taxar bilionários é uma defesa do presidente Lula da Silva como um meio de financiar o combate à fome global.

Durante um simpósio de tributação internacional do G20, realizado em Brasília, Haddad citou o histórico de desigualdade social no Brasil e que esse avanço na proposta de tributar os super-ricos seria um exemplo das mudanças necessárias. De acordo com ele, a proposta foi rapidamente endossada por alguns países, incluindo a França. “Fico tocado como essa proposta ganhou peso em muito pouco tempo. Temos países do G7 e da Europa se manifestando a favor. Há consciência de que algo precisa ser feito”, disse o ministro.

Trata-se de uma iniciativa difícil de ser executada, tanto na forma quanto no conteúdo. Aí vai a pergunta: quais são os limites de grandes e pequenas fortunas? Teria que haver uma reforma das leis que regem o patrimônio dos super ricos e das super empresas que atuam no mercado brasileiro.

Dante Milano pedia que Lígia perdoasse os outros poetas que não sabiam amá-la

FCO-1159 - Retrato de Dante Milano | Obras | Portinari

Milano, retratado pelo amigo Portinari

Paulo Peres
Poemas & Canções 

O poeta Dante Milano (1899-1991), nascido em Petrópolis (RJ), no poema “Elegia a Lígia”, lança uma mensagem de amor a uma mulher que lhe “arrasta o absorto espírito” e pede que ela perdoe os outros poetas que não sabem amá-la.

ELEGIA A LÍGIA
Dante Milano

Lígia, teu nome de elegia
Te dá ao corpo moço um ar antigo
E cria em meu ouvido lento ritmo
Que me arrasta o absorto espírito
Para o verso e sua inútil tortura.

Torso de ânfora esguia!
Só o que amou deveras um quadro,
um vaso, um objeto precioso,
Pode sentir o relevo suave do teu ventre,
Corpo de mulher,
Forma antiga e novíssima.

Perdoa aos poetas que te desnudam,
te divinizam, te prostituem.
Em meus versos inteira te possuo.
Que importa a fêmea que se nega?
Transformada em poema,
Amo-te ainda mais!
Ajoelho agarrado a teus joelhos,
Não com palavras de fé
Mas impudente e irreverente
Profanando mas adorando
A tua imagem desfigurada.

Condenado a mais de 300 anos, Cabral volta à política e pretende ser deputado 

Sérgio Cabral saindo 7ª Vara Criminal Federal, no centro do Rio

Cabral alega ter hérnia e pede para tirar a tornozeleira

Rayanderson Guerra
Estadão

Dez anos após o início da Lava Jato, a força-tarefa – que chegou a ser considerada o maior cerco à políticos suspeitos de desvios de recursos públicos da história – acumula derrotas nos tribunais superiores do País. Políticos e empresários tiveram condenações anuladas e, aos poucos, já traçam estratégias para retornar à vida pública.

É o caso do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB), do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PRD-SP) e do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB), atualmente deputado federal.

Mesmo quem cumprem pena ou está oficialmente inelegível se mantém no jogo político articulando candidaturas de aliados, como Cabral e Cunha.

LAVA JATO – Símbolo do combate à corrupção de políticos e empresários bilionários, a Lava Jato e as investigações abertas no decorrer das fases da operação viabilizaram 120 delações, mais de 500 denunciados, 174 condenados e a devolução de R$ 4,3 bilhões aos cofres públicos.

Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, aguarda em liberdade, com o uso de tornozeleira eletrônica, o desfecho de uma série de recursos em processos em que é acusado, entre outros crimes, de corrupção e lavagem de dinheiro.

Em março deste ano, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) anulou três condenações da Lava Jato contra o ex-chefe do Executivo fluminense. As sentenças somavam cerca de 40 anos de prisão.

MAIS ANULAÇÕES – No início deste mês, o juiz Eduardo Fernando Appio, titular da 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, anulou todas as decisões tomadas por Sérgio Moro contra Cabral, quando ele ainda era juiz da Operação Lava Jato.

A anulação em série atinge a condenação do ex-governador na ação em que ele foi acusado de receber propinas nas obras do Complexo Petroquímico do Rio. Moro havia sentenciando Cabral a 14 anos e dois meses de prisão em 2017. A pena foi mantida pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4).

Enquanto aguarda em liberdade, Cabral tem atuado nos bastidores da política fluminense. Com anos de experiência no Legislativo e no Executivo – foi deputado estadual por dois mandatos, governador por sete anos e senador por quatro anos – ele, agora, trabalha como consultor político. Um dos clientes é o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), que foi alvo de um pedido de cassação no Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ).

CANDIDATURA – Nos bastidores, Cabral busca se cacifar politicamente e aguarda as decisões em aberto na Justiça para retornar à vida pública. Em entrevista ao jornalista Eduardo Tchao, em novembro do ano passado, Cabral disse que planeja se lançar como candidato a deputado federal em 2026. “Isso caso eu possa e a Justiça me permita.”

“É um cargo que nunca exerci e que eu gostaria de ver a pluralidade brasileira, conhecer mais o Brasil profundamente. Com mais de 500 deputados federais, você vai entender mais o Brasil e defender o Rio de Janeiro”, afirmou.

As condenações de Sérgio Cabral somam mais de a 300 anos de prisão. Nenhuma sentença é definitiva, ou seja, ainda há possibilidade de recursos. O ex-governador passou seis anos preso preventivamente e foi o último político a ser liberado na Lava Jato.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Como o macaco do programa humorístico “Planeta dos Homens’’, a gente só queria entender. Como é que um político corrupto como Sérgio Cabral,  que se confessa “viciado em desviar dinheiro público’’, pode ‘’trabalhar’’ como ‘‘consultor político’’, sem estar no gozo de seus direitos políticos? Pode isso, Arnaldo? O macaco está certo e eu só queria entender…

Quanto à cadeira de rodas, Cabral diz que está com hérnia de disco e pede para retirar a tornozeleira eletrõnica, para fazer ressonãncia magnética, mas tudo com ele é armação e mentira, ninguém pode confiar num homem dessa espécie, sem caráter, sem eira nem beira, como se dizia antigamente.  (C.N.)

Haddad, o melhor quadro do PT, está se tornando a maior vítima da polarização

A Terra é redonda o tempo todo', rebate Haddad, chamado de 'negacionista' por deputado do PL | Brasil | O Dia

Chamado de negacionista, Haddad perdeu a paciência

Roberto Nascimento

Fernando Haddad é um petista especial, de grande cultura, que se tornou professor de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), instituição pela qual se graduou bacharel em Direito, mestre em Economia e doutor em Filosofia. Acumulou também muita experiência na prática administrativa, como ministro da educação e prefeito de São Paulo.

Haddad sempre foi um cavalheiro, um homem fino, enfim. Mas de vez em quando ele se irrita com o fogo amigo do PT e com a pressão do Congresso contra determinados ajustes fiscais que ele considera necessários.

ESTILO DINO – Para agir no estilo de Flávio Dino, certamente Haddad está muito pressionado. É tiro, porrada e bomba de todo lado, da oposição e até do PT, sem falar nas declarações de Lula sobre economia.

O fato é que, por causa da sua ampla cultura e do destaque que tem como segundo nome mais importante do PT, Haddad tornou-se alvo dos demais aspirantes a suceder Lula, que terminará o mandato com 81 anos, já bastante desgastado.

A ordem é partir com tudo contra Haddad. Não sei até quando ele vai suportar. Envelheceu bastante. Aliás, o poder envelhece qualquer um, mais rapidamente do que a ordem natural. No entanto, há os que creem que os cínicos, quando chegam ao poder, não envelhecem, porque são frios, sem nenhuma culpa, pelo mal que produzem. Pode ser, pode ser…

IMPORTADOS ISENTOS – No ano passado, o ministro da Fazenda propôs o pagamento de impostos por produtos importados até 50 dólares, a maioria made in China. Foi uma gritaria danada no Congresso e nos grupos extremados da rede bolsonarista, aqueles amantes de golpes de estado, à moda e semelhança da ditadura de 1964.

Pois bem, agora o barco virou completamente. O setor de varejo e a indústria pressionaram Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, para taxarem os produtos chineses, que estão levando a falência os produtores nacionais. O Congresso agiu rapidamente. Está em vias de ser votado um projeto de Lei taxando os produtos importados de baixo custo.

Quem está contra hoje? Ora, os bolsonaristas, os petistas e o próprio Lula. Uma metamorfose de fazer corar qualquer frade de pedra. E o presidente diz que vai vetar, se o Congresso aprovar a taxação.

EM SILÊNCIO – Haddad está em silêncio sobre o tema e nenhum deputado do PL, na sabatina de quarta-feira na Câmara, em que tentaram emparedar o ministro, chamando-o de negacionista, nenhum deles deu uma só palavra sobre o tema.

O Brasil está de cabeça para baixo. É necessário e importante taxar essas importações e fortalecer a indústria nacional, tese defendida por Lula e pelo PT.

Para que tanta polarização, se o PT e p PL, nesse caso, estão de mãos dadas? Vale a pena todo esse estresse e todo esse ódio, quando nos bastidores as duas maiores forças políticas acabam se entendendo? E o pior é que esses interesses comuns entre lulistas e bolsonaristas nada têm a ver com os interesses nacionais. E tudo está ficando muito estranho.

Água do oceano avança por baixo da “geleira do Juízo Final” na Antártida

Plataforma de gelo Thwaites

A Geleira do Juízo Final é do mesmo tamanho da Flórida

Laura Paddison
Da CNN

A água do oceano está avançando quilômetros embaixo da “geleira do Juízo Final” da Antártida, tornando-a mais vulnerável ao degelo do que se pensava anteriormente, de acordo com uma nova pesquisa que utilizou dados de radar do espaço para realizar um raio-X da geleira gigante.

À medida que a água salgada e relativamente quente do oceano encontra o gelo, está causando um “derretimento vigoroso” por baixo do glaciar e pode significar que as projeções globais de aumento do nível do mar estão sendo subestimadas, de acordo com o estudo publicado nesta segunda-feira (20) no Proceedings of the National Academy of Sciences.

IMENSA GELEIRA – O glaciar Thwaites, na Antártida ocidental – apelidado de “geleira do Juízo Final” porque o seu colapso pode causar um aumento catastrófico do nível do mar – é o glaciar mais largo do mundo e tem aproximadamente o tamanho da Flórida. É também o glaciar mais vulnerável e instável da Antártida, em grande parte porque a terra onde se situa se inclina para baixo, permitindo que as águas oceânicas corroam o seu gelo.

O glaciar, que já contribui com 4% do aumento global do nível do mar, contém gelo suficiente para elevar o nível do mar em mais de 60 centímetros. Mas como ele também funciona como uma barragem natural para o gelo circundante na Antártida ocidental, os cientistas estimam que o seu colapso total poderá levar a um aumento do nível do mar de cerca de 3 metros – uma catástrofe para as comunidades costeiras do mundo.

Muitos estudos apontaram para as imensas vulnerabilidades do glaciar Thwaites. O aquecimento global, impulsionado pela queima de combustíveis fósseis pelos seres humanos, deixou-o pendurado “pelas unhas”, de acordo com um estudo de 2022.

RAIO-X DA GELEIRA – Uma equipe de glaciologistas – liderada por cientistas da Universidade da Califórnia – usou dados de radar de satélite de alta resolução, coletados entre março e junho do ano passado, para criar um raio-X da geleira.

Isso permitiu aos cientistas construir uma imagem das mudanças na “linha de aterramento” do Thwaites, o ponto em que o glaciar sobe do fundo do mar e se torna uma plataforma de gelo flutuante. As linhas de aterramento são vitais para a estabilidade dos mantos de gelo e um ponto-chave de vulnerabilidade para o Thwaites, mas têm sido difíceis de estudar.

“No passado, tínhamos apenas dados esporádicos para analisar isso”, disse Eric Rignot, professor de ciência do sistema terrestre na Universidade da Califórnia e coautor do estudo. “Nesse novo conjunto de dados, diário e ao longo de vários meses, temos observações sólidas do que está acontecendo”.

NO RITMO DA MARÉ – Eles observaram a água do mar correndo sob a geleira ao longo de muitos quilômetros e depois saindo novamente, seguindo o ritmo diário das marés. Quando a água entra, é o suficiente para “elevar” a superfície da geleira em centímetros, disse Rignot à CNN.

Ele sugeriu que o termo “zona de aterramento” pode ser mais adequado do que linha de aterramento, já que pode se mover quase 6,4 quilômetros em um ciclo de maré de 12 horas, de acordo com a pesquisa.

A velocidade da água do mar, que percorre distâncias consideráveis em um curto período de tempo, aumenta o derretimento das geleiras porque, assim que o gelo derrete, a água doce é eliminada e substituída por água do mar mais quente, disse Rignot.

PESQUISA FASCINANTE – Ted Scambos, glaciologista da Universidade do Colorado em Boulder, que não esteve envolvido no estudo, chamou a pesquisa de “fascinante e importante”.

“Essa descoberta fornece um processo que, ainda, não foi levado em consideração nos modelos”, disse ele à CNN. E embora esses resultados se apliquem apenas a certas áreas do glaciar, disse ele, “isso poderia acelerar o ritmo da perda de gelo nas nossas previsões”.

Uma incerteza a ser desvendada é se o fluxo da água do mar sob o Thwaites é um fenômeno novo ou se é significativo, mas desconhecido há muito tempo, disse James Smith, geólogo marinho do British Antarctic Survey, que não esteve envolvido no estudo.

MUITAS INCÓGNITAS –  Ainda há muitas incógnitas sobre o que as descobertas do estudo significam para o futuro do Thwaites, disse Gourmelen, que não esteve envolvido na pesquisa. Também não está claro até que ponto esse processo é generalizado em toda a Antártida, disse ele à CNN, “embora seja altamente provável que isso também esteja acontecendo em outros lugares”.

O derretimento do gelo marinho não afeta diretamente o aumento do nível do mar porque já está flutuando, mas faz com que as camadas de gelo costeiras e as geleiras fiquem expostas às ondas e às águas quentes do oceano, tornando-as muito mais vulneráveis ao derretimento e à ruptura.

Os pesquisadores também utilizaram modelos climáticos para prever a velocidade potencial de recuperação de uma perda tão extrema de gelo marinho e descobriram que, mesmo depois de duas décadas, nem todo o gelo retornará.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Há cada vez mais evidências de que as mudanças climáticas precisam ser evitadas, e o derretimento das geleiras deve ser considerado o problema número um da ciência. Pode até ser um processo cíclico normal, mas está ficando muito esquisito
(C.N.).

Lula já tem déficit quase igual ao ano da covid, mesmo sem haver pandemia

Governo Lula bateu recorde de gastos

Charge do Cícero (Correio Braziliense)

Hamilton Ferrari
Poder360

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem déficit nominal quase igual ao registrado na situação mais crítica da pandemia de covid-19. O impacto econômico provocado pelas enchentes no Rio Grande do Sul deve piorar a trajetória dos gastos públicos. Os programas sociais e a suspensão no pagamento da dívida do Estado vão aumentar a dívida bruta do governo, que em março foi de 75,7% do PIB (Produto Interno Bruto).

O resultado nominal considera o saldo das receitas e despesas da União e inclui o pagamento dos juros da dívida bruta. O Congresso aprovou uma medida apresentada pelo governo para excluir os gastos com o Rio Grande do Sul do cálculo das principais regras fiscais, por exemplo do marco fiscal sancionado em agosto de 2023. Portanto, as despesas com o RS não serão contabilizadas na meta de resultado primário, que exclui o pagamento dos juros da dívida.

MAIS DÍVIDA – O Brasil gastou R$ 745,7 bilhões com os juros da dívida no acumulado de 12 meses até março. Os dados de deficit são do setor público consolidado – formado por União, Estados, municípios e estatais. A expansão de gastos fora das regras fiscais vai aumentar a dívida pública.

No Boletim Focus, do Banco Central, os analistas do mercado financeiro aumentaram a projeção de 79,75% (estimativa da semana anterior) para 80% do PIB. Com a sinalização do Copom (Comitê de Política Monetária) em cortar a Selic em 0,25 ponto percentual, será mais caro custear o déficit da dívida.

A mediana das estimativas também piorou para os anos seguintes: 2025: de 76% para 76,15% do PIB; 2026: de 77,5% para 78% do PIB; 2027: de 75% para 76% do PIB.

EM 12 MESES – Dados do Banco Central mostram que o déficit nominal do Brasil foi de R$ 998,6 bilhões no acumulado de 12 meses até março. O patamar de resultado nominal mais baixo foi em janeiro de 2021, quando atingiu R$ 1,016 trilhão.

A despesa com o pagamento de juros da dívida explica, em parte, o motivo do rombo nominal elevado no país. A taxa básica, a Selic, está acima de 2 dígitos desde fevereiro de 2022, o que contribuiu para encarecer o estoque da dívida e aumentar o deficit nominal do governo.

Mas não foi só o pagamento dos juros da dívida que piorou a situação fiscal do país. A expansão de gastos no governo Lula aumentou o déficit primário, que é o cálculo que exclui o pagamento do serviço da dívida.

AUMENTO GRADATIVO – Dados do Banco Central mostram que o setor público consolidado passou a ter um saldo negativo em maio de 2023 no acumulado de 12 meses. O rombo aumentou gradualmente, em março de 2024, atingiu R$ 252,9 bilhões.

E vai piorar, porque o governo anunciou a suspensão do pagamento da dívida do Rio Grande do Sul e de municípios do Estado por 3 anos. Isso resultará em impacto de R$ 23 bilhões no período. O ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse que, desse valor, R$ 11 bilhões são por causa do adiamento e R$ 12 bilhões, do não pagamento de juros.

Além disso, o governo liberou R$ 12 bilhões em créditos extraordinários na MP (Medida Provisória) 1.218 de 2024. No total, R$ 35 bilhões foram anunciados fora das regras fiscais.

NADA DEFINIDO – O governo também estuda programas para beneficiar diretamente a população do Estado. Ainda não há estimativas sobre o custeio. Portanto, não há definição de qual será o custo total para mitigar os efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul. As enchentes no Rio Grande do Sul terão impacto negativo sobre o crescimento econômico do Estado e, consequentemente, do país.

Isso também resultará em relação dívida-PIB pior do que a esperada anteriormente. O Poder360 mostrou que as chuvas podem reduzir o ritmo de crescimento do PIB em até 0,4 ponto percentual neste ano.

A agência de risco Moody’s disse que o aumento de gastos torna as metas fiscais do país mais desafiadoras. Aumentou de 0,5% para 0,75% do PIB (Produto Interno Bruto) a projeção de deficit primário da União. O rombo nominal será de 6,7% do PIB, segundo o documento, acima do 6,2% projetados anteriormente.

QUESTIONÁVEL – O economista Gabriel Leal de Barros disse ao Poder360 que é “questionável” o governo ter retirado os gastos com o Rio Grande do Sul do cálculo das metas de resultado primário. Segundo ele, o aporte de recursos da União não tem questionamentos sobre o mérito, mas a forma que está sendo feita.

Dois ex-presidentes do Banco Central, Pérsio Arida e Pedro Malan criticaram a política fiscal do governo Lula. Arida defendeu que o tripé macroeconômico está “manco” por causa da gestão de gastos do governo.

Em resposta, Haddad declarou que o país convive com 10 anos de déficit no Brasil. Disse que houve rombo de R$ 2 trilhões em uma década. “Isso não favorece um crescimento maior da economia brasileira. O que está garantindo o crescimento econômico é justamente nós fazermos o que nós estamos fazendo, recompondo a base fiscal do Estado brasileiro que foi erodida ao longo desses anos”, disse o ministro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Sinceramente, essa discussão chega a ser bizantina, como se dizia antigamente. Lula é totalmente ignorante e diz que as regras e teorias econômicas têm de ser mudadas. Ele é o maior exemplo da velha piada que diz: “O Brasil cresce de noite, quando os políticos estão dormindo e não conseguem atrapalhar”. Na verdade, nem é piada, trata-se apenas de uma constatação. (C.N.)  

Musk recomenda que as crianças não fiquem tempo demais usando redes sociais

Musk fez um importante alerta que ninguém leva em conta

Deu no Poder360

O dono do X (ex-Twitter), Elon Musk, recomendou que os pais limitem o uso de redes sociais para crianças. A declaração do bilionário foi dada nesta quinta-feira (dia 23), em entrevista realizada durante o evento de tecnologia “Viva Technology”, em Paris (França).

“Gostaria de pedir aos pais que limitem a quantidade de redes sociais que as crianças podem ver porque [as plataformas] estão sendo programadas por uma inteligência artificial que maximiza a dopamina”, declarou.

Em seu perfil no X (ex-Twitter), Musk reforçou sua denúncia, reafirmando que “muitas redes sociais são ruins para as crianças, pois há uma competição extrema entre as inteligências artificiais das redes sociais para maximizar a dopamina”.

Depois da fala de Musk, o apresentador Maurice Lévy, presidente do Conselho de Supervisão da Publicis Groupe, afirmou: “Então, você entende que Elon está pronto para sacrificar o X pela ‘X IA’ [inteligência artificial]”.

ZAMBELLI APELA – Depois de se tornar ré em uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal), a deputada Carla Zambelli (PL-SP) pediu para que o bilionário Elon Musk volte a “olhar para o Brasil” Em abril, o dono do X (ex-Twitter) criticou o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes por “censura agressiva” dezenas de vezes.

Na terça-feira (dia 21), a Primeira Turma do Supremo aceitou, por unanimidade, a denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria Geral da República) contra Zambelli e o hacker da “Vaza Jato”, Walter Delgatti Neto. Eles são acusados de invadir sistemas do Judiciário e cometer falsidade ideológica.

A denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República contra Zambelli e Delgatti os acusa de invadirem o sistema do Conselho Nacional de Justiça e inserir dados falsos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A dopamina é um neurotransmissor responsável por levar informações do cérebro para as várias partes do corpo. A substância é conhecida como um dos hormônios da felicidade. Quando liberada, provoca a sensação de prazer, satisfação e aumenta a motivação. Por isso, o usuário da rede social fica com aquela cara de pateta, um sorriso estranho nos lábios.

Quanto à deputada Zambelli, seu mandato está no final e não vale uma moeda de três reais. Enquanto isso, o hacker Delgatti fica cada vez mais famoso e vai arranjar mais um bocado de clientes. (C.N.)

Projeto do governo Lula 4 nas eleições de 2026 sobe rapidamente no telhado

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Charge do Lézio Júnior (IstoÉ)

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

Lula fez campanha dizendo que não pretendia se reeleger. Durou pouco a promessa, se é que alguém acreditou. Não há quem duvide que o presidente tenha em mente um quarto mandato. Poderá até abrir mão da tentativa, a depender das circunstâncias – e essa possibilidade, por remota que seja, mantém acesa a disputa entre aspirantes a candidatos no campo governista.

No território da direita, a decisão judicial que tornou Jair Bolsonaro inelegível resolveu uma parte da equação. Mas complicou a outra. Não haverá ‘mito’ na urna eletrônica, mas o ex-presidente e o bolsonarismo estarão presentes – e muito – na disputa. Resta saber quem será o nome apoiado pelo ex-capitão. Os pretendentes estão fazendo a corte.

Em encontro com Bolsonaro num seminário realizado em abril, os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, e de São Paulo, Tarcísio de Freitas, derramaram-se em elogios ao que seria “o maior líder político do Brasil hoje”.

E MICHELLE? – A grande incógnita chama-se Michelle Bolsonaro. Cogitada para o Senado, é personagem com carisma, que segundo a recente pesquisa Genial/Quaest se credencia a possível candidata ao Planalto, e também a levar o processo eleitoral para um cenário perigoso, encarnando uma espécie de Isabelita Perón do bolsonarismo.

Considerando quem votou em Bolsonaro em 2018, 74% afirmam que votariam em Michelle. Tarcísio teria o voto de 50% desse conjunto. Ela poderia ser vice numa chapa com o governador?

No todo, Lula conta com a intenção de 47% e ainda é o nome com maior potencial. Michelle teria 33%. Ambos têm rejeição em torno de 50%. Tarcísio é menos rejeitado, mas também menos conhecido.

POSSÍVEL FIASCO –  Apesar do alto percentual de Lula e do fato de estar no topo da máquina, não se pode afastar a possibilidade de fiasco num segundo turno, especialmente num quadro em que não surja do outro lado uma clara ameaça institucional, como seria Michelle numa cabeça de chapa.

Hoje, o leque da candidatura lulista só tende a se fechar. As perspectivas de alguma adesão vinda do centro e centro-direita podem se complicar ainda mais caso se aprofundem equívocos em curso, como o ânimo intervencionista, a ambiguidade na área fiscal, o palavrório bala perdida e uma visão desenvolvimentista por vezes aloprada e sem convicção ambiental.

A aparição de Paulo Pimenta e sua jaqueta vistosa para assumir o esquisito cargo de ministro para reconstrução do RS não pegou bem.

DÚVIDAS NO AR  – A própria personalidade autocentrada do petista, numa fase já mais avançada da vida (faz 79 em outubro), deixa dúvidas no ar.

Lula, em muitos aspectos, faz um bom governo. Em outros, não. Comete erros dispensáveis e vive a tropeçar nele mesmo. O status de aiatolá do progressismo não ajuda. Favorece um comportamento ególatra, irritadiço e avesso a críticas.

Lula acumula declarações embaraçosas no governo, é um político antiquado e desatualizado em vários assuntos. Não hesita muitas vezes em desafiar evidências, no afã de mostrar que já tem a chave do sucesso.

PETISMO RAIZ – Embora seja um craque da negociação, as pressões que sofre em seu entorno nem sempre são as mais benéficas – em especial as do petismo raiz anacrônico.

Na hipótese de desistência de Lula, Haddad seria em tese o primeiro da fila do PT, mas vê crescer, cada vez mais, a companhia concorrente de Rui Costa, da Casa Civil, com seu estilo “deixa que eu chuto”, que ganha terreno no governismo.

É muito cedo para prognósticos, nada está definido, mas o cenário, um ano e meio depois da vitória de Lula, vai se tornando mais enroscado e sugestivo. É possível que as eleições municipais venham a falar alguma coisa a mais sobre isso.

Em meio às assombrações da economia, Haddad pega carona num trem-fantasma

Charge do JCaesar | Veja

Vinicius Torres Freire
Folha

Fernando Haddad disse ter a impressão de que há um “fantasminha fazendo a cabeça das pessoas e prejudicando o nosso plano de desenvolvimento”. O ministro da Fazenda falava sobre política econômica na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (22).

Haddad listou melhorias econômicas e acertos das previsões oficiais quanto a inflação, emprego, PIB e dívida pública, dados que negam a desinformação fantasmagórica da qual se queixava.

LENHA NA CALDEIRA – Sob certo aspecto, tinha razão — no caso, é irrelevante. Para piorar, conjurou maus espíritos ao dizer que a meta de inflação é “exagerada”. Assim, embarcou no trem dos fantasmas que criticava, colocou lenha na caldeira da locomotiva e chegou a ser tido como um dos culpados por mais um dia ruim na praça financeira.

Os fantasmas se divertem e governam os vivos. São assim as assombrações do dinheiro. Sim, certos indicadores melhoraram. Haddad enganou-se quanto aos núcleos de inflação, que caem, mas não estão abaixo da meta de 3%.

Núcleos são medidas de inflação que desconsideram preços que variam excessivamente, uma tentativa de observar quais medidas estão mais relacionadas às flutuações da atividade econômica.

DÍVIDA EM ALTA – Mas isso não é relevante. Mesmo que a dívida pública esteja crescendo menos do que o previsto por “o mercado”, a previsão é que o passivo ainda cresça a perder de vista. A inflação caiu. Mas, desde março, a expectativa crescente na praça financeira é que o IPCA venha a ser maior.

Mesmo que não se acredite nesses abantesmas, eles existem. Por isso, os donos do dinheiro grosso cobram mais para emprestar ao governo (taxas de juros aumentam) e para manter seus dinheiros em moeda nacional (o real se desvaloriza).

Em boa parte, o trem fantasma tem sido impulsionado pelas taxas de juros nos EUA (maiores lá, mais dificilmente caem aqui), o que chuta o dólar para o alto, um risco de inflação adicional.

FREAR O TREM – Há como tentar frear um pouco esse trem aqui no Brasil. Mas quem tem dinheiro duvida de que o Banco Central viria a manter o compromisso de levar à inflação à meta no ano que vem, quando baixaria a Selic de modo doidivanas, “político”.

Em 2025, a maioria da direção do BC terá sido nomeada por Lula. O governo Lula quase inteiro diz que os juros apenas não são menores porque a chefia do BC é bolsonarista. Haddad jogou lenha nessa caldeira, na Câmara. Disse que a meta de 3% é “inimaginável” para um país como o Brasil, que raramente conviveu com preços subindo assim tão pouco, desde 1999. É verdade.

O IPCA anual foi menor ou igual que 3% em apenas 7,8% dos meses; foi menor que o atual, de 3,69%, em apenas 14,1% dos meses. Mas a meta é 3%. Em suma, os fantasmas preocupam-se em valorizar o seu dinheiro; inflação e dívida são ameaças.

INFLAÇÃO E DÍVIDA -O ministro disse ainda que a política monetária (juros) tem de ser coordenada com a política fiscal (gastos). É. Mas, de acordo com a economia-padrão, juros tendem a cair com déficit e dívida contidos, não o contrário, como parece dizer o ministro. Os fantasmas leem economia-padrão.

Outro problema são as caveiras de burro enterradas mais adiante na estrada da dívida. As metas de déficit não seriam cumpridas, dizem fantasmas. O próprio teto móvel de gastos de Lula 3 tem data marcada para morrer, pois os gastos com saúde, educação, Previdência e emendas crescem de modo incompatível com o “arcabouço fiscal”.

Ainda antes de aprovar o “arcabouço”, o próprio Haddad parecia saber disso, pois no início de 2023 dizia que “discutiria” com Lula os aumentos automáticos de despesa com saúde e educação e a vinculação dos benefícios do INSS ao valor do salário mínimo. O assunto está quase morto neste ano eleitoral. Se ressuscitasse em 2025, espantaria vários fantasmas.

Lula sonha (?) disputar em 2026 contra Bolsonaro e vai pressionar o Supremo

Lula X Bolsonaro: quem está ganhando as eleições 2022 | Exame

Para Lula, Bolsonaro é o candidato ideal para enfrentar de novo

Mario Sabino
Metrópoles

A vitória acachapante de Sergio Moro no TSE deixou o PT inconsolável, e após a decisão Moro disse que acusações eram “falsas e mentirosas”. Li até uma comparação com a derrota do Brasil para a Alemanha, na Copa do Mundo de 2014. Aliás, metáfora petista nunca vai além do futebol.

A comparação foi a seguinte: “O placar de 7 a 0 que livrou Moro da cassação impõe ao país uma vergonha muito maior que a derrota para a Alemanha na Copa de 2014, quando a burguesia e a mídia liberal iniciaram a articulação para o golpe contra Dilma”. Eu sempre desconfiei de que aquela seleção do Felipão só podia mesmo ser golpista.

GLEISI CALADA – Há os petistas que tentam guardar a mágoa no coração apertado. Até o momento, por exemplo, Gleisi Hoffmann não abriu a boca em público sobre o resultado no TSE.

Há menos de um mês, ela disse o que achava da possível condenação de Sergio Moro. “Considero a cassação do Moro pedagógica. Justiça e política não podem se misturar”, afirmou a presidente do PT, que sonhava candidatar-se à vaga do senador que conservou o mandato.

Pelo jeito, a única pedagogia que restou a Gleisi Hoffmann é a do oprimido, aquela embromação de Paulo Freire.

BOLA CANTADA – A vitória de Sergio Moro passou a ser bola cantada, com a mudança de disposição dos ministros que o julgariam. Quando o ventou virou, o PT começou a plantar na imprensa que a eventual cassação do algoz de Lula na Lava Jato não era do gosto do chefão petista.

O guia genial dos povos nada originais estaria preocupado com a transformação de Sergio Moro em mártir e com a sua substituição por um opositor ainda mais aguerrido. Que Lula achava melhor deixar o ex-juiz da Lava Jato com o seu mandato, porque ele seria um “senador morno”.

Não estou dizendo que é mentira, mas certamente não é a verdade inteira. O sentimento de vingança de Lula contra Sergio Moro é inapagável por qualquer racionalidade política.

OUTRA VERSÃO – A racionalidade de Lula talvez ainda esteja preservada em relação a Jair Bolsonaro, isto sim, e ele comece a ver com bons olhos a reabilitação do adversário para as eleições de 2026.

Com a popularidade em baixa, sem garantia de que vai recuperar as simpatias que perdeu, para Lula seria melhor enfrentar outra vez Jair Bolsonaro, cuja rejeição é altíssima, do que um candidato da direita racional, com pitada exata de bolsonarismo.

É impossível Jair Bolsonaro recuperar a elegibilidade? Melhor colocar no terreno do altamente improvável, porque nada é impossível no Brasil. Nem perder em casa de 7 a 1 para a Alemanha, nem Sergio Moro ganhar de 7 a 0 no TSE quando não parecia haver esperança para ele. Para não falar da redenção criminal de Lula, é claro. Tudo depende da leitura do contexto pelo STF, um tribunal que se assumiu político.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGMuito interessante o raciocínio de Mário Sabino. O problema será Lula convencer o Supremo a se meter novamente em política. Desde 2019, quando soltaram Lula, os ministros têm sofrido tantas críticas que é provável que não queiram se intrometer novamente. (C.N.)

Prefeito de Porto Alegre enfim encontrou um culpado pelas enchentes – ele próprio

Vestido à caráter, um prefeito inteiramente depreparado

Bruno Boghossian
Folha

O prefeito de Porto Alegre deve ter achado que estava recebendo pouca atenção na tragédia gaúcha. Com novos alagamentos na cidade, Sebastião Melo (MDB) deu uma entrevista coletiva desastrosa. Disse que a chuva desta quinta-feira (23) foi intensa demais e se queixou de moradores que jogam lixo nas ruas.

Melo apontou o dedo para outro lado, mas direcionou os holofotes para o próprio gabinete. Todo município tem problemas com lixo acumulado. Em vez de culpar a população, ele poderia explicar por que sua administração não providenciou um reforço significativo na limpeza. “Talvez tenha que aumentar?”, indagou.

PRIVATIZAÇÃO – Na entrevista, um auxiliar indicou que uma concessionária desligou a energia de casas de bomba que fariam o escoamento da água. A prefeitura, segundo ele, não foi avisada. Melo não quis lembrar que votou a favor da privatização da empresa quando era deputado estadual.

Em seu quarto ano de mandato, com baixos investimentos em prevenção, o prefeito lançou uma proposta pouco inovadora ao dizer que o sistema de drenagem do município “precisa ser revisitado na sua totalidade”.

Depois, inspirado no governador Eduardo Leite, justificou a prioridade que faltou ao tema. “As agendas de uma cidade são múltiplas. A drenagem é uma delas”, afirmou.

PAPO DE POLÍTICOS  – Certas reações a eventos críticos dessa natureza são um talento de uma categoria especial de políticos. Quando administrava a capital paulista, Celso Pitta afirmou que a responsabilidade por alagamentos era de “maus cidadãos” que jogavam lixo nas ruas. Quando cansou de reclamar do povo, passou a culpar o “descaso do governo estadual”

Outros preferem o deboche para escapar da responsabilidade. Em 2018, Marcelo Crivella deu de ombros para alagamentos no Rio. “Lá em São Paulo também tem enchente. Vão até lançar um programa novo: o Balsa Família”, disse ao jornal O Globo.

Em 2020, afirmou que a culpa era da população que atirava lixo nos rios. Naquele dia, um cidadão lançou uma bola de lama no prefeito.

Lava Jato capturou o difuso sentimento do ‘temos de acabar com isso que está aí’

Lava-Jato consegue repatriar R$ 846,2 milhões de corrupção na Petrobras -  Tribuna da Imprensa Livre

Charge do Hector (Arquivo Google)

William Waack
Estadão

Do ponto de vista jurídico a Lava Jato foi enterrada como grande vilã da história. Do ponto de vista político, decretar seu desaparecimento é um exercício fútil. É possível “criar” amnésia coletiva sobre algum acontecimento, algo que regimes totalitários conseguem durante algum tempo. Mas os processos sociais – os grandes “fatos” da realidade – se impõem.

É o caso da Lava Jato, que não pode ser entendida simplesmente como uma operação policial e jurídica. Ela é um fenômeno social e político com raízes profundas e enorme abrangência, ligada às expressões disruptivas de 2013 e 2018, das quais é causa e consequência.

ACABAR COM ISSO – A luta anticorrupção é a que melhor capturou o difuso sentimento de “temos de acabar com isto que está aí”. Como não há partidos políticos dignos de nome que canalizem esse tipo de força social num sentido e direção, e tampouco existem elites dirigentes com algum plano abrangente para mudar o que está aí, essas “borbulhas de indignação” acabam perdendo força e desaguam na praia.

Mas trazem consequências que impedem uma volta ao “status quo ante”. Uma das principais, e perigosa do ponto de vista da democracia brasileira, é a notável erosão da credibilidade do Judiciário (leia-se STF) como instância capaz de fazer prevalecer as leis e punir os culpados (corruptos).

Pode-se debater se há elementos “factuais” e “objetivos” que justifiquem essa percepção, ou de quem seria a “culpa”. Mas a deterioração da credibilidade da mais alta instância jurídica é um fato político do qual não se escapa. Portanto, há uma ameaça à “institucionalidade” à qual os integrantes do Supremo gostam de se referir.

REALIDADE POLÍTICA – Seria mesmo difícil pensar que instituições funcionem desvinculadas da realidade política. No caso do STF, a evolução (no sentido da linha do tempo) do sistema político brasileiro o tornou um ator político central, e sem volta. O “excepcional” tornou-se o “novo normal”.

Especificamente em relação à Lava Jato, ficou pairando sobre o STF – depois de 10 anos e monumentais turbulências – a noção, em vastas parcelas da população, que naquela instância desfrutam de “proteção” os que sabem defender seus privilégios (como setores do próprio Judiciário), e os poderosos da política e economia que cometeram malfeitos ou buscam decisões jurídicas em favor de seus interesses (não necessariamente ilícitos).

Nossos momentos disruptivos recentes têm sido cada vez mais perturbadores. Difícil imaginar como será o próximo.