
Lula precisa retormar o diálogo com as demandas da sociedade
Pedro do Coutto
As recentes pesquisas de opinião conduzidas por institutos como o Datafolha e o Ipec revelam um dado inquietante: a avaliação do governo do presidente Lula da Silva segue estagnada, situando-se perigosamente próxima à percepção que o eleitorado tem de seus principais adversários políticos.
Trata-se de um sinal claro de desgaste, não apenas administrativo, mas simbólico — um governo que prometeu a reconstrução, mas que ainda não conseguiu romper com o ciclo de frustrações que vem se prolongando há anos no imaginário coletivo brasileiro.
POLÍTICAS CONCRETAS – Esse fenômeno não é novo, tampouco exclusivo de Lula. Governos que não conseguem traduzir em políticas concretas as esperanças que ajudaram a construir durante a campanha acabam se tornando vítimas da própria expectativa que geraram. A insatisfação pública, quando não encontra respostas claras e objetivas, não apenas se acumula, mas se transforma em descrença crônica. E é nesse terreno que se tornam férteis tanto a antipolítica quanto os discursos simplificadores, quase sempre populistas.
Há um vício recorrente nos círculos de poder: a tendência de se voltarem para dentro de si mesmos, numa espécie de governo voltado à autovalidação. Busca-se, por vezes, alimentar uma bolha de autoafirmação, como se bastasse reiterar compromissos e celebrar feitos administrativos para que a realidade social se transformasse por osmose. Mas o Brasil real exige resultados.
A frustração do eleitor médio não é, em sua essência, ideológica. É prática. Ela nasce do cotidiano: da promessa de que haveria mais empregos, menos violência, saúde digna, educação de qualidade. Quando essas expectativas não se concretizam, a retórica governamental perde efeito e dá lugar à percepção de que se trata de “mais do mesmo”. E é nesse vácuo que a ideia de mudança volta a ganhar força — não necessariamente por convicção, mas por exaustão.
ESCUTA – A questão que se impõe, portanto, não é apenas de comunicação ou de ajuste político. É de escuta. Um governo que não dialoga com a insatisfação popular, que não reconhece os sinais do cansaço social, corre o risco de se isolar e perder a capacidade de mobilização. A democracia exige mais que maioria nas urnas; ela exige legitimidade permanente. E esta se constrói no dia a dia, com resultados concretos, empatia e responsabilidade.
Lula, em seu terceiro mandato, carrega a experiência de quem já atravessou tempestades e soube, no passado, reconquistar corações e mentes. Mas o país de hoje não é o de 2003. A paciência do eleitor é mais curta, e a vigilância das redes é implacável. O tempo político é outro. Ainda há margem para retomada de rumo, mas ela dependerá menos do carisma e mais da capacidade de o governo descer do palanque e caminhar entre as urgências do povo.