Apregoando “nada de anormal”, Lula comete grande erro ao defender Maduro

Lula disse que cabe à Justiça decidir sobre resultado

Pedro do Coutto

O presidente Lula se manifestou nesta terça-feira pela primeira vez sobre a eleição na Venezuela, após Nicolás Maduro ter sido reconduzido à Presidência em um processo contestado. “Não tem nada de grave, nada de assustador”, disse Lula. A declaração foi feita em entrevista à Rede Matogrossense, afiliada da TV Globo, e antecedeu a viagem do presidente aos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, nesta quarta-feira.

Lula também comentou sobre a nota divulgada pelo PT,que considerou a eleição pacífica, democrática e soberana. Para Lula, o comunicado do partido, que foi criticado por petistas, é um “elogio ao povo venezuelano pelas eleições pacíficas”.

ERRO – Ao dizer que em sua opinião não encontrou nada de anormal na Venezuela, o presidente Lula cometeu um dos maiores erros de sua vida e também de sua visão internacional dos fatos.

Omitiu, por exemplo, os vários atingidos em consequência de protestos em Caracas, com mais de setecentas pessoas presas, multidões no meio das ruas exigindo a verdade das urnas. Como é possível o presidente da República ter dado essa declaração fora da realidade? O assessor especial para política externa do Palácio do Planalto, Celso Amorim, e o Itamaraty afirmaram que o Brasil aguarda a publicação do resultado oficial das eleições na Venezuela pelo Conselho Nacional Eleitoral.

PRAZO –  Segundo o calendário eleitoral, o órgão sob o comando chavista tem até sexta-feira para fazer isso. Ao contrário do que declarou Lula, alegando normalidade nas eleições venezuelanas, o Itamaraty orientou a embaixadora brasileira no país a não ir ao evento de proclamação do resultado da vitória de Maduro.

Lula também prejudicou o seu diálogo com Joe Biden que tem a visão oposta. Vários países do continente estão reprovando o comportamento de Maduro. É uma situação incompreensível essa que se coloca, assim como a posição do PT a favor da vitória de Maduro. Lula aposta no caminho do absurdo nesse caso.  Não há cabimento em suas declarações. Lula sai em socorro de Maduro comprometendo a si próprio.

Venezuela: oposição diz ter provas de que venceu eleição com 73% dos votos

“Nosso presidente eleito é Edmundo González Urrutia”, diz  Corina

Pedro do Coutto

É evidente que o presidente Nicolás Maduro foi derrotado nas eleições de domingo e mais uma vez recorreu à fraude para se manter no poder. María Corina Machado, líder da oposição na Venezuela, afirmou que o grupo pode provar ter vencido as eleições. “Se eles [governo Maduro] entregarem as atas de votação verdadeiras, as que eles publicaram, imprimiram e que são as que nós temos, eles vão ter que ratificar, vão ter que corrigir a verdade que eles viram ontem nas ruas”, disse.

Com base nas atas de votação que a oposição tem, a líder informou que González teve 6,270 milhões de votos, contra 2,759 milhões de Maduro. “Ainda que o CNE decidisse que 100% dos votos das [atas] que faltam são para Maduro, elas não seriam suficientes para mudar o resultado. Com o que nós já temos, a diferença foi tão grande, foi uma diferença avassaladora”, ressaltou.

INVESTIGAÇÃO – María Corina foi impedida de concorrer ao pleito. Ela é investigada pelo Ministério Público da Venezuela (ligado a Maduro) por tentar fraudar o sistema eleitoral e adulterar as atas da eleição, que são como boletins de urna. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país disse que Nicolás Maduro venceu a eleição com 51,2% dos votos, com 80% das urnas apuradas.

A oposição acusa o governo de fraude e não reconhece a decisão do CNE de dar a vitória a Maduro. O governo nem sequer se preocupou em apresentar qualquer prova de sua vitória, limitando-se a proclamar a sua reeleição a partir de um comunicado sem base na realidade e apenas fundamentou-se numa publicação contestada pelo próprio eleitorado do país.

Até a tarde de ontem, sete pessoas haviam morrido em protestos e mais de cinquenta ficaram feridas.  Além disso, o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, anunciou nesta terça-feira que 749 pessoas já foram detidas em protestos contra a reeleição de Nicolás Maduro.

MANIFESTAÇÃO –  Como sempre, Rússia e China reconheceram a vitória de Maduro. Da mesma forma, de forma incompreensível, o PT desconhecendo a posição do próprio governo brasileiro reconheceu a versão de Maduro. Oito países latino-americanos já se manifestaram contra Maduro enquanto o Exército venezuelano comunicou o seu apoio incondicional ao atual governo.

Lula só deve se pronunciar publicamente após se encontrar pessoalmente com o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, enviado para acompanhar as eleições na Venezuela. Ele retornou nesta terça-feira ao Brasil. No início da semana, Amorim se reuniu com Maduro.  

O Brasil vem destacando a necessidade do governo venezuelano mostrar a transparência no pleito, especialmente por meio da divulgação das atas. Mas Maduro não pode publicar as atas simplesmente porque a fraude será mais evidente ainda. Assim a posição do governo brasileiro dificilmente poderá ser de apoio a Maduro, o que coloca o país numa colocação difícil.

Maduro vence eleição, mas oposição contesta e aponta fraude ‘grosseira’

Oposição que avaliar supostas modificações feitas nos resultados

Pedro do Coutto

Como era esperado, enquanto Nicolás Maduro afirmava ser vitorioso nas eleições realizadas neste domingo, a oposição o acusava de desrespeito às regras eleitorais, inclusive quanto à apuração. Na madrugada de ontem, o Conselho Nacional Eleitoral daquele país anunciou que Maduro venceu as eleições presidenciais, mas os resultados foram contestados pela oposição, que disse ter havido fraude “grosseira” para modificar os números.

Segundo o presidente do CNE, Elvis Amoroso, Maduro obteve 51,2% dos votos, contra 44,2% do opositor Edmundo González, com 80% das urnas apuradas. O anúncio aconteceu pouco depois da meia-noite em Caracas. Amoroso, um aliado de Maduro, disse que a tendência da apuração era “contundente e irreversível”. O presidente do CNE também disse que o país investigará “ataques terroristas” ao sistema eleitoral aos quais atribuiu o atraso na divulgação.

AVALIAÇÃO – Momentos depois do anúncio, a principal líder da oposição, María Corina Machado, inabilitada para exercer cargos públicos e apoiadora de González, contestou o resultado.

“Ganhamos em todos os Estados do país e sabemos o que aconteceu hoje. Cem por cento das atas que o CNE transmitiu nós temos e toda essa informação aponta que Edmundo obteve 70% dos votos”, disse Machado a jornalistas. Ela acrescentou avaliar que as supostas modificações feitas nos resultados haviam sido “grosseiras”.

O embate prenuncia mais tensão nos próximos dias na Venezuela, sob acompanhamento dos países vizinhos e dos EUA. O Itamaraty divulgou uma nota ontem afirmando que o governo brasileiro aguarda “a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.

A nota diz ainda que o governo brasileiro “saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração”, além de reafirmar “o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados”. O presidente Lula da Silva ainda não se pronunciou sobre o tema.

OBSERVAÇÃO – O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que seu país tem “sérias preocupações” sobre o resultado anunciado. “A comunidade internacional está observando isso de perto e responderá de acordo”, afirmou Blinken. O presidente chileno, Gabriel Boric, questionou abertamente os resultados e disse que o Chile só reconhecerá números “verificáveis”. Os presidentes da Colômbia e México – ambos de esquerda como Boric – ainda não haviam dado declaração até o momento em que escrevo esse artigo.

Esse tumultuado desfecho era aguardado pelos observadores internacionais no momento em que sabiam que Maduro não iria convocar eleições para perdê-las. Agora, veremos as consequências da possível farsa que foi montada mais uma vez.

Contagem relâmpago dos votos aumenta a suspeita de fraude na Venezuela

Maduro, presidente desde 2013, declarou-se vencedor

Pedro do Coutto

Os venezuelanos compareceram às urnas neste domingo para eleições presidenciais repletas de tensão para decidir entre a continuidade do chavismo, que está no poder há 25 anos, ou a mudança prometida por uma oposição unida e esperançosa.

Nicolás Maduro, de 61 anos, e na Presidência desde 2013, foi declarado vencedor de um terceiro mandato de seis anos no momento em que o país tenta sair de uma profunda crise econômica e humanitária que contraiu o Produto Interno Bruto em 80% e empurrou mais de sete milhões de pessoas para o êxodo.

Seu rival era o diplomata Edmundo González Urrutia, de 74 anos, relativamente desconhecido antes da campanha, que representa a carismática e popular líder opositora María Corina Machado, impedida de concorrer devido a uma inabilitação política. Maduro declarou neste domingo que os resultados seriam respeitados.

“GARANTIA” – “Reconheço e reconhecerei o árbitro eleitoral, os boletins oficiais e farei com que sejam respeitados”, disse Maduro após votar em Caracas. “Palavra sagrada a do árbitro eleitoral, e peço aos 10 candidatos presidenciais (…) a respeitar, a garantir o respeito e a declarar publicamente que respeitarão o boletim oficial do Conselho Nacional Eleitoral”, acrescentou.

Porém, há alguns dias, Maduro declarou “Paz ou guerra” ao definir o que, na opinião dele, estaria em disputa nesta eleição. Antes, o chavista alertou que uma vitória da oposição poderia provocar um “banho de sangue”, o que rendeu críticas dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Chile, Gabriel Boric, entre outros.

DENÚNCIAS DE FRAUDE – A contagem rápida demais dos votos aumentou as suspeitas de fraude, e a oposição não reconhece a derrota para Nicolás Maduro.

A contagem dos votos impressos é manual, o que dá margem a que, por exemplo, votos em branco sejam transformados em votos para Maduro.

Aliás, se tiver sido permitido o acompanhamento da contagem por fiscais oposicionistas, o preenchimento de votos em branco para qualquer candidato seria a única forma possível de fraude em eleições como as que ocorreram ontem na Venezuela.

Vamos aguardar o comportamento da oposição.

Contas do governo fecham com déficit de R$ 68,7 bi no semestre

O resultado foi atingido após o fechamento do balanço de junho

Pedro do Coutto

As contas do governo brasileiro no primeiro semestre deste ano apresentaram um déficit de R$ 68,7 bilhões, muito acima do que os técnicos da Fazenda e do Planejamento vinham prevendo, comprovando que uma coisa é a teoria e outra é a realidade. Houve uma piora em relação ao mesmo período de 2023, quando o rombo foi de R$ 43,2 bilhões em valores nominais –variação de 58,9%. O resultado é o pior para o período desde 2020, ano em que teve início a pandemia de covid-19. Naquele momento, o rombo atingiu R$ 417,3 bilhões em valores correntes.

O Tesouro Nacional divulgou o balanço nesta sexta-feira. Na prática, o rombo apresentado dificulta a missão do governo em cumprir a meta fiscal para 2024, que estabelece déficit zero. Na última semana, a equipe econômica aumentou a projeção de rombo em 2024, de R$ 14,5 bilhões para R$ 32,6 bilhões.

MARGEM – A nova projeção ultrapassa a margem permitida para o ano. Por isso, o governo fará um contingenciamento de R$ 3,8 bilhões no Orçamento. Assim, a estimativa se mantém no limite do intervalo de tolerância –0,25 ponto percentual do PIB para cumprir a meta. Em valores nominais, o governo pode gastar até R$ 28,8 bilhões a mais que as receitas em 2024.

Mesmo com os fatos confrontando-se com o almejado pelo governo, não se pode-se dizer que o esforço do ministro Fernando Haddad para equilibrar as contas públicas não seja importante, mas diversas questões presentes impõem condições que vão muito além da vontade.

No Rio, ao deixar a entrevista coletiva de encerramento do encontro de ministros de Finanças do G20, o titular da Fazenda evitou avaliar se o déficit verificado nas contas do governo no primeiro semestre tornará necessários novos congelamentos no Orçamento deste ano, para cumprir a meta do arcabouço fiscal.

AVALIAÇÃO – Segundo Haddad, a decisão sobre eventuais novos congelamentos será feita a cada avaliação bimestral das contas públicas. “A cada bimestre vamos divulgar, como está previsto na lei. A cada bimestre, se houver necessidade, contingência ou bloqueio”, afirmou.

Apesar de as receitas líquidas do governo (ou seja, após as transferências para estados e municípios) terem subido 8,5% acima da inflação, as despesas cresceram mais. Os gastos do governo federal foram 10,5% maiores neste ano do que em 2023, isso já descontando a inflação do período.

As contas do governo são inadiáveis, a exemplo do INSS e dos compromissos salariais com o funcionalismo público. São compromissos inalteráveis. De qualquer forma, é possível que o governo estabeleça medidas práticas de contenção, mas sem poder agir no campo da fantasia. Quando os técnicos sentam na mesa, verificam que surge um impasse entre o que desejam e o que acontece. Esse é o cenário contra o qual nada se pode fazer.

Kamala reduz distância para Trump em nova pesquisa do NY Times

Antes, Trump tinha vantagem expressiva sobre Biden

Pedro do Coutto

Nos Estados Unidos, o crescimento da candidatura de Kamala Harris esquentou o plano principal da disputa na medida em que encurtou a distância em relação a Donald Trump. Uma pesquisa do New York Times/Siena College confirmou o cenário de equilíbrio na disputa pela Presidência dos Estados Unidos.

Entre eleitores registrados, Donald Trump aparece com 48% das intenções de voto, contra 46% de Kamala Harris. No universo de eleitores prováveis, os índices são, respectivamente, de 48% e 47%. Em ambos os casos, há empate técnico, uma vez que a margem de erro é de 3,3 pontos percentuais para eleitores registrados e de 3,4 pontos para eleitores prováveis.

CENÁRIO POSITIVO – Trata-se de um cenário mais positivo para os democratas em comparação com a sondagem do início de julho, na qual o presidente Joe Biden aparecia seis pontos atrás de Trump entre eleitores prováveis, logo após um debate televisivo desastroso para o democrata. Considerando apenas os eleitores já registrados, a vantagem de Trump sobre Biden no pós-debate era de nove pontos. Trump já é oficialmente o candidato do Partido Republicano à Casa Branca, enquanto Kamala ainda precisa ser nomeada formalmente pelo Partido Democrata – o que deve acontecer até o início de agosto.

As eleições nos Estados Unidos não são decididas por maioria simples de votos, mas por um colégio eleitoral formado a partir da votação dos candidatos em cada um dos 50 estados. Ou seja, ter o maior número de eleitores nem sempre é suficiente para a vitória. Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton somou 48% do voto popular, mas Trump, com 46%, foi eleito após vencer em estados-chave no colégio eleitoral.

APOIO –  Kamala Harris subiu rapidamente nos índices e mostra a força da sua personalidade nos primeiros momentos que já se travaram após a sua indicação por Joe Biden. Ela conta inclusive com o apoio do ex-presidente Barack Obama, que se manifestou publicamente nesta sexta-feira.

O ex-presidente e Kamala publicaram o mesmo vídeo em seus perfis na rede social X (antigo Twitter). A gravação mostra a pré-candidata recebendo uma ligação de Obama e sua esposa, Michelle. Vale lembrar que Biden também publicou um vídeo em que mostra um telefonema para convidar Kamala para ser sua vice nas eleições de 2020.

ATENÇÃO – Na Venezuela, as eleições estão muito próximas da farsa, na medida em que Nicolás Maduro escolhe os seus rivais nas urnas. Não tem sentido nenhum a vitória que ele poderá conquistar à custa de ameaças de guerras civis. Maduro pretende se reeleger por mais seis anos – e tem reprimido adversários. A comunidade internacional está preocupada e atenta.

Nicolás Maduro disputa o terceiro mandato seguido. Ele foi eleito pela primeira vez em abril de 2013, um mês depois do falecimento do presidente Hugo Chávez, de quem era vice. Herdeiro do chavismo, Maduro foi acusado pela comunidade internacional de perseguir e prender opositores e desrespeitar direitos políticos durante os anos à frente da Venezuela, e tem adotado um discurso de intimidação a adversários e eleitores. Na semana passada, ele declarou que caso perca a eleição, haverá “banho de sangue” e “guerra civil”.

O adversário de Maduro é o diplomata aposentado Edmundo González Urrutia. Ele se tornou o candidato da oposição de última hora, depois que os tribunais controlados por Maduro impediram a ex-deputada Maria Corina Machado e da substituta dela, a filósofa Corina Yoris.

RECUPERAÇÃO – Ao longo da campanha, Gonzalez defendeu o retorno dos venezuelanos que estão no exterior – são mais de 7,7 milhões, segundo a ONU – e prometeu a recuperação da economia. A inflação em 2023 foi de cerca de 189%. Mais da metade da população vive abaixo da linha da pobreza.

A eleição na Venezuela é uma disputa desigual. Maduro usa a estrutura do governo para fazer campanha. A TV estatal só veicula notícias e pesquisas de opinião favoráveis a ele. Pesquisas de opinião independentes apontam que Edmundo Gonzalez tem mais de 30 pontos percentuais de vantagem sobre Nicolás Maduro. Já um instituto pró-governo diz que o cenário é o contrário: é Maduro quem lidera com ampla vantagem.

Como se vê, as disputas eleitorais poderão marcar profundamente o destino tanto nos Estados Unidos quanto na Venezuela. Mais um capítulo da história política de ambos os países.

Fome recua quase pela metade, mas ainda afeta 14,3 milhões de brasileiros

Quase 15 milhões de pessoas deixaram de passar fome no país

Pedro do Coutto

O levantamento da ONU sobre a fome no mundo revelou um índice de extrema gravidade, com 733 milhões de pessoas tendo dúvida se vão poder ou não se alimentar no dia seguinte; o equivalente a uma em cada 11 pessoas no mundo e uma em cada cinco na África, de acordo com o último relatório O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo publicado nesta quarta-feira por cinco agências especializadas das Nações Unidas.

O relatório anual, lançado este ano no contexto da reunião ministerial no Brasil da Força-Tarefa do G20 para uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, adverte que o mundo está falhando gravemente em alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável , Fome Zero, até 2030. O relatório mostra que o mundo retrocedeu 15 anos, com níveis de desnutrição comparáveis aos de 2008-2009.

ALARMANTE – Apesar de algum progresso em áreas específicas, como atraso no crescimento infantil e amamentação exclusiva, um número alarmante de pessoas continua a enfrentar insegurança alimentar e má nutrição, já que os níveis globais de fome estagnaram por três anos consecutivos, com entre 713 e 757 milhões de pessoas desnutridas em 2023 – aproximadamente 152 milhões a mais do que em 2019, considerando-se a faixa intermediária (733 milhões).

O relatório aponta que a população em situação de insegurança alimentar no Brasil caiu de 32,8%, no período entre 2020 e 2022, para 18,4% entre 2021 e 2023. Na prática, a redução quase pela metade (-43,9%) significa que entre 2020 e 2022, 70,3 milhões de brasileiros estavam em insegurança alimentar moderada ou grave; já entre 2021 e 2023, 39,7 milhões de brasileiros ainda estavam nessa condição – e outros 30,6 milhões tinham deixado o quadro de insegurança alimentar.

A insegurança alimentar moderada é quando as pessoas enfrentam incertezas sobre sua capacidade de obter alimentos e são forçadas a reduzir a qualidade e/ou a quantidade de alimentos que consomem devido à falta de dinheiro ou outros recursos. A insegurança alimentar grave ocorre quando, em algum momento, as pessoas ficam sem comida, passam fome e, no caso mais extremo, ficam sem comida por um dia ou mais.

RASTRO – A porcentagem ainda é alta num país com 200 milhões de habitantes. O combate à fome no mundo  avançou nos últimos anos, e deixa um rastro sinistro de carência, pois a alimentação é a primeira coisa que alguém tem que fazer para a sua saúde.

A meta do governo Lula, inclusive, é terminar com esse tipo de situação. Mas terminar com a fome é algo que exige ações muito profundas porque depende de recursos num processo de redistribuição de renda para que possa ter êxito. Fica a advertência de que o caminho a ser traçado pode estar certo, mas é demorado em sua execução.

São milhões de pessoas entre as estatísticas, mas pode ser que na realidade seja um número maior. O déficit alimentar pode pesar para distorcer as estatísticas e aí está a raiz do problema.

Kamala já foi lançada em empate técnico com Trump prevendo-se uma eleição duríssima

Levantamento foi feito após a desistência de Biden da corrida eleitoral

Pedro do Coutto

A primeira pesquisa realizada nos Estados Unidos sobre a sucessão presidencial entre Kamala Harris e Donald Trump apresentou pequena vantagem para a vice-presidente, com 44% a 42%. O levantamento reflete uma campanha na qual não falta entusiasmo dos eleitores americanos. Kamala subiu acentuadamente para uma pessoa que não era candidata e agora se vê protagonizando um episódio fundamental para o país.

O levantamento, realizado na segunda e terça-feira, vem após Donald Trump aceitar formalmente a nomeação de seu partido e o anúncio de Biden de deixar a corrida eleitoral. A diferença está dentro da margem de erro de 3 pontos percentuais. Harris e Trump ficaram empatados com 44% dos votos, em um levantamento feito entre 15 e 16 de julho. Em uma pesquisa anterior do dia 1 e 2 de julho, Trump liderou por um ponto percentual, ambos dentro da mesma margem de erro.

TRUMP NA FRENTE – Nesta quarta-feira, a pesquisa mais recente, segundo o estudo da CNN conduzido pelo instituto de pesquisa SSRS, traz Trump na frente. Ele seria a escolha de 49% dos eleitores americanos registrados nas urnas. Já Kamala —considerada a virtual candidata do Partido Democrata apesar de seu pleito não ter sido oficializado ainda— teria 46% das intenções de voto.

O cenário focaliza um panorama difícil de ser diagnosticado, mas que sem dúvida reflete-se nas intenções de voto de hoje para um confronto direto do amanhã. Harris demonstrou que não se intimida diante da responsabilidade de substituir Joe Biden no quadro sucessório, e também assume uma atitude bastante firme contra o antagonista.

Os resultados daspesquisa surpreendeu Trump que não contava com  uma divisão de números tão intensa. Cada voto computado será muito importante, incluindo o destino dos Estados Unidos.

OFENSIVA – Uma vitória de Kamala Harris significará o êxito da democracia americana, enquanto cada voto em Trump apontará o retorno ao passado de 2021 com a invasão do Capitólio. Kamala Harris está consciente de sua missão e por isso partiu para ofensiva, não perdendo tempo para enfrentar o seu rival.

É assim que agem as pessoas de fé democrática e que reúnem em torno de si as condições para decidir uma eleição. Donald Trump sentiu o golpe eleitoral que foi desfechado não tanto por Kamala Harris, mas sobretudo pelo povo americano. Ele esperava, evidentemente, após o atentado que sofreu, um reflexo favorável nas urnas. Mas isso não ocorreu.

Kamala Harris já tem número suficiente de delegados para ser candidata à Casa Branca

Levantamento da AP ouviu delegados democratas

Pedro do Coutto

Com a desenvoltura e o estilo afirmativo que a caracteriza, Kamala Harris já fala como candidata dos Democratas disposta a enfrentar Donald Trump nas urnas de novembro. A vice-presidente dos Estados Unidos tem o apoio inicial de 2.668 delegados democratas, segundo levantamento da Associated Press.

O número é superior aos 1.976 necessários para ela ser nomeada candidata à Casa Branca. No domingo, Joe Biden desistiu de concorrer à reeleição e Kamala se posicionou como a principal candidata da legenda para enfrentar o ex-presidente Donald Trump.

APOIO – Em seu perfil no X, Biden declarou: “Minha 1ª decisão como candidato do partido em 2020 foi escolher Kamala Harris como minha vice-presidente. E essa foi a melhor decisão que tomei. Hoje, quero oferecer meu total apoio e endosso para que Kamala seja a candidata do nosso partido este ano”.  

Além dos 2.668 delegados democratas que apoiam a vice-presidente, a pesquisa indicou que há 54 indecisos. A AP disse que o levantamento seguirá sendo feito até a abertura da Convenção Nacional Democrata, marcada para começar em 19 de agosto.

Apesar de não ser uma contagem oficial, Kamala celebrou a conquista dos delegados. Em seu perfil no X, a vice-presidente afirmou que está “orgulhosa  de ter garantido o amplo apoio necessário” para se tornar a candidata do Partido Democrata.

COALIZÃO  – “Estou ansiosa para aceitar formalmente a nomeação em breve”, disse. “Estou grata ao presidente Biden e a todos no Partido Democrata que já depositaram fé em mim”, continuou. “Nos próximos meses, viajarei por todo o país conversando com os norte-americanos sobre o que está em jogo. Tenho toda a intenção de unir o nosso partido, unir a nossa nação e derrotar Donald Trump em novembro”, completou.

Democratas investiram US$ 81 milhões de dólares (cerca de R$ 451 milhões) em doações na campanha presidencial de Kamala Harris desde que Joe Biden desistiu da disputa à reeleição. É a maior arrecadação num período de poucas horas de campanha na história presidencial americana. Mais de 888 mil doadores fizeram contribuições de menos de US$ 200 (ou R$ 1,1 mil) no dia seguinte à saída de Biden. “Os apoiadores estão entusiasmados e animados em apoiá-la como candidata democrata”, disse no X a ActBlue, plataforma que reúne e consolida as doações.

O aumento das doações sinalizam que o nome de Kamala foi aceito. Disposição não a falta também, como se verifica. Vai para as urnas contra Trump, combatendo-o na essência das questões. Ela demonstra não temer os debates, com enfoque firme para apontar as fragilidades de Trump, a começar pela invasão do Capitólio em janeiro de 2021. Veremos agora como a campanha se desenrolará na medida em que os democratas homologuem Kamala Harris como a sua candidata. Acho que tenha sido a melhor solução.

Renúncia de Biden muda a dinâmica da eleição norte-americana

Harris sai à frente como favorita para assumir a candidatura

Pedro do Coutto

Sentindo a reação dos democratas, inclusive com o pronunciamento de Barack Obama ao New York Times, para que retirasse a sua candidatura à Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden se afastou deixando um vazio a ser preenchido por Kamala Harris. Biden anunciou neste domingo a sua desistência à reeleição e apoio à vice-presidente. A decisão muda totalmente a dinâmica da eleição e pode representar um novo momento para o Partido Democrata.

Em um comunicado no X, Biden anunciou que cumprirá o seu mandato até janeiro de 2025. “Foi a maior honra da minha vida servir como seu presidente. E embora tenha sido minha intenção buscar a reeleição, acredito que é do melhor interesse do meu partido e do país que eu me afaste e me concentre exclusivamente em cumprir meus deveres como presidente pelo restante do meu mandato”, escreveu.

DEBATE – A crise na campanha de Biden começou no fim de junho, quando ele teve um mau desempenho em um debate contra Donald Trump. À época, a capacidade cognitiva do presidente foi colocada em dúvida. A decisão de Biden também pode ter sido influenciada pelo comportamento dos doadores de campanha, que começaram a se retrair após o debate.

Apesar de Biden não ser um homem dado a desistir dos obstáculos que surgem pela frente, nesse caso teve que ceder às fortes pressões. É um momento sem precedentes e a atenção se volta totalmente para o Partido Democrata. Kamala Harris é a favorita e a campanha de Trump já se prepara para essa possibilidade..

Pelo fato de ser vice-presidente, Kamala desfruta de uma legitimidade maior nesse momento. Mas o Partido Democrata não é homogêneo e uma coisa que o Biden tinha era que ele conseguia unir o partido inteiro.  Agora a bola está de novo com os democratas e este pode se tornar um momento de força para o partido.  Assim se escreve mais um capítulo da nação americana, símbolo da democracia e do compromisso com a realidade que se coloca novamente como um desafio a ser preenchido por uma candidata apta e capacitada.

Obama foi fundamental para fazer Joe Biden desistir de sua candidatura

Biden ficou irritado com Obama por pressão para desistir de campanha

Pedro do Coutto

Nos Estados Unidos foi para o espaço a candidatura de Joe Biden, principalmente depois que foi divulgada a opinião do ex-presidente Barack Obama de que Biden deveria se retirar da disputa. Pessoas próximas  afirmaram que ele ficou ressentido com o que considerou ser uma campanha orquestrada por líderes democratas para que ele desistisse da candidatura à Presidência americana.

Biden não passou recibo e desprezou a deputada Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara dos EUA, a principal instigadora. Também não citou o ex-presidente Barack Obama que, segundo ele, estaria agindo como um “mestre de marionetes” nos bastidores democratas.

A lista de políticos democratas que pediam para que Biden desista da corrida presidencial não parava de crescer e 34 congressistas do partido pediram publicamente para o presidente encerrar sua candidatura à reeleição.

ANÚNCIO – O presidente elogiou a vice-presidente Kamala Harris, que manteve a fidelidade a ele, e disse que vai apoiá-la para ser a candidata substituta.

Suas palavras foram bem recebidas e imediatamente começaram a aumentar as doações à campanha democrata e as manifestações de apoio à indicação de Kamala Harris, que será submetida ao partido.

Na última semana, Obama disse em privado a aliados que Joe Biden precisava considerar seriamente sua viabilidade como candidato à reeleição e que as chances de vitória do atual ocupante da Casa Branca tinham diminuíram. Mas o desconforto entre Obama e Biden não é de agora.

RESSENTIMENTO – Segundo o The New York Times, o atual presidente guarda rancor desde que Obama gentilmente o desencorajou de concorrer à Presidência em 2016, direcionando a indicação democrata para Hillary Clinton, que perdeu para Donald Trump. Antes de ser presidente, Biden foi vice de Obama ao longo de seus dois mandatos na presidência, de 2009 a 2017.

Com esse episódio, Biden ficou inviabilizado, pois ninguém pode ser candidato de um partido na medida em que um dos maiores representantes da legenda já deixa claro que não o apoia integralmente. Enfim, são coisas da política e temos que ir em frente aguardando o próximo passo do partido dos Democratas.

Apagão cibernético: Dimensão dos prejuízos é enorme, mas quem pagará por isso?

Charge do Cazo (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

O apagão que atingiu o sistema cibernético mundial na última sexta-feira deve ter deixado rastros em matéria de prejuízos que não foram ainda calculados em toda a sua plenitude. O episódio atingiu computadores e afetou vários setores, incluindo o aeroportuário, serviços bancários e de saúde por todo o mundo. As principais companhias aéreas dos Estados Unidos cancelaram todos os voos. Problemas técnicos foram reportados em aeroportos da Europa, da Índia, de Hong Kong e Singapura.

No Reino Unido e na Austrália, algumas das principais redes de televisão ficaram fora do ar. O serviço de saúde foi afetado em países como Reino Unido e Alemanha, onde cirurgias chegaram a ser canceladas em dois hospitais. O mercado de ações, commodities e câmbio também foi afetado, com bolsas prejudicadas ao redor do planeta.

FALHA – Informações apontam que o problema está relacionado a uma falha em sistemas operacionais de uma empresa de segurança cibernética dos Estados Unidos com mais de 20 mil assinantes em todo o mundo e que presta serviço para a Microsoft. Segundo o CEO da empresa, houve uma interrupção nos serviços por conta de uma atualização no sistema.

Não é possível que um fato como esse, que mostrou a vulnerabilidade de um sistema conectado, não tenha deixado reflexos gigantescos. O noticiário deste sábado revela a volta à normalidade dos voos (que foram cancelados em diversos países), mas não focalizaram o montante das consequências deixadas em aberto para serem compensadas de alguma maneira.

As possibilidades para reaver os prejuízos causados a empresas ainda não são claras. Enquanto seus sistemas são gradualmente reestabelecidos, elas calculam as potenciais perdas relacionadas à paralisação de operações e as possibilidades de redução das perdas.

RESSARCIMENTO – No Brasil, logo pela manhã, o problema já estava resolvido, o que deve reduzir o caso de companhias brasileiras reivindicando o ressarcimento, normalmente feito por meio de créditos de desconto no pagamento em meses seguintes.

Os seguros não devem dar conta de amortizar as perdas, já que a maioria das apólices cibernéticas não cobrem responsabilidades decorrentes de falha do sistema, portanto, as exposições podem ser inferiores ao previsto. Nos próximos dias, as companhias ainda devem enfrentar ações de danos aos consumidores afetados pela paralisação. Ainda que sejam apenas contratantes dos serviços, não estão imunes a obrigações de ressarcimento.

Em nota à imprensa, o Procon-SP afirmou que “o Código de Defesa do Consumidor resguarda os direitos de quem eventualmente tiver prejuízos, bem como estabelece deveres para os fornecedores igualmente impactados, os quais precisam prestar aos seus clientes informações claras e precisas sobre quais as condutas mais adequadas que o consumidor deve adotar”. Em meios a todos os trâmites burocráticos, todos que tiveram prejuízos, provavelmente terão que aguardar por muito tempo para serem atendidos.

Biden começa a aceitar a ideia de desistir das eleições

Cresce a hipótese de Harris ser a candidata dos Democratas

Pedro do Coutto

Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden, pela primeira vez, admitiu retirar a sua candidatura caso os médicos apontassem o surgimento de alguma “condição médica” que o impedisse de servir um novo mandato presidencial. Na conversa, o presidente disse que reavaliaria sua permanência na corrida “se eu tivesse alguma condição médica que surgisse, se alguém, se os médicos viessem até mim e dissessem, você tem esse problema e aquele problema”, disse Biden.

Desde que perdeu o debate contra Donald Trump e teve suas aptidões física e mental questionadas, Biden vem afirmando repetidamente em diversas entrevistas e coletivas que não tem nenhuma condição médica grave, segundo seus médicos, e que “faz testes cognitivos todos os dias” em suas funções como presidente.

HARRIS – Com essa afirmação de Biden, cresce a hipótese de Kamala Harris ser a candidata dos Democratas, uma vez que ela tem condições para isso. Biden parece estar mais enfraquecido do que no início da corrida presidencial. Kamala Harris tem ganho a simpatia dos eleitores para concorrer às eleições dos EUA como candidata principal no lugar do atual de Biden.

Segundo a Associated Press, uma pesquisa do centro AP-NORC mostrou que 6 em cada 10 democratas acreditam que a atual vice-presidente faria um “bom trabalho” como gestora do país. Já 20% dos entrevistados não confiam na vice para assumir a cabeça de chapa nas eleições de novembro.

PRESSÃO – A especulação sobre a candidatura da vice-presidente é feita em um momento em que Biden enfrenta pressão de doadores e correligionários para desistir da disputa presidencial, marcada para 5 de novembro. O debate entre o atual presidente com Trump em 27 de junho foi negativo para a imagem de Biden diante dos eleitores, com o presidente aparentando confusão. As preocupações com a idade do democrata (81 anos) e sua capacidade cognitiva tem levado figurões do partido a recomendar publicamente a desistência.

Kamala Harris, porém, mantém-se completamente leal a Biden, sendo sua grande defensora. Oakley Graham, democrata de Greenwood, Missouri, declarou que, embora esteja “muito feliz” com as conquistas de Biden no cargo, sentiu que estaria mais entusiasmado por apoiar Harris como candidata a presidente e que “já era tempo” de uma mulher tornar-se chefe de Estado no país.

Harris é mais popular entre os negros norte-americanos do que entre os adultos brancos ou hispânicos. É mais rejeitada pelos homens do que pelas mulheres. Outros democratas proeminentes que foram considerados potenciais substitutos são menos conhecidos do que Harris.Mais um capítulo de abre na corrida pela Casa Branca.

Pesquisa após atentado mostra Trump empatado com Biden

Atentado não provocou mudanças no sentimento dos eleitores

Pedro do Coutto

Uma pesquisa Reuters/Ipsos com eleitores registrados divulgada nesta terça-feira, coloca Trump com 43%, contra 41% do presidente Joe Biden, bem dentro da margem de erro do levantamento, praticamente um empate. O levantamento anterior empatou a disputa em 40%.

Assim, a tentativa de assassinato de sábado  contra Trump, ainda que possa virar a corrida presidencial dos Estados Unidos deste ano, segundo a análise feita, não teve reflexos maiores sobre os números da corrida presidencial americana desde o episódio. Ou seja, o atentado não funcionou como forma mais intensa para ampliar a vantagem de Trump.

EMPATE – A corrida presidencial dos EUA está tecnicamente empatada ao longo de todo este ano. Em dez rodadas de pesquisas, a maior diferença já registrada em 2024 foi de cinco pontos percentuais a favor de Trump, em janeiro. Em abril, a vantagem era de Biden: quatro pontos. Na maioria dos levantamentos, porém, a distância era menor ou houve empate nas intenções de voto. A tendência é de disputa acirrada.

Em meio às especulações sobre uma possível substituição de Biden como candidato do Partido Democrata, alguns institutos testaram outros nomes como concorrentes de Trump – já confirmado como postulante republicano à Casa Branca. A atual vice-presidente, Kamala Harris, tem intenções de voto semelhantes às de Biden, ou seja, fica em condição de empate técnico com Trump.

A situação muda consideravelmente, porém, quando os nomes apresentados são os de Trump e da ex-primeira dama Michelle Obama. Em levantamento do Instituto Ipsos em 1º e 2 de julho, ela tinha mais de dez pontos percentuais de vantagem sobre o republicano.

RECUO –  Biden, por seu turno, admitiu que poderá desistir da candidatura se os médicos acharem que essa é a melhor solução para ele e para o país. Foi a primeira vez que Biden levantou a possibilidade de não participar das eleições e isso deve estar movimentando os bastidores dos democratas.

O presidente americano, que teve diagnóstico positivo para covid-19 e cancelou eventos de campanha, começou a se mostrar “mais receptivo” aos apelos para abandonar a candidatura, segundo o The New York Times. O jornal ressalta, no entanto, que Joe Biden não deu nenhuma indicação de ter mudado de posição.

DEBATE –  A pressão aumentou após o desempenho desastroso no debate com Trump e de uma série de gafes cometidas pelo presidente. Doadores disseram que deixarão de dar recursos à campanha, e há um temor de outros candidatos do partido de que a presença de Biden na eleição possa atrapalhar outras disputas locais, como de governador e deputado. Como o voto não é obrigatório, eleitores democratas menos empolgados podem apenas não comparecer às urnas.

Uma pesquisa divulgada pela Associated Press-NORC apontou que quase dois terços dos democratas acham melhor que Biden deixe a disputa. A candidatura presidencial democrata será confirmada na convenção em agosto. Até lá, seria mais fácil fazer a troca de candidato. No entanto, isso só deverá ocorrer se o próprio Biden optar por desistir. Como ele conquistou votos suficientes nas primárias, tem o direito de ser o candidato do partido.

Lula diz que ainda precisa ser convencido sobre corte de gastos

Lula disse não ser problema para o país um deficit de 0,1% ou 0,2%

Pedro do Coutto

O presidente Lula da Silva afirmou que ainda precisa ser convencido pela equipe econômica da real necessidade de cortar gastos. Disse que não há problema para o país se houver déficit de 0,1% ou 0,2% do Produto Interno Bruto e que o governo não é obrigado a cumprir metas se houver “coisas mais importantes para fazer”.

“Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer. Esse país é muito grande, esse país é muito poderoso. O que é pequeno é a cabeça dos dirigentes desse país e a cabeça de alguns especuladores. Não tem nenhum problema se é déficit zero, se é deficit 0,1%, se é deficit 0,2%. O que é importante é que esse país esteja crescendo, que a economia esteja crescendo, que o emprego esteja crescendo, que o salário esteja crescendo”, disse.

EXPECTATIVA – Dessa forma, os cortes previstos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, terão que esperar alguns dias. Lula repetiu que muito do que é considerado gasto, para ele é investimento, como por exemplo, recursos para saúde e educação. “Às vezes eu fico irritado porque eu não sou marinheiro de 1ª viagem. Eu sou o presidente da República mais longevo desse país depois de Getúlio Vargas e Dom Pedro II. Eu tenho experiência de administração bem-sucedida”, afirmou.

O governo anunciará um novo bloqueio de despesas na próxima semana, quando será divulgado o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do 3º bimestre de 2024. O valor pode atingir cerca de R$ 10 bilhões. Há, no entanto, diversos cenários sendo estudados até a reunião da Junta de Execução Orçamentária, marcada para hoje.

Os valores, em si, não estão fechados e tudo depende desta reunião. Há ainda a avaliação de que segurar valores de despesas discricionárias é uma sinalização positiva para o mercado financeiro e mostraria que o governo Lula tem comprometimento com o equilíbrio fiscal, apesar dos ruídos causados pelo próprio presidente. A depender, a quantia pode ficar abaixo dos dois dígitos.

CORTE – No início do mês, a equipe econômica havia anunciado um corte de R$ 25,9 bilhões no Orçamento em 2025 na tentativa de acalmar as pressões para ajustar a parte fiscal. A medida foi bem vista por agentes do mercado financeiro.Lula também repetiu que não pretende desvincular benefícios sociais e trabalhistas do salário mínimo, como já defendido inclusive por integrantes do governo, como a ministra Simone Tebet. “O mínimo é o mínimo, não tem nada mais baixo. Então não posso cortar o mínimo”, disse.

Toda a questão deve ser vista com muito cuidado, pois os números estáticos enganam muito. É preciso ver caso a caso com atenção e sensibilidade. Ninguém nega a importância da reforma tributária, mas há limites para tudo e esses não podem ser ultrapassados.

Biden tem que dar uma resposta concreta sobre atentado contra Trump

Espaço aberto na política americana está sendo ocupado por Trump

Pedro do Coutto

Enquanto o ex-presidente Donald Trump aproveita o embalo decorrente do atentado sofrido no último fim de semana, o presidente Joe Biden está custando a anunciar qual o seu posicionamento em relação à questão. A Casa Branca precisa assumir uma postura sobre o episódio e não ficar parada, aguardando os acontecimentos, enquanto a opinião pública americana espera uma resposta.

Uma investigação será indispensável por parte do governo para preencher este espaço na política que vem sendo ocupado unicamente por Trump. A morte do atirador impede que se aprofundem as investigações, mas elas precisam ter um desenrolar sob a ótica governamental, pois há o precedente da invasão do Capitólio em 2021 que deixou evidente um plano para a violação do resultado das urnas de 2020.

FIRMEZA – O governo de Washington não pode ficar paralisado diante do fato e sim agir firmemente até para ir ao encontro da opinião pública americana que aguarda uma sinalização sobre o fato de forma concreta.

Trump não vacilou e aproveitou o episódio e o clima de perplexidade inevitável, anunciando a escolha do seu companheiro de chapa, o senador J.D Vance, de 39 anos de idade. Se Trump, apesar da tentativa de morte que sofreu, teve condições para dar sequência às suas articulações, mais motivos tem a Casa Branca para encontrar condições para colocar em prática uma resposta que o eleitorado americano deseja ouvir.

MOBILIZAÇÃO – Bidem tem que mobilizar a sua estrutura política e partidária, avançando no sentido das investigações. Caso não assuma o esforço para investigar todas as faces da questão, o fato manter-se-á como uma sombra de mais um atentado infame não apenas contra o candidato, mas contra toda democracia americana. Biden não pode se manter calado, pois a omissão só acrescentará pontos (e votos) em favor de Trump.

Biden deve incorporar em sua equipe de resposta declarações dos ex-presidentes Bill Clinton, Barack Obama e Jimmy Carter para dar peso à sua ação completa diante do trágico episódio. Além disso, demonstraria que Clinton, Obama e Carter  estão ao seu lado na luta contra atos que atingem a democracia.

Ainda é uma incógnita se atentado facilitará de vitória de Trump

Ainda é cedo para afirmar repercussão do atentado na Pensilvânia

Pedro do Coutto

À primeira vista, o atentado contra Donald Trump poderá fortalecê-lo na sucessão presidencial. Porém, há desdobramentos que estão sendo investigados pelo FBI e que poderão não apagar, mas descaracterizar a importância do que aconteceu na Pensilvânia e o que acontecerá nas urnas de novembro. “Estamos investigando o caso como uma tentativa de assassinato, mas também como um possível ato de terrorismo doméstico”, declarou Robert Wells, diretor assistente da divisão de contraterrorismo do FBI à imprensa norte-americana.

De acordo com as autoridades dos EUA, o autor do ataque contra Trump, identificado como Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, agiu sozinho e, até agora, os investigadores não encontraram “nenhuma ideologia relacionada” com a tentativa de assassinato.”Neste momento, as informações que temos indicam que o atirador agiu sozinho”, afirmou Kevin Rojek, agente do FBI na Pensilvânia. .

DE RASPÃO – Trump deixou o comício sangrando e foi encaminhado ao hospital. Um disparo atingiu de raspão a orelha do ex-presidente. O republicano teve a segurança reforçada. Os disparos também provocaram a morte de um homem que acompanhava o comício, Corey Comperatore, de 50 anos. Além disso, outros dois espectadores, também do sexo masculino, foram socorridos em estado grave e encaminhados ao hospital.

A polícia recuperou um fuzil AR-15 semiautomático no local do atentado, segundo a Associated Press, consequência da política de liberação para a compra de armas nos Estados Unidos, políticas defendidas pelo candidato republicano. As autoridades afirmaram que o suspeito comprou a arma legalmente. A investigação tentará identificar se outras pessoas estão envolvidas no crime. É preciso não esquecer que a invasão do Capitólio comandada pelo próprio Donald Trump representou o primeiro atentado contra o resultado das eleições americanas que resultou em nove mortos nos conflitos que se desenrolaram.

REFERÊNCIA – O autor do atentado foi morto e assim se perde uma referência sobre o que poderia surgir, revelando aspectos de bastidores, mas que desapareceram efetivamente. Por um triz, a bala não atingiu Trump como o atirador pretendia, mas ficaram no ar as explicações que seriam indispensáveis.

Conforme disse, Donald Trump tentou impedir com a invasão do Capitólio que a democracia fosse exercida na eleição em que perdeu. Agora, ele foi vítima da mesma violência a qual incitou anteriormente. Pode ser que consiga reverter a sua posição, mas ainda é cedo para fazer essa afirmação. O que é concreto hoje pode se dissolver amanhã.

Sob o aspecto da democracia atacada no sábado nos Estados Unidos, o presidente Lula da Silva repudiou o que classificou como um atentado contra o ex-presidente Donald Trump. Na rede social X, Lula considerou o ato como “inaceitável”. Por meio de nota do Itamaraty, o governo brasileiro se manifestou veementemente contra o atentado. Segundo o comunicado, o Brasil reafirma ser inaceitável qualquer forma de violência política em sociedades democráticas e que acompanha com atenção o pleno esclarecimento dos fatos.

Atentado contra Trump: a violência enraizada na política americana

Após ser atingido de raspão, Trump é amparado por agentes

Pedro do Coutto

Um atentado contra Donald Trump em comício realizado na Pensilvânia acrescenta um novo rumo à campanha eleitoral nos Estados Unidos. Imagens de um vídeo mostram que Trump caiu no chão do palanque onde estava, ficou assustado e, ao levantar, havia sangue no rosto e sua orelha direita sangrava.

Foi atingido de raspão perto do rosto. Rapidamente, foi cercado por agentes secretos do FBI, que o retiraram do local. Antes de descer do palanque, o ex-presidente levanta o punho direito em sinal de vitória e é aplaudido pelos presentes. Poucas horas depois do atentado, Trump se manifestou na sua rede Truth Social. Ele agradeceu ao Serviço Secreto e às autoridades pela “rápida resposta ao tiroteio”.

“ALGO ERRADO” – “Quero estender minhas condolências à família da pessoa morta no comício, e também à de outra que ficou gravemente ferida. É incrível que tal ato ocorra em nosso país”, escreveu. “Eu fui atingido por uma bala que atravessou a parte de cima da minha orelha direita. Soube imediatamente que algo estava errado ao ouvir o barulho de zumbido, tiros e sentir a bala passando pela pele. Muito sangramento ocorreu, e percebi o que tinha acontecido. Deus abençoe a América!”, acrescentou.

Nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repudiou o atentado. “O atentado contra o ex-presidente Donald Trump deve ser repudiado veementemente por todos os defensores da democracia e do diálogo na política. O que vimos hoje é inaceitável”, reagiu Lula.

REPERCUSSÃO – O impacto de tudo que ocorreu, certamente será enorme, porém ainda é cedo para dizer que Biden perderá as eleições em virtude do ocorrido na noite de sábado. A disputa será muito apertada, no fim das contas. É claro que Trump ganha muita simpatia, agora, por todo o mundo. Isso deve reforçar o trabalho dentro da base do Partido Republicano. Mas não creio que isso afetará as pessoas que estão de fora da base eleitoral. Faltam menos de quatro meses para o fim da campanha eleitoral e, durante esse período, muitas coisas podem acontecer.
 
Incrível como a violência está enraizada na política americana, basta ver os atentados registrados na história do país.  Movidos pelo ódio e pela paixão, os atiradores não têm limites. De qualquer forma, o atentado foi um ato indescritível não só contra o candidato, mas contra todos os que esperam desfechos democráticos nas lutas políticas que travam.

Cresce pressão para que Biden desista de reeleição aos 81 anos

Congressistas democratas querem que o Biden seja substituído

Pedro do Coutto

Faltando pouco mais de três meses para as eleições americanas, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, enfrenta pressões tanto internas quanto externas em sua campanha. O democrata, de 81 anos, é o mais velho a ocupar a Casa Branca. Sua idade avançada e dúvidas sobre sua capacidade cognitiva e mental preocupam seus apoiadores. Para os republicanos, essa fragilidade pode ser o trunfo necessário para vencer a eleição de novembro, especialmente após o ataque a Trump neste sábado, que sempre influi no eleitorado.

A pressão aumentou após Biden apresentar um desempenho fraco no debate contra Donald Trump. Biden teve dificuldades em completar raciocínios, gaguejou e se perdeu em diversos momentos. A atuação de Biden resultou em uma onda de críticas da imprensa. O New York Times publicou um editorial sugerindo que ele desistisse da reeleição. Alguns deputados e senadores democratas também apoiaram essa ideia, defendendo que ele fosse substituído por outro candidato.

ABALOS – Biden afirmou que o debate foi apenas “uma noite ruim”, mas foi pressionado por apoiadores e patrocinadores de campanha a reconsiderar sua candidatura. Os deslizes de Biden têm se tornado cada vez mais frequentes. Na semana passada, ele cometeu mais duas gafes consecutivas: chamou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, de “Putin” e confundiu a vice-presidente Kamala Harris com Trump.

Caso seja reeleito, Biden terá 86 anos ao fim de seu mandato. Kamala Harris é a favorita para substituí-lo caso ele desista de tentar a reeleição. No entanto, Biden descartou essa possibilidade, afirmando ser o “mais qualificado” para vencer Trump. O próximo debate presidencial, organizado pela ABC News, está marcado para 10 de setembro, e a eleição ocorrerá em 5 de novembro. Outro desempenho desanimador de Biden pode custar-lhe a Casa Branca.

Paralelamente, há também pressões para que Biden mantenha sua candidatura e enfrente Donald Trump nas urnas. A situação não é favorável aos democratas diante das divisões internas. Os que defendem a desistência de Biden baseiam-se na hipótese de surgir um candidato independente, o que poderia inviabilizar a candidatura de Joe Biden, mas isso também enfraqueceria o partido. Portanto, o quadro permanece indefinido.

Nova série de gafes de Biden aumenta a pressão contra sua candidatura