Bênção a gays alivia a hipocrisia da Igreja, que continua anacrônica e intransigente

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Charge do Nando Motta (Arquivo Google)

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

O Vaticano anunciou na segunda-feira (18) a decisão de autorizar representantes do clero a conceder bênção a casais de pessoas do mesmo sexo e àqueles que estariam “em situação irregular”, ou seja, numa nova união após um divórcio.

A deliberação foi considerada histórica, diante do persistente machismo e da intransigência da Igreja Católica com uniões homoafetivas. A autorização, contudo, vem cercada de restrições. O principal cuidado, como explica o comunicado do Vaticano, é evitar que se confunda a bênção com o matrimônio, que permanece sendo um sacramento exclusivo para homens e mulheres que possam dar seguimento ao “crescei e multiplicai-vos”.

SEM CASAMENTO – “Essa bênção nunca será realizada ao mesmo tempo que ritos civis de união, nem em conexão com eles, para não produzir confusão com a bênção do sacramento do matrimônio”, diz o texto. Sendo assim, por mais inovadora que se queira considerá-la, a permissão não é muito mais do que uma modalidade de “washing” na imagem ultraconservadora da instituição.

Em bom português, trata-se de uma simpática passada de pano na hipocrisia e no anacronismo de normas doutrinárias defendidas pelo Vaticano.

Sabe-se que ao longo da história, em matéria de atividade sexual, o papado teve de tudo, até acusações de sodomia e incesto. A tentativa de controle que se foi impondo na era moderna, com motivações variadas, nem sempre mostrou-se bem-sucedida. A presença de homossexuais no clero é sobejamente conhecida, tanto quanto os inúmeros casos de assédio e abusos, inclusive de crianças.

PAPEL SUBALTERNOO papel reservado às mulheres pela Igreja Católica é, para dizer o mínimo, subalterno. Não podem ser ordenadas. A tradição viria de Jesus Cristo, que há dois milênios teve apenas homens entre seus apóstolos. Sempre foi assim e assim deverá permanecer. Foi o filho de Deus quem decidiu.

O catolicismo vem regularmente perdendo rebanho nas últimas décadas, não necessariamente para outras vertentes cristãs, como a evangélica, mas também para o fenômeno dos sem religião, grupo que tem crescido no Brasil e em outros países. Basta dizer que, de acordo com pesquisa Datafolha do ano passado, entre a população de São Paulo e Rio, na faixa de 16 a 24 anos, os sem religião superam católicos e evangélicos.

Não é casual que a declaração tenha vindo seis semanas depois da conclusão do Sínodo dos Bispos, reunião que serve como fonte de consulta para o papa em questionamentos e reflexões sobre o futuro da igreja. O encontro contou com a participação de mulheres e leigos, que em tese contribuíram para medidas que aproximem a Santa Sé de grupos marginalizados pela doutrina ou que perdem interesse pela religião.

SEM PODER SECULARNo momento em que ganham renovada projeção os discursos sobre a diversidade de gênero e a equiparação de direitos em todas as esferas, é antediluviana a atitude da Igreja Católica diante das relações homoafetivas e do lugar das mulheres. Ainda bem que não mais exerce poder secular, como o islamismo em famigeradas teocracias.

O papa Francisco já havia emitido sinais de acolhimento à comunidade LGBTQIA+, demonstrando sua compreensão mais universalista do papel da instituição e dos sacerdotes católicos no mundo contemporâneo. Nesse contexto, compreende-se que o Vaticano tente fazer alguma coisa para retirar o catolicismo de um passado remoto, cujas normas não fazem mais sentido.

A ampliação do que se chama de “cidadania religiosa”, ainda que bastante restrita, não deixa de ser bem-vinda pelo seu simbolismo.

4 thoughts on “Bênção a gays alivia a hipocrisia da Igreja, que continua anacrônica e intransigente

  1. 1) Neste sentido, reverencio a Igreja Anglicana que aceita o público LGBTQIA +

    2) Seu Cânone básico: “Livro de Oração Comum – Administração dos Sacramentos e Outros Ritos e Cerimônias conforme o uso da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil com Saltério e Seleção de Salmos Litúrgicos”, 1120 págs.

    3) O prefácio original é de 1549.

    4) A IEAB faz parte da Comunhão Anglicana que congrega paróquias em todo o mundo.

    • 1) Em Santa Teresa, RJ, tem a Centenária Paróquia São Paulo Apóstolo, da IEAB.

      2) Sou vizinho deles e vez por outra vou lá ecumenicamente…

      3) Eles sabem que eu sou budista e até já me convidaram para diversas atividades interreligiosas.

  2. Pois é , o modismo da degradação e depravação humana chegou na ” Igreja Católica ” , ao abrir mãos da defesa dos princípios básicos naturais , e aprovar o casamento entre ” machos – viados ” , e entre fêmeas que negam sua feminilidade ” , só para se dizerem modernistas .

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