PF e Moraes inventaram “Abin Paralela” e acharam uma “Abin Hospício”

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Charge do Clayton (O Povo/CE)

Carlos Newton

Na ânsia de apresentar serviços ao relator Alexandre de Moraes, que precisa dar fim ao Inquérito do Fim do Mundo, apelido dado pelo ministro aposentado Marco Aurélio Mello, porque as investigações não acabam nunca, a Polícia Federal acaba criando armadilhas contra sua própria atuação.

Uma das investidas recentes foi a “Abin Paralela”, com a equipe da PF fazendo mais uma operação da série Última Milha, tendo prendido um ex-funcionário da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Mateus de Carvalho Sposito; o empresário Richards Dyer Pozzer; o influenciador Rogério Beraldo de Almeida; o policial federal Marcelo Araújo Bormevet; e o militar do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues.

LOUCA DISPARADA – Como nosso amigo Carlos Chagas gostava de citar, os federais pareciam aqueles cavaleiros de Granada, personagens de Miguel Cervantes em “Dom Quixote”, que saíam em louca disparada, para quê? Para nada.

A prisão dos cinco falsos arapongas é apenas uma tentativa de levar algum deles a uma delação premiada, como a força-tarefa da Lava Jato costumava fazer, e tanto era criticada.

E agora os cinco presos serão ouvidos, porque não são funcionários de carreira da Abin e isso levantou suspeita de que seriam responsáveis por “atividades clandestinas”, digamos assim. Os investigadores vão fazer o possível e o impossível para levar algum deles à delação premiada, a fim de que apresente provas que possam fechar o Inquérito do Fim do Mundo.

REUNIÃO GRAVADA – Uma das provas de que PF dispõe é a gravação da reunião no Planalto, entre o então presidente Bolsonaro, o ministro Augusto Heleno, o diretor da Abin, Alexandre Ramagem, e as duas advogadas do senador Flávio Bolsonaro, que lá compareceram para denunciar um plano diabólico da Receita Federal para incriminar o filho “Número Um” nas rachadinhas.

A gravação prova apenas que Bolsonaro e Heleno são dois idiotas completos, por convocar a reunião, que Ramagem decidiu gravar para livrar-se de participação em ilegalidade.

E ao contrário do que se divulga, a Abin tratou o assunto como uma denúncia qualquer. Enviou ofício à Receita, recebeu a resposta de que não houve irregularidade e encerrou a queixa. Não houve crime.

NÃO ENXERGAM – O que fica definitivamente provado é que o ministro Moraes e a Polícia Federal não enxergam o óbvio. Não foi criada nenhuma “Abin Paralela” para investigar o PT. Pelo contrário, se as investigações conduzem ao convencimento de que a Abin estava realmente trabalhando contra o PT, é porque isso seria normal na agência, cuja principal função é justamente investigar a oposição.

Aliás, sempre funcionou assim desde 1999, quando substituiu o Serviço Nacional de Informações, o famoso SNI, que durante a ditadura militar fazia exatamente a mesma coisa – investigar a oposição. Na época, o SNI perdia tempo investigando Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Severo Gomes, Tancredo Neves, Mário Covas e outros políticos da oposição, enquanto Shigeaki Ueki, conhecido como “Japonezinho do Geisel”, implantava um superesquema de corrupção na Petrobras.

Quando há alternância de poder, a Abin simplesmente troca de alvo, que é sempre quem estiver na oposição.

CONTRA RAMAGEM – As mais recentes provas encontradas mudaram tudo e incriminam diretamente Alexandre Ramagem, que alimentava Bolsonaro com falsas teorias conspiratórias de que “tinha certeza” de que houve fraude na eleição de 2018, a favor de Haddad, do PT, porque Bolsonaro já teria vencido no primeiro turno.

O destrambelhado Ramagem previa que haverá fraude pró-Lula também em 2024, com nova armação do TSE, que ele chamava de “golpe”. Essas informações irresponsáveis do diretor da Abin,  que levavam Bolsonaro à loucura, mudam tudo. Não provam que houve uma “Abin Paralela”, mas que existia uma “Abin Hospício”, dirigida por um paciente chamado Ramagem, cujo equilíbrio mental oscilava com o vento.

O pior é que Bolsonaro repetia tudo o que Ramagem dizia, criando um festival de asneiras tão grande contra a Justiça Eleitoral que acabou tornando Bolsonaro inelegível, enquanto o tresloucado Ramagem virou deputado federal e agora quer ser eleito prefeito do Rio de Janeiro.

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P.S.Essas maluquices são coisas da política brasileira, como costuma dizer Pedro do Coutto. (C.N.)

9 thoughts on “PF e Moraes inventaram “Abin Paralela” e acharam uma “Abin Hospício”

  1. E sob o teto podre e com imensas goteiras desse hospício, vivem 200 milhões de pessoas criando e produzindo riqueza para mantê-lo de pé. A cada dois anos, 60% desse povo mata e morre por um ou outro salvador da pátria que aparece e se revezam no trono com a chave do cofre na mão, que é o que realmente interessa a eles e ao grupo que encabeçam.

  2. Quando chega sábado só penso em cerveja artesanal… mas, de repente me aparece este texto que está absolutamente fantástico, C.N.

    Obs: o ministério da Saúde queria fechar os hospitais psiquiátricos, mas como a demanda petista+psolista+ bolsonarista está aumentando, não vai ter jeito, o ministério vai voltar atrás.

  3. De fato, Beagá é uma fonte genuína de ótimas cervejas artesanais que acompanhadas de entrecôte angus (não vale vaca velha de nelore, nem matar o boi duas vezes…rs) nos fazem esquecer das tragédias cotidianas.
    Valeu a dica, CN.
    Abraço, bom fim de semana.

    • É a água que faz a diferença, haja visto a famosa Antárctica de Joinville, extinta porque seus sérios cervejeiros não se sobraram aos ibuzidos “conservantes” da modernidade, preferindo aquela caixa cujo líquido podia ser bebido vagarosamente longos meses após sua produção, isenta da posterior e atual química prejudicial!

  4. A cerveja Antárctica de Joinville foi seguramente a melhor cerveja que bebi na vida.
    Quem não a conheceu e experimentou, não sabe o que perdeu.
    A própria diretoria da Cia Antárctica Paulista, dizem que só bebia desta cerveja.
    Era o verdadeiro “néctar” dos deuses.

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