
Bolsonaro sabe que não terá chances no julgamento do STF
Diogo Schelp
Estadão
Jair Bolsonaro disse que só morto indica outro candidato para disputar a Presidência em 2026. Ele já errou outras vezes em previsões em que atrelou sua morte ao seu futuro político. Em 2021, em um dos muitos momentos em que flertou com a recusa em deixar o cargo, disse que só encerraria o mandato preso, morto ou com vitória.
Não foi preso, não morreu e tampouco foi vitorioso. Optou pelo aeroporto às vésperas da posse de Lula, depois de meses conspirando nos bastidores para precipitar algum tipo de ruptura institucional.
NA PORTA DA PRISÃO – Em 2026, só será diferente em um ponto: é provável que até lá Bolsonaro esteja, de fato, preso. Na melhor das hipóteses, para ele, continuará eleitoralmente morto como está agora, ou seja, inelegível.
Ninguém duvida que acabará indicando um candidato para concorrer à Presidência em seu lugar. A questão é quando fazê-lo. Agora ou na última hora?
Um dos problemas de Bolsonaro é sua incompetência para tomar a melhor decisão no momento certo quando as variáveis são muito complexas. A sua gestão desastrosa da pandemia é a prova disso.
PROBLEMA COMPLEXO – Saber o momento certo de parar de insistir no próprio nome como candidato da direita populista é complexo porque nenhuma das opções é muito boa para Bolsonaro.
Se jogar a tolha agora, ele perde a aura de único líder legítimo do seu nicho eleitoral e, com ela, a possibilidade de elevar o custo político de uma eventual condenação por tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes que estão sendo analisados pelo STF. Um líder populista nunca pode deixar de alimentar a ideia de que é insubstituível.
Se, por outro lado, Bolsonaro deixar para a última hora a escolha de um sucessor, acabará criando dois problemas. O primeiro é que haverá menos tempo para trabalhar o nome de sua preferência junto ao eleitorado. O segundo é que isso estimula a fragmentação da direita em diversos pré-candidatos, alguns dos quais já estão querendo demonstrar que não precisam da bênção do ex-presidente.
MENORES CHANCES – Nos dois casos, o efeito é diminuir as chances de vitória de um candidato endossado por Bolsonaro. A popularidade do atual governo está derretendo, mas Lula ainda é a opção mais viável para a esquerda em 2026. E ainda não surgiu um nome moderado forte o suficiente para livrar o País dos extremos políticos.
Há um terceiro cálculo a ser feito, caso Bolsonaro reconheça, pelo menos para si mesmo, que não irá recuperar sua elegibilidade e que há uma grande chance de que venha a ser preso.
A sua melhor opção, nesse cenário, é que o candidato vitorioso na eleição de 2026 seja alguém que aceite lhe conceder a graça presidencial assim que tomar posse, ou seja, que decrete a extinção de eventuais punições que tenham sido impostas a ele.
CUMPRIR PENA – Mas isso significaria admitir a hipótese de passar pelo menos alguns meses na cadeia e exigiria uma confiança muito grande no sucessor escolhido.
Alguém minimamente racional ficaria tentado a pensar que pode ser melhor deixar o mentor na cadeia do que solto, exigindo cargo no governo, fazendo articulações políticas e tomando decisões pelas costas do pupilo. Rei morto, rei posto. Uma alternativa familiar (a esposa Michelle ou o filho Eduardo, por exemplo) parece mais segura, mas um ou uma Bolsonaro do B teria menos chances contra Lula – e daí Bolsonaro continuaria preso.
Além de afirmar que só morto nomearia um candidato alternativo, Bolsonaro também diz que, se existisse um “motivo justo” para ele estar inelegível, “arrumaria uma maneira de fugir”. Entre a cadeia e o perdão, o aeroporto (após um pedido de asilo em alguma embaixada) parece uma opção cada vez mais factível para o ex-presidente.
Irônico , né ?
Jair Bolsonaro é o ” rei dos traidores ” , mas agora teme ser traído pelos seus companheiros e comparsas .
Assim como Moro, a opção pela preservação da prôpria vida ou de familiar, seria a justificativa para “entrega de mão beijada”, para esse mafioso meio?
PS. O futuro dirá!