De repente, Brasil fica estranhamente calmo neste fim do verão dos pânicos

Charge: Deus mercado. Por Miguel Paiva

Charge de Miguel Paiva (Arquivo Google)

Vinicius Torres Freire
Folha

Em dezembro, houve o pânico de dólar e juros. Em janeiro, a revolta das mentiras do Pix. A popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva caiu para perto da zona de rebaixamento. Desde fevereiro, não mais do que de repente, do vento fez-se a calma, ao menos calmaria sob céus suspeitos.

Há pouco ruído na política politiqueira — Congresso e cercanias. A gritaria contra o governo nas redes anda menor. Ainda caro, o dólar baixou do exagero de R$ 6,27 de dezembro para a casa dos R$ 5,60. Os motivos são díspares, mas o clima está mais ameno.

AS EMENDAS… – O Orçamento foi aprovado de modo suave, embora com custos. Entre emendas e penduricalhos assemelhados, o governo se comprometeu a colocar R$ 61 bilhões nas mãos de deputados e senadores.

Equivale a 70% do investimento federal em 2024 (boa parte das emendas é investimento, mas se trata aqui de ordem de grandeza); o Bolsa Família levou quase R$ 171 bilhões no ano passado.

Gleisi Hoffmann, ministra das relações políticas, tida como belicosa, fez o acordo, com apoio de Casa Civil e Fazenda. O Orçamento tem contas fictícias, o que é “business as usual” e vai exigir contenções grandes, lá por maio —se o governo quiser manter a calmaria.

DIMINUI RECEIOS – Mas a aprovação diminui receios de tumulto, o que deve agradar até aos povos dos mercados. Por falar neles, a reação à lei de mudança no Imposto de Renda foi quase nenhuma.

Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, David Alcolumbre (União Brasil-AP), têm preferido conversas reservadas a ruídos públicos, em especial quanto ao essencial, emendas. No mais, eles e os novos presidentes de comissões importantes do Congresso têm afirmado que não vão dar trela para pautas da “polarização”.

A manifestação de domingo, pró-golpe e anistia, foi grande o bastante para não desanimar militantes que a viram pelas telas; na política, apenas a extrema direita tem levado gente para a rua. Mas não alarmou o país, não se espalhou e nem parece fazer parte de um “crescendo” de ruído político: “não pintou um clima”.

MAIS DISPARATES – Lula diz disparates demagógicos sobre inflação, diesel, ovo e picanha. Mas seu governo não tomou decisão maluca sobre preços. O projeto do novo consignado, apesar do escândalo estereotipado que causou em parte de “o mercado”, vai na direção do que é justo e eficiente; o impacto negativo ora previsível na política monetária será pequeno.

Uma mudança importante nas aplicações financeiras dos donos do dinheiro grosso do mundo fez o preço do dólar baixar e até deu oxigênio para a esquálida Bolsa brasileira.

Parte do dinheiro que sai dos EUA parece pingar em emergentes ou, no mínimo, a reviravolta americana contribui para encarecer e tornar arriscadas “apostas” na alta do dólar.

JUROS ALTOS – No Brasil, em parte também por causa da dureza do Banco Central, os juros no mercado recuaram em relação aos picos de janeiro (caindo um ponto percentual no caso de taxas para 2 e 3 anos). Sim, ainda é arrocho. Não haverá refresco maior enquanto não se der jeito na situação fiscal, que é grave.

Por falar “no fiscal”, como diz o povo do mercado, até o aumento de gasto do governo federal foi contido. Sim, a despesa cresceu 12% em termos reais, acima da inflação, desde o início de Lula 3, um espanto. Mas, nos 12 meses até este janeiro de 2025, a despesa caiu 0,8%.

Depois do Carnaval, o ano começou estranhamente ameno.

4 thoughts on “De repente, Brasil fica estranhamente calmo neste fim do verão dos pânicos

  1. Como podem os Bolsonaros apoiar alguém como o Trump, que diz com todas as letras: “Primeiro os Estados Unidos, depois o resto do mundo”.

    Ou seja, como podem apoiar um Trump, que é basicamente contra os interesses do Brasil ou não converge com os interesses brasileiros.

    É muito estranha essa adesão bolsonarista de 100% com a pauta de Trump, que ameaça sistematicamente o Brasil.

    Fonte: Jornal TV Cultura, 19-03-2025, 25 min, por Ricardo Sennes

  2. Protecionismo de Trump é um desastre

    Quem diria que a globalização seria detonada a partir dos Estados Unidos?
    Pois é o que Trump está fazendo a golpes de tarifas de importação distribuídas de modo errático.
    Se prosseguir nessa direção, causará danos enormes aos EUA e ao mundo todo.
    Fonte: O Globo, Opinião, 15/03/2025 00h05 Por Carlos Alberto Sardenberg

    Trump ferrando o Brasil, ferra também seu fã-clube bolsonarista, obviamente.

  3. Com Selic de 14,25%! Juro real de quase 8%! E o Lula ‘distribuindo riqueza’ de R$ 50,4 bilhões para deputados e senadores. Onde está calmo?

    O Vinicius precisa rever sua posição geográfica, por que não deve estar no Brasil.

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