Paulo Peres
Poemas & Canções
O jornalista, escritor e poeta mineiro Paulo Mendes Campos (1922-1991) explica que o instante é tudo, no soneto “Tempo e Eternidade”. Em seus olhos, o tempo é uma cegueira e a eternidade uma bandeira aberta à solidão.
TEMPO E ETERNIDADE
Paulo Mendes Campos
O instante é tudo para mim que ausente
Do segredo que os dias encadeia
Me abismo na canção que pastoreia
As infinitas nuvens do presente.
Pobre do tempo, fico transparente
À luz desta canção que me rodeia
Como se a carne se fizesse alheia
À nossa opacidade descontente.
Nos meus olhos o tempo é uma cegueira
E a minha eternidade uma bandeira
Aberta em céu azul de solidões.
Sem margens, sem destino, sem história
O tempo que se esvai é minha glória
E o susto de minh’alma sem razões.
O atalho do saber
————————
Um dia inventaram crenças
Para a nossa origem explicar
O que provocou desavenças
E levou a um ao outro matar
Muito tempo então se passou
Sob o jugo de uma Santa Sé
Que por nada muitos matou
Por não professaram sua fé
Julgados, os pobres diabos
Eram levados á fogueira
Injustiçados, amaldiçoados
Como a bíblica figueira
Foi preciso paciência e luta
E um terrivel inferno sofrer
Para ao fim de tudo encontrar
O grande atalho do saber