Bolsonaro não demitiu Freire Gomes porque temia reação do Alto Comando

Tribuna da Internet | General Freire Gomes foi um traidor ou um herói? É  isso que deve ser explicado.

Freire Gomes ameaçou prender Bolsonaro e evitou o golpe

Marcelo Godoy
Estadão

Jair Bolsonaro não demitiu o general Freire Gomes do Comando do Exército porque sabia que teria de fazer o mesmo com a maioria do Alto Comando da Força Terrestre. Os generais de quatro estrelas à frente das comandos militares apoiavam Gomes. Um deles asseverou à Coluna que tinha a “tropa na mão”, que todos os generais de sua área concordavam com a defesa da legalidade.

Foi isto que travou o golpe concebido e iniciado no Palácio do Planalto. O então presidente e a “societas sceleris” (quadrilha) apontada pelo Ministério Público Federal não podiam resolver o problema pela simples demissão de Freire Gomes e pela nomeação de alguém golpista. Seria necessário dissolver o Alto Comando do Exército. E isto Bolsonaro sabia que não tinha como fazer. Sairia preso.

HIERARQUIA MANTIDA – Ao contrário do que pensavam os oficiais mobilizados nos grupos de WhatsApp e outros aplicativos, nenhum valoroso coronel bypassou seu general, sublevando-se contra a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Era óbvio que o incentivo à baderna, à indisciplina e à ruptura da hierarquia vinha justamente daqueles que diziam agir “dentro das quatro linhas da Constituição”.

Era no Palácio que os planos do golpe foram impressos, modificados e operações foram desencadeadas, tudo apreendido pela Polícia Federal e constatado pela perícia criminal em telefones, contas de e-mail, áudios enviados e trocados pelos conjurados.

E, mesmo assim, políticos, como o senador Hamilton Mourão, insistem em dizer que “golpe tem bala e defunto” ou “tanque na rua”.

ANTIGAMENTE… – Era assim no século 19. O senador sabe muito bem que na época das operações  de multidomínio, o tanque na rua nunca é o único passo – nem mesmo o primeiro – para um golpe. Este começa muito antes, com as operações psicológicas, com a guerra assimétrica e envolve, hoje, inevitavelmente, o domínio cibernético. Ele sabe o que é uma sedição iniciada com “manifestações populares”.

Quem escuta o general Mourão deve acreditar que um quatro estrelas como ele sabe o que é a guerra moderna; que deve ter lido as obras dos coronéis Roger Trinquier e David Galula. Pelo menos é o que mostram suas publicações em redes sociais.

De onde se pode concluir que o senador esqueceu o que aprendeu nos manuais do Exército e na Escola de Comando e Estado-Maior? Certamente não imagina que todo paisano seja burro ou que ninguém conheça as operações psicológicas.

NAS QUATRO LINHAS – Bolsonaro diz que não cometeu crime ao consultar os chefes militares sobre a possibilidade de dar um golpe. Quando diz que analisava o estado de sítio ou de defesa ou o uso do “artigo 142″, o ex-presidente afirma que apenas analisava o uso de métodos legais, previstos na Constituição. Eis uma meia-verdade.

O que Bolsonaro ensaiou, segundo a PF, foi aquilo que todo golpista procura fazer para que seu movimento tenha sucesso: arrumar uma justificativa legal para a ação.

A cronologia dos fatos joga contra Bolsonaro. No dia 7 de dezembro, ele se reuniu com o general Freire Gomes para lhe propor o golpe por meio da prisão dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, além da intervenção no TSE e o cancelamento da eleição. Nada disso está previsto na Constituição. Ficou no ar.

SEGUNDA VERSÃO – No dia 14 de dezembro, nova proposta foi apresentada aos comandantes militares. Desta vez, seria preso “apenas” Moraes, a eleição seria anulada e o TSE sofreria intervenção.

Mais uma vez, nada feito. Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Júnior não embarcaram. E o que fez o entorno palaciano? Planejou matar Moraes, Lula e Alckmin. O ministro foi vigiado por militares que agiram à revelia dos chefes.

O grupo palaciano desencadeou uma operação psicológica para desacreditar o Alto Comando – tudo documentado. Não queriam só ofender generais e incomodar seus familiares. O objetivo não era uma vingança pessoal, como se vê às dezenas em redes sociais. O que alimentava esses militares era a perspectiva de fomentar o descrédito dos generais para que um golpe de coronéis fosse executado. Houve até coronel que teve a ousadia de dar um ultimato a Freire Gomes.

IGUAL A 1964 – É notável que as mesmas pessoas que negam a tentativa de golpe de 2022 também neguem que em 31 de março de 1964 houve um golpe de Estado. E, nisso, tanto Bolsonaro quanto Mourão concordam.

Do ponto de vista militar, o que diferencia 1964 de 2022 é que a ruptura da hierarquia e da disciplina nos quartéis em 1964 foi pretendida pela esquerda. Em 2022, esse papel coube à direita.

Bolsonaro quer salvar a pele. E Mourão, um general que se manifestava politicamente quando estava na ativa, segue coerente com seu passado. É, por isso, que é necessário aos ministros do STF muito cuidado no julgamento do processo do golpe. Disso depende o futuro da estabilidade democrática do País.

15 thoughts on “Bolsonaro não demitiu Freire Gomes porque temia reação do Alto Comando

  1. O jardineiro chegou para fazer o jardim querendo saber:

    – Como um banco público pode comprar por R$ 2 bilhões parte de um banco ‘quebrado’ que estava à venda no mercado por R$ 1,00?

  2. https://news.un.org/pt/story/2024/09/1837621

    Querendo impor a fórceps o “bem”, pode-se constitucionalizar desejos totalitários e anti-civilizatórios.

    A História, neste caso, não se repte como farsa, mas como tragédia.

    Não creio que haja inocentes úteis ou mesmo inúteis.

    Pra quem tem grandes responsabilidade no âmbito do Estado, um mínimo de visão holística faz-se necessária.

    Ainda que a Nova Ordem Mundial tenha colocado uma imensa pedra nos desejos ludistas e anti-democráticos dos bananeiros.

  3. Taí, embora não seja adepto da legalidade pela força, porque o entendimento do que é legal vai além da conformidade com as leis, vejo com simpatia e admiração a posição do general Freire Gomes.
    Contrariamente á posição do nosso herói (Freire Gomes), um seu colega que também carregava 4 estrelas nos ombros, encantou-se com o seu próprio canto e abraçou a causa do poder pela força – deu com os burros na agua!
    O que merecem esses narcisos de meia tijela é a força da lei. Pau neles!

  4. Não, não e não. Não demitiu e nem temia nada. Não houve nada disso. São narrativas dentro de uma orientada criatividade. As narrativas seguem de vento em popa. Na cleptocracia que desgoverna o país a narrativa precisa continuar. Bolsonaro nunca pretendeu usar instrumentos constitucionais. Ele sabia e sabe, que mesmo nas quatro linhas o sistema estava e está preparado para criar seguidas narrativas. Eles são especialistas nessa bagaça.

    Bolsonaro era o presidente do país, chefe deles. Se quisesse demitiria a todos e os substituiria, sejamos claros. O problema é a narrativa torpe repetida à exaustão pelos “companheiros”.

    E falando em “companheiros”:
    CADÊ O GENERAL DIAS?
    Sumiu e ninguém viu e nem quer saber mais…

    No dia daqueles atos a CNN divulgou imagens exclusivas que mostraram o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, dentro do palácio do Planalto durante a invasão do prédio que ocorreu em 8 de janeiro.

    Vide: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/saiba-quem-e-goncalves-dias-ministro-do-gsi-que-aparece-em-imagens-da-cnn-durante-ataques-do-8-de-janeiro/

  5. DEMISSÃO DO COMANDANTE FREIRE GOMES

    Bolsonaro não demitiu o Comandante do Exército, por outros motivos. Por temer a reação do Alto Comando, creio que não.Por que? Bolsonaro demitiu em 29 de março de 2021, ex- comandante Edson Pujol, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva e os comandantes da Aeronáutica, brigadeiro Moretti Bermúdez e da Marinha, Almirante Ilques Barbosa. Não aconteceu nada? Lógico que sim. Os militares perderam a confiança em Bolsonaro, o homem que humilhou generais, brigadeiros e almirantes. Esse erro foi fatal para suas pretensões de desferir um Golpe de Estado. Bolsonaro fraturou as Forças Armadas, apequenando os oficiais generais. Então, perdeu as condições de contar com a força militar. Usou como Plano B, a força das Ruas, o apoio das Polícias Militares e aquela massa de inocentes úteis no dia oito de janeiro de 2022. O mané só não contava, que faltaria mortes, assassinatos e sublevação da ordem em todas as capitais.

  6. QUEBRA DA HIERARQUIA

    Podemos intuir, que ocorreu a quebra da hierarquia e da indisciplina, por parte da República dos coronéis, que inclusive assinaram uma carta endereçada ao comandante Freire Gomes, instando o general de Exército a aderir ao Golpe de Estado. A pressão contra o general Freire Gomes foi avassaladora. Foi recomendado pelo candidato a vice, que coronéis fossem para cima dos familiares de Gomes e do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Batista Junior.
    O general Braga Neto, desonrou a farda de general, com suas ações golpistas. Por isso, está sendo ignorado pelo Alto Comando, preso sem nenhuma manifestação de solidariedade. Virou um pária, largado a própria sorte.

    Quanto ao general, hoje senador pelo RS, Hamilton Mourão, trata-se de um golpista de carteirinha. Quando no posto de comando no RS, pregou um Golpe de Estado contra a presidente Dilma Rousseff. Suas manifestações, de que não houve tentativa de golpe, é por solidariedade aos que pensam como ele. O senador Mourão, só não está nesse olho do furacão, porque Bolsonaro o desprezava, achando que o general vice Hamilton Mourão conspirava pela deposição de Bolsonaro para assumir a presidência. Passou quatro anos em função burocrática não sendo chamado para nada. Foi humilhado por Bolsonaro solenemente e essa foi a sua sorte grande.

    Agora, curva sua coluna para Bolsonaro e vai ser uma das testemunhas de defesa do seu maior algoz. É a vida, surpreendendo a todos, todos os dias.

  7. ARTIGO 142

    Alegar que o motivo das reuniões golpistas, tratava-se de discutir o artigo 142, não se conforma nos fatos. Era plano de Golpe mesmo, prisões de ministros do STF, prisão de Senadores, prisão de Deputados, assassinatos e uma penca de Atos Institucionais. Privação das Liberdades, Toque de Recolher , censura a imprensa e milhares de prisões. Um horror, uma repetição over de 1964.

  8. A MORTE DE LULA, ALCKMIN E MORAES

    O Plano foi traçado em reuniões clandestinas, as autoridades vigiadas pelos serviços de informações, tudo documentado pela PF, e que só não foi executado, porque a ordem para o tiro final, principalmente contra o ministro Alexandre de Moraes, foi suspensa de última hora.

    Se isso não foi tentativa de Golpe, então esse dispositivo das nossas Leis é letra morta

    Realmente, os generais contrários ao Golpe eram chamados de melancias, covardes, comunistas e uma série de palavrões impublicáveis.

    Os generais foram colocados de escanteio e um grupo de coronéis comandados por três generais golpistas assumiriam o Comando do Golpe. O modelo do Golpe seguiria a mesma dinâmica do Golpe na Venezuela desfechado pelo Coronel Hugo Chaves e que se mantém por mais de 20 anos, sucedido pelo civil, Nicolas Maduro.

  9. GOLPE DE 1964

    O Golpe de 1964 comparado a Tentativa de Golpe de 2022/2023, pelos fatos narrados na Denúncia da PGR, caso fosse adiante , seria uma overdose da Intentona Golpista que derrubou o presidente João Goulart.

    Os golpistas de agora, pelas conversas obtidas pela PF, estavam preparados para matar sem dó nem piedade. O Plano Punhal Verde e Amarelo era sangrento, a nação iria acordar em meio a um banho de sangue. Auroridades, inimigos, esquerdistas, comunistas, dentre outros, iriam acordar com golpistas armados até os dentes para serem levados para local desconhecido para morrer da pior maneira, sem direito a advogado, não poderiam se defender das acusações perante a Justiça, enfim, morreriam sumariamente e nem poderiam alegar, que estavam sendo perseguidos. É assim em qualquer Ditadura e essa seria a pior possível, porque o rosto de ódio, de frieza estava estampado claramente no rosto dos golpistas. Só não observou, quem estava cego para tudo que acontecia a olhos vistos.

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