Mais escândalo! Banco da Amazônia, que é estatal, também “investiu” no Master

OPERAÇÃO DE RISCO | Banco da Amazônia comprou R$ 40 milhões em títulos sem  garantia do Banco Master; instituição diz que processo de aprovação seguiu  políticas e normas internas 🔗 Leia aMariana Carneiro
Estadão

O Banco da Amazônia, que é controlado pelo governo federal, investiu duas vezes no Banco Master no ano passado, quando a instituição já fazia ofertas agressivas de CDBs a taxas muito acima das praticadas no mercado, e era alvo de preocupação do Banco Central e de agentes do setor bancário.

Em abril de 2024, o Banco da Amazônia (Basa) comprou R$ 25 milhões em letras financeiras do Master — um tipo de título que não tem a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Dois meses depois, em junho, houve nova operação, e o Basa comprou mais letras financeiras — cerca de R$ 15 milhões.

TUDO NORMAL… – Procurado, o banco estatal informou que as operações com o Master somaram R$ 39 milhões e que “o processo de aprovação seguiu todas as políticas e normas do Banco da Amazônia e está alinhada com o Plano de Aplicação dos recursos da Tesouraria, tendo sido validado pelas áreas técnicas e aprovado por todas as instâncias colegiadas do Banco da Amazônia”. O Banco Master preferiu não comentar.

As operações chamaram a atenção porque não era comum o banco estatal investir em títulos de maior risco, com rating inferior a A, sem a garantia do FGC. Na ocasião, o Banco Master era classificado como BBB pela agência Fitch.

Em meio às negociações de venda de parte do Master para o Banco Regional de Brasília (BRB), banco estatal do Distrito Federal, não se sabe com quem vai ficar o compromisso de honrar o investimento feito pelo Basa no futuro. Os títulos têm vencimento no horizonte dos próximos dois anos.

COMPRA SELETIVA – O BRB tem dito que, após uma auditoria em curso, selecionará os ativos do Master que pretende incorporar e só pretende ficar com o que o classifica como “good bank”.

A parte que sobrar ainda é objeto de interrogação, com a negociação envolvendo os maiores bancos privados do País e o Banco Central — uma vez que o FGC, que é controlado pelo setor bancário privado, pode ser chamado a honrar compromissos apenas com poupança e CDB. O Banco da Amazônia é estatal, de controle federal, e é presidido por Luiz Moreira Lessa. A indicação dele é atribuída ao senador Eduardo Braga (MDB-AM). Procurado, Braga não se manifestou.

A operação com o Basa é o primeiro caso que ilustra que não apenas fundos de pensão, mas também bancos estatais compraram títulos do Master sem a garantia do FGC.

FUNDOS DE PENSÃO – Como mostrou o Estadão, pelo menos cinco fundos de pensão de servidores de Estados e municípios compraram letras financeiras do Master, como o fundo de previdência dos servidores do Rio de Janeiro e o do Amapá.

Em julho de 2024, reportagem do jornal O Globo mostrou que operação semelhante, de venda de letras financeiras no valor de R$ 500 milhões para a Caixa, foi brecada pelo parecer de dois funcionários do banco que apontou alto risco em uma ação considerada atípica. Pouco depois, eles foram afastados de seus cargos. O banco é presidido por Carlos Vieira, indicado pelo deputado e ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL).

Segundo dados do seu balanço, o Banco Master tinha, ao final do ano passado, R$ 2,1 bilhões emitidos em letras financeiras − mais de quatro vezes o que tinha em dezembro de 2023, R$ 486 milhões.

BC CRIOU TRAVAS – A emissão de letras financeiras foi uma resposta à norma baixada pelo Banco Central em dezembro de 2023 e que, segundo fontes do setor bancário, mirava o Banco Master.

A norma criou travas e um desincentivo à captação excessiva de recursos via CDBs. Àquele momento, agentes do mercado já demonstravam preocupação com a oferta crescente desses títulos usando como propaganda o seguro do FGC − o fundo garante até R$ 250 mil por CPF em caso de quebra de uma instituição bancária.

Em dezembro de 2024, o Master informou ter R$ 49 bilhões em CDBs no mercado, quase 40% do total de recursos no FGC, de R$ 132 bilhões.

NOVA “EXPLICAÇÃO” – Após a publicação da reportagem, o Basa enviou nova nota à reportagem, em que afirma que tem, em carteira, R$ 1,7 bilhão em títulos privados, “entre debêntures, letras financeiras e fundos de investimentos, sendo uma prática corriqueira para um banco comercial como é o Banco da Amazônia”.

“No caso em análise, o Banco da Amazônia realizou operação de aquisição de R$ 39 milhões de Letras Financeiras Seniores do Banco Master entre abril e junho de 2024, com prazo de vencimento de menos de dois anos, padrão para a modalidade. Quando da aquisição, o rating do Banco conforme avaliação da Fitch Ratings era de baixo risco de inadimplência BBB“, afirma a nota.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Os dirigentes do Basa estão apavorados e chegam a inventar “baixo risco” do investimento no Master. Porém, ao contrário do que alegam, o índice BBB é indicativo de que há algum risco, porque o nível seguinte é BB e já significa investimento de risco, não recomendável. Outro detalhe: o Banco Master informou ter mais de 700 mil clientes de CDBs. Se for verdade, a correria deve estar intensa, porque hoje a imagem do banco já é de altíssimo risco, porque grande parte dos ativos não tem liquidez (precatórios e títulos creditícios). E assim a venda do Master vai se transformando num escândalo palpável. (C.N.)

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