A CPI do INSS e a tentativa do governo Lula de controlar os danos

Charge do Cláudio de Oliveira (folha.uol.com.br)

Pedro do Coutto

A instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a corrupção no INSS não é apenas um reflexo da indignação pública, mas uma imposição dos fatos. O escândalo envolvendo fraudes em descontos consignados de aposentados e pensionistas ultrapassou qualquer limite de tolerância — não apenas pela cifra astronômica (fala-se em 9 milhões de autorizações falsas), mas pela sensação de abandono institucional diante de um crime que se desenrolava à luz do dia.

Diante desse cenário, o governo Lula recuou de sua postura inicial de contenção e decidiu apoiar a CPI. Foi uma adesão forçada, mais por sobrevivência política do que por genuíno compromisso com a transparência. Afinal, seria politicamente insustentável se opor a uma investigação que já conta com farta documentação, denúncias confirmadas e cobertura extensa da imprensa.

ESCÂNDALO – A linha oficial do Planalto tenta empurrar a gênese da corrupção para o governo anterior, de Jair Bolsonaro. Ainda que as raízes do esquema possam, de fato, estar lá, é impossível ignorar que o escândalo atingiu proporções industriais justamente em 2024 — já sob a responsabilidade plena do atual governo. A alegação de “herança maldita” pode funcionar como argumento político, mas não resiste à análise administrativa: se o problema cresceu, foi porque não houve ação eficaz para detê-lo.

Mais grave ainda é a tentativa do governo de ocupar simultaneamente a presidência e a relatoria da CPI. Ao buscar o controle da comissão, o Planalto sinaliza que seu apoio à investigação é, na melhor das hipóteses, condicional. Trata-se de uma estratégia de contenção de danos, não de responsabilização. A relatoria, posição estratégica da CPI, terá a caneta que poderá dar nome aos bois — ou livrá-los discretamente. Por isso, a disputa por esse posto é um termômetro claro do quanto está em jogo.

A tentativa de concentrar poder dentro da comissão levanta suspeitas legítimas sobre a real disposição do governo em permitir que a investigação vá até as últimas consequências. A sociedade exige respostas. E não há mais espaço para o discurso do “não sabíamos”. As denúncias estavam disponíveis, os alertas foram dados, e as consequências agora pesam não apenas sobre os que operaram o esquema, mas também sobre aqueles que fecharam os olhos.

INTERFERÊNCIA – Ao apoiar a CPI, Lula tenta se desvincular do escândalo. Mas, ao mesmo tempo, busca interferir diretamente em sua condução. Essa contradição revela um dilema típico de quem governa em tempos de crise: ser investigado ou controlar a investigação? A escolha do Planalto parece estar clara — resta saber se o Congresso e a opinião pública aceitarão esse roteiro.

O Brasil assistirá, mais uma vez, ao embate entre discurso e prática, entre a retórica da apuração e o jogo de bastidores. O que está em julgamento não é apenas um esquema de corrupção. É a capacidade do Estado de zelar por seus mais vulneráveis — e de impedir que a máquina pública seja sequestrada pela impunidade.

5 thoughts on “A CPI do INSS e a tentativa do governo Lula de controlar os danos

  1. Pedro do Coutto, a máquina pública foi sequestrada pela impunidade no momento da posse do ladrão maior, Lula da Silva. Não foi o Gordino do CV que afirmou, com todas as letras, que a PF estava a serviço do chefe da quadrilha petralha?

    • Me fez conjecturar: Será que existe um verme(contorcida bicha) exigente e que no cólon fecal, se alimenta e se satisfaz de ejetados espermatozóides, daí os desvarios atos de seus portadores?

      • Abrólhos! “47 E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino do Altíssimo com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno,
        48 Onde o seu bicho(verme) não morre, e o “fogo” nunca se apaga.”
        Marcos 9:43.

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