Câmara lamenta “transtornos”, mas isenta Polícia Legislativa e atribui caos a Glauber

Motta impediu a cobertura da imprensa na última terça-feira

Luísa Marzullo
O Globo

Dois dias depois de jornalistas terem sido expulsos do plenário em meio ao episódio em que Glauber Braga (PSOL-RJ) ocupou a Mesa Diretora, a Câmara divulgou nesta quinta-feira uma nota em que “lamenta os transtornos” causados à imprensa, mas responsabiliza integralmente o deputado pelo colapso dos trabalhos.

O episódio ocorreu no dia anterior à sessão que suspendeu o mandato do parlamentar por seis meses. Na terça-feira, o protesto de Glauber paralisou os trabalhos da Casa por cerca de uma hora, levou ao corte do sinal da TV Câmara e resultou na expulsão de profissionais de comunicação.

CRONOLOGIA – A nota remonta a cronologia da sessão, afirmando que Glauber “iniciou manifestação antirregimental e afirmou que não deixaria a cadeira da Mesa Diretora”, o que, segundo a Presidência, tornou “impossível” a continuidade dos trabalhos.

Segundo a Câmara, a suspensão repentina da sessão se deu às 17h42, quando o Primeiro-Secretário formalizou a determinação de Hugo Motta (Republicanos-PB). A nota afirma: “Diante da impossibilidade de continuidade dos trabalhos, o presidente da Câmara determinou a imediata suspensão da sessão.”

Sobre o corte simultâneo da transmissão da TV Câmara, a nota alega que, conforme uma ordem de serviço de 2022, “a interrupção de uma sessão plenária acarreta automaticamente a veiculação do evento legislativo subsequente” — no caso, a reunião da Comissão de Saúde.

OBRIGADOS A SAIR – A troca de programação, contudo, impediu jornalistas de acompanhar o que se passava, já que os profissionais foram obrigados a deixar o plenário. Sobre a retirada da imprensa, a Casa afirma que a Polícia Legislativa agiu “em conformidade com o Ato da Mesa nº 145/2020”, que permite o esvaziamento do plenário para “garantir a segurança dos presentes”. Profissionais relataram empurrões e impedimento de registrar a retirada de Glauber. Ainda assim, a Câmara diz que “não houve intenção de limitar o exercício da atividade jornalística”.

Associações relacionadas à imprensa condenaram “com veemência” o cerceamento ao trabalho dos jornalistas que faziam a cobertura. Em nota, as organizações afirmam que o impedimento do trabalho e o corte de sinal da TV Câmara “são incompatíveis com o exercício da liberdade de imprensa”.

A nota é assinada pelas associações Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), Nacional de Editores de Revistas (ANER) e Nacional de Jornais (ANJ). “A ANJ, ABERT e ANER esperam a apuração de responsabilidades para que tais práticas de intimidação não se repitam e que sejam preservados os princípios da Constituição Brasileira, que veda explicitamente a censura”, dizem.

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