Freire Gomes explica à Polícia Federal como conseguiu evitar o golpe militar

Depoimento de general à PF nesta sexta é considerado 'chave' para  esclarecer papel de Bolsonaro nas discussões sobre minuta do golpe | Blog  do Valdo Cruz | G1

Freire Gomes foi convidado a depor como testemunha 

Cézar Feitoza
Folha

O general Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército no fim do governo Jair Bolsonaro (PL), prestou depoimento por mais de quatro horas à Polícia Federal nesta sexta-feira (1º), na sede da Polícia Federal, em Brasília. Ele não havia terminado o depoimento até a publicação desta reportagem, às 20h02m.

O militar foi intimado a prestar esclarecimentos como testemunha no inquérito que investiga a participação de Bolsonaro, ex-ministros, ex-assessores e militares no planejamento de um golpe de Estado após a vitória de Lula (PT) nas eleições de 2022.

CHAMADO A DEPOR – Fontes militares ouvidas pela Folha afirmam que a Polícia Federal informou o Comando do Exército, como cortesia, que Freire Gomes havia sido chamado a depor. A data foi confirmada após conversas entre o general e os investigadores, já que o militar se encontrava na Espanha em visita a familiares.

Freire Gomes conversou com generais antes do depoimento e afirmou que daria sua versão dos fatos aos agentes da PF. Segundo pessoas próximas, isso envolveria contar que a manutenção dos acampamentos golpistas em frente aos quarteis era uma ordem do ex-presidente e que agiu silenciosamente contra os planos antidemocráticos aventados no Palácio da Alvorada.

Generais afirmaram à Folha, sob reserva, que apesar de confiarem na versão de Freire Gomes, já que eles presenciaram a tensão no fim de 2022, restam dúvidas sobre qual será o entendimento da Polícia Federal a respeito da atuação do militar.

NOTA CRÍTICA – Eles destacam que Freire Gomes assinou, na época, com os ex-comandantes da Marinha e Aeronáutica nota em tom crítico ao Judiciário e amistosa com os bolsonaristas que pediam um golpe militar — fato citado em relatório da Polícia Federal que pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) buscas contra Bolsonaro e outros investigados.

O ex-comandante foi citado nas investigações também por ter participado de uma reunião no Palácio da Alvorada, em 7 de dezembro de 2022, na qual Bolsonaro teria apresentado uma minuta de decreto para promover um golpe de Estado.

Um dos elementos colhidos pela PF foi um áudio enviado pelo tenente-coronel Mauro Cid ao ex-comandante, dois dias após a reunião.

ÁUDIO REVELADOR – “O presidente tem recebido várias pressões para tomar uma medida mais, mais pesada, onde ele vai, obviamente, utilizando as Forças, né? Mas ele sabe, ele ainda continua com aquela ideia que ele saiu da última reunião, mas a pressão que ele recebe é de todo mundo. Ele está… É cara do agro. São alguns deputados, né? É né… Então é a pressão que ele tem recebido é muito grande. E hoje o que que ele fez hoje de manhã? Ele enxugou o decreto né? Aqueles ‘considerandos’ que o senhor viu e enxugou o decreto, fez um decreto muito mais é resumido, né?”, disse Cid em trecho da mensagem de áudio.

Como mostrou a Folha, Freire Gomes vivia no fim de 2022 entre as pressões golpistas de Bolsonaro e militares e o luto pela morte de sua mãe, Maria Freire Gomes. Em dezembro daquele ano, o general chegou a se afastar do cargo por uma semana para acompanhar os últimos momentos com Maria.

Militares aliados de Bolsonaro usaram o afastamento de Freire Gomes para criticá-lo e acusá-lo de falta de firmeza — já que, no momento em que ele deixou Brasília, era discutido o um plano para um golpe de Estado.

ALTO COMANDO VETA – A crise militar e o luto fizeram Freire Gomes submergir, segundo generais ouvidos pela Folha. As conturbações foram apresentadas pelo ex-comandante como justificativa para entregar o cargo antes da posse de Lula.

A posição da maioria do Alto Comando do Exército contra o golpe, porém, já estava consolidada — e foi repassada por Freire Gomes para Bolsonaro e aliados que queriam reverter o resultado da eleição de Lula, ainda segundo fontes militares.

“A culpa pelo que está acontecendo e acontecerá e [sic] do Gen FREIRE GOMES. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, escreveu o general Walter Braga Netto em mensagem encontrada pela Polícia Federal. Braga Netto, ex-ministro e ex-candidato a vice de Bolsonaro, ainda chamou o chefe militar de “cagão”.

NO COMANDO – Freire Gomes assumiu o Comando do Exército em 31 de março de 2022 —aniversário do golpe militar de 1964. Para ocupar o principal posto da Força, ele decidiu recusar um acordo preestabelecido para que fosse nomeado ministro do STM (Superior Tribunal Militar).

No comando, teve momentos de aproximação e distanciamento de Bolsonaro. Em agosto de 2022, Dia do Soldado, por exemplo, o general afirmou em evento com o então presidente que “notícias infundadas e tendenciosas” não poderiam manchar a imagem da Força.

O discurso foi lido como um aceno à pauta crítica à imprensa promovida por Bolsonaro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Agora, temos de aguardar os vazamentos, para saber o que realmente Freire Gomes relatou. Se deve ser considerado um herói que evitou o golpe ou um traidor que não teve coragem de concretizá-lo. (C.N.)

PT e apoiadores não se entendem sobre como revidar o ato a favor de  Bolsonaro

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Gleisi se apressou em mobilizar, sem pensar (?) a respeito

Catia Seabra e Victoria Azevedo
Folha

Integrantes do PT e do governo Lula (PT) se dividem sobre a conveniência de convocação de ato em defesa da democracia já anunciado pela presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PR), e previsto para ocorrer no próximo dia 23.

Embora a cúpula do partido negue que essa seja uma resposta à manifestação que, no último domingo (25), reuniu milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na avenida Paulista, em São Paulo, aliados de Lula afirmam que a comparação do número de participantes será inevitável.

SEM ANISTIA – Flyer compartilhado por Gleisi Hoffmann nas redes sociais nesta quinta-feira (29), convocando para o ato, diz que a manifestação será o Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Democracia e terá como um dos motes o lema “sem anista” — em contraposição ao discurso de Bolsonaro na Paulista, no qual ele pediu anistia aos presos pelo ataque golpista de 8 de janeiro de 2023.

“As Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo em conjunto com os partidos do campo democrático e popular e entidades da sociedade civil convocam para a Jornada de Luta em Defesa da Democracia: sem anistia, punição aos golpistas. Golpe nunca mais!”, diz o texto do flyer.

Organizado pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, o ato terá apoio de partidos de esquerda, como PT, PC do B, PV, Rede, PSOL, PSB e PDT.

DISCUSSÃO DO LEMA – Reportagem da Folha desta quinta (29) mostrou que movimentos e partidos de esquerda decidiram vetar o mote da prisão de Bolsonaro como bandeira da manifestação. A definição em consenso foi a de pregar o lema “sem anistia para golpista” e lembrar os 60 anos do golpe militar de 1964, difundindo a mensagem de que novas tentativas de ruptura devem ser combatidas.

Líderes da mobilização se irritaram com materiais que circularam dando conta de que o pedido de prisão seria um dos chamarizes do ato. O argumento que prevaleceu nos debates fechados foi o de que o direito de defesa e o devido processo legal têm que ser resguardados, assim como se reivindicava para Lula.

OUTRAS MANIFESTAÇÕES – Também há a previsão de manifestações para os dias 8 de março, Dia Internacional da Mulher, 14 de março, data que marca seis anos do assassinato da vereadora Marielle Franco, e 1º de maio, Dia do Trabalhador.

“A defesa da democracia e a punição dos golpistas precisam de mobilização nas ruas. Anistia não”, diz Raimundo Bonfim, coordenador nacional da CMP (Central de Movimentos Populares) e integrante da Frente Brasil Popular.

Segundo relatos colhidos pela reportagem, há uma tendência de que o principal ato no dia 23 seja realizado em Salvador, na Bahia, estado governado pelo PT. A ideia é que as principais lideranças possam estar concentradas num mesmo lugar, mas sem inviabilizar que outras manifestações ocorram nas demais capitais do país. A Bahia garantiu expressiva votação ao petista nas eleições de 2022 —Lula teve 72,12% dos votos.

PRINCIPAL ATO – Há uma avaliação de que o partido conseguirá mobilizar um grande número de apoiadores na capital da Bahia. A decisão de concentrar ali o principal ato, no entanto, ainda não foi batida e está sendo discutida.

A tendência é evitar a avenida Paulista como ponto escolhido na capital paulista, pelo temor de que a comparação com o ato bolsonarista seja desfavorável.

Gleisi diz à Folha que a mobilização não é uma resposta ao ato bolsonarista. “Defendo como ação contínua de enfrentamento às mobilizações e ações da extrema direita, também como apoio às políticas que defendemos”, afirma. Sobre o ato convocado por Bolsonaro, ela diz que o ex-presidente reuniu seus apoiadores “para continuar atentando contra a democracia e deve seguir nesse caminho”.

OUTRA OPINIÃO – Com a simpatia de ministros petistas, uma ala do PT avalia que o governo precisa fazer o debate político nas ruas, mas a partir de lançamentos de programas do Executivo, em vez da convocação de ato público. A ideia seria garantir presença popular nas inaugurações e lançamentos de programas, com Lula.

Os petistas também divergem sobre a participação do próprio presidente. Uma ala do partido chega a defender que Lula convoque o ato, o que é rechaçado por parte da equipe ministerial.

Outra ala sugere que Lula seja publicamente convidado, ainda que seja para recusar o convite —o que poderia vir a justificar uma adesão inferior à da manifestação pró-Bolsonaro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A decisão de fazer manifestações por todo o país é uma bobajada dos apoiadores de Lula. É claro que existe o risco de não dar certo, pode chover, e os sindicatos e partidos terão de garantir que encherão as ruas. Mas isso custo caro. Inclui transporte, refeição e pagamento de Pixuleco no valor de R$ 50, pelo menos, a cada manifestante. Menos que consigam encher as ruas, o que isso significaria para os bolsonaristas e os indecisos? Ora, isso não significaria nada, rigorosamente nada. Bolsonaro enche as ruas, e Lula, também. E daí? Quem se interessa? (C.N.)

General Theophilo já mudou de lado e alega que jamais apoiou o golpismo

General Estevam Theóphilo é investigado pela Polícia Federal por se reunir com Bolsonaro e prometer tropas na rua - TV Pampa

General Theóphilo diz ter cumprido ordens de Freire Gomes

Deu na CNN

A defesa do general Estevam Theophilo nega que o ex-comandante do Comando de Operações Terrestres (Coter) tenha participado de uma trama golpista com o objetivo de manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder.

O general prestou depoimento na semana passada sobre a suposta participação na trama de um golpe de Estado. À Polícia Federal, Teophilo teria afirmado que cumpriu ordens do então comandante, general Marco Antônio Freire Gomes, ao se encontrar com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em dezembro de 2022.

É LEGALISTA – Em nota, a defesa diz que Teophilo “nunca cogitou, nunca participou, nunca colaborou, nunca manifestou, nunca influenciou e nunca concordou com nenhum ato ou atitude golpista”.

O texto também afirma que o general nunca esteve exposto a nenhuma “proposta ou ordenado nenhuma ação inconstitucional, que atentasse contra o Estado Democrático de Direito”.

A defesa destaca ainda, que em 45 anos de carreira militar, o general “sempre pautou sua conduta pela ética, hierarquia, disciplina, legalidade e constitucionalidade”.

PF ACUSA O GENERAL – No entanto, de acordo com as investigações conduzidas pela Polícia Federal, o general Theophilo integrava o núcleo de oficiais de alta patente que tramavam para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder.

Então à frente do Comando de Operações Terrestres (Coter), o general seria o responsável por acionar militares das Forças Especiais, os chamados “kids pretos”, para garantir a concretização do golpe.

O grupo teria a missão de prender o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), “assim que o decreto presidencial fosse assinado”, segundo investigação da PF.

ERA DA ATIVA – O indício de uma participação de Estevam Theóphilo é o que mais causa incômodo no Exército, visto que ele era um oficial superior da ativa na época, ocupando função do mais alto escalão do Exército, por ser general de quatro estrelas, membro do Alto Comando do Exército.

Até a operação da Polícia Federal desfechada no mês passado, a  8 de fevereiro, todos os oficiais de alta patentes arrolados nas investigações estavam na reserva e haviam integrado o governo Bolsonaro. Theóphilo, que é membro da família Cals, uma das mais tradicionais e respeitadas no Exército

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LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DA DEFESA

“Em razão das últimas notícias difundidas nos meios de comunicação, a defesa do Gen. Estevam Theophilo vem manifestar que seu Cliente nunca cogitou, nunca participou, nunca colaborou, nunca manifestou, nunca influenciou e nunca concordou com nenhum ato ou atitude golpista. Assim como, jamais lhe foi exposta, proposta ou ordenada nenhuma ação inconstitucional, que atentasse contra o Estado democrático de direito.

Em sua carreira Militar, de 45 (quarenta e cinco) anos de dedicação ao Exército Brasileiro e à Pátria, o Gen. Estevam Theophilo sempre pautou sua conduta pela ética, hierarquia, disciplina, legalidade e constitucionalidade. Promovido a General em 2012 (dois mil e doze), foi liderado por diversos Comandantes, todos de inquestionável integridade, os quais sempre agiram e comandaram o Exército Brasileiro em defesa da Pátria e em garantia dos Poderes Constitucionais, com quem estabeleceu laços de amizade, respeito e admiração, que se mantêm até os dias de hoje.

Por fim, a par destes esclarecimentos, deve ficar registrada a completa e total lealdade, respeito à disciplina e à hierarquia, princípios inalienáveis da profissão militar, por parte do Gen. Estevam Theophilo para com todos os seus Comandantes e Superiores Hierárquicos (Generais mais antigos, Generais Pares e Generais mais modernos), honrando suas Patentes em toda a sua trajetória militar.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGAgora, falta conhecer a versão do então comandante Freire Gomes, para saber se confirma a alegação de Teóphilo. Há possibilidade de Freire Gomes ter usado o general Teóphilo para obter informações sobre a trama do golpe, E o suspense é de matar o Hitchcocck, como dizia o jornalista Miguel Gustavo. (C.N.)

Lula pensa que é dono do Brasil e da Vale, mas é apenas inquilino do poder

Vale cai com preço do minério: fala de Lula também influencia?

Lula parece que adora derrubar o valor das ações da Vale

Mario Sabino
Metrópoles

Lula é um inconformado com o fato de não poder controlar a Vale, a gigantesca mineradora brasileira privatizada em 1997, no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. É que, para ele, a Vale é uma empresa tão “estratégica” quanto a Petrobras.

Esse negócio de “empresa estratégica” é conversa fiada de político. A única estratégia aí é usar a empresa como cabide de empregos para apaniguados e meter a mão na dinheirama para beneficiar-se politicamente, na mais benigna das hipóteses.

AMIGO GUIDO – O inconformismo do presidente da República aumentou porque ele não conseguiu emplacar Guido Mantega na presidência da empresa. Lula queria controlar a empresa da qual o governo detém 8% do capital— além, é claro, de recompensar Guido Mantega com um salário que pode chegar a 60 milhões de reais anuais pela lealdade demonstrada durante a Lava Jato.

Ele externou a sua zanga na entrevista a um amigo: “A Vale não pode pensar que ela é dona do Brasil. Ela não pode pensar que ela pode mais do que o Brasil. Então, o que nós queremos é o seguinte: as empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro. É só isso que nós queremos.”

Basicamente, o que Lula quis dizer é que, se o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro for aquele do PT em relação à Petrobras pré-Lava Jato, a Vale terá de rasgar dinheiro e dar prejuízo aos seus acionistas.

OUTRA BALELA – A história de que a Vale teria melhor performance sob o tacão do Palácio do Planalto, como disse Lula, é outra balela. Fosse assim, as ações da empresa não teriam despencado quando se noticiou que o presidente queria Guido Mantega na presidência da empresa.

O governo não sabe administrar nem prédio, como dá para ver na Esplanada dos Ministérios.

Lula criticou a Vale por causa dos desastres ambientais que ela produziu. Mas não é que o controle do governo federal garanta segurança nessa seara. Não se pode cancelar da história os enormes vazamentos de óleo da Petrobras.

VALE E BRASIL – O revelador na fala do presidente é a distinção entre a Vale e o Brasil. É como se, por ser uma empresa privada, ela não fizesse parte do país, não integrasse o seu acervo de riquezas e fosse necessariamente contrária aos interesses nacionais.

É porque, para Lula, o PT e toda a esquerda, o governo é o país. Nada pode existir fora do âmbito do Estado. A vida do cidadão e a das empresas são, no máximo, uma concessão governamental.

A concepção é falsa como peruca. Na verdade, o governo é que não pode pensar que ele é dono do Brasil. Quem constrói a nação somos nós aqui fora dos palácios, não o sultanato patrimonialista que deveria se ver só como inquilino do poder.

Novo depoimento de Cid preocupa os militares investigados por golpe

PF deve marcar novo depoimento de Mauro Cid em breve | BASTIDORES CNN -  YouTube

Cid fez delação pela metade e terá de ser ouvido novamente

Bela Megale
O Globo

O clima de tensão entre militares investigados por arquitetar um golpe de Estado com Jair Bolsonaro impera nesta sexta-feira, com o depoimento do ex-comandante do Exército Freire Gomes à Polícia Federal. O interrogatório que tem causado maior temor entre os militares investigados, porém, é o do ex-ajudante de ordens da Presidência, o tenente-coronel Mauro Cid.

Isso porque há, entre os militares alinhados a Bolsonaro, a expectativa é de que, nos novos depoimentos, Cid se debruce sobre o papel de cada integrante do Exército. Há a avaliação de que o ex-ajudante de ordens tentou preservar seus colegas das Forças Armadas envolvidos na trama golpista, mas que o avanço das investigações fará com que esses militares protagonizem um novo capítulo de sua delação.

OFICIAIS-GENERAIS – Nesta lista estão membros de alta patente, como os generais e ex-ministros Augusto Heleno, Walter Braga Netto, Paulo Sérgio Nogueira e Estevam Theophilo Oliveira.

O novo interrogatório de Cid ainda não foi marcado, porque a PF avaliou que era necessário avançar em outras frentes antes de ouvi-lo novamente, especialmente no depoimento de Freire Gomes, realizado nesta sexta.

Investigadores querem fechar todas as pontas do roteiro do golpe antes de convocar Mauro Cid. Se os esclarecimentos do ex-ajudante de ordens não forem considerados satisfatórios, o tenente-coronel pode perder os benefícios de sua delação e voltar para a prisão.

Lula apoia a PEC evangélica e garante paraíso fiscal às Igrejas aqui na Terra 

Charge do Rolando (Arquivo Google)

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

Foi aprovado em comissão da Câmara o relatório da PEC que amplia benefícios fiscais concedidos pelo Estado às instituições religiosas. A proposta é do problemático deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ). O parlamentar é bispo licenciado da Igreja Universal, comandada por seu tio Edir Macedo, foi ministro da Pesca, na gestão de Dilma Rousseff, e prefeito do Rio, afastado pela Justiça ao final de seu mandato.

A votação preliminar contou com o apoio governista. O presidente Lula, entre outros luminares da esquerda, insiste que os progressistas precisam se aproximar dos evangélicos, que tendem ao conservadorismo, quando não à ultradireita. Será esse o caminho?

ESTADO LAICO? – Não faz sentido o Estado, que é laico e deve zelar pela boa administração dos recursos públicos, patrocinar entidades religiosas concedendo vantagens fiscais abusivas. A atual legislação já parece por demais concessiva para padrões republicanos.

Resumindo o noticiário: além da isenção em vigor para patrimônio, renda e serviços “relacionados às finalidades essenciais” de templos religiosos, a PEC acaba com tributações indiretas, por exemplo, na compra de cimento para obras ou construção de igrejas. Segundo Crivella, Lula estaria disposto a promulgar a sandice na Páscoa, dando uma de coelhinho em feriado religioso.

Não é segredo para ninguém que a criação de Igrejas no Brasil tornou-se um ramo do empreendedorismo que envolve a busca de lucro e a formação de conglomerados empresariais. A figura do bispo ou do pastor milionário com carrão importado e mansão –ou mesmo aeronaves– é sobejamente conhecida.

Nesse business bem fidelizado nem sempre as veredas do dinheiro doado de boa fé são as mais iluminadas. Não é preciso refinar as buscas para se deparar, numa consulta ao Google, com um sem número de desvios e golpes encetados por sacerdotes de araque que exploram a credulidade popular.

O colunista Hélio Schwartsman, desta Folha, demonstrou, em reportagem de novembro de 2009, a facilidade de ingressar nesse mercado ao criar ele mesmo a Igreja Heliocêntrica e ser contemplado com isenções de impostos em aplicações, além de ganhar o direito a prisão especial em caso de condenação.

AÇÕES MERITÓRIAS – Sim, há que se reconhecer ações meritórias e iniciativas em prol das comunidades – mas essa é a finalidade da atuação social de religiosos. Os incentivos deveriam se limitar ao arcabouço da filantropia, que tem lá seus problemas também, e as movimentações financeiras precisariam ser fiscalizadas.

Outro aspecto pernicioso dessa onda de Igrejas que se avolumou nas últimas décadas é a ingerência na política. A chamada bancada da Bíblia, com hegemonia evangélica, tem notórias tendências teocráticas, além de imiscuir-se em assuntos públicos com o intento de obter ganhos materiais para seus negócios.

Certo moralismo religioso, que chegou como nunca a postos de alto comando na trevosa administração de Jair Bolsonaro, acredita na mesma lógica de teocracias como a do Irã: a ideia de que a lei de Deus ou a suposta de lei de Deus deve presidir a gestão da sociedade.

RETROCESSO – No catecismo de setores terrivelmente religiosos, homens devem vestir azul, mulheres cor de rosa, casamento entre pessoas do mesmo sexo não se admite, homossexuais são doentes que precisam ser curados e por aí vai, com toda a série de postulações retrógradas que tecem nossa nova Idade Média do futuro.

Que essas e outras convicções sejam adotadas como princípios na esfera privada, nada a opor, é um direito democrático, mas a esfera republicana não deveria ser invadida.

Se Lula e o PT consideram que se aproximar da base evangélica é apoiar essa PEC e oferecer o paraíso fiscal na terra às Igrejas, não merecem perdão, afinal sabem muito bem o que estão fazendo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em nome de Deus, tudo é permitido e cometem-se as maiores barbaridades. O Brasil já foi um Estado laico. Hoje, não é mais. (C.N.)

PIB cresceu 2,9% em 2023, puxado pelo agronegócio, na visão otimista do IBGE

Agronegócio: o que é, características, setores - Brasil Escola

O agronegócio teria crescido 15% em 2023, diz o IBGE

Carlos Rydlewski
Metrópoles

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que representa a soma das riquezas do país, apresentou estabilidade no quarto trimestre de 2023, não apresentando variação sobre o trimestre anterior. No ano, contudo, ele apresentou um crescimento de 2,9%, totalizando R$ 10,9 trilhões. A informação foi divulgada nesta sexta-feira (1º/3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A atividade agropecuária cresceu 15,1% de 2022 para 2023, influenciando o desempenho do indicador. Houve incremento também na indústria (1,6%) e em serviços (2,4%). Já o PIB per capita alcançou R$ 50.194, um avanço, em termos reais, de 2,2% em relação a 2022.

ACIMA DO ESPERADO – Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, afirmou que o resultado recorde da agropecuária, superando a queda apresentada em 2022, teve influência do crescimento da produção e do ganho de produtividade da agricultura.

“Esse comportamento foi puxado muito pelo crescimento de soja e milho, duas das mais importantes lavouras do Brasil, que tiveram produções recorde registradas pelo Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA)”, disse.

Outra influência positiva no resultado do PIB de 2023 foi o desempenho das indústrias extrativas. A atividade teve alta de 8,7% devido ao aumento da extração de petróleo e gás natural e de minério de ferro. Destaque também para eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos, com alta de 6,5%.
BANDEIRA VERDE – “Houve condições hídricas favoráveis e a bandeira verde vigorou durante todo o ano de 2023. Além disso, o fenômeno climático El Niño aumentou a temperatura média, impactando o consumo de água e energia”, afirmou a pesquisadora. As indústrias de transformação (-1,3%) e a construção (-0,5%) fecharam o ano com queda.

Em serviços, todas as atividades tiveram crescimento, com destaque para atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados a Intermediação (6,6%). “As empresas seguradoras tiveram um ganho comparando os prêmios recebidos em relação aos sinistros pagos”, explica Rebeca.

Pela ótica da demanda, destaque para a Despesa de Consumo das Famílias, que avançou 3,1% em relação a 2022. A pesquisadora explica que o resultado tem influência da melhora das condições do mercado de trabalho, com aumento da ocupação, da massa salarial real, além do arrefecimento da inflação. “Os programas de transferência de renda do governo colaboraram de maneira importante no crescimento do consumo das famílias, especialmente em alimentação e produtos essenciais não duráveis.”, disse Rebeca.

INVESTIMENTO – Ainda sob a ótica de demanda, houve queda de 3,0% da Formação Bruta de Capital Fixo, com destaque para a queda de máquinas e equipamentos (-9,4%). Já a Despesa do Consumo do Governo teve crescimento de 1,7% no ano.

As Importações de Bens e Serviços caíram 1,2% em 2023 enquanto as Exportações cresceram 9,1%. “Aqui, nota-se a influência do crescimento da produção de milho e soja e da extração de petróleo e minério de ferro, importantes commodities nacionais”, elenca Rebeca. Já a taxa de investimento em 2023 foi de 16,5% do PIB, menor que em 2022. A taxa de poupança, por sua vez, ficou em 15,4% em 2023 (ante 15,8% no ano anterior).

Do total de valor corrente de R$10,9 bilhões do PIB, R$ 9,5 bilhões foram referentes ao Valor Adicionado a preços básicos, enquanto R$ 1,4 bilhão aos Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios.

ESTABILIDADE  – O PIB apresentou estabilidade (0,0%) na comparação do 4º contra o 3º trimestre de 2023. Entre os setores, a Indústria cresceu 1,3%, enquanto os Serviços tiveram variação de 0,3%. Com importantes safras concentradas no primeiro semestre, a Agropecuária recuou 5,3%.

Nas atividades industriais, destaque para a alta nas Indústrias Extrativas (4,7%), na Construção (4,2%) e na atividade Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (2,8%). Já as Indústrias de Transformação apresentaram variação negativa de 0,2%.

Em Serviços, o grupo de Outras atividades de serviços (1,2%), Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,7%), Atividades imobiliárias (0,1%) e Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,1%) apresentaram taxas positivas. Por outro lado, houve queda em Comércio (-0,8%), Transporte, armazenagem e correio (-0,6%) e Informação e comunicação (-0,1%).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Excelente notícia, embora ainda não se veja reflexo dessa recuperação, pois as grandes cidades estão repletas de imóveis comerciais e residenciais para alugar. Nas principais metrópoles há bairros inteiros praticamente vazios, invadidos por cracolândias. E há previsões de queda para 1,8% em 2024,  que evidenciam uma realidade diferente e bem menos otimista do que os gráficos do IBGE presidido pelo ultrapetista Marcio Pochmann, se é que vocês me entendem. (C.N.)

Vítimas da ditadura dizem que fala de Lula sobre 1964 foi “desrespeito”

Lula: “A economia brasileira vai crescer pelo menos 3% em 2024 e superar as expectativas” | Partido dos Trabalhadores

Entrevista de Lula à RedeTV! não agradou à esquerda

Edoardo Ghirotto
Metropoles

 Vítimas da ditadura que tiveram papel fundamental para a busca da verdade e para a preservação da memória sobre o período expressaram decepção com as falas de Lula sobre os 60 anos do golpe de 1964, a serem lembrados em 31 de março. O presidente disse, em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, na terça-feira (27/2), que não ficará “remoendo” o episódio e que o regime militar “já faz parte da história”.

“O Lula não poderia ter falado isso. Ele tem que reconhecer a história desse país. Tem que reconhecer que houve resistência da nossa parte. Muitos companheiros e companheiras que almejavam a democracia foram assassinados pela força da repressão militar”, afirmou Amelinha Teles, ex-presa política e ex-integrante da Comissão de Mortos e Desaparecidos.

 Lula havia prometido na campanha que recriaria a Comissão Especial de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, extinta por Jair Bolsonaro nos últimos dias de governo, mas o Palácio do Planalto engavetou o assunto.

HISTÓRIA VERDADEIRA – “A ditadura faz parte da história, mas de uma história que não foi escrita. A verdade sobre ela não foi contada. As consequências do golpe de 1964 continuam presentes na sociedade, haja vista a tentativa de golpe do 8 de Janeiro”, lembrou Teles.

Diva Santana, outra ex-integrante da Comissão de Mortos e Desaparecidos, disse que a fala de Lula foi infeliz e que o Planalto nem sequer respondeu aos pedidos de audiência solicitados pelos familiares de vítimas da ditadura. “É muito descaso e desrespeito à cidadania e aos direitos humanos. Os familiares dos combatentes ao regime militar repudiam e não compreendem aonde o presidente quer chegar”, declarou Diva, que é irmã de Dinaelza Santana, uma das integrantes da guerrilha do Araguaia executadas pelo regime militar.

MEMÓRIA COLETIVA – Ex-deputado federal e filiado ao PT desde 1982, Gilney Viana ficou preso por aproximadamente dez anos durante a ditadura. Ele disse que Lula está equivocado ao desconectar o 8 de Janeiro do golpe de 1964.

“É preciso moer e remoer o golpe de 1964 até ele virar uma farinha. É preciso criar uma memória coletiva negativa do golpe. Só assim as tentativas de golpe não se repetirão”, declarou Viana. “Deixar esse tema morrer é matar de novo aqueles que morreram torturados. [O 8 de Janeiro] foi uma repercussão tardia da visão de tutela do Estado pelos militares ou do fato de que os militares devem opor vetos a determinados temas, como a memória e a verdade”, prosseguiu.

Ex-presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva, o ex-deputado Adriano Diogo afirmou que a declaração de Lula é consequência da posição do STF de não revisar a Lei da Anistia. A decisão, tomada em 2010, manteve o perdão a militares que cometeram torturas e assassinatos na ditadura.

POSIÇÃO DO GOVERNO – “A declaração do Lula não é um fato isolado. É a posição do governo brasileiro”, disse Diogo, que foi preso e torturado pela ditadura e é filiado ao PT desde a fundação do partido.

“Essa interpretação da Lei da Anistia é a morte dos direitos humanos no Brasil. Foi em decorrência dessa decisão do STF que vieram todas as decisões de governos, como o esvaziamento da Comissão da Anistia e a extinção da Comissão de Mortos e Desaparecidos.”

Mais de 150 entidades que integram Coalização Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia repudiaram, nesta quarta (28/2), as falas de Lula sobre a ditadura. Entre elas está o Instituto Vladimir Herzog e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Lula disse o que pensa. Houve uma anistia ampla, geral e irrestrita, que o povo e as próprias esquerdas saíram às ruas para exigir. Lula tem razão. É hora de olhar para a frente. (C.N.)

Declaração de Gilmar Mendes sobre Bolsonaro é motivo para impeachment

Gilmar Mendes diz que declaração de Jair Bolsonaro sobre minuta do golpe  'parece' confissão; veja vídeo - Estadão

Gilmar Mendes descumpre a Lei Orgânica da Magistratura

Deu no  UOL

O comentário do Gilmar Mendes ministro do Supremo Tribunal Federal sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ter feito uma confissão ao citar a minuta golpista em discurso no último domingo (25) é motivo para impeachment, disse o colunista Wálter Maierovitch no UOL News.

“Parece [que foi uma confissão], que todos sabiam”, disse o ministro Gilmar Mendes em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, sobre o discurso de Bolsonaro no evento da Avenida Paulista, quando o presidente se referiu à existência de uma minuta de decreto de Estado de Defesa.

DIZ MAIEROVITCH – “Infelizmente, estamos assistindo isso: ministros antecipando juízos fora dos autos. Isso não pode em um Estado Democrático de Direito. Vamos esquecer que ele é ministro e não podia falar, mas falou. Aliás, ele faz isso sempre. Para ele, Gilmar diz que ‘parece uma confissão’. Eu tiraria o ‘parece’, e ficaria com a ‘confissão’. Por quê? O próprio Bolsonaro quis justificar a minuta. Se ele quis justificar o ato de que existia a minuta, obviamente é uma admissão, uma confissão a respeito”, disse Wálter Maierovitch, considerado um dos maiores juristas brasileiros. E acrescentou:

“Vou mais longe: isso é motivo para impeachment. O juiz não pode contrariar a Constituição. Gilmar Mendes é um papagaio há muito tempo, como se ele fosse um formador de opiniões. Ele usa esse tipo de estratégia e qual o resultado? As pessoas, certamente, colocando o Supremo como tribunal político em que ministros se intrometem em tudo e que ministros pré-julgam, que é o que ele faz sempre […] Ele é um papagaio inoportuno, está o tempo inteiro contra a Constituição e atenta à lei orgânica da magistratura, que proíbe o juiz de se manifestar fora dos autos”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Importante comentário, enviado por José Guilherme Schossland. Esta não foi a primeira vez que Gilmar descumpriu a lei, nem será a última. Ele faz isso o tempo todo. Ministros desse tipo, como Alexandre de Moraes, estão pouco se lixando para a letra fria da lei. Eles estão acima da lei. Deveriam ser obrigados a consultar um psicanalista três vezes por semana, no mínimo. (C.N.)

O que Bolsonaro pede não é anistia, mas um perdão para os envolvidos no golpe

Anistia | Charge | Notícias do dia

Charge do Frank (ND+)

Carlos Pereira
Estadão

No discurso no ato da avenida Paulista no último domingo, Bolsonaro propôs passar uma “borracha no passado” … uma anistia para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. Se esquece ele, entretanto, que a anistia só faz sentido quando tanto o governo como a oposição têm a ganhar com isso.

Ou seja, quando o status quo conflituoso é pior para os dois lados e a alternativa, via anistia, representa a institucionalização de garantias de ganhos mútuos, como ocorrido na transição para a democracia no Brasil a partir de meados da década de 70.

PRINCIPAIS ATORES – No livro “Democracy and Market”, Adam Przeworski identifica quatro conjunto de atores políticos chaves para explicar os principais tipos de transição de regimes autoritários para regimes democráticos: se por ruptura, quando existiria uma quebra repentina e violenta com o passado autoritário; ou se por reforma, por meio de um processo intrincado de barganha e de negociação entre governo e oposição.

De acordo com Przeworski, no lado autoritário existiriam os “linha-dura”, que desejariam manter o regime autoritário sem grandes concessões, e os “reformadores”, que prefeririam iniciar um processo de liberalização que viesse a fortalecer sua posição dentro do novo regime.

Já do lado da oposição, existiriam os “moderados”, que desejariam a redemocratização mesmo compartilhando poderes com os reformadores, e os “radicais”, que condenariam qualquer tipo de barganha e defenderiam a democratização sem concessões.

DUAS POSSIBILIDADES – Se os linha-dura e os radicais forem os atores políticos mais fortes, o status quo autoritário tenderia a prevalecer ou as transições de regime se dariam por ruptura violenta com grande incerteza sobre o futuro democrático. Por outro lado, se reformadores e moderados forem os atores mais relevantes no jogo político, a liberalização democrática pacífica e pactuada tenderia a ocorrer.

Porém, para que um acordo entre reformadores e moderados se tornasse crível, era necessário haver a institucionalização de garantias, via um processo de anistia capaz de passar uma borracha tanto nas atrocidades da ditadura, como nas loucuras da guerrilha.

Além disso, a anistia seria acompanhada da reinclusão dos exilados, da abertura do sistema partidário e da construção de confiança e de garantias de que não haveria retaliações ou revanchismos de ambos os lados.

EXEMPLO DO BRASIL – A anistia durante a transição democrática no Brasil, portanto, interessava tanto aos reformadores, do lado autoritário, como aos moderados, do lado democrático.

Foi feita uma aliança, que posteriormente veio a desembocar na coalizão vencedora entre o PFL, dissidência reformadora do PDS/ARENA, e os moderados do PMDB, intitulada “aliança democrática”, por meio da candidatura de Tancredo-Sarney, contra os linha-dura autoritários e os radicais de esquerda.

A anistia proposta por Bolsonaro parece mais um pedido camuflado de perdão, pois o atual governo não teria o que ganhar com ela.

PEDINDO PERDÃO – O que Bolsonaro poderia oferecer? Evitar de atiçar o país por meio de atos e protestos gigantescos, como o ocorrido no último domingo? Engavetar o pedido de impeachment de Lula? Arrefecer as iniciativas legislativas de enfraquecimento dos poderes do STF?

Nenhum desses ganhos/ameaças são suficientes ou críveis para convencer o governo, legisladores e/ou os ministros do STF de que a anistia proposta por Bolsonaro valha a pena.

A pretexto de pedir anistia para os golpistas de 8 de janeiro, Bolsonaro na realidade estaria pedindo perdão para si próprio. Seria uma estratégia de escapar à responsabilização pela suposta autoria intelectual da tentativa frustrada de golpe, embutida numa demonstração de força que sugerisse um “custo elevado” para a sua eventual condenação e prisão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGUm bom artigo, mas parte de premissa falsa. No Brasil, já houve exemplos de anistia a apenas um dos lados, como nos casos das revoltas de Jacaréacanga e Aragarças, ambas no governo de Juscelino Kubitscheck. Era um perdão, mas concedido sob nome de anistia aos revoltosos, exatamente como agora, com a diferença de que desta vez a revolta nem chegou a eclodir. (C.N.)

Declaração de Bolsonaro constitui-se numa confissão da trama golpista

Bolsonaro tropeça em suas próprias palavras

Pedro do Coutto

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirmou que declarações de Jair Bolsonaro sobre a minuta que supostamente decretaria um golpe no Brasil em 2022 se assemelha a uma confissão de que ele estava plenamente ciente da existência do documento.

No último domingo, o ex-presidente durante manifestação convocada na Avenida Paulista negou que tenha ocorrido uma tentativa de golpe de Estado, mas citou o documento encontrado nas investigações da Polícia Federal.

MINUTA – “Agora o golpe é porque tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição?”, questionou, acrescentando que é “o Parlamento que decide se o presidente pode ou não editar um decreto de estado de sítio”.

Na avaliação de Gilmar Mendes, o ex-presidente saiu de uma situação de “possível autor intelectual para pretenso autor material” da tentativa de golpe de Estado. “Temos esses dados e por isso talvez ele decidiu fazer esse movimento, para mostrar que tem apoio popular, que continua relevante na opinião pública. Isso não muda uma linha em relação às investigações, nem muda qualquer juízo ou entendimento do STF”, afirmou.

CONFISSÃO – De fato, a colocação do ministro Gilmar Mendes conduz à sensação de que a declaração de Bolsonaro constitui-se numa confissão da trama golpista. As coisas se complicam para o bolsonarismo. Era inevitável, pois os fatos levam à realidade arquitetada pela antiga gestão governamental.

A hipótese de mudar de tática se torna agora tardia. Bolsonaro avançou muito nas tentativas de negar as articulações para subverter os resultados das urnas e com isso partiu dar um golpe contra a democracia. O episódio de 8 de janeiro ficará na história como um episódio em que se tentou  subverter a democracia e com isso as instituições do país. Mas a democracia, mais uma vez, venceu essa batalha.

A Terra é a mãe da vida e quem a ama deve aprender a cuidar dela

Vital Farias, O Cantador

Vital Farias e a filha Giovanna

Paulo Peres
Poemas & Canções

O músico, cantor e compositor paraibano Vital Farias, na letra de “Não Jogue Lixo No Chão”, conclama as pessoas a repensarem as suas atitudes, sob pena de inviabilizarem a vida no planeta para as gerações vindouras. Esta música faz parte do CD independente Uyraplural-Giovanna Farias & Vital Farias, produzido pelo próprio Vital Farias em 2002, que marcou a estreia de sua filha e cantora Giovanna Farias.

NÃO JOGUE LIXO NO CHÃO
Vital Farias

Não jogue lixo no chão
Chão é pra plantar semente
Pra dar o bendito fruto
Pra alimentação da gente

O peixe que sai do rio
O amor que sai do peito
A água limpa da fonte
O sentimento perfeito

Não jogue lixo no chão

A natureza é quem cria
O amor imediatamente
Milagre que faz da vida
Bendito fruto do ventre

Não jogue lixo no chão

Não jogue lixo no chão
Nem rios, lagos e mares
A terra é nossa morada
Onde habita nossos pares

A terra que tudo cria
Não pede nada demais
Se tratada com carinho
Para vigorar a paz

Se queres sabedoria
Aprenda isto de cór
A terra é a mãe da vida
Útero ventre maior

Não jogue lixo no chão

Lula pretende formar uma “Lulabrás” com Petrobras, Eletrobras, Vale e outras

PRIORIDADE - Lula: estratégias e ações políticas do presidente estão focadas na conquista de um quarto mandato

Montagem com foto de Ricardo Stuckert (Veja)

José Casado
Veja

O sonho de consumo de Lula é construir uma “Lulabrás”. Nas suas palavras: “O que nós queremos é o seguinte: as empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro. É só isso que nós queremos.”

Ainda não se conhece esse “pensamento de desenvolvimento”. Como não foi apresentado na campanha eleitoral de 2022 nem nos primeiros 14 meses de governo, talvez venha a público nos próximos 46 meses de governo. Por enquanto, existem apenas sinalizações sobre futuras políticas setoriais.

NEOINDUSTRIALIZAÇÃO – É o caso da “neoindustrialização”, com a renovação de incentivos fiscais às montadoras de automóveis e a disposição do BNDES em apostar em outro “polo naval” — o quarto, depois de três fracassos nas últimas seis décadas.

É, também, o caso da anunciada “nova política mineral”. O governo dispõe de um estoque de 70 mil áreas para pesquisa, exploração e lavra que pretende leiloar, mas tropeça nas próprias mazelas: a estrutura operacional da Agência Nacional de Mineração é do tempo do papel, inoperante na era digital.

Outro grande impasse governamental é com o petróleo. A Petrobras prevê declínio na produção dos poços do pré-sal do Sudeste na próxima década. Existe a possibilidade de novos e grandes achados no pré-sal da bacia do Amazonas, na chamada margem equatorial (do Rio Grande do Norte ao Amapá).

NA DÚVIDA – Mas o governo joga com o tempo. Devaneia à espera encontrar um ponto de equilíbrio entre a ambição diplomática de liderar a transição energética em bases sustentáveis e a abertura da Amazônia como uma nova fronteira de exploração de petróleo.

Surpreendido com o avanço institucional do Congresso e a consequente perda de poder do governo em relação ao dispunha quando presidiu por oito anos seguidos, no início do milênio, Lula topou com a realidade de uma estreita margem de manobra na economia. Por isso, julga necessário alinhar “as empresas brasileiras” àquilo que, precariamente, define como “pensamento de desenvolvimento do governo”.

Transformou a Petrobras (receita anual de cerca de 600 bilhões de reais) em alvo no palanque eleitoral, e, por ironia, com propostas de intervenção na gestão parecidas com as do adversário, Jair Bolsonaro. No Palácio do Planalto, a “questão Petrobras” é dada como resolvida, fato consumado no 14º mês de governo.

ELETROBRÁS E VALE – Segue pendente a reversão da privatização da Eletrobras (vendas anuais em torno de 30 bilhões de reis). “O pessoal fica nervoso porque o Lula, sabe, denuncia a privatização da Eletrobras”, disse ao repórter Kennedy Alencar,, referindo-se à perda de poder governamental na gestão. “O que fizeram na Eletrobrás foi crime de lesa pátria.” Por enquanto, não há perspectiva de reversão na privatização nos termos desejados pelo governo.

No alvo, agora, está a Vale (faturamento em torno de R$ 400 bilhões). Sobram críticas:

“O que nós queremos é que a Vale tenha mais responsabilidade, inclusive a quantidade de minas que está na mão da Vale e que ela não explora há mais de 30 anos e fica funcionando como se fosse dona e vendendo. A Vale, ultimamente, está vendendo mais ativo do que produzindo o minério de ferro. E ela está perdendo o jogo para algumas empresas australianas.”

ACUSAÇÕES – Sobram, também, acusações: “A Vale não explica para a sociedade brasileira o compromisso dela com a empresa da Guiné-Conacri [a BSGR, do bilionário israelense Beny Steinmetz]. Ele não explica por que desistiram de uma ação de 500 milhões de dólares porque a parte contrária descobriu que o diretor da Vale estava envolvido na corrupção e eles preferiram abandonar o processo. E a Vale não explica porque que ela desistiu da mina [de carvão] de Moatize, em Moçambique, que foi um esforço para a gente conseguir.”

Duas décadas atrás, quando o mundo era outro, ele quis impor seus planos à Vale, na época comandada por Roger Agnelli, executivo da empresa de investimentos do grupo Bradesco: “O que aconteceu na saída do Roger? A gente estava tentando reconstruir a indústria naval brasileira [o terceiro pólo naval, que naufragou na corrupção na Petrobras]. A gente estava tentando construir e a gente queria construir navios grandes. De repente, a Vale vai e contrata três grandes navios de 400 mil toneladas da China. Aí eu chamei o Lázaro Brandão, que era o presidente do Bradesco, e eu falei: ‘Não é possível mais a gente fazendo uma política industrial de construir uma indústria naval e o cidadão [Agnelli] de uma empresa como a Vale não vai comprar’. Então tiramos ele.”

Ele tem planos para submeter a Petrobras, Eletrobras e Vale, entre outras empresas, ao “pensamento do desenvolvimento de governo brasileiro”. Lula sonha com uma “Lulabrás”.

Mensagem de um “cristão-novo” (ex-judeu) sobre os crimes de guerra na Faixa de Gaza

Tenho 11 anos e vivo com medo”: assim é ser criança em Gaza - SIC Notícias

Crianças não podem ser as maiores vítimas de uma guerra

Carlos Newton

Como quase todos os brasileiros, sou de ascendência judaica por diversos ramos da família, especialmente os Azevedo, Leitão, Quaresma, Dourado, Fernandes e Pires, é um verdadeiro festival de etnia hebraica. A família Azevedo, que no livro “Roteiro dos Azevedo e outras família do Nordeste” está rastreada desde a chegada do primeiro deles ao Brasil, veio fugida da Inquisição na Europa.

Para esconder o judaísmo, os Azevedo fingiam-se de católicos e davam nomes de santos aos povoados que fundavam, como a Vila de Conceição dos Azevedo, uma cidade linda, hoje chamada de Jardim do Seridó, no Rio Grande do Norte.

CARINHO E RESPEITO – Meus pais eram católicos, porém tínhamos consciência dessa origem hebraica. Desde criança, fiz muitos amigos judeus, porque estudava no colégio preferido pela colônia judaica no Rio, o Liceu Franco-Brasileiro, que ensinava francês, inglês e espanhol.

Sempre tive carinho e respeito pelos judeus e pela contribuição deles ao desenvolvimento da humanidade, nenhuma outra etnia foi tão importante. Basta dizer que Jesus Cristo era judeu, e estamos conversados.

Faço essa introdução para me colocar nesse momento difícil para o judaísmo. Desta vez, está complicadíssimo defender Israel, uma nação que a meu ver poderia se tornar exemplo de democracia para o mundo, mas falta o principal – a miscigenação. É o amor, com a mistura de raças, que levará o mundo a um futuro melhor.

RAÇA PURA – Na verdade, a obrigatoriedade do casamento entre judeus é hoje um arcaísmo racista, mas continua a ser seguido, porque as religiões insistem em não evoluir, digamos assim.

Existem exceções, é claro. Tenho uma amiga judia casada com descendente de árabe, são felizes. Mas a família agora deve ter problemas, devido à desumanidade dos ataques israelenses à Faixa de Gaza, que está levando os intelectuais judaicos à perplexidade, porque de repente ficou impossível defender os atos do governo de Israel.

Até agora, a imensa maioria dos progressistas israelenses ainda não conseguiu sair desse estado de choque. Muitos não se manifestam, mas alguns publicam artigos que tentam defender os ataques à Faixa de Gaza, é constrangedor.

PAZ IMPOSSÍVEL – Entre dois povos que não se aceitam, a paz é praticamente impossível, os atentados vão prosseguir, sem menor dúvida. Nesse quadro, cabe aos judeus intelectuais comandar o movimento pela paz, ao invés de defender a barbárie que Netanyahu comanda em causa própria.

A elite judaica precisa emergir da perplexidade e raciocinar sobre os crimes de guerra que vêm sendo cometidos. São os intelectuais que precisam convencer Israel a aceitar os dois Estados e retirar os colonos das áreas ocupadas.

Mesmo com a criação dos dois Estados, podem ocorrer atentados, é claro. Mas haverá uma mínima possibilidade de paz, que não existe enquanto Israel for governado por um criminoso de guerra como Netanyahu.

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P.S. 1
É preciso transformar Israel em um outro país, com o qual a humanidade sonhava. Vamos aguardar e dar tempo a eles. O que não falta a Israel são intelectuais. Eles saberão como sair dessa situação. E pode ser que no futuro aprendam a força da miscigenação.

P. S. 2Por fim, mando um abraço a meus amigos judeus e árabes. Quando eu era menino e passava férias no Acre, uma parte da cidade tinha um número tão grande de árabes que era chamada de “Beirute”. É uma beleza, são casas de madeira, impecavelmente preservadas, na beira do Rio. Um comerciante árabe, Almiro Abrahão, casou-se com minha tia Chrizá. Éramos grandes amigos. (C.N.)