
O humorista Léo Lins devia ser defendido por Didi Mocó
Carlos Andreazza
Estadão
Jornalista condenada por fazer jornalismo. Piadista, por fazer piada. O caso Léo Lins é expressão do espírito do tempo autoritário. Gênio – o do juiz cuja moralidade superior autoriza a censura – que não voltará mais à lâmpada.
Os precedentes ficam – para que outros defensores da democracia os explorem. Lembre-se, antes de celebrar a desgraça alheia: o poder de nos proteger muda de mãos rapidamente.
TEMPO XANDÔNICO – O espírito do tempo xandônico. Esse em que o STF instrumentaliza o controle de constitucionalidade – e acusa de omissão parlamentar o que é prerrogativa do Congresso – para usurpar competências e fazer leis.
Esse tempo em que são bloqueadas redes sociais de parentes não investigados de indivíduo condenado.
O humorista Leo Lins foi condenado a oito anos de cadeia e multa por piadas em show que foi divulgado nas redes sociais. Lins foi o último tirado como símbolo para o exercício do velho vício infantilizante de pretender resguardar a sociedade contra manifestações que os iluminados consideram perigosas.
SOMOS IDIOTAS – Os barrosos nos têm como idiotas – como incapazes de discernir e fazer escolhas – e nos querem defender censurando humorista. A nossa idiotia, da qual togados creem nos preservar, justifica que clássicos da literatura tenham suas passagens preconceituosas reescritas-suprimidas por editores sensíveis.
É sob essa premissa – em que nós, os imbecis, não conseguiríamos distinguir a natureza da arte – que já não se admite, numa obra de ficção, uma cena de estupro.
E agora se usa o direito penal para a exibição virtuosa do politicamente correto; para cercear o direito coletivo à liberdade de expressão.
LEI RETROAGINDO – As portas que se arrombam sob esse modelo de Justiça – condenado um piadista a oito anos de cana – são as da intolerância. O ofício do humor tornou-se “racismo recreativo”.
Lei penal de 2023 retroagindo para punir crime cometido em 2022 – e tudo bem. Porque o espetáculo, justifica-se, foi publicado nas redes, donde – esta invenção – o “flagrante permanente”. Já mandaram prender o Didi Mocó Sonrisal Colesterol?
O cara estava sobre o tablado, constituída uma persona, contando piada – desenrolando um texto – para adultos que decidiram e foram vê-lo. E então se aplica contra ele interpretação da lei segundo a qual usaria o humor como fachada para o livre cometimento de delitos.
CENSURA PRÉVIA – O piadista teria dolo. A lei mal concebida autorizando que juiz identifique e aponte o que seria a intenção de, fantasiando-se de arte, atacar a dignidade da pessoa humana. Uma condenação que, por efeito da intimidação, censura previamente. Não pense que somente o humor.
Atenção. Está na sentença. Não existe o personagem. Apenas a pessoa. De Léo Lins afastada a condição de atuar. A representação seria plataforma adulterada para o disparo de discriminações.
Uma ameaça à própria ideia de cena – de teatro. Não pense que restrita às liberdades de expressão artísticas. Piadista condenado por fazer piada. Jornalista, por fazer jornalismo.
Acho que tem de prender todos os honestos e deixar solto somente os fora da lei.
Xande ataca: manda prender, manda extraditar, manda…
Boa noite a todos! Censura nunca mais!
Punição a crimes cibernéticos sim mas censura JAMAIS! Vamos aperfeiçoar os mecanismos de controle para evitar os crimes que se proliferarão ainda mais com a inteligência artificial e a “deep fake”. Talvez controlar não seja a expressão correta mas monitorar. Deixo essa para Carlos Newton responder pois é muito inteligente e perspicaz ; como fazer para não deixar a internet e as redes sociais virarem “terra de ninguém” sem censurar? Há uma linha tênue que divide isso aí. Abraços a todos
Alguém precisa controlar o ‘Barba acrobata’. Está falando ‘borracha/abobrinha’ demais na França..
Teria tomado uns ‘goró’ a mais?