Para recuperar popularidade, Lula terá muito trabalho duro pela frente

Governo Lula nega que tenha dispensado ajuda do Uruguai ao Rio Grande do Sul  - ISTOÉ Independente

Lula agora tem de correr atrás do prejuízo nas pesquisas

Bruno Boghossian
Folha

O governo mal conseguiu um diagnóstico completo sobre a queda da popularidade de Lula, mas agora ensaia um suspiro de alívio. Três pesquisas divulgadas nos últimos dias confirmam que a avaliação piorou mesmo. Sugerem também que a queda pode ter sido estancada.

Os dados indicam a consolidação de um quadro cada vez mais comum em levantamentos sobre popularidade presidencial, com um eleitorado dividido em três partes iguais. A pesquisa Quaest desta quarta (8) mostrou que 33% consideram o governo ótimo ou bom, 31% dizem que ele é regular e 33% classificam a gestão como ruim ou péssima.

SOBE E DESCE – Em agosto de 2023, a avaliação positiva de Lula estava em 42%, e a negativa era de 24%. As linhas se aproximaram ao longo dos meses, se tocaram em fevereiro e permaneceram praticamente estáveis desde então.

O mais urgente para o governo era evitar que o derretimento se prolongasse. Aí estão os primeiros indícios de que isso ocorreu, ainda que alguns pontos mostrem que o cenário para a recuperação da popularidade de Lula não será tão simples.

A Quaest contou mais eleitores dizendo que o país está no caminho errado (49%) do que no caminho certo (41%). Além disso, chegou a 63% o percentual de entrevistados que dizem que Lula “não tem conseguido” fazer o que prometeu. São questões importantes porque indicam um desânimo que pode estar presente até para quem votou no petista.

INFLAÇÃO DE VOLTA – A pesquisa também reforçou uma percepção generalizada de alta nos preços dos combustíveis, dos alimentos e da energia. Significa que, apesar do aumento do emprego, o trabalhador sente um peso na hora de fazer compras e pagar contas.

Um terceiro ponto indica uma quantidade grande de entrevistados estacionados na faixa de avaliação regular. Este grupo inclui eleitores da oposição, uma oportunidade para pescar aqueles que não consideram o governo ruim.

Por outro lado, também estão ali eleitores de Lula que ainda não veem resultados suficientes para uma avaliação positiva.

Eventos climáticos extremos se tornarão mais frequentes no país, alertam cientistas

Enchentes no RS: número de mortes sobe para 83; chuva deve | Geral

É uma tragédia anunciada, que se repete sem maior reação

Deu em O Globo
Agência FP

Enchentes históricas, incêndios florestais recordes, ondas de calor sem precedentes, secas: os eventos extremos se multiplicam e se tornarão mais frequentes no Brasil, alertam os especialistas. O pior desastre climático da história do Rio Grande do Sul deixou mais de 100 mortos e devastou a economia desse estado agrícola, que levará meses ou inclusive anos para se recuperar, segundo as autoridades, que falam da necessidade de um “plano Marshall” de reconstrução.

Outras tragédias atingiram o Brasil recentemente. No ano passado, o país registrou 1.161 desastres naturais, mais de três por dia, em média. É um recorde desde que os registros começaram em 2011, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

VULNERABILIDADE – A própria geografia brasileira explica em parte esta vulnerabilidade, com regiões que inundam no sul e outras que sofrem repetidos períodos de seca, como a região semiárida no leste. O fenômeno natural do El Niño também tem impacto.

Mas devido ao aquecimento progressivo do planeta, os eventos extremos ou raros “estão cada vez mais frequentes e mais extremos e é de esperar que isto continue”, disse à AFP José Marengo, coordenador de pesquisa do Cemaden.

“As mudanças climáticas não estão mais sob discussão em uma pesquisa científica. Elas saíram dos livros e viraram realidade”, disse à AFP Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, que é composto por mais de uma centena de organizações ambientalistas e de pesquisa.

MORTES E PREJUÍZOS – As chuvas extremas no Brasil no ano passado causaram pelo menos 132 mortes e mais de 9 mil feridos, enquanto cerca de 74 mil pessoas perderam suas casas, segundo o Cemaden. Os danos materiais foram estimados em mais de 5 bilhões de reais.

No Rio Grande do Sul, o balanço provavelmente será pior do que em todo o ano de 2023: o saldo preliminar das enchentes informa 107 mortos e 136 desaparecidos. O número de afetados e os prejuízos econômicos ainda são incalculáveis. Nos últimos anos, as enchentes atingiram também a cidade de Recife (Pernambuco) e os estados de Minas Gerais e Bahia.

Essas chuvas extremas no sul da América do Sul têm sido uma previsão recorrente dos modelos climáticos há décadas, segundo o Observatório, e esta informação é “ignorada pelos sucessivos governos estaduais”, lamentou Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas da plataforma.

ADAPTAÇÃO – “Enquanto não se entender a relevância da adaptação, essas tragédias vão continuar acontecendo, cada vez piores e mais frequentes”, frisou Araújo.

Há também incêndios e desmatamentos. As emissões de dióxido de carbono para o meio ambiente são as principais responsáveis pelo aquecimento global. A redução das florestas devido ao desmatamento para expansão das atividades agrícolas reduz a capacidade de absorção desses gases de efeito estufa.

Entre janeiro e abril, foram registrados mais de 17 mil incêndios florestais, mais da metade deles na região amazônica, onde aumentaram 153% em um ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O dever de casa é claro. Combater o desmatamento com todas as forças, botar essa gente na cadeia, mostrar que o Estado é forte. Além disso, desassorear rios e lagoas, abrir canais para áreas de escape das águas, proibir construções em vales e locais inundáveis. Mas quem se interessa? (C.N.)

Ataques de Musk contra Moraes elevam as críticas ao Supremo nas redes sociais

Comitiva bolsonarista acompanha o deputado republicano Chris Smith em frente ao Capitólio

Comitiva bolsonarista esteve no comitê da Câmara dos EUA

Ana Luiza Albuquerque
Folha

As acusações de Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes levaram à disparada de ataques ao Judiciário nas redes sociais, segundo levantamento do instituto Democracia em Xeque.

No mês passado foram 70 milhões de interações no Facebook, Instagram e YouTube a respeito das cortes judiciais. O número chegou a ultrapassar os 60 milhões observados em outubro de 2022, em meio às eleições presidenciais.

Desde então, as interações e publicações sobre o tema diminuíram e houve um período de estabilidade –interrompido pelo embate entre Musk e o ministro.

EXTREMA-DIREITA – As interações foram, em sua maioria, de contas de extrema direita, segundo critérios do instituto. O grupo promoveu mais de 15 milhões de interações de 5 a 11 de abril, quando Musk intensificou o embate com Moraes, em comparação a 2 milhões alimentadas por contas consideradas progressistas.

No início de abril, Musk prometeu “derrubar restrições” no X impostas por Moraes e disse que o ministro deveria renunciar ou sofrer impeachment.

Dias antes, o ativista e jornalista americano Michael Shellenberger havia divulgado o que ele chama de “Twitter Files Brazil” – emails de funcionários da plataforma que, segundo ele, reforçam a narrativa de que as altas cortes brasileiras estariam promovendo censura.

NO CAPITÓLIO – No dia 17 de abril, uma comissão do Congresso dos EUA publicou uma série de decisões sigilosas de Moraes sobre a suspensão ou remoção de perfis nas redes sociais. O material foi obtido a partir de intimação parlamentar feita ao X.

No relatório, os pesquisadores do Democracia em Xeque afirmam que esses eventos pautaram o debate online sobre o tema, arrastando para a discussão ecossistemas digitais progressistas e de centro, assim como grande parte dos formadores de opinião e da mídia.

O instituto Democracia em Xeque avalia que a extrema direita mudou seu objetivo com a narrativa propalada no sistema digital. Se em 2022 o grupo desejava minar a confiança no sistema eleitoral e estimular a população a rejeitar o resultado das urnas, os pesquisadores afirmam que agora os extremistas querem minar a condução do devido processo legal, evitando a responsabilização dos investigados no inquérito das fake news e pelos ataques às instituições no 8 de janeiro.

NÃO ERA ESPERADO – “[O levantamento] surpreendeu muito porque em 2022 já havia um número muito grande [de interações]”, diz Ana Julia Bernardi, diretora de projetos no instituto.

“Levanta também todo o debate sobre a necessidade de regulação das plataformas. [Chama a atenção] como Elon Musk questiona a soberania do Judiciário, da própria eleição brasileira, e isso gera tanto engajamento e volume.”

Os eventos envolvendo o X e o STF nos últimos meses estimularam a direita bolsonarista a reforçar a narrativa de perseguição judicial.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
São duas facções em confronto. Cada um usa as armas de que dispõe. O ministro Alexandre de Moraes abriu a guarda, ao exerceu censura de moto próprio, sem queixa judicial, processo e defesa do suposto infrator. O nome disso é censura, não adianta disfarçar. Não custava nada Moraes obedecer às leis. O resultado é esse escândalo, que mancha a imagem do país. (C.N.)

Moro começa a ser julgado pelo TSE na quinta-feira, com Moraes presidindo

Alexandre de Moraes - Wikiquote

Moraes são sossega enquanto não cassar Sérgio Moro

Daniel Gullino
O Globo

O ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), marcou para os dias 16 e 21 de maio o julgamento de duas ações que pedem a cassação do senador Sergio Moro (União Brasil-RJ). No mês passado, o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) absolveu Moro das acusações, mas houve recurso.

O relator das ações, Floriano Marques, liberou-as para julgamento nesta quinta-feira. Em seguida, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, incluiu os processos na pauta já da próxima semana.

FINAL DE GESTÃO – Esse deve ser um dos últimos julgamento da gestão de Moraes no TSE, já que o ministro deixa o tribunal no próximo mês. Ele será substituído por André Mendonça, o que deve mudar a correlação de forças na Corte eleitoral. Como O Globo mostrou, na avaliação de integrantes do tribunal, a troca tornaria a composição mais favorável a Moro, mas ele será julgado antes.

Sergio Moro é acusado de abuso de poder econômico nas eleições de 2022. Em parecer apresentado na semana passada, o Ministério Público Eleitoral defendeu a absolvição do senador, ao contrário do que ocorreu no TRE-PR, quando o parecer foi favorável. Uma das ações foi apresentada pela federação do PT e a outra pelo PL.

No dia do julgamento, primeiro as partes — acusação e defesa — apresentarão suas alegações finais, e depois será a vez do parecer do Ministério Público. Em seguida, o relator vota, seguido pelos demais ministros.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Moraes vai fazer o possível e o impossível para condenar Sérgio Moro, como fez para cassar Deltan Dallagnol, cuja acusação era tão fraca que ele nem perdeu os direitos políticos. O motivo será o mesmo – “presunção de culpa”, uma figura jurídica que só existe no Brasil. Nos demais países democráticos é o contrário, o que existe é “presunção de inocência”, uma das mais importantes doutrinas do Direito Universal. (C.N.)

Ajuda às vítimas do Rio Grande do Sul é questão de humanidade

Brasileiros por todo o país se unem para ajudar as vítimas

Pedro do Coutto

A tragédia causada pelas chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul proporcionou um exemplo de solidariedade humana no país, com a  sociedade se mobilizando para socorrer as vítimas. Inúmeras correntes de ajuda se formaram por todo o território nacional comprovando que a população pode agir em prol de causas importantes e emergenciais. O governo federal também tem articulado através dos seus ministérios e órgãos de administração para atender aos milhares de atingidos.

O desastre exigiu uma resposta à altura da tragédia marcada por centenas de municípios em estado de calamidade pública, centros urbanos submersos, cidades isoladas, infraestrutura comprometida e milhares de moradores sem água e luz. Não há espaço para desentendimentos que atrapalhem a assistência às vítimas e a reconstrução.

SOLIDARIEDADE – É comovente ver o movimento de solidariedade com doações e iniciativas diversas para ajudar a população atingida. No último domingo, o presidente Lula da Silva viajou para o RS com uma comitiva que incluía os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, o ministro Edson Fachin do Supremo Tribunal Federal, o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, o comandante do Exército, general Tomás Paiva, além de vários ministros de Estado.

Claro que a expectativa é que autoridades visitem áreas afetadas por desastres, especialmente em ano eleitoral. Mas, em um país ainda influenciado pela polarização, é gratificante ver a cooperação entre muitas forças contribuindo para agilizar decisões que envolvem diferentes níveis de governo e demonstra que divergências não serão um impedimento para fazer o necessário. Nesse momento, é preciso ver em primeiro plano a vida e não questões políticas divergentes ou incentivos aos discursos que buscam a desinformação.

Em versos, a declaração do amor de Castro Alves à atriz Eugênia Câmara

Como eu Vi Castro Alves e Eugênia Câmara no Vendaval Maravilhoso de suas  Vidas - Leitão de Barros - Traça Livraria e Sebo

O poeta amava a atriz desesperadamente

Paulo Peres
Poemas & Canções

O baiano Antônio de Castro Alves (1847-1871), conhecido como poeta abolicionista, tem seu nome vinculado também à música popular brasileira, especialmente ao gênero “modinha”, muito cultivado pelos poetas românticos na segunda metade do século XIX. Teve vários de seus poemas musicados. O mais famoso é, sem dúvida, “O Gondoleiro do Amor”, com música de Salvador Fábregas, gravada por Mário Pinheiro, em 1912, pela Record.

Os versos são construídos com antíteses, refrão, metáforas, hipérbole e vocativo, numa barcarola dedicada a Eugênia Câmara, atriz portuguesa e o grande amor de Castro Alves. Vale ressaltar a associação da cor dos olhos da “dama negra” com a ideia de profundidade.

Em 1941, a modinha “O Gondoleiro do Amor” foi cantada por Sílvio Caldas, acompanhado por um coro de 30 mil vozes regidas pelo maestro Villa-Lobos no estádio de São Januário, pertencente ao Clube de Regatas Vasco da Gama, no Rio de Janeiro.

FELICIDADE É DOM
Salvador Fábregas e Castro Alves

Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar…
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;

Sobre o barco dos amores,
Da vida boiando à flor,
Douram teus olhos a fronte
do Gondoleiro do amor.

Tua voz é a cavatina
Dos palácios de Sorrento,
Quando a praia beija a vaga,
Quando a vaga beija o vento;

E como em noites de Itália,
Ama um canto o pescador,
Bebe a harmonia em teus cantos
O Gondoleiro do amor.

Teu sorriso é uma aurora,
Que o horizonte enrubesceu,
-Rosa aberta com o biquinho
Das aves rubras do céu.

Nas tempestades da vida
Das rajadas no furor,
Foi-se a noite, tem auroras
O Gondoleiro do amor.

Teu seio é vaga dourada
Ao tíbio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua;

Como é doce, em pensamento,
Do teu colo no languor
Vogar, naufragar, perder-se
O Gondoleiro do amor!?…

Teu amor na treva é – um astro,
No silêncio uma canção,
É brisa – nas calmarias,
É abrigo – no tufão;

Por isso eu te amo querida,
Quer no prazer, quer na dor…
Rosa! Canto! Sombra! Estrela!
Do Gondoleiro do amor

Preocupado com queda de popularidade, Lula vai para mais um difícil teste no Sul

Lula diz que “não persegue nenhum governador ou prefeito” e promete nova  visita ao RS

Lula diz que não persegue nenhum governador ou prefeito

William Waack
Estadão

Nascido em grande medida do repúdio do eleitorado ao candidato adversário, o governo Lula 3 continua tendo grandes dificuldades para entender a razão do que ele mesmo descreve como problema de popularidade. É o próprio Lula.

O presidente tem desconcertado aliados históricos e velhos companheiros de jornada pela morosidade com que joga num campo onde sempre se considerou o maior craque, o da articulação e negociação políticas. Talvez ainda não consiga compreender o quanto esse campo mudou – além das regras do jogo.

PERCEPÇÃO DOS FATOS – Além disso, Lula 3 sofre de maneira cada vez mais acentuada com um fenômeno clássico da política, que é o da percepção dos fatos. Em grande parte do público ela não tem sido aquela que o governo esperava em relação a dados da economia, emprego e, principalmente, preços e impostos.

Imperam os “sentimentos” de que está tudo caro e a economia parada. E não a leitura racional de números tidos como fatos auspiciosos. O “agora vai” que pudesse ter motivado mais gente além do eleitorado fiel a Lula foi substituído pelo “agora vai para onde?”, que é um sentimento de dúvida sobre o futuro.

Vale o mesmo até para a percepção da reação do governo à imensa catástrofe no Rio Grande do Sul. Não ajudam governo algum, muito menos o de Brasília, as emoções trazidas pela percepção de que “desamparo” é uma sensação ligada a governos e órgãos públicos, enquanto a de “união e solidariedade” surge exclusivamente do esforço de milhares de cidadãos anônimos.

SEM REAÇÃO – Tragédias dessas proporções expõem o despreparo tradicional do poder público quando se trata de planejamento e esgarçam ao extremo sua capacidade de reação limitada por falta de recursos humanos e materiais.

Escancaram todo tipo de vulnerabilidade, incluindo as fiscais, ou seja, causa uma enorme preocupação o esforço suplementar imposto aos cofres públicos para enfrentar esse tipo de emergência – e o socorro é imperativo, não importa o que custe.

A extensão da catástrofe é de tal ordem a ponto de ter impedido até aqui o surgimento de um “comandante”, de uma instância “central” capaz de avaliar, coordenar, dirigir – o próprio governo do Estado fica pequeno diante do tamanho da destruição e das dificuldades que já se antecipam por prazos bem longos.

LONGE DEMAIS – Enquanto isso, Brasília – de novo, uma questão de percepção – parece tão distante, não importam as expressões compungidas das principais figuras do mundo político (incluindo do STF) sobrevoando áreas alagadas.

Situações complexas como a atual, cuja essência está nas emoções e no subjetivo da política, agravadas por uma tragédia, não são apenas um dificílimo teste de popularidade para o personagem político Lula.

O verdadeiro teste é o da sua estatura.

Resposta do Supremo agrava acusações de censura feitas a Moraes nos EUA

Gilmar Fraga: Telegram.. | GZH

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)

Carlos Newtom

A fotografia do ministro Alexandre de Moraes, exibida no comitê de Direitos Humanos da Câmara dos Estados Unidos, como se ele fosse garoto-propaganda da censura no Brasil, fez com que o Supremo Tribunal Federal distribuísse uma nota oficial à imprensa, tentando reagir à ofensiva da bancada republicana no Capitólio.

O documento, divulgado pelo Serviço de Comunicação Social do STF, procura justificar as 88 decisões do ministro Alexandre de Moraes tomadas tanto na Supremo quanto no Tribuna Superior Eleitoral, que era presidido por ele nas últimas eleições.

As ordens judiciais de Moraes determinaram às plataformas digitais que suspendessem, bloqueassem e até desmonetizassem os perfis e contas em redes sociais que internautas utilizavam para atacar o sistema eleitoral, fazer apologia aos atentados de 8 de janeiro ou criticar instituições brasileiras.

NOTIFICAÇÃO – O documento, divulgada pelo Serviço de Comunicação Social do Supremo, esclarece que o material vazado se trata de notificação, como se fosse um mandado judicial, enviado às empresas que comandam plataformas para informar decisões a serem cumpridas. Além do X (antigo Twitter), a Meta, dona do Facebook e do WhatsApp, a Rumble e outras companhias foram notificadas.

“Todas as decisões tomadas pelo STF são fundamentadas, como prevê a Constituição, e as partes, as pessoas afetadas têm acesso à fundamentação”, diz a nota.

A Corte usou a analogia com um mandado de prisão, e destacou que o material divulgado são apenas ofícios, e não as decisões. Só determinam o cumprimento da medida judicial, sem com isso quebrar o sigilo dos processos.

NÃO ADIANTA NADA – A tentativa de defender Moraes não adiantou nada e até agravou a situação dele, porque a nota do Supremo admite que os processos são “sigilosos”, uma expressão que a matriz USA abomina. Lá nos States são raríssimos os processos sigilosos. A Justiça é transparente, pela própria natureza, realizada com as portas abertas. Bem diferente da filial Brazil, onde advogado nem pode mais fazer defesa oral no Supremo.

As 88 decisões de Moraes foram tomadas no “inquérito do fim do mundo”, aquele iniciado em 2019 e que nunca termina. São consideradas como atos de censura, porque não houve queixa judicial, Moraes tomou decisões por moto próprio, atendendo a pedidos de uma comissão de policiais federais criada por ele dentro do TSE, sem ter consultado os demais ministros.

Na matriz USA e no resto do mundo democrático, isso é considerado censura, exercida por policiais e a mando da Suprema Corte, sem ter havido abertura do devido processo legal nem direito de defesa.

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P.S. 1
A pequenina Constituição americana (a menor do mundo, com sete artigos e 27 emendas) não prevê que os atos processuais devam ser públicos. Todavia, os tribunais reconhecem que existe o direito de inspecionar e copiar registros de processos judiciais com base na “common law” (jurisprudência sem base em lei) e nas 1°, 6° e 14° Emendas à Constituição.

P.S. 2Nos EUA, a transparência processual garante o direito de assistir ao julgamento e de ter  acesso aos documentos do processo, obtendo-se cópias mediante pagamento de taxa ao tribunal, Enquanto isso, aqui no Brasil, o Supremo atualmente se especializa em processos sigilosos, na contramão da História. (C.N.)

EUA e Arábia Saudita costuram acordo para pacificar Israel e Palestina

Tanques israelenses em área ocupada na fronteira de Gaza

Thomas L. Friedman
Folha/NWTimes

A diplomacia dos EUA para encerrar a guerra na Faixa de Gaza e forjar uma nova relação com a Arábia Saudita tem convergido nas últimas semanas em uma única escolha gigantesca para Israel e o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu: O que você quer mais: Rafah ou Riad?

Você quer lançar uma invasão em larga escala de Rafah para tentar acabar com o Hamas —se isso for possível— sem oferecer qualquer estratégia de saída israelense de Gaza ou qualquer horizonte político para uma solução de dois Estados com palestinos não liderados pelo Hamas? Se você seguir por esse caminho, só irá agravar o isolamento global de Israel e forçar uma verdadeira ruptura com o governo Biden.

Ou você quer a normalização com a Arábia Saudita, uma força árabe de paz para Gaza e uma aliança de segurança liderada pelos EUA contra o Irã? Isso viria com um preço diferente: um compromisso do seu governo de trabalhar rumo a um Estado palestino com uma Autoridade Palestina reformada —mas com o benefício de inserir Israel na mais ampla coalizão de defesa de que o Estado judeu já desfrutou e a maior ponte com o restante do mundo muçulmano que Israel já recebeu, ao mesmo tempo em que cria ao menos alguma esperança de que o conflito com os palestinos não será uma “guerra eterna”.

ÚLTIMA ESCOLHA – Esta é uma das escolhas mais fatais que Israel já teve que fazer. E o que acho tanto perturbador quanto deprimente é que não há nenhum líder israelense importante hoje na coalizão governante, na oposição ou no meio militar que esteja ajudando consistentemente os israelenses a entender essa escolha — ser um pária global ou um parceiro do Oriente Médio — ou explicando por que deveriam escolher a segunda opção.

No início da guerra, líderes militares e políticos israelenses diriam que líderes árabes moderados queriam que Israel eliminasse o Hamas, um desdobramento da Irmandade Muçulmana detestado por todos os monarcas árabes. Claro, eles gostariam que o Hamas desaparecesse —se isso pudesse ser feito em algumas semanas com poucas vítimas civis.

Agora está claro que não pode ser feito, e prolongar a guerra não está nos interesses dos Estados árabes moderados, especialmente da Arábia Saudita.

O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL – Das conversas que tenho tido aqui em Riad e em Washington, eu descreveria a visão do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman sobre a invasão israelense de Gaza hoje da seguinte forma: saia o mais rápido possível.

Tudo o que Israel está fazendo neste momento é matar cada vez mais civis, desapontando sauditas que apoiavam a normalização com Israel contra ela, criando mais recrutas para a al-Qaeda e o grupo Estado Islâmico, fortalecendo o Irã e seus aliados, fomentando instabilidade e afastando investimentos estrangeiros muito necessários desta região.

A ideia de eliminar o Hamas “de uma vez por todas” é um devaneio, na visão saudita. Se Israel quiser continuar a fazer operações especiais em Gaza para atingir a liderança, sem problemas. Mas sem soldados permanentemente no terreno. Por favor, chegue a um cessar-fogo total e à libertação de reféns o mais rápido possível e concentre-se em vez disso no acordo de segurança-normalização EUA-Arábia Saudita-Israel-Palestina.

NOVO CAMINHO – Essa é a outra estrada que Israel poderia tomar agora —aquela que nenhum líder importante da oposição israelense está defendendo como prioridade máxima, mas aquela pela qual o governo Biden e os sauditas, egípcios, jordanianos, bahreinitas, marroquinos e emiradenses estão torcendo. O sucesso dela está longe de ser garantido, mas também não é a “vitória total” que Netanyahu está prometendo.

Essa outra estrada começa com Israel abrindo mão de qualquer invasão militar total de Rafah, que fica bem na fronteira com o Egito e é a principal rota pela qual a ajuda humanitária entra em Gaza por caminhões. A área abriga mais de 20 mil residentes permanentes e agora também mais de 1 milhão de deslocados do norte de Gaza. É também onde se diz que estão os últimos quatro batalhões do Hamas e, talvez, seu líder Yehia Sinwar.

O governo Biden tem dito publicamente a Netanyahu que ele não deve se envolver em uma invasão em larga escala de Rafah sem um plano crível para retirar esses mais de 1 milhão de civis do caminho —e que Israel ainda não apresentou tal plano. Mas, em privado, estão sendo mais diretos e dizendo a Israel: nenhuma invasão maciça de Rafah, ponto final.

Passagem de Rafah, entre Gaza e Egito, tem fila de caminhões com ajuda humanitária de um lado e refugiados de outro

O MESMO ERRO -Autoridades dos EUA estão convencidas de que se Israel agora destruir completamente Rafah, depois de ter feito o mesmo com grandes partes de Khan Yunis e da Cidade de Gaza, e não tiver um parceiro palestino crível para aliviá-lo do fardo de segurança de governar uma Gaza destroçada, estará cometendo o tipo de erro que os Estados Unidos cometeram no Iraque e acabará lidando com uma insurgência permanente em cima de uma crise humanitária permanente.

Mas haveria uma diferença fundamental: os EUA são uma superpotência que poderia falhar no Iraque e se recuperar. Para Israel, uma insurgência permanente em Gaza seria paralisante, especialmente sem amigos restantes.

E é por isso que autoridades dos EUA me dizem que se Israel realizar uma grande operação militar em Rafah, apesar das objeções da administração, o presidente Joe Biden consideraria restringir certas vendas de armas para Israel.

TRÊS PROJETOS – Isso não é apenas porque o governo Biden quer evitar mais vítimas civis em Gaza por motivos humanitários, ou porque isso inflamaria ainda mais a opinião pública global contra Israel e tornaria ainda mais difícil para a equipe de Biden defender Israel.

É porque a administração acredita que uma invasão israelense em larga escala de Rafah minaria as perspectivas de uma nova troca de reféns, para a qual autoridades dizem que agora há algumas novas esperanças, e destruiria três projetos vitais nos quais tem trabalhado para melhorar a segurança de longo prazo de Israel.

O primeiro é uma força de paz árabe que poderia substituir as tropas israelenses em Gaza, para que Israel possa sair e não ficar preso ocupando Gaza e a Cisjordânia para sempre. O segundo é o acordo diplomático entre EUA, Israel, Palestina e Arábia Saudita que a administração está perto de finalizar os termos com o príncipe herdeiro saudita. E por último, os EUA reuniriam Israel, Arábia Saudita, outros Estados árabes moderados e aliados europeus em uma única arquitetura de segurança integrada para combater as ameaças de mísseis iranianos da mesma forma que fizeram quando o Irã atacou Israel em 13 de abril.

A ESCOLHA É SUA – A equipe de Biden quer concluir a parte EUA-Arábia Saudita do acordo para poder agir como o partido de oposição que Israel não tem no momento e ser capaz de dizer a Netanyahu: “você pode ser lembrado como o líder que presidiu a pior catástrofe militar de Israel no 7 de Outubro ou como o líder que tirou Israel de Gaza e abriu o caminho para a normalização entre Israel e o Estado muçulmano mais importante. A escolha é sua”. E quer oferecer essa escolha publicamente para que todo israelense possa ver.

Então, deixe-me terminar onde comecei: os interesses de longo prazo de Israel estão em Riad, não em Rafah. Claro, nenhum dos dois é garantido, e ambos têm riscos. E sei que não é tão fácil para os israelenses ponderá-los quando tantos manifestantes globais hoje estão criticando Israel por seu mau comportamento em Gaza e dando carta branca ao Hamas.

Mas é para isso que os líderes servem: para argumentar que o caminho para Riad tem um retorno muito maior no final do que o caminho para Rafah, que será um beco sem saída em todos os sentidos da palavra. Eu respeito totalmente o fato de que os israelenses é que terão de conviver com a escolha. Só quero garantir que eles saibam que têm uma.

Por que ainda não existe um sistema para lidar com desastres da natureza?

Petrópolis: sobe para 104 o número de mortos pelo temporal - País - Diário  do Nordeste

Em Petrópolis, há dois anos, houve mais de 240 mortos

J.R. Guzzo
Estadão

Nem o governo federal e nem o governo estadual têm qualquer tipo de culpa pelas enchentes que têm causado tanta destruição no Rio Grande do Sul – está acima de suas possibilidades, apesar de toda a atual demanda por providências oficiais contra a “crise climática”, assinar portarias para manter as chuvas e o nível dos rios dentro do que é meteorologicamente correto.

Não faz sentido, da mesma forma, indignar-se contra a ministra do Planejamento quando ela diz que o dinheiro da prometida ajuda federal aos gaúchos não será entregue agora. Como poderia ser? Para onde, mais exatamente, ela teria de enviar as verbas?

PARA QUEM? – Para fazer o quê? Há 400 municípios atingidos, centenas de milhares de vítimas e todo tipo de desastres diferentes. Enquanto não houver um mínimo de clareza sobre as prioridades e sobre as maneiras mais eficazes de aplicar os recursos, não adianta ficar transferindo dinheiro de um lado para outro.

Se os governos atuais não podem ser responsabilizados pela tragédia, o Estado brasileiro e toda a ideologia que vem junto com ele são culpados, sim, pelos seus efeitos. Na verdade, são os principais culpados.

Como se explica que não haja, nem no Rio Grande do Sul e nem em lugar nenhum do Brasil, um sistema decente de precauções públicas para lidar com os desastres da natureza?

É INEVITÁVEL – É certo que as calamidades virão, mais cedo ou mais tarde – sobretudo nos lugares aonde vêm sempre. Mas os mandarins do Estado, entre uma calamidade e outra, têm se mostrado flagrantemente incapazes de fazer as obras necessárias para reduzir a extensão dos danos, ou até evitar parte deles.

Pior: muitas vezes fazem as obras erradas que, por essas coincidências da vida, costumam ser também as mais caras. Aí a chuva não tem culpa nenhuma.

No caso do Rio Grane do Sul, é obvio que a máquina pública não faz, ano após anos, o que deveria ser feito. Também não tem a menor ideia do que fazer depois que a calamidade acontece.

OCORREU ANTES – Em 1941, o mesmo Rio Grande sofreu uma catástrofe comparável à essa de agora. Não se falava, então, na “crise climática”. Hoje não se fala de outra coisa, mas o fato é que já se passaram mais de 80 anos e a população continua sendo castigada exatamente do mesmo jeito.

Obviamente, os milhares de peixes graúdos que mandaram no Estado brasileiro de lá para cá não fizeram um mínimo daquilo que tinham a obrigação de fazer. É duvidoso que venham a fazer depois que o assunto sumir das manchetes. As hienas de sempre, que já estão rondando essa nova oportunidade, vão se dar bem mais uma vez. Os gaúchos vão ficar com as suas vidas, as suas propriedades e o seu futuro perdidos.

Há apenas dois anos atrás, em 2022, a cidade e a região vizinha a Petrópolis, no Rio de Janeiro, foram devastadas pelas chuvas. Morreram, então, mais de 240 pessoas – o dobro das vidas perdidas até agora no Rio Grande do Sul. Nunca mais se ouviu falar de Petrópolis. É possível que nunca mais se ouça falar da tragédia gaúcha.

Novo penduricalho indica como o custo da magistocracia turbina o custo Brasil

Por que os penduricalhos do Judiciário não estão sendo, e nunca são,  debatidos?” | ASMETRO-SIConrado Hübner Mendes
Folha

Bom magistocrata opera em silêncio. Atua na política juris-clientelista à maneira do centrão. Barganha a portas fechadas. Evita a armadilha de argumentar em público na defesa de privilégios. Argumentos, afinal, supõem referência plausível ao bem comum, alguma aparência republicana. Precisa ser crível à inteligência média. Desmandos não costumam passar no teste, mesmo que se imponham pela força.

O manifesto da dignidade magistocrática, divulgado semana passada, foi desabafo do bom magistocrata. Deixou escapar revelação de profunda sinceridade: “Não somos servidores públicos”.

EVENTO PEDAGÓGICO – Para quem não entendeu a síntese do ethos magistocrático, três juízes deram exemplos nos últimos dias. Quando juiz desobedece a cartilha do silêncio e tenta argumentar, um grande evento pedagógico acontece. E nos ilumina.

Torres Garcia, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, vê a perspectiva de ressuscitar o quinquênio a juízes “com grande satisfação”. Explicou ao jornal O Globo: “Não podemos comparar salário de magistrado com salário de trabalhador desqualificado. A magistratura está aberta a todos, basta prestar concurso e ser aprovado.”

O desembargador enxerga a fibra moral do juiz bandeirante: “A responsabilidade de um magistrado é decidir sobre a vida, a liberdade, o patrimônio de uma pessoa. É uma garantia para a sociedade o magistrado bem remunerado. O magistrado mal remunerado poderá estar sujeito a corrupção.”

SERIA CORRUPTO – Ou seja, não fosse bem remunerado, seria corrupto. Não recebesse já o mais alto salário do Estado e não forjasse verbas indenizatórias para fraudar o teto constitucional, a magistratura agora precisa de aumento quinquenal. Como se, em virtude dessa fraude, a corrupção institucional já não se incrustasse na folha de pagamento. Como se a ilegalidade não fosse vertida em legalidade apenas por quem dela se beneficia.

Como se a magistratura estivesse aberta a todos, exceto os desqualificados. Como se todo juiz bandeirante fosse um hiper-qualificado que sacrificou chance de ser advogado milionário em prol de missão cívica.

O quinquênio não tornaria ninguém milionário, mas, só entre 2017 e 2024, Torres Garcia teve rendimentos líquidos de R$ 4.479.250 (segundo Bruno Carazza, autor de “O País dos Privilégios”). Multimilionário, talvez.


MINÚSCULA ELITE
– Um magistocrata olha sua conta bancária e se compara com uma minúscula elite da advocacia empresarial. E omite o raciocínio orçamentário. O Judiciário brasileiro custa R$ 160 bilhões por ano, 1,6% do PIB (países ricos gastam em média 0,3%, países emergentes 0,5%). Nosso funcionalismo tem 11 milhões de servidores (10% na União, 20% nos estados, 70% em municípios). Representa 12,4% dos trabalhadores do país (menos que os Estados Unidos, com 12,6%, bem menos que a média europeia, com 20%).

Gabriela Lotta, da FGV, organiza outros dados: metade dos 11 milhões de servidores recebe menos que R$ 3.400 por mês. O 1% do topo ganha acima de R$ 27 mil. A aprovação do quinquênio custará R$ 40 bilhões e beneficiará os 38 mil do topo que já recebem o maior salário. Pelo critério do tempo de trabalho, não competência. O Bolsa Família custa R$ 160 bilhões por ano. Beneficia 21 milhões de famílias.

Faça as contas do descalabro. E descubra que, quando falam em “custo do funcionalismo público”, querem dizer custo da magistocracia contra redução de desigualdades entre servidores públicos. Os “desqualificados” que atendem a cidadania nos campos da segurança, saúde, educação, desastre climático.

FARRA DO BOI – Mas não foi só Torres Garcia. Ministros de cortes superiores se juntaram à advocacia lobista em eventos privados sem acesso à imprensa na Europa, patrocinados por empresas brasileiras com causas no STF.

Criticado, Dias Toffoli cometeu um bonito raciocínio lógico: “É o tribunal que, no ano passado, tomou colegiadamente mais de 15 mil decisões. Então, essas matérias são absolutamente inadequadas, incorretas e injustas.”

Gilmar Mendes comoveu: “Posso falar por mim. Não recebo cachês, viagens normalmente são pagas por quem convida. A gente faz isso e continua trabalhando. Ontem mesmo participei da sessão do STF a distância.”

PRIORIZOU O CONTRÁRIO

Entre participar de congresso com empresários a distância e de sessão do STF no Brasil, o decano dos ministros priorizou o contrário. Afinal, ar europeu, não goiano. E vê falta de educação em perguntar quem paga.

“Convidou e pagou, eu vou, vem você também”, ironizou Gilmar Mendes.

Contra servidores públicos, contra o serviço público, contra o interesse público, contra a ética pública, a magistocracia opera em silêncio. Quando sai do silêncio, educa.

Musk anuncia doação de mil antenas da Starlink ao Rio Grande do Sul

UpdateCharts on X: "Elon Musk se prontifica a disponibilizar sinal de Wi-Fi GRÁTIS no Rio Grande do Sul após vídeo de Giselle Bündchen pedindo ajuda. https://t.co/RPuvmH95yv" / X

Elon Musk recebeu o apelo de Giselle e o retransmitiu

Deu no iG Tecnologia

O bilionário Elon Musk usou as redes sociais para anunciar, nesta quinta-feira (9), a doação de mil antenas da Starlink, sua empresa de internet via satélite, para colaborar com o trabalho das equipes de resgate junto às vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul.

Além disso, Musk disse todos os terminais da região poderão ser usados gratuitamente até a recuperação do estado.

“Em razão das terríveis enchentes no Rio Grande do Sul, a Starlink doará 1 mil terminais para as equipes de emergência e tornará gratuito o uso de todos os terminais da região até que a região se recupere”, escreveu na rede social X (antigo Twitter), da qual é o dono, ao compartilhar um vídeo da supermodelo gaúcha Gisele Bündchen sobre a tragédia no estado.

O bilionário também prestou solidariedade: ”Desejo o melhor para as pessoas no Brasil”.

DISSE GISELE – No vídeo, a modelo pede ajuda internacional ao Rio Grande do Sul.

“Meu estado natal, no Rio Grande do Sul, no Brasil, teve a pior tragédia de sua história. Fortes chuvas inundaram cidades inteiras. Na maior parte do estado, não é uma ou duas cidades, são mais de 350”, afirmou Gisele Bündchen.

“As pessoas não estão apenas perdendo suas casas, seus empregos, estão perdendo tudo. E há muitos ainda a serem resgatados”, continuou. “Ninguém estava pronto para essa devastação. Cidades estão isoladas, estradas e pontos, destruídas.”

“As pessoas não têm eletricidade, [estão] sem água limpa para beber. E muitos foram separados de seus entes queridos. E o mais triste é que muitas vidas foram perdidas. É doloroso, é de partir o coração. Então, por favor, junte-se a mim na tentativa de ajudar. Faça doações e ajude da maneira que puder”, concluiu.

PEDIDO DE FARIA – Segundo o jornalista Lauro Jardim, de O Globo, foi a partir de um pedido, feito ontem à noite, de Fábio Faria, ex-deputado, ex-ministro das Comunicações de Jair Bolsonaro e atual diretor do BTG, Fabio Faria, que Elon Muskdecidiu doar mil terminais da Starlink e uso gratuito de internet em seus terminais até que o Rio Grande do Sul se recupere da tragédia das enchentes. O anúncio da doação foi feito há pouco.

Faria havia sido contatado ontem por um diretor da Anatel e por autoridades do governo gaúcho com pedidos neste sentido para a Starlink, empresa que oferece internet de banda larga de alta potência, mesmo em regiões mais remotas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Importante a matéria enviada por Armando Gama. É uma tragédia que ultrapassa as fronteiras do Rio Grande do Sul e do Brasil. De onde vier a ajuda, será bem-vinda. O importante é que os Correios mantenham a gratuidade do envio de ajuda pelo tempo que for necessário. Aliás, é para isso que existem as estatais – para alcançar importantes resultados sociais, e não para simplesmente apresentar lucros financeiros.  (C.N.)

Ajuda ocidental permite que Ucrânia suporte a guerra, sem condições de vencer

Com o dinheiro, Ucrânia comprará mais armas e munições

Ian Bremmer
Folha/Eurasia

Washington finalmente agiu para oferecer nova ajuda à Ucrânia. O apoio militar adicional para a Ucrânia foi motivo de debate por meses no Congresso dos Estados Unidos. No final, o presidente da Câmara, Mike Johnson, levou a questão a votação, a proposta foi aprovada por uma margem de 311 a 112, e novas armas e dinheiro americanos estão a caminho da Ucrânia. O plano acordado também prevê gastos com segurança para Israel e Taiwan, mas é os quase US$ 61 bilhões para a Ucrânia que farão a maior diferença no curto prazo.

PAGAR MUNIÇÕES – Esse dinheiro ajudará a Ucrânia a pagar por munições do sistema de defesa aérea Patriot, munições de artilharia, drones, armas contra drones e mísseis que podem ser disparados de aviões de combate. É o primeiro envio de dinheiro para a Ucrânia autorizado pelo Congresso desde dezembro de 2022 e o maior pacote de ajuda única que Kiev receberá desde o início da guerra.

Alguns dos sistemas de armas e munições já estão chegando às linhas de frente. Os EUA também ajudaram de outras maneiras. Mesmo antes de a ajuda ser aprovada, o Pentágono silenciosamente enviou um novo sistema de mísseis de longo alcance para a Ucrânia, que suas tropas rapidamente usaram contra uma base aérea russa na Crimeia e tropas russas na região de Donbass.

Menos comentado é um elemento do novo pacote que ajuda a Ucrânia e prejudica financeiramente a Rússia. A chamada Lei de Reconstrução da Prosperidade Econômica e Oportunidade para os Ucranianos, incorporada ao pacote de ajuda maior, permite que o governo de Joe Biden apreenda ativos estatais russos congelados nos EUA e os utilize para ajudar a Ucrânia.

PRECISA DE APOIO – Antes de dar luz verde a isso, Biden quer ter certeza de que os aliados europeus e outros membros G7 estão de acordo. Se concordarem que a ação é legal sob o direito internacional, isso poderia significar mais US$ 5 bilhões em ajuda para a Ucrânia retirados diretamente dos ativos do banco central russo.

Enquanto isso, a União Europeia já está reservando lucros extraordinários gerados a partir dos ativos russos congelados na Europa, o que poderia dar à Ucrânia mais € 3 bilhões por ano.

A Ucrânia precisava dessa ajuda. Dezesseis meses de inação do Congresso deixaram suas forças exaustas com falta de munições de artilharia e defesa aérea necessárias para deter os avanços recentes da Rússia ao longo das linhas de frente e seus ataques com drones e mísseis contra cidades ucranianas.

A RÚSSIA AVANÇA – Essa escassez permitiu que as forças russas conquistassem cerca de 350 km² de território ucraniano nos últimos quatro meses, incluindo a cidade estrategicamente valiosa de Avdiivka em fevereiro.

O medo de que a Rússia estivesse se preparando para uma grande ofensiva por mais território ucraniano levantou o espectro, em Kiev e em Washington, de que um grande avanço poderia deixar a Ucrânia à beira da derrota militar até o final deste ano.

Essa última onda de apoio material dos EUA torna isso muito menos provável. E se a Ucrânia puder construir novas fortificações ao longo da linha de frente e garantir os sistemas de defesa aérea de que precisa para proteger suas cidades e infraestrutura energética, apesar da escassez desses suprimentos criada pela guerra no Oriente Médio, ela pode estabilizar sua posição defensiva até 2025.

FALTAM SOLDADOS – Mas enquanto a tentativa de Washington de fechar a lacuna de munições entre Ucrânia e Rússia pode restaurar o impasse estabelecido no final do ano passado, não fará a Ucrânia voltar ao ataque.

Isso porque Kiev tem outro problema no campo de batalha que seus aliados podem fazer pouco para resolver: a escassez de soldados.

Uma nova lei, que o presidente Volodimir Zelenski assinou relutantemente no início do ano, reduziu a idade de mobilização militar de 27 para 25 anos. Também reduz o número de isenções do serviço e estende o tempo que os soldados podem ser ordenados a servir. Isso ajudará se as novas tropas puderem ser treinadas efetivamente e rapidamente implantadas. Mas não mudará, por si só, o jogo a favor da Ucrânia.

ÚLTIMO PACOTE -Além disso, este provavelmente é o último pacote que a Ucrânia pode esperar de Washington até depois da eleição presidencial de novembro. Se Donald Trump vencer essa eleição, Kiev pode se ver completamente isolada de ajuda futura.

Mesmo se Biden vencer, a disposição pública dos EUA para fornecer futuros pacotes de ajuda de US$ 60 bilhões será limitada.

Enquanto isso, a Rússia tem muitos mais jovens que pode lançar na “máquina de moer carne” do campo de batalha.

REALIDADE DOLOROSA – O pacote de ajuda dos EUA fornece uma linha de vida que pode manter os ucranianos na luta até o final de 2024. Isso dará aos amigos da Ucrânia na Europa mais tempo para produzir e entregar mais armas e munições. Também pode dar a Zelenski uma posição mais forte na mesa de negociações que finalmente encerra a guerra.

Mas é improvável que ajude a Ucrânia a evitar uma eventual partição que ceda à Rússia alguma terra ucraniana ilegalmente tomada em troca do futuro europeu que a maioria dos ucranianos ainda deseja.

Essa é uma realidade dolorosa após mais de dois anos de guerra brutal.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Enquanto as guerras se repetem, ceifando vidas e destruindo importantes obras de infra-estrutura, a indústria bélica comemora e abre champagne. É deprimente. (C.N.)

Odebrecht quer “punir” procurador que pediu o extrato das contas em Andorra

Toffoli deve liberar ação sobre o Marco Civil até o fim de junho

Vamos ver se Toffoli tem coragem de enfrentar o procurador

João Pedroso de Campos
Metrópoles

Com as provas de seu acordo de leniência anuladas pelo STF desde setembro de 2023, a Odebrecht tem trocado farpas com o Ministério Público Federal em torno do assunto. Nessa quarta-feira (8/5), a empreiteira apresentou a Dias Toffoli uma petição em que acusou o MPF no Paraná de descumprir a anulação. O ministro foi quem anulou, em decisão liminar, as provas.

A empreiteira, rebatizada como Novonor, relatou a Toffoli ter recebido um ofício da Procuradoria da República no Paraná no começo de março, no qual o procurador Walter José Mathias Júnior pediu informações sobre contas mantidas pelo Grupo Odebrecht em Andorra.

DUAS OFFSHORES – O procurador queria mapear dados de contas no Banco Privado de Andorra (BPA) vinculadas a duas offshores, a Lodore Foundation e a Klienfeld Services, sobre as quais, em suas palavras, “há indícios suficientes” de que teriam sido usadas para pagar propina a políticos e autoridades.

Ao reclamar a Toffoli, a Odebrecht relembrou o efeito amplo da decisão do ministro de anular as provas de seu acordo de leniência, incluindo os sistemas Drousys e MyWebDayB, usados para gerir pagamentos ilícitos do “setor de propinas” da empreiteira.

O pedido citou que Toffoli anulou, além do material propriamente dito, quaisquer provas derivadas do acordo de leniência. A alegação é que a solicitação do MPF por informações das contas em Andorra se encaixa nessa situação, porque estes dados seriam decorrentes do sistema Drousys.

DIZ A ODEBRECHT – “O raciocínio posto no despacho [do MPF] busca, assim, constranger a Requerente [Odebrecht] a convalidar atos jurídicos ilegais praticados por integrantes do Parquet federal e pelo Magistrado que outrora titularizava o Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR – ameaçando a validade de seu Acordo de Leniência caso o seu desejo não seja atendido – e, por conseguinte, repristinar os elementos já declarados imprestáveis por Vossa Excelência”, alegou a defesa da empreiteira a Toffoli.

A empreiteira solicitou ao ministro que declare a nulidade do pedido do MPF e adote, se assim entender, “outras providências, inclusive disciplinares” contra a procuradoria.

ALEGA O PROCURADOR – No ofício em que cobrou da Odebrecht as informações, enviado depois de a companhia resistir a enviar os dados em razão da decisão de Toffoli, o procurador Walter José Mathias Júnior escreveu que “causa espécie o questionamento da Novonor sobre as provas por ela mesma fornecidas” em seu acordo de leniência.

Mathias Júnior sustentou que a empreiteira deveria atestar se os dados do acordo eram fidedignos ou se “prestou informações inverídicas ao Ministério Público Federal”, e se pretendia deixar de colaborar ou invalidar o acordo de leniência.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A que ponto chegamos. Agora é a corruptíssima Odebrecht que canta de galo no poleiro da Justiça, sob as bençãos do ministro Dias Toffoli, aquele que fez concurso para juiz duas vezes e não passou, e que recebia mesada de R$ 100 mil da mulher, advogada Roberta Amaral, e não declarava essa renda à Receita Federal. Como se vê, a Justiça brasileira está de cabeça para baixo, ou ponta-cabeça, como dizem os paulistas. (C.N.)

Supremo procura reagir às acusações de censura, feitas nos Estados Unidos

Ministros do STF e de outros tribunais criticam fala de Barroso na UNE | Metrópoles

Barroso mandou distribuir nota oficial sobre o assunto

Henrique Lessa e Renato Souza
Correio Braziliense

O Supremo Tribunal Federal (STF) reagiu à ofensiva da ala republicana do Comitê Judiciário da Câmara dos Estados Unidos — liderado por um deputado de direita —, que publicou 88 decisões do ministro Alexandre de Moraes tomadas tanto na Corte máxima quanto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

As ordens judiciais determinam a suspensão de perfis, em plataformas digitais, de internautas que atacaram o sistema eleitoral, fizeram apologia aos atentados de 8 de janeiro ou atacaram instituições brasileiras.

NOTIFICAÇÃO – Em nota, divulgada pelo Serviço de Comunicação Social, o Supremo esclareceu que o material vazado se trata de notificação, como se fosse um mandado judicial, enviado às empresas que comandam plataformas, informando decisões a serem cumpridas. Além do X (antigo Twitter), a Meta, dona do Facebook e do WhatsApp, a Rumble, e outras companhias foram notificadas.

“Todas as decisões tomadas pelo STF são fundamentadas, como prevê a Constituição, e as partes, as pessoas afetadas têm acesso à fundamentação”, diz a nota. A Corte usou a analogia com um mandado de prisão, e apontou que o material divulgado são ofícios, e não as decisões. Só determinam o cumprimento da medida judicial, sem com isso quebrar o sigilo dos processos.

Os despachos fazem parte do inquérito das milícias digitais, que apura fake news, ameaças e discursos de ódio contra o Supremo, o Congresso e demais instituições do país. No entanto, foram obtidos pela Câmara dos Estados Unidos por meio de uma requisição feita ao X.

O mesmo comitê também solicitou informações sobre o caso para o Poder Executivo norte-americano, e o relatório divulgado pelo órgão legislativo acusa o presidente Joe Biden e seu governo de “se omitirem mediante atos de censura praticados em solo brasileiro”.

Horas depois da nota do STF, o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, disse não ver “problema nenhum” na divulgação. “Isso é um problema interno dos Estados Unidos”, frisou, ao ser questionado por jornalistas, na abertura da exposição que marca os 64 anos da transferência da Corte para Brasília.

SILÊNCIO DE BIDEN – O relatório do parlamento norte-americano traz o título: O ataque à liberdade de expressão no exterior e o silêncio da administração Biden: o caso do Brasil.

A ação ganhou força depois de o bilionário sul-africano Elon Musk, dono do X, ameaçar descumprir as ordens do STF, acusando Moraes de censura. O magistrado reagiu incluindo o empresário no inquérito das milícias digitais.

Apesar das ameaças, porém, Musk não descumpriu as determinações, e, em petição protocolada no Supremo, os advogados da empresa afirmaram que as decisões da Justiça brasileira estão sendo cumpridas e continuarão sendo respeitadas pela companhia.

AMEAÇA DO EMPRESÁRIO – Musk também ameaçou reativar os perfis que foram suspensos por ordem do magistrado brasileiroe fez diversos ataques a Moraes por meio de seu perfil na plataforma.

Nesta quinta-feira, ele escreveu que “Moraes definitivamente interferiu nas eleições do Brasil”.

Na semana passada, o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, afirmou que “considera esse assunto encerrado”, em relação aos ataques de Musk, e frisou que qualquer resposta a partir dali deveria ocorrer no âmbito do processo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É importante a matéria enviada por José Guilherme Schossland. Mostra como as coisas mudam. Agora, é o Supremo aqui da filial Brazil, tentando defender Moraes na matriz USA. Os argumentos do STF são tão primários que causam constrangimento. No texto, o Supremo chega a admitir que os processos de Moraes são “sigilosos”, dando um tiro no pé dele, porque se trata de uma expressão que a matriz USA abomina. Lá nos States são raríssimos os processos sigilosos. A Justiça é transparente, pela própria natureza, realizada com as portas abertas. Bem diferente da filial, onde advogado nem pode mais fazer defesa oral no Supremo, vejam bem a que ponto decaímos. (C.N.)

Pesquisa mostra como os eleitores distribuem a culpa por desastres naturais

Garota é resgatada em área de alagamento em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul

Tragédia da natureza não é responsabilidade de ninguém

Bruno Boghossian
Folha

Depois do furacão Katrina, pesquisadores mediram como os americanos distribuíam a culpa pela tragédia. O levantamento mostrou que o eleitor jogava mais responsabilidade em políticos do partido adversário, mas fazia acusações mais ponderadas quando tinha informações sobre o papel de cada autoridade.

A análise pode explicar como operam o partidarismo, a propaganda e a desinformação. Os cientistas políticos Neil Malhorta e Alexander Kuo apontaram que, nesses casos, o eleitor não faz uma avaliação totalmente objetiva, mas também não é uma vítima cega de suas paixões políticas.

RESPONSABILIZAÇÃO – A pesquisa mostrou que eleitores democratas tinham probabilidade 75% maior de culpar autoridades republicanas, como o presidente George W. Bush. Republicanos atribuíam responsabilidade a seus correligionários com frequência 48% menor.

Eleitores que consideravam o Katrina um evento “pessoalmente importante” eram menos contaminados por filiações partidárias. Aqueles que apontavam uma relevância pessoal menor na tragédia tinham mais chances de culpar seus adversários.

O ranking de culpados mudava quando o entrevistado recebia informação sobre o cargo de cada autoridade. Democratas batiam menos em Bush, e republicanos miravam com mais intensidade o diretor da agência de gerenciamento de emergências, Michael Brown (republicano).

DEBATE MANIPULADO – Os dados ilustram as atitudes da população em desastres, mas também são úteis para entender como o debate público pode ser manipulado para atingir objetivos políticos.

Distorções e desinformação, por exemplo, são armas ideais para esconder responsabilidades, ativar o partidarismo e confundir as atribuições de diferentes autoridades.

Por outro lado, quando a população tem informações corretas sobre a atuação de seus políticos, ela é capaz de fazer um julgamento um pouco mais equilibrado. O governador gaúcho, Eduardo Leite, disse que “não é hora de procurar culpados”. Tudo indica que o eleitor saberá fazer isso no tempo certo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Criticar depois de acontecer é bem mais fácil… De toda forma, é triste ficar sabendo que a Lagoa dos Patos fica acima do nível do mar e só inundou Porto Alegre porque seu sistema de vazão para o oceano é mínimo e não dá conta. Sinceramente, ampliar o sistema de vazão é obra da maior simplicidade e de baixo custo. Mas quem se interessa? (C.N.)  

Mourão diz que militar não é cidadão de segunda classe e não aceita a PEC

Mourão lidera oposição contra PEC dos Militares, e governo muda estratégia  - Diário do Rio Doce

Mourão tenta atrasar a votação da PEC no Senado

Thaísa Oliveira e Cézar Feitoza

Na linha de frente contra a proposta que tenta frear a participação de militares das Forças Armadas da ativa na política, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) afirmou a colegas que aposta na bancada da bala para derrotar o texto na Câmara dos Deputados.

Nem mesmo uma força-tarefa montada pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, foi suficiente para abrandar a resistência do general e ex-vice-presidente de Jair Bolsonaro (PL).

DECIDIR NO VOTO – A postura irredutível do general fez o governo desistir de buscar consenso em torno da PEC (proposta de emenda à Constituição). A ideia agora é levá-la como está ao plenário do Senado —se aprovada, vai em seguida para avaliação da Câmara dos Deputados.

A PEC dos Militares seria debatida em audiência pública no Senado no dia 25 do mês passado, com a participação dos comandantes das Forças Armadas. O governo, porém, atuou nos bastidores para derrubar a sessão de debates.

A avaliação era a de que os chefes militares já haviam se submetido a audiência pública na Câmara dos Deputados dias antes — e embates do deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) com os militares e declarações do comandante do Exército, general Tomás Paiva, repercutiram mal.

REUNIÃO NO COMANDO – Para evitar a exposição, Múcio transformou a audiência pública em uma reunião a portas fechadas no Comando do Exército e convidou, além de Mourão, os ex-ministros da Defesa Nelson Jobim e Raul Jungmann —que estariam na audiência.

O autor da PEC e líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), também participou das quase duas horas de conversa. Mourão ouviu os argumentos da Defesa e, inflexível, disse que a proposta trata os militares como pessoas de segunda categoria.

Apresentada em setembro por Wagner, que foi ministro da Defesa no governo Dilma Rousseff (PT), a PEC estabelece que os militares das Forças Armadas que quiserem concorrer a cargos eletivos devem ser transferidos à reserva no registro da candidatura.

FORTE POLÊMICA – As regras atuais são mais flexíveis e permitem que o militar peça um afastamento para se candidatar. Se derrotado, pode voltar ao serviço ativo sem prejuízo à carreira e aposentadoria.

“Nós incentivamos o militar a ir para a política, mas não voltar aos quartéis. Porque ele volta com o proselitismo do político e começa a competir com o poder hierárquico do comandante dele”, disse Múcio em audiência na Câmara.

Aprovada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) em novembro, a PEC tem se arrastado no Senado mesmo tendo atingido o número mínimo de sessões exigido por regimento para votação de emendas constitucionais.

PÉ NO FREIO – Apesar das tratativas, o próprio governo tem colocado freio na tramitação. Sempre que é questionado sobre o assunto pela imprensa, Wagner afirma que a proposta é talvez “a trigésima” prioridade do Palácio do Planalto.

O próprio pedido de audiência pública, feito por Mourão para ganhar tempo, contou com aval do relator, senador Jorge Kajuru (PSB-GO), um dos vice-líderes do governo. Kajuru afirma que não vai fazer mudanças no texto elaborado pelo Ministério da Defesa e que Mourão está em minoria.

“Só está tendo resistência do Mourão porque ele sabe que perde. Se eles soubessem que ganhariam, eles iam ter resistência? Por isso que eles querem debate”, disse. “Vai ser um dia só de debate, no outro dia já vai para votação e eles vão perder. Essa é a realidade.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nada de novo no front ocidental. Defender os militares não é novidade para Mourão, que tem vocação autoritária e se diz admirador de Brilhante Ustra, o coronel que comandou as torturas e assassinatosno regime militar. Conheço o general pessoalmente, até simpatizo com ele, mas é um tremendo radical. (C.N.)

Pesquisa Quaest mostra que o presidente Lula acertou no socorro ao RS

Lula garantiu que não haverá falta de recursos para atender o RS

Pedro do Coutto

Matéria publicada na Folha de S. Paulo, edição de ontem, revela que a atuação de Lula da Silva nas redes sociais melhorou na medida em que trava o debate com a ofensiva tradicional bolsonarista de desacreditar o governo. Realmente, é importante assinalar que o governo tem o que oferecer através de suas ações. A questão do meio ambiente, por exemplo, é onde o Brasil leva vantagem, bem como no socorro das milhares de vítimas das chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul.

Ao mesmo tempo, Pesquisa Quaest divulgada também nesta quarta-feira, aponta que 50% dos entrevistados aprovam o trabalho de Lula. Por outro lado, 47% desaprovam. Esta é a primeira vez que o percentual dos que aprovam e desaprovam empata tecnicamente. Outros 3% não souberam ou não responderam. O levantamento encomendado pela Genial Investimentos ouviu 2.045 pessoas, em 120 municípios, entre os dias 2 e 6 de maio. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

ACERTO – A equipe governamental avalia que a pesquisa mostra que o governo acertou, conforme dito no início deste artigo, no socorro prioritário ao Rio Grande do Sul. Além disso, o diálogo com evangélicos aberto recentemente foi um ponto positivo. Assessores presidenciais destacam também que o governo precisa evitar estimular a polarização e acenar para os eleitores que não votaram nem em Lula nem em Jair Bolsonaro, grupo que acaba sendo um termômetro importante sobre a avaliação da administração petista.

Segundo a equipe de Lula, o trabalho do governo em dois setores teve resultados. Na região Sul, a aprovação subiu de 40% para 47% entre fevereiro e maio. Enquanto a desaprovação caiu de 57% para 52%. Reflexo da atenção e prioridade para o socorro ao Rio Grande do Sul, um estado bolsonarista.

Entre os evangélicos, grupo que ganhou atenção especial de ações do governo e foco de publicidade, a reprovação caiu de 62% para 58% e a aprovação subiu de 35% para 39%. Ou seja, destacam auxiliares, o governo acertou ao fazer esses movimentos nas últimas semanas. O levantamento mostra que o governo conseguiu estancar a queda na aprovação do presidente Lula, mas o alerta vem do fato de que as curvas estão empatadas tecnicamente. Enquanto 50% aprovam o trabalho do petista, 47% desaprovam.

A tragédia de Branca Dias, condenada à fogueira da Inquisição pelo amor proibido 

REGINA DUARTE (NAMORADINHA DO BRASIL): REGINA DUARTE É BRANCA DIAS NA PEÇA  DE TEATRO, O SANTO INQUÉRITO (1978)

Regina Duarte viveu Branca Dias no teatro

Paulo Peres
Poemas e Canções 

O professor e poeta Antônio Carlos Ferreira de Brito, mineiro de Uberaba e conhecido como Cacaso (1944-1987), tem o seu lugar entre os gênios que fazem a história da Música Brasileira em seus diversos estilos populares. “Branca Dias” tem parceria de Edu Lobo e faz parte do seu LP Camaleão, gravado em 1978, pela Polygram/Philips.

Essa é uma das músicas incluídas na peça “O Santo Inquérito”, de Dias Gomes, cuja letra reproduz a poesia que os movimentos do vento transmitem, comparando-o com os dias de sofrimento vividos por Branca Dias, personagem que devido a conduta do Padre Bernardo para com ela, que, a princípio, era a de conduzi-la à ortodoxia da fé e expurgá-la de seus pecados, todavia quando a paixão carnal começa a queimá-lo por dentro, ele vê que só a condenação dela poderá livrá-lo da perdição do inferno e, consequentemente, condena Branca Dias a ser queimada viva na fogueira da Inquisição.

BRANCA DIAS
Edu Lobo e Cacaso

Esse soluço que ouço, que ouço
Será o vento passando, passando
Pela garganta da noite, da noite
A sua lâmina fria, tão fria
Será o vento cortando, cortando
Com sua foice macia, macia
Será um poço profundo, profundo
Alvoroço, agonia

Será a fúria do vento querendo
Levar teu corpo de moça tão puro
Pelo caminho mais longo e escuro
Pela viagem mais fria e sombria
Esse seu corpo de moça tão branco
Que no clarão do luar se despia
Será o vento noturno clamando
Alvoroço, agonia

Será o espanto do vento querendo
Levar teu corpo de moça tão puro
Pelo caminho mais longo e escuro
Pela viagem mais fria e sombria
Esse soluço que ouço, que ouço
Esse soluço que ouço, que ouço

Cidades inteiras têm de ser reconstruídas em outros locais, afirma especialista

Vista de drone mostra barco com voluntários em busca de pessoas isoladas em casas no bairro de Mathias Velho, em Canoas, Rio Grande do Sul

Não adianta reconstruir as cidades nas mesmas áreas de risco

 

Ligia Guimarães
BBC News Brasil

O ecólogo Marcelo Dutra da Silva, doutor em ciências e professor de Ecologia na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), que vem estudando a mudança climática, afirma que cidades inteiras que existem em áreas de risco agora terão de ser reconstruídas em outros locais mais seguros.

“Não adianta querer reconstruir tudo o que foi destruído nesse evento de agora tentando fazer como era antes. Isso já não dá mais”. A reconstrução do Rio Grande do Sul, diz o acadêmico, precisará ser planejada considerando quais as áreas mais seguras e resistentes às variações climáticas extremas, que vieram para ficar.

MUDAR DE LUGAR – “Cidades inteiras vão ter que mudar de lugar. É preciso afastar as infraestruturas urbanas desses ambientes de maior risco, que são as áreas mais baixas, planas e úmidas, as áreas de encostas, as margens de rios e as cidades que estão dentro de vales”, diz.

“Tem várias cidades inteiras que estão em região de vale: áreas sujeitas a receber grandes cargas de água em um evento extremo como esse. E aí não adianta reconstruir aquela cidade dentro do vale, porque ela vai continuar ameaçada. Porque os eventos climáticos vão se repetir”, afirma.

Ele cita o exemplo de Muçum, cidade no Vale do Rio Taquari, afetada por inundações três vezes durante 2023 – a primeira em junho, que vitimou 16 pessoas no estado; em setembro, quando 53 pessoas morreram em decorrência da passagem de um ciclone extratropical; e em novembro, quando mais de 700 mil pessoas foram afetadas por chuvas torrenciais.

TRAGÉDIA REPETIDA – “Temos exemplos de cidades que foram atingidas em 2022, 2023, e as pessoas perderam as coisas pela quarta vez, como Muçum, Lajeado. Algumas pessoas já estão tão desalentadas que já dizem em entrevistas que nem compraram mais móveis, mais carro, porque sabem que vão perder de novo”, diz, destacando que nesse caso, a falha do poder público foi permitir que as famílias reconstruíssem suas vidas no mesmo lugar, sem oferecer planos de moradia mais seguros.

“Esse novo plano de reconstrução precisa vir com um plano de adaptação às mudanças climáticas”, afirma o especialista.

O acadêmico, que defende que todas as cidades atingidas revisem seus planos diretores antes de reconstruir tudo o que foi perdido, diz que “não adianta mais querer construir, ou reconstruir tudo o que foi destruído nesse evento de agora tentando fazer como era antes”.

ESTIMULAR REVISÃO – Para o professor, tanto governo estadual quanto federal poderiam estimular tais revisões, talvez colocando-as como requisitos para que as prefeituras tenham acesso aos recursos para financiamento da reconstrução.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), já declarou que o Estado vai precisar de um “plano Marshall”, fazendo referência ao plano de reconstrução na Europa após a Segunda Guerra Mundial.

O plano de reconstrução das cidades, alerta o pesquisador, não poderá mais se basear em edificações nas áreas baixas, planas e úmidas e ambientes de margem de rios, lagos e córregos, como acontece em muitas cidades da costa, como Pelotas, e mesmo em bairros de Porto Alegre próximos ao Lago Guaíba.

OLHAR TÉCNICO – “O olhar daqui para a frente precisa ser mais técnico, e pensar em adaptar a cidade para situações tão extremas”.

“Críticos vão dizer que estamos preocupados só com a biodiversidade, e argumentam que é preciso pensar na vida das pessoas, no desenvolvimento. Se eu estivesse só preocupado com a biodiversidade tudo bem, mas nem estamos mais falando disso, neste caso”, afirma. “Estamos falando de sobrevivência, porque significa você colocar lá um empreendimento e ele ficar debaixo d’água.”

Outro aspecto importante da reconstrução do Estado, que será longa e árdua, será investir em estruturas mais preparadas para eventos climáticos. “Vamos ter que reconstruir, sim, só que agora pensando em pontes que são muito mais elevadas e robustas, estradas que são muito mais preparadas e resilientes a processos tão extremos de presença de água”.

FLUIR A ÁGUA – Em outra frente, o pesquisador diz que é preciso investir em formas menos centralizadas de construir as cidades, de modo a permitir que a água flua com mais facilidade para o oceano. “Precisamos permitir que a água passe, que a água flua, em vez de tentar barrá-la. Temos que recuperar, por exemplo, a vegetação natural nas áreas de preservação permanente e de produção”.

Outra recomendação, considerando que os eventos climáticos extremos também prevêem períodos de intensa seca, é aproveitar os períodos de chuva para armazenar água em sistemas de açudes ou outros reservatórios hídricos.

“Boa parte dessa água toda chovendo agora está simplesmente sendo perdida e em algum momento vai fazer falta, porque está chovendo muito agora e vai chover muito pouco depois”. Convencer a população de que a nova realidade climática veio para ficar, diz, é parte importante do trabalho de evitar novas tragédias ambientais.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A matéria de Ligia Guimarães é uma aula de política urbana. Deveria ser manchete em todos os jornais. (C.N.)