Rebeca Borges e Mariah Aquino
Metrópoles
A Câmara dos Deputados teve, nos últimos dias, avanços relevantes na tramitação de projetos de lei (PL) contrários à invasão de terras. As ações ocorrem em paralelo às ações do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pela reforma agrária durante o mês de abril. O período é chamado de Abril Vermelho por militantes do grupo.
Um projeto que visa frear o avanço de invasores de terra tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa e chegou a ser incluído na pauta da semana. Além disso, um segundo PL sobre o assunto teve urgência aprovada no plenário da Câmara. As pautas fazem parte de um pacote com 17 proposições “anti-invasão”, impulsionadas pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
CONTRA O MST – O avanço é fruto de mobilizações da bancada ruralista, que critica as ações realizadas pelo MST ao longo da semana. Segundo o movimento, em abril, foram realizadas 24 ocupações de terras e montagem de acampamentos em 11 estados do país.
A escalada das leis ruralistas no Congresso tem como pano de fundo o lançamento de um programa do governo federal para destinação de terras à reforma agrária no Brasil. Divulgada na última segunda-feira (15/4) com o nome de Terra da Gente, a iniciativa cria prateleiras de terras, ou seja, conjuntos de áreas que podem ser disponibilizadas para o assentamento de famílias de agricultores.
A iniciativa traz alternativas à tradicional desapropriação de terras para a aquisição de imóveis que serão destinadas à reforma agrária. A estimativa é que 295 mil famílias possam ser atendidas até 2026. Além disso, o governo anunciou R$ 520 milhões para a aquisição de terras para a política agrária, sendo R$ 383 milhões direcionados ao assentamento de pequenos agricultores e R$ 137 milhões destinados a investimentos em territórios quilombolas.
ATRITO COM LIRA – A inclusão de pautas contra invasão de terras, no radar da Câmara, também ocorre em meio a um atrito entre o governo federal e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). No início da semana, Wilson César Lira, primo do deputado, foi exonerado do cargo de superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Alagoas. Lira não teria sido avisado previamente da decisão e não gostou da medida.
Conforme publicou a coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, conversou com o presidente da Câmara e disse que ele poderá indicar um substituto para o cargo.
O movimento de Teixeira não foi suficiente para reduzir a tensão: na noite de terça-feira (16/4), o plenário da Câmara aprovou o regime de urgência para o Projeto de Lei (PL) nº 895/23, que acaba com benefícios, auxílios, inclusão em programas sociais federais e nomeação em cargos públicos para ocupantes e invasores de propriedades rurais. O texto tem autoria do deputado Zucco (PL-RS), que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST em 2023.
SEM ACORDO PRÉVIO – De acordo com líderes da base governista, ouvidos sob reserva pelo Metrópoles, não houve acordo prévio com Lira para a votação da urgência desse projeto. O tema chegou a ser debatido em reunião com lideranças partidárias, mas a análise da urgência pegou o governo de surpresa.
A situação chegou a ser duramente criticada pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). “Isso não pode acontecer, é quebra de acordo, é ruim para o funcionamento do parlamento”, disse em plenário.
Além do projeto que teve a urgência aprovada em plenário, nova pauta está na mira da bancada do agro. É o PL nº 8.262/17, que autoriza proprietários de terra a pedirem apoio de forças policiais para a retirada de invasores, mesmo sem ordem judicial.
PEDIDO DE VISTA – O texto tramita na CCJ, comissão presidida pela deputada Caroline de Toni (PL-SC), integrante da bancada ruralista. A matéria não foi votada porque houve um pedido de vista coletivo, mobilizado pela base governista.
O pacote da bancada do agro com 17 proposições também conta com as seguintes pautas de destaque: PL nº 3.768/21: amplia a participação dos municípios nos processos de regularização fundiária; PL nº 1.198/23: eleva a pena de detenção para o crime de esbulho possessório; PL nº 4.128/23: obriga movimentos sociais a ter CNPJ.
Procurado pelo Metrópoles, o presidente da FPA, Pedro Lupion (PP-PR), afirmou que aguarda a aprovação das propostas, assim que elas forem pautadas por Lira. Ele acusa o governo federal de ser “conivente” com movimentos de ocupação de terras.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A inabilidade do governo é assunto a ser estudado por especialistas em comportamento humano. O setor agropecuário jamais deveria ser problema. Se fosse hábil, o governo conseguiria atender aos dois setores – os produtores rurais e os sem-terra, cujos interesses são conciliáveis, porque os sem-terras querem áreas improdutivas e os ruralistas são profissionais e não deixam que suas terras se tornem improdutivas. Mesmo assim, o governo não consegue atender nem a um nem a outro. (C.N.)