Ministros e autoridades caem na real e desistem de viajar “a trabalho” ao exterior

Acusado de "ditador" por Bolsonaro, Moraes deve manter | Política

Moraes foi um dos que desistiram de bancar “vira-latas”

Deu no Terra Brasil

Várias autoridades que estavam programadas para participar de eventos em Nova York nesta segunda-feira (13 de maio de 2024) optaram por não viajar para os Estados Unidos. João Doria, ex-governador de São Paulo e um dos fundadores do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), havia anunciado a presença de Alexandre Moraes, ministro do STF, e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, porém ambos cancelaram sua participação, posteriormente.

Outro evento, organizado pelo Esfera Brasil, considerou a presença de três ministros: Alexandre Silveira (Minas e Energia), Juscelino Filho (Comunicações) e Renan Filho (Transportes), mas suas presenças não foram confirmadas. Muitas autoridades precisaram permanecer no Brasil devido às medidas adotadas para lidar com as enchentes no Rio Grande do Sul.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Antes tarde do que nunca. Como dizia o grande historiador Capistrano de Abreu em sua Constituição de apenas dois artigos, “todo brasileiro precisa ter vergonha na cara”, e “revogam-se as disposições em contrário”. Chega de autoridades tipo gentalha, com complexo de vira-latas, sempre curvadas ao estrangeiro! Tragam-me um balde. (C.N.)

Destruir as florestas é acelerar o fim do mundo, na concepção de Aílton Krenak

Ecologia dos Saberes - Alfabetização e Descolonização Culturais - AILTON KRENAK Ver mais: https://educezimbra.wordpress.com/2017/12/18/citacoes- frases-e-designs-da-ecologia-dos-saberes/ | FacebookLuiz Carlos Azedo
Correio Braziliense

Num país democrático e multiétnico como nosso, coexistem diferentes formas de pensar e de viver, embora nem sempre em harmonia. Uma delas merece cada vez mais atenção, pela contribuição que pode dar ao planeta, sobretudo à ciência, nesse momento de emergência climática: a cosmologia indígena. Diante da destruição das florestas e consequente aquecimento global, da frequência e escala crescentes dos desastres naturais, os saberes indígenas ancestrais começam a ganhar corações e mentes na sociedade.

Precisamos dar mais atenção às vozes dissonantes desses setores, como a de Aílton Krenac, o filósofo indígena, recém-empossado na Academia Brasileira Letras (ABL). Ativista do movimento socioambiental, Doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Krenak nasceu na região do vale do rio Doce, Minas Gerais. Exerceu um papel crucial na organização e conquista dos Direitos Indígenas na Constituinte de 1988.

CABEÇA DA TERRA – O nome Krenak significa cabeça (kre) da terra (nak). Os Krenak ou Borun são os útimos “Botocudos do Leste”, nome atribuído pelos portugueses no fim do século 18 aos grupos que usavam botoques auriculares ou labiais. São conhecidos também por Aimorés e se auto-denominam Grén ou Krén.

Em 2015, a catástrofe de Mariana (MG), devastou toda a fauna e vegetação do Rio Doce, atingindo a principal fonte de subsistência dos Krenak, representados por pouco mais de 600 sobreviventes que ainda ocupam a região.

Lançado em 2019 pela Companhia das Letras, “Ideias para adiar o fim do mundo” é o livro mais famoso de Krenak. A obra critica a ideia de humanidade como um conceito separado da natureza. Essa premissa seria baseada no desastre socioambiental da nossa era, o Antropoceno.

DIZ KRENAC – Somente através do reconhecimento da diversidade e da recusa da ideia do humano como superior aos outros seres, é possível dar outro significado às nossas existências e frear a caminhada para o colapso ambiental.

Sua obra filosófica sustenta-se na cosmologia indígena. “O amanhã não está à venda”, de abril de 2020, sobre como a pandemia de Covid 19, nos fez refletir sobre o que é a “normalidade” e o que significaria voltar para esse status após a crise social, econômica e sanitária.

Publicado no final de 2020, “A vida não é útil” é um diálogo sobre o cenário pandêmico, no qual aponta as tendências destrutivas da civilização, durante um governo negacionista de extrema-direita.

FUTURO ANCESTRAL -Mais recente, seu livro “Futuro ancestral” confronta o senso comum ao explorar a ideia de futuro: “Os rios, esses seres que sempre habitaram os mundos em diferentes formas, são quem me sugerem que, se há futuro a ser cogitado, esse futuro é ancestral, porque já estava aqui.”

Esse raciocínio nos remete à tragédia do Rio Grande do Sul. Uma árvore derrubada na Amazônia, como num efeito borboleta, impacta o clima dos pampas. Esse entendimento já tem um consenso científico, mas não tem a devida tradução nas políticas públicas, que vão na contramão.

O Congresso derrubou o veto do presidente Lula a itens da Lei dos Agrotóxicos que deram ao Ministério da Agricultura competência exclusiva para registrar agrotóxicos, esvaziando Ibama e Anvisa. Outros 25 projetos estão prontos para votação com objetivo de enfraquecer a legislação ambiental e “passar a boiada”.

LIBERAÇÃO AMBIENTAL – Os deputados Lucas Redecker (PSDB-RS) e Jerônimo Goergen (PP-RS), além do senador licenciado Luis Carlos Heinze (PP-RS), gaúchos, estão entre os autores de leis favoráveis a flexibilização de áreas de preservação ambiental.

O próprio governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), promoveu cortes no orçamento da Defesa Civil e nos projetos de resposta a desastres ambientais. Em 2019, propôs um projeto que alterou 480 pontos do Código Florestal estadual. A prefeitura de Porto Alegre nada investiu na prevenção contra enchentes em 2023.

Em março, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou, com 38 votos a favor e 18 contra, um projeto que permite devastar campos nativos do tamanho do Rio Grande do Sul e do Paraná juntos. É isso que queremos?

Tragédia no Rio Grande do Sul: alerta para novas inundações

Defesa Civil do RS emitiu alerta para novas chuvas intensas

Pedro do Coutto

Em meio às enchentes catastróficas que atingiram o Rio Grande do Sul, as perspectivas são de que a resolução dos inúmeros problemas estejam distantes. Estão previstas mais chuvas nas regiões que já apresentam problemas críticos. Neste domingo, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul emitiu um alerta para informar sobre novas inundações que poderão ocorrer no estado.

De acordo com o órgão, a água dos rios continuam subindo devido às chuvas que atingiram diversas regiões neste fim de semana. “O Rio Jacuí apresenta tendência de seguir em níveis elevados, conforme a vazão for escoando e descendo das bacias dos Vales. Com isso, locais já inundados continuarão em elevação, podendo atingir e, até mesmo, ultrapassar os níveis registrados recentemente, entre terça e quarta-feira, em razão das chuvas intensas”, informava parte do alerta.

BOLETIM –  Além disso, o órgão pediu para que os moradores procurem abrigos e não retornem para lugares que já foram prejudicados pela chuva. O Rio Grande do Sul confirmou mais sete mortes neste domingo, elevando o número de vítimas para 143. O boletim da Defesa Civil ainda contabiliza 125 desaparecidos e 806 feridos. Desde o início das operações de socorro, já foram resgatadas 76.399 pessoas e 10.555 animais.

O governo do presidente Lula da Silva anunciou que irá propor ao governo do Rio Grande do Sul que o pagamento mensal da dívida estadual junto à União seja suspenso por um período de três anos. Segundo fontes do Palácio do  Planalto, a moratória deve dar um alívio de cerca de R$ 10 bilhões aos cofres do Rio Grande do Sul durante a catástrofe que atinge a região. O período de três anos para a suspensão do pagamento da dívida foi estabelecido como um meio-termo entre as posições do Ministério da Fazenda e do governo gaúcho.

JOGO POLÍTICO – Enquanto isso, o União Brasil, partido com o maior número de deputados dentre os que integram o governo Lula da Silva, o União Brasil caminha para ficar separado do PT nas principais capitais nas eleições municipais deste ano.

O cenário nas municipais reflete o jogo político do partido, que comanda três ministérios ao mesmo tempo em que constrói projetos políticos de viés oposicionista. Exemplo disso são os movimentos para viabilizar a candidatura presidencial do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, em 2026.

É preocupante para Lula essa situação, na medida em que a impressão que dá é que o impulso para a sucessão presidencial em 2026, quando concorrerá à reeleição, não está com a solidez necessária.Fica um aviso político.

Chico Buarque e o desafio de compor a música Beatriz, com o amigo Edu Lobo

Letícia Colin faz aulas de circo para filme - Patrícia Kogut, O Globo

Letícia Colin interpretou Beatriz no cinema

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, escritor, poeta e compositor carioca Chico Buarque de Holanda, buscou inspiração para fazer a letra da música “Beatriz”, tanto que se baseou num poema de Jorge Lima, onde a personagem chamava-se Agnes e era equilibrista, mas chegou a um ponto que a letra não saía com esse nome, Agnes. Então, passados alguns dias, surgiu o nome “Beatriz”, que era a musa inspiradora de Dante Alighieri, a qual podemos notar quando Chico faz alusão ao citar na letra “comédia” e “divina”, mencionando outra obra de Dante, A Divina Comédia.

Dizem que Dante viu Beatriz uma única vez, e nunca falou com ela, nutrindo uma paixão que iria inspirar seus poemas. Beatriz é uma das canções do musical “O Grande Circo Místico”, cujo disco com o mesmo nome foi lançado, em 1983, pela Som Livre.

BEATRIZ
Edu Lobo e Chico Buarque

Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz

Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Olha
Será que ela é de louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz

Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida

Suprema Corte dos EUA já criou código de conduta. Enquanto isso, no Brasil…

Juiz da Suprema Corte dos EUA vendeu imóveis não declarados a magnata republicano, diz agência

Clarence Thomas vendeu imóveis não declarados e se sujou

José Marques
Folha

Uma investigação jornalística sobre a relação de integrantes da Suprema Corte dos Estados Unidos com bilionários se tornou referência em discussões sobre a necessidade de transparência do Judiciário e de prevenção de potenciais conflitos de interesse.

A série de reportagens “Friends of the Court” (Amigos da Corte), publicada ao longo de 2023 pelo site ProPublica, mostrou como os magistrados do Supremo americano (chamados por lá de “justices”) ganharam viagens e presentes de magnatas e não divulgaram os benefícios.

PRÊMIO PULITZER – “Friends of the Court” ganhou o prêmio Pulitzer dias atrás, depois de ter forçado o tribunal a elaborar pela primeira vez um código de conduta, com regras para o recebimento de presentes e também padrões para que os juízes recusem benefícios que possam influenciar em suas decisões.

O código foi visto como um marco para o tribunal. No entanto, especialistas apontaram que ele esbarra na falta de explicação sobre como essas regras serão aplicadas na prática e quem pode determinar que elas foram descumpridas.

As principais revelações da série da ProPublica são que um bilionário do ramo de imóveis, Harlan Crow, comprou propriedades no estado da Georgia para a família do magistrado Clarence Thomas. Também bancou os estudos de um dos filhos de Thomas em uma escola privada.

VIDA DE RICO – O magistrado fez ao menos 38 viagens de férias com ricos empresários a bordo de iates e jatinhos, além de ter recebido ingressos para áreas VIP de eventos esportivos profissionais e de universidades.

As reportagens são acompanhadas de fotos de magistrados com milionários e detalhes das viagens que eles fizeram, a partir de documentos e entrevistas feitas com dezenas de pessoas.

Uma das imagens pitorescas publicadas na primeira reportagem sobre o tema é uma pintura realista exposta dentro do resort privado de Crow, que fica à beira de um lago no estado de Nova York. A pintura representa uma conversa entre Thomas, Crow e outros personagens ligados a políticos conservadores. Eles estão sentados, fumando charutos, em frente a uma estátua de um indígena de braços abertos.

PESCARIA NO ALASKA – Além de Thomas, a série de reportagens mostra que outro juiz da Suprema Corte, Samuel Alito, voou para uma viagem de pescaria no Alasca em 2008 no jatinho particular de um investidor que é um importante doador do partido Republicano. Nos anos seguintes, o fundo desse bilionário, Paul Singer, ingressou com ações na corte pelo menos dez vezes.

A Suprema Corte dos EUA tem nove integrantes. Thomas foi escolhido por George H. W. Bush, o pai, em 1991, e Alito por George W. Bush, o filho, em 2006.

Esses benefícios não eram tornados públicos pelos magistrados, e parte deles descumpre uma lei federal aprovada após o escândalo de Watergate, nos anos 1970.

AMIGOS QUERIDOS – Após as primeiras reportagens, Thomas disse que os Crows estavam entre os seus “amigos mais queridos”. “Como amigos que somos, nos juntamos a eles em uma série de viagens familiares”, afirmou.

Já Alito disse ao Wall Street Journal que, quando as companhias de Singer acionaram a corte, não estava ciente da conexão do bilionário com os casos. Ele disse que nunca discutiu negócios ou assuntos relacionados à corte e que falou com Singer em poucas ocasiões.

O Pulitzer justificou o prêmio afirmando que as reportagens foram ambiciosas e inovadoras e que romperam o “grosso muro de sigilos em torno da Suprema Corte” ao revelar como um pequeno grupo de bilionários com influência política cortejaram os magistrados com “presentes e viagens de luxo”. Também destacou como resultado das reportagens a criação do código de conduta da corte.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Enquanto isso, aqui na filial Brazil, a promiscuidade entre políticos, magistrados e empresárias é cada vez maior, transformando Brasília numa lixeira, e a fedentina aumenta progressivamente, em meio à falsidade, aos rapapés e às firulagens que abundam na capital do país, justamente apelidada de Ilha da Fantasia, boiando num mar de sargaços. (C.N.)

Israel despreza nova proposta de paz e palestinos serão dizimados em Rafah

Mai Anseir com os filhos na escola onde se abrigam em Rafah

Carlos Newton

Os governos dos Estados Unidos e da Arábia Saudita fizeram uma nova proposta de paz a Israel, com apoio do Hamas, mas o governo de Benjamin Netanyahu simplesmente a desprezou e mandou que moradores palestinos e refugiados abandonem não só a zona leste de Rafah, mas também as áreas centrais da cidade.

Isso significa que Israel não aceitará a formação de um Estado palestino sem influência do Hamas e que seria controlado por uma força de paz árabe. E significa também que vai destruir Rafah, a última cidade que restou na Faixa de Gaza, onde vivem cerca de 21 mil pessoas e estão refugiados mais de um milhão de palestinos.

Não se sabe quantas pessoas vão morrer nesta última ofensiva israelense para destruir o Hamas e transformat toda a Faixa de Gaza em terra arrasada. Talvez o número de vítimas – incluindo crianças, mulheres e idosos – possa passar de 100 mil, não se pode prever com exatidão. A fronteira com Egito está fechada, eles não têm para onde ir.

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À ESPERA DA MORTE, SEM TER COMO FUGIR

Deu no Infomoney
Agência Reuters

A família Anseir carregou seus escassos pertences em um carro amassado, na esperança de escapar antes de uma ofensiva terrestre de Israel em Rafah, onde mais de um milhão de habitantes de Gaza, que pensavam estar seguros, agora lutam para encontrar meios de fugir novamente.

Mai Anseir e sua família de 25 pessoas — que já tiveram que se mudar três vezes por conta dos bombardeios israelenses — dizem que ficaram sem opções à medida que as tropas de Israel se aproximam do último santuário no extremo sul da Faixa de Gaza.

“Estamos aqui, não sabemos como sair. Nossa capacidade financeira não nos permite conseguir transporte para irmos embora”, disse a mãe de cinco filhos em uma escola abandonada da ONU, onde a família se abrigou.

SEM ÁGUA E SEM LUZ – “E não podemos voltar de onde viemos porque está tudo destruído. Não há serviços, não há água, não há eletricidade. Não há vida no lugar em que estávamos.”

Israel ordenou que os residentes saíssem do leste de Rafah na semana passada e estendeu a ordem às áreas centrais da cidade nos últimos dias, fazendo com que centenas de milhares de refugiados fugissem buscando novos abrigos, que não existem.

Tanques israelenses já cortaram a via principal de Salahuddin, que separa os distritos leste e central de Rafah. Com a ordem de retirada e a chegada dos combatentes, os hospitais e os escassos suprimentos de ajuda desapareceram. Moradores dizem não ter ideia de para onde ir agora, ou como chegar lá.

SEM COMIDA – Mai Anseir relatou que precisa de leite e tratamento médico para uma criança com problema cardíaco. Ela não pode mais obtê-los em Rafah.

“A vida e a morte agora são a mesma coisa. Esperamos em Deus que logo haja alívio, porque o alívio está apenas nas mãos de Deus. Ele não virá de ninguém. Apelamos apenas para aqueles que têm corações compassivos; organizações humanitárias”, disse ela.

Sua cunhada Abeer, que tem oito filhos, disse que a comida de caridade que a família costumava receber agora já não existe mais. “Toda a área, que eles dizem ser segura, não é mais segura”, disse, enquanto a chuva caía sobre o terreno vazio da escola.

À ESPERA DA MORTE – “Em gaza, vimos muitas mortes, vimos pessoas sem cabeça. Mal ficamos aqui por dois meses, e então eles disseram para irmos embora. Eles jogaram panfletos em nós”, disse ela.

“Como você pode ver, não sabemos para onde ir ou vir. É como se estivéssemos escapando de morte em morte.”

Mai Anseir e sua família estão provisoriamente numa escola abandonada, onde se abrigam enquanto se preparam para fugir de Rafah após Israel invadir a cidade. Mas não sabem para onde ir.

Novo ópio estudantil, o “decolonialismo” agrada a professores e aos universitários 

Estudantes da Universidade Brown iniciam acampamento pró-Palestina e antissemita - Gazeta Brasil

Esstudantes mantêm seus protestos nas universidades

Demétrio Magnoli
Folha

“O Ópio dos Intelectuais”, obra do filósofo Raymond Aron publicada em 1955, referia-se ao marxismo e brincava com a caracterização da religião, por Karl Marx, como o “ópio do povo”. A religião laica dos intelectuais fez seu caminho até os estudantes e, bem diluída nos líquidos do pacifismo e do terceiro-mundismo, deixou uma marca nas manifestações contra a Guerra do Vietnã. De lá para cá, porém, foi substituída por outra doutrina dogmática: a tese “decolonial”.

Assim como o marxismo, a nova doutrina espalhou-se entre professores universitários, gotejou para as salas de aula e, finalmente, emergiu no palco das manifestações contra a guerra em Gaza nos campi dos EUA. Sua síntese aparece num cartaz exposto no acampamento de protesto da Universidade George Washington: “Palestina livre. Os estudantes voltarão para casa quando os israelenses voltarem para a Europa, os EUA etc (seus lares verdadeiros)”.

RUMO PARALELO – Aron apontava o fracasso moral dos intelectuais marxistas, que desprezavam a “democracia burguesa” enquanto condescendiam com os regimes totalitários do “socialismo real”. O movimento “decolonial” segue rumo paralelo, eximindo governos autoritários e organizações antidemocráticas que se apresentam como rivais do Ocidente. Nos campi dos EUA, brados estudantis misturam a reivindicação de interrupção da guerra com lemas clássicos do Hamas.

As religiões invocam a palavra sagrada: razão transcendental. Os marxistas e os “decoloniais” invocam a História, com H maiúsculo: as “leis históricas”, no primeiro caso, ou a justiça histórica reparatória, no segundo. Mas, como as religiões tradicionais, as religiões políticas almejam a redenção – e é isso que as torna sedutoras.

O triunfo do proletariado e o advento do socialismo assinalam a redenção marxista. A tese “decolonial”, um estilhaço da política identitária, enxerga o mal absoluto na expansão global europeia (isto é, “branca”), fonte da opressão sobre os “povos originários” e a “diáspora africana”. Para eles, a redenção não está no futuro, mas num passado mítico que precisaria ser restaurado.

NAÇÕES ILEGÍTIMAS – O grupo dirigente dos protestos na Universidade Columbia declara os EUA e o Canadá nações ilegítimas, formadas por colonos europeus que oprimem os negros e ocupam terras indígenas.

O cartaz do acampamento na George Washington exige que os “invasores” judeus saiam do Oriente Médio. Daí, os cânticos de “Palestina livre do rio até o mar” (e, ainda, “por qualquer meio necessário”, uma senha costumeira destinada a legitimar o terror do 7 de outubro).

A derrapagem “decolonial” dos protestos limitou o alcance da mobilização estudantil. Sonhava-se reeditar o movimento contra a Guerra do Vietnã. Não por acaso, invadiu-se o Hamilton Hall, palco de uma célebre ocupação em 1968.

NOVA REALIDADE – Há 56 anos, o movimento dos estudantes gerou passeatas imensas e uma crise política nacional. Os acampamentos atuais, pelo contrário, reuniram apenas minorias significativas. A nódoa do antissemitismo afastou a maioria dos estudantes, mesmo diante da criminosa punição infligida por Israel aos civis de Gaza.

A tese “decolonial”, como o marxismo, oferece uma explicação unívoca sobre as injustiças sociais. Intelectuais adoram o poder de reduzir tudo a uma equação totalizante bastante simples –e os jovens, mais ainda. Contudo, o vício no marxismo tinha uma porta de saída que inexiste no ópio “decolonial”.

O que fazer quando fica claro que a promessa brilhante do socialismo conduzia, inexoravelmente, à cinzenta realidade do totalitarismo? Havia uma saída consistente com o núcleo moral das ideias socialistas: o reformismo social-democrata. Mas para onde podem ir os jovens ativistas “decoloniais” ao descobrirem a impossibilidade de reverter a seta do tempo e cancelar o mundo nascido da expansão europeia? Resta-lhes, somente, angústia, desespero e cinismo.

Tragédia é muito mais terrível e desesperadora do que relatos ou fotos possam mostrar

Enchentes castigam população no Sul do país neste final de semana | VEJA

O pior é que continua chovendo e o frio  já está chegando

Duarte Bertolini

Normalmente, estas tempestades afetam uma cidade ou uma pequena região. Aqui no Rio Grande do Sul, não, porque são mais de 400 cidades com algum tipo de dano, alguns quase totais, com desaparecimento de sinais de vida humana por ali.

E todos os números são fantásticos pelo absurdo. Estima-se em quase 2 milhões de atingidos, com centenas de milhares deslocados de suas casas. Os dados oficiais agora dão conta de quase 100 mil pessoas em abrigos, que agora começam a sofrer ataques, roubos e estupros, e a Justiça diz que não se pode discriminar ninguém ao fazer pente fino nos acampados.

E MAIS CHUVAS… – Cidades e bairros inteiros deslocados, áreas submersas que se espalham a perder de vista, retiradas dramáticas, muito mais do que as vistas em Dunquerque ou outros êxodos.

E neste final de semana chuvas intensas novamente, voltando a tomar conta de cidades e apavorando aqueles que sonhavam em voltar às suas casas.

Agora vem o frio com previsões de 6-7 graus em algumas regiões, com milhares de pessoas ainda abrigadas em ginásios frios, enormes, impessoais. Em algumas partes das cidades estima-se em até 60 dias para a água baixar completamente

SEM LOGÍSTICA – Como manter este povo abrigado, alimentado e principalmente amparado por alguma esperança? Pontes, estradas, encostas desabadas às dezenas impedem o livre trânsito, o deslocamento e o auxílio.

Estações submersas impedem o bombeamento para fora da água, para que possa haver fornecimento de água tratada, vital para a vida.

Cidades e bairros sem luz, com água cobrindo casas, lama e devastação por todo canto. Como reconstruir? Quem vai liderar este esforço, num país de agentes públicos medíocres, corruptos, incompetentes ou cegos pela ideologia? De onde virão recursos, projetos e planejamentos sérios para refazer? Onde reconstruir e onde abandonar? Se abandonar, recomeçar onde?

DESPREPARO – A tragédia desnuda o despreparo, a pequenez de homens públicos e de instituições outrora grandiosas, e tudo isso reforça o mito de que os homens unidos em objetivos comuns podem superar muita coisa. Tudo muito difícil, mas ainda temos fé na volta por cima.

Para piorar, Lula e Janja, em mais um e seus gestos midiáticos, levaram uma cachorra que havia sido dramaticamente resgatada nos primeiros dias. Gesto nobre, mas o nome da cachorrinha é Esperança.

Assim, esperamos que Lula e Janja não tenham levado embora a esperança real que nosso Rio Grande tanto precisa.

Com muita chance de aprovação, os cassinos estão de volta à pauta do Senado

Com chance de aprovação, cassinos estão de volta à pauta do Senado

Há chances de aprovação, se os evangélicos não boicotarem

Basília Rodrigues
CNN Brasil

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado marcou, para esta quarta-feira (15), a votação de um projeto de lei que libera a instalação de cassinos em todos estados do país.

O texto não é consenso, mas após a liberação de apostas online pelo Congresso, em dezembro de 2023, há expectativa de aprovação do que marcaria o retorno dos cassinos físicos no país. Após votação na CCJ, o próximo passo é o plenário do Senado.

ENDIVIDAMENTO – Contrário ao texto, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) afirma que a proposta irá aumentar o endividamento das famílias brasileiras.

“É para magnatas, para grandes conglomerados. Estou muito preocupado com isso acontecer diante dessa tragédia que os gaúchos estão sofrendo. É uma coisa estarrecedora. O Senado vai priorizar algo que vai endividar o brasileiro, não vai gerar renda, é uma canibalização do comércio”, disse à CNN, nesta segunda-feira (13).

O texto autoriza a instalação de cassinos em polos turísticos ou em complexos integrados de lazer, como hotéis de alto padrão com pelo menos 100 quartos, restaurantes, bares e locais para reuniões e eventos culturais. Se aprovado, permite a instalação de cassinos em todos estados e no Distrito Federal.

APOIO DO GOVERNO – O projeto conta com apoio no governo, diante do potencial de arrecadação. De acordo com o relator, senador Irajá Filho (PSD-TO), que é favorável à aprovação, o mercado de jogos de azar movimentou um valor entre R$ 8,6 bilhões e R$ 18,9 bilhões em 2014.

Com base na correção de inflação calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período, os jogos movimentariam de R$ 14,34 bilhões a R$ 31,5 bilhões em 2023.

“Mesmo na contravenção, os jogos de azar já constituem uma atividade econômica relevante e, como tal, devem estar sujeitos à regulamentação pelo Estado. Por isso, a proposição merece prosperar”, afirma Irajá.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Num país como o Brasil, proibir os cassinos é uma hipocrisia e uma burrice, não necessariamente nesta ordem. Façam jogo, senhores e senhoras, desta vez parece que haverá liberação, se os evangélicos não atrapalharem. (C.N.).

Resposta do Supremo sobre viagens de ministros é um desaforo inaceitável

Juízes auxiliares do STF ganham mais que os ministros da corte - Espaço Vital

Charge do Alpino (Yahoo Notícias)

Carlos Andreazza
Estadão

Reportagem de Weslley Galzo no Estadão informa que “ministros do STF participaram de quase dois eventos internacionais por mês no último ano”, alguns dos quais custeados por grupos com interesses em ações julgadas na Corte. O tribunal respondeu. A nota – desaforada e mal escrita, também modalidade de desaforo – exige análise do discurso.

“Ministros do Supremo conversam com advogados, com indígenas, com empresários rurais, com estudantes, com sindicatos, com confederações patronais, entre muitos outros segmentos da sociedade.”

SEM COMEDIMENTO – Conversam demais. Circulam demais. Saudoso o tempo em que o “segmento” da impessoalidade conhecido por comedimento tinha alguma vez. Sendo certo que o local onde se conversa agrava o vício. Não conversarão com indígenas em visitas às tribos. Maior a chance de que se encontrem na Europa. Nada contra o Velho Continente. Foi no Brasil que Barroso, em ato da UNE, festejou o “nós derrotamos o bolsonarismo”.

“E muitos participam de eventos organizados por entidades representativas desses setores, inclusive por órgãos de imprensa.”

Se houvesse alguma dúvida sobre o equívoco-armadilha em que consiste convidar ministros do STF a tomar lugar em debates promovidos pela imprensa, nesta zoada estaria mais uma evidência. O jornalismo sem autoridade para criticar – lê-se.

MAIS, AINDA – “Naturalmente, os organizadores dos eventos pagam as despesas” – construção-esculacho própria a uma ilha da fantasia, lá onde será natural que empresa com pleito no Supremo patrocine viagens e hospedagens de ministros do Supremo. Naturalmente, na ilha da fantasia não há povo nem república. Só organizadores. (E hotéis e restaurantes estrelados.)

“Quando um ministro aceita o convite para falar em um evento – e a maioria dos ministros também tem uma intensa atividade acadêmica –, ele compartilha conhecimento com o público do evento.”

Quando aceita convite para falar num evento privado em cujo pacote vai espécie de imersão, com charutadas restritas, o ministro compartilha acesso. A chance de ser acessado. Outro tipo de conhecimento. Com tantos compromissos, é impossível que haja intensidade para a academia.

MANEIRA CORRETA? – “Por isso, a questão não está posta da maneira correta, não se pode considerar a participação do ministro no evento como um favor feito a ele pelo organizador”.

Pode-se considerar qualquer coisa, inclusive a hipótese de troca de favores. Posta de maneira corretíssima – o que importa a esta análise – a desconfiança que tais jornadas aprofundam na sociedade.

“Por essa razão, não há conflito de interesses”. Ora, por essas razões, difícil será encontrar definição prática mais precisa para conflito de interesses.

É difícil imaginar como pagar a conta da reconstrução do Rio Grande do Sul

Chuva deixa rastro de destruição no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina; veja fotos - Rádio Itatiaia

Tem muito trabalho pela frente, para reconstruir o Estado

Vinicius Torres Freire
Folha

O Rio Grande do Sul precisa de pelo menos R$ 19 bilhões para a reconstrução, diz Eduardo Leite (PSDB), governador do estado. O governo federal afirma que adotou medidas com “impacto de R$ 50,945 bilhões”. Há por aí estimativas de que o estado precisaria de mais de R$ 90 bilhões —contas de guardanapo.

Esses números não têm significado algum, até porque ninguém tem ideia do tamanho das perdas ou de como deve ser a reconstrução. O “como” é muito importante.

COMO PAGAR? – É fácil perceber a incongruência e a falta de significado dos números. Com os R$ 50 bilhões federais se pagam os R$ 19 bilhões gaúchos? Claro que não.

Do pacote federal, até R$ 35 bilhões podem ser aumento de crédito privado para pequenas empresas e agricultores. O governo federal vai colocar mais dinheiro nos fundos que cobrem perdas (calote) desses empréstimos bancários, o que pode facilitar empréstimos e torna-los mais interessantes. Parte desse dinheiro pode ser a fundo perdido, pois. Ainda com juros salgados, embora menores que os da praça, são financiamentos com carência de dois ou três anos e prazos de pagamento de seis a dez anos.

A fim de diminuir taxas de juros de algumas dessas linhas, o governo federal vai também doar até R$ 2 bilhões. Mas não dá para estimar quanto dinheiro virá daí, de resto dirigido apenas para empresas.

ANTECIPAÇÕES – Parte do pacote federal é apenas antecipação de pagamentos devidos (abono, Bolsa Família etc.), extensão do seguro desemprego ou do prazo de pagamento de imposto. No fim das contas, o dinheiro a fundo perdido não chegaria a R$ 8 bilhões em até dez anos, se tanto.

Não quer dizer que o governo federal seja malévolo ou inepto. É difícil arrumar dinheiro, enviá-lo ao lugar certo e evitar que espertos peguem carona na catástrofe.

Para quais projetos deve ir qualquer dinheiro que se arrume para a reconstrução? Haverá critério de planejamento ambiental para liberar verba, seja a fundo perdido ou via crédito? Quem vai fazer os projetos técnicos?

MAIS DÚVIDAS – Haverá planejamento econômico ou geográfico? Atividades decadentes, com retorno em baixa, deverão ter verba de reconstrução? Ou haverá algum incentivo e financiamento para renovação produtiva e relocalização?

Quem vai coordenar tudo isso? Instituições técnicas, em falta, ajudam a evitar bobagem; centralização, porém, ignora a criatividade e o conhecimento dos locais.

Por motivo de risco de vida, ambiental e econômico, não se pode reconstruir, sem mais. Parecem questões abstratas e frias, ainda mais quando se vê tanto sofrimento em carne viva. Sem pensar nisso, porém, vem besteira.

E A CONTA? – Quem vai pagar a reconstrução de infraestrutura (estrada, saneamento, energia), de escola e hospital? De quanto vai ser o auxílio emergencial para pessoas? Quanto dinheiro virá de crédito, quanto a fundo perdido? O dinheiro federal até agora não dá conta de nada disso (algo mais deve ser anunciado na semana que vem). De resto, não se sabe nem quanto dos bens privados têm seguro.

Leite quer deixar de pagar a dívida gaúcha com a União por dois anos. Daria uns R$ 3,5 bilhões por ano. Quer também outras autorizações para descumprir regras fiscais, mais duras com seu estado, um dos mais quebrados do país. Quer um fundo de financiamento subsidiado com recursos federais, como aqueles que beneficiam Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Os R$ 19 bilhões da estimativa inicial de Leite equivalem a uns 2,6% do PIB gaúcho. A receita do governo estadual foi de R$ 78 bilhões em 2023; R$ 4,7 bilhões foram para investimentos em obras e equipamentos, segundo o Tesouro Nacional.

PLANEJAMENTO – Mesmo que os R$ 19 bilhões de Leite sejam apenas a conta do reparo da infraestrutura, não parece ser assim um dinheiro impossível, gasto em dois ou três anos, talvez em parte financiado por crédito mais barato de instituições multilaterais internacionais.

 Assistência social (auxílio) e obras de reconstrução podem acelerar o crescimento, de resto, pagando parte da conta. Isso se houver planejamento, projeto e eficiência no gasto da ajuda e reforma do Orçamento estadual.

O problema é que essa numeralha que aparece em manchetes não quer dizer nada.

Brasil é bom de ajuda, mas é preciso ser ainda melhor na prevenção de tragédias

Nota pública | Enchentes no Rio Grande do Sul são uma tragédia anunciada -  INESC

Sem prevenção, já se pode prever que dias piores virão…

Dora Kramer
Folha

O Brasil é realmente um país bom de ajuda. A sociedade se mobiliza e o poder público, quando quer e se empenha, faz a sua parte com rapidez e competência. Vimos isso nas ações de solidariedade na pandemia, nas atuações de estados, dos Poderes Legislativo e Judiciário num momento em que o Executivo jogava contra.

Estamos vendo agora o país se movimentar em socorro ao Rio Grande do Sul. A tragédia sensibiliza, mas a precaução que poderia minorar as consequências de desastres, naturais ou não, não é um fator que nos aflija de modo contundente. Fala-se disso na hora do aperto, e depois o habitual tem sido o esquecimento até a próxima calamidade.

IMOBILISMO – O trato do meio ambiente não aparece nas pesquisas entre as principais preocupações da população. E daí talvez a razão de o assunto frequentar os discursos das autoridades como uma cenografia do bem, mas não se integrar de modo enfático nas ações do poder público.

Condena-se o negacionismo na teoria, mas na prática ele está entre nós. Ou, numa visão otimista, pode ter estado, caso a catástrofe ainda em curso venha a servir de lição de que as mudanças do clima precisam com urgência servir como referência no manejo prévio das intempéries ambientais.

Pesquisa do instituto Quaest sobre o tema mostrou que a sociedade se ligou. Dos consultados, 99% disseram que o que acontece no Sul guarda relação com a nova realidade climática. Há a compreensão de que pode acontecer a qualquer momento em qualquer parte do país.

VOLUNTARIADO – Já temos mais que comprovada a eficácia das ações do voluntariado, da concentração de esforços dos demais estados e da liberação de recursos federais. Mas não dá para ficar eternamente na dependência do bom improviso e da desolação pelas vidas perdidas.

É preciso aliar as belas preleções à boa prática do planejamento numa agenda de emergência ambiental que corresponda aos reiterados avisos da natureza de que dias piores virão.

Leia o que Mario Quintana, o grande poeta, escreveu sobre a enchente de 1941

No fim você vai ver que as coisas mais... Mário Quintana. - PensadorJuliana Bublitz
Agência RBS

Poesia numa hora dessas? Sim, especialmente numa hora dessas. Mario Quintana, escreveu, certa vez, que fazer versos é como abrir janelas e ajudar o leitor a “respirar”. Quem faz poemas, ensinou o mestre, “salva”.

Poeta das coisas simples, falecido há 30 anos, Quintana resgatou muita gente com suas palavras. Ele tinha o dom de escrever como um guri soltando pipa – alegre, simples, travesso. Talvez por isso tenha conseguido aproximar sua arte das pessoas.

SAPATO FLORIDO – Em 1948, o autor lançou um livrinho chamado “Sapato Florido”, que seria um de seus maiores sucessos. Lá pelas tantas, quase no fim da obra, eis que aparece o título “Reminiscências”.

Setenta e seis anos após o lançamento, o poema viralizou nas redes sociais. Motivo: os versos falam da grande enchente de 1941, considerada, até agora, a maior da história de Porto Alegre. Quintana viveu o drama de perto e escreveu sobre ele.

REMINISCÊNCIAS

A enchente de 1941.
Entrava-se de barco
pelo corredor da velha casa de cômodos
onde eu morava.

Tínhamos assim um rio só para nós.
Um rio de portas adentro. Que dias aqueles!
E de noite não era preciso sonhar:
pois não andava um barco de verdade
assombrando os corredores?

Foi também a época em que era
absolutamente desnecessário fazer poemas…

“Parlamentares preferem remediar a prevenir”, afirma Gil Castello Branco

Gil Castello Branco diz que a política funciona ao contrário

Evandro Éboli
Correio Braziliense

A catástrofe no Rio Grande do Sul fez os Poderes se mexerem. O Executivo decretou estado de calamidade e destinou recursos e uma série de ações para auxiliar os gaúchos. No Congresso Nacional, foi aprovada destinação de recursos e deputados e senadores passaram a anunciar verbas de suas emendas parlamentares para socorrer o estado. Até agora, porém, os parlamentares pouco se interessaram em atender a ações de prevenção e resposta a desastres ambientais. Julgam ser melhor politicamente sobrevoar áreas atingidas do que destinar recursos previamente.

Para o diretor executivo do Contas Abertas, Gil Castello Branco, os políticos parecem mais interessados em socorrer do que prevenir. O ganho político em se mostrar depois do desastre ocorrido é sempre maior.

Como avalia os valores de emendas destinadas a desastres climáticos, que não chegam a 0,2% do total desses recursos disponíveis para deputados e senadores?
Os números relativos às emendas parlamentares destinadas à prevenção e a respostas aos desastres são irrelevantes. A impressão que dá é que os parlamentares fazem uma leitura às avessas do ditado de que é melhor prevenir do que remediar. Digo isso porque a resposta aos desastres, depois de ocorrido, acaba sendo politicamente mais interessante aos parlamentares, que, com isso, vão aos locais da tragédia, oferecem sua solidariedade, prometem recursos, sobrevoam as áreas atingidas. Enfim, um ritual conhecido há décadas. 

Ou seja, as medidas preventivas não têm o mesmo interesse político. É isso?
Sim. Essas medidas preventivas não têm o mesmo impacto político das medidas de recuperação porque significam, muitas vezes, quando a situação já está normalizada, você ter que ir até a área sensível e remover as famílias daquelas regiões de alto risco. Isso gera desgaste para essas famílias, que habitam essas localidades, que por ali trabalham, é onde os filhos estudam, tem as creches próximas. Se mesmo durante as tragédias, como estamos vendo, as famílias custam e resistem a deixar os locais que estão atingidos, o que dirá quando a parte pior passar. E essa remoção precisa ser feita.

Com o que está se vendo, não há dúvida de que a prevenção minimiza esse drama. Como avaliar?
A prevenção é um trabalho muito maior para atenuar os efeitos desses fenômenos climáticos, que têm ocorrido em maior frequência e intensidade. Implicam emendas para adoção de diversas medidas, como contenções de encostas, fortalecimento da defesa civil, recurso para o aprofundamento dos leitos dos rios, para realização de obras de drenagem urbana, além da aquisição de satélites para melhorar a previsão de antecipação dessas tragédias. Há ainda a colocação de sirenes nas áreas de risco para avisar com antecedência o que irá acontecer e até um sistema que está gradativamente sendo implementado para o aprimoramento de aviso pelos celulares das áreas de risco.

Outra questão é que as obras de saneamento e drenagem tumultuam a cidade, algo que os políticos não gostam.
Obras como drenagem urbana transtornam o trânsito da cidade. A sensação é que as respostas aos desastres ocorridos oferecem resultado maior do que as medidas de prevenção. Precisamos reverter essa interpretação e voltar a acreditar que a prevenção é extremamente necessária. Tratam-se de tragédias previamente anunciadas, sabemos onde vão acontecer. O governo tem exibido um mapa, que apresentou a organismos da ONU, todo informatizado, para prever onde vão ocorrer essas tragédias até 2050. Vemos que tendem a acontecer sempre nos finais de anos ou nos primeiros meses subsequentes. E não conseguimos evitar que aconteçam.

O que essa tragédia está mostrando é que sem trabalho conjunto de todos os níveis de governo, não há solução. É o caminho?
Sim. Esse trabalho de prevenção tem que envolver a solidariedade permanente da União, dos estados e dos municípios. E não devem se mobilizar apenas durante a tragédia, como agora. É fácil entender porque municípios de pequeno e médio portes não têm condições de resolverem sozinhos essas questões. Faltam recursos humanos, técnicos e orçamentários para desenvolver projetos de contenção de encostas e drenagem urbana. Só com a colaboração dos estados e do governo federal é que isso pode ser solucionado.

O Ministério das Cidades promete auxiliar 200 municípios com projetos.
Isso, sim, é uma medida eficaz. Se depender apenas dos projetos vindo desses municípios, nada vai acontecer, porque nada acontece há décadas. É difícil imaginar, por exemplo, que uma prefeitura como São Sebastião, no litoral paulista, ou que cidades da serra do Rio, como Petrópolis e Teresópolis, ou de Minas Gerais e Bahia, e agora vemos no Rio Grande do Sul, todas passando por esse drama, tenham condições de resolver esses problemas isoladamente. É um trabalho conjunto e permanente.

De 17 desembargadores, 13 se declaram impedidos em processo bilionário de falência

Novas intrigas movimentam disputa de R$ 4 bi entre herdeiros de João Lyra | VEJA

João Lyra, em foto com Dilma Rousseff e Gilberto Kassab

Eduardo Barretto
Metrópoles

Pelo menos 13 dos 17 desembargadores do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL) se declararam impedidos para julgar o processo bilionário de falência da Laginha, um dos maiores do país. A situação fez com que o desembargador à frente do caso pedisse, na última quinta-feira (8/5), que o julgamento vá para o Supremo Tribunal Federal.

O levantamento foi feito pelo gabinete do relator, desembargador Carlos Cavalcanti. Dos 17 magistrados do TJAL que analisam o processo falimentar da Laginha, 13 se declararam impedidos — por razões objetivas, como processos anteriores — ou suspeitos — por razões subjetivas, como amizade.

AÇÚCAR E ÁLCOOL – O grupo analisa a falência da Laginha, conglomerado de usinas de açúcar e etanol em Alagoas, além de uma dívida bilionária com a Receita Federal. Herdeiros do empresário João Lyra estão proibidos de se manifestar no processo da Laginha

“Admitir que um processo seja julgado por um tribunal em que a maioria de seus membros está impedida ou suspeita seria uma afronta aos princípios basilares do Estado Democrático de Direito”, escreveu o desembargador. Um magistrado se declarou impedido por ter apresentado queixa-crime contra 28 advogados que atuam no processo da Laginha. Outro já havia atuado no caso como procurador.

Nesses casos, a Constituição prevê que o julgamento cabe ao Supremo, para garantir a imparcialidade do processo. A decisão será tomada nos próximos dias pelo presidente do Supremo Tribunal Federal.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGJoão Lyra era deputado federal, ligado ao grupo políticos de Fernando Collor. Morreu em 2021, aos 90 anos, e sua esperança é disputadíssima na Justiça, tendo como pretendente até Thereza Collor, ex-cunhada do político aposentado. (C.N.) 

Sérgio Moro tem boa expectativa sobre julgamento que decidirá sua cassação

Sergio Moro

Sérgio Moro está confiante que será absolvido pelo TSE

Bela Megale
O Globo

Sergio Moro preza pela discrição quando o assunto é o julgamento que pode cassá-lo, mas, em conversas reservadas com colegas do Senado, deixa clara sua mudança de humor. Se antes o senador avaliava que a chance de perder sua cadeira não era pequena, hoje apresenta otimismo e acredita que vai preservar seu mandato.

Um dos motivos principais para a nova avaliação foi o parecer do vice-procurador-geral eleitoral, Alexandre Espinosa Barbosa, pela sua absolvição.

ALTA VELOCIDADE – A leitura de aliados de Moro no Senado é que o posicionamento do Ministério Público Eleitoral a favor do ex-juiz e a celeridade com que o parecer foi apresentado — em um período de cinco dias — podem ser interpretados como uma tendência de que a corte deve seguir um posicionamento similar.

Há a leitura ainda de que os membros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desejam apreciar o tema enquanto o ministro Alexandre de Moraes está na corte. O magistrado deixará o tribunal em 3 de junho. O caso de Moro começa a ser analisado nesta quinta-feira (16).

A avaliação de aliados políticos do ex-juiz é que houve uma mudança de temperatura na relação entre o Congresso e o Judiciário e que a cassação de um senador poderia ter o potencial de acirrar os ânimos. Os parlamentares avaliam que preservar o mandato de Moro seria visto como um gesto ao Legislativo. 

ARTICULAÇÕES – Desde o ano passado, quando PT e PL acionaram o ex-juiz na Justiça Eleitoral pedindo sua cassação e a convocação de novas eleições no Paraná, Moro se viu obrigado a intensificar suas articulações políticas.

Mesmo com pouco traquejo, conversou com senadores de todos os partidos, inclusive do PT, na busca de apoio para preservar seu mandato e também buscou algozes, como o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.

Aliados do ex-juiz avaliam que o caso obrigou Moro a trabalhar seu lado político e que isso pode ajudá-lo a se tornar uma figura de mais trânsito no Senado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente análise de Bela Megale. Como já voltou para o STJ o ministro Benedito Gonçalves, aquele cujo filho gosta de ostentar enriquecimento ilícito, a situação está mais favorável para Sérgio Moro, que pode até ganhar voto favorável de Alexandre de Moraes, que está precisando fazer papel de ternura, paz & amor. Melhor assim. A Justiça agradece. (C.N.)

Para 55%, Lula não merece ser reeleito em 2026, aponta pesquisa da Quaest

Sorriso Pensante-Ivan Cabral - charges e cartuns: Charge do dia: De olho  nas pesquisas

Charge do Ivan Cabral (Sorriso Pensante)

Deu no UOL

Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (13) pela Genial/Quaest aponta que, para maioria dos entrevistados, o presidente Lula (PT) não merece ser reeleito para o cargo em 2026.

O que aconteceu? 55% dos entrevistados responderam que Lula não merece mais uma chance no cargo em 2026. Outros 42% avaliam que o petista merece uma nova chance e 3% não sabem ou não responderam.

RECORTES – Lula tem menos apoio no eleitorado masculino, mais jovem e de renda mais alta. Entre os homens, 59% são contra um novo mandato, 38% são favoráveis e 3% não responderam. Na faixa etária de 16 a 34 anos, são 57% contrários à reeleição, 39% a favor e 4% não responderam.

A faixa de renda mais avessa ao petista é a que ganha mais de cinco salários mínimos. Nela, 66% dos entrevistados acham que Lula não merece ser reeleito, 29% avaliam que ele merece e 5% não sabem ou não responderam.

Já entre os que ganham até dois salários mínimos, 54% dizem que Lula merece um novo mandato, 43% afirmam que não e 3% não sabem ou não responderam.

NO SUDESTE – O pior cenário para o petista é no Sudeste. Na região, 63% avaliam que ele não merece um novo mandato, contra 33% que dizem que sim e 4% que não sabem ou não responderam. O petista também teve desvantagem no Sul (59% são contra a reeleição e 39% a favor) e nas regiões Norte e Centro-Oeste, que aparecem juntas na pesquisa (58% a 37% contra a reeleição).

Lula teve mais apoio no Nordeste. Na região, 60% responderam que ele merece um novo mandato, 38% que não e 2% não sabem ou não responderam.

O maior apoio a Lula vem de fatias tradicionais do eleitorado do petista. A taxa dos que acham que ele merece a reeleição foi maior entre mulheres (45%) do que homens (38%) e que têm escolaridade até o ensino fundamental (54%).

IDOSOS APOIAM – Lula tem mais apoio entre idosos do que nas outras faixas etárias. Entre os participantes com 60 anos ou mais, 48% acham que ele merece a reeleição, 48% dizem que não e 4% não sabem ou não responderam. Já entre os mais jovens, de 16 a 34 anos, 57% não acham que ele mereça ficar no cargo e 39% acham que sim, enquanto 4% não sabem ou não responderam.

A pesquisa mostra Lula com números melhores do que os de Bolsonaro para 2026. Em relação às próximas eleições presidenciais, 47% afirmam que votariam no petista, contra 49% que não votariam, 2% que não o conhecem e 2% que não responderam. Para Bolsonaro, 39% votariam, 54% não votariam, 5% não o conhecem e 2% não responderam.

A pesquisa foi feita de 2 a 6 de maio por meio de 2.045 entrevistas presenciais. O nível de confiança é 95% e a margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Para quem acredita em pesquisa, a coisa está ficando feia para Lula da Silva. Para quem não acredita, vamos em frente e vida que segue. (C.N.)

Reconstrução do Rio Grande do Sul exigirá os mais amplos esforços

O esforço grandisoso terá impactos profundos em diferentes áreas

Pedro do Coutto

O grande problema da tragédia do Rio Grande do Sul, além das centenas de vítimas que causou, implica também nos esforços de reconstrução. Na última semana, o governador do estado, Eduardo Leite, afirmou que o custo deve chegar ao valor de R$ 19 bilhões.

Parte do território gaúcho foi devastado pelos temporais das últimas semanas, que destruíram a infraestrutura local e resultaram em 107 mortes até o momento. “Os cálculos iniciais das nossas equipes técnicas indicam que serão necessários, pelo menos, R$ 19 bilhões para reconstruir o Rio Grande do Sul. São necessários recursos para diversas áreas”, escreveu Leite, no X (ex-Twitter).

RESPONSABILIDADES – Sob esse ângulo, as responsabilidades sobre a questão crescem de forma substancial, pois também abrangem a assistência às famílias, sobretudo sob o ponto de vista social e econômico. O efeito das enchentes e a extensão da tragédia são devastadores e as ações projetadas devem contemplar diversas necessidades.

No plano imediato, por exemplo, as fortes enchentes afetaram em cheio o abastecimento de combustíveis, serviços de telecomunicações e energia elétrica. Apesar da mobilização conjunta entre empresas e governos, não há previsão para o restabelecimento dos serviços. Entre os postos de combustíveis, o cenário é de falta de produto e racionamento em diversos locais.

No segmento de telefonia, a situação também é caótica. Segundo dados do Ministério das Comunicações, da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e operadoras, cinco cidades no estado estão completamente sem serviços de telecomunicações: Arroio do Meio, Encantado, Estrela, Pouso Novo e Progresso.

SEM PREVISÃO – Fontes do setor afirmam que ainda não há previsão para que o sistema seja totalmente restabelecido no estado. Segundo fontes do setor, embora algumas localidades já tenham rede, ela ainda é limitada.

É preciso que se tenha uma atenção redobrada em relação a tudo que está acontecendo e, sobretudo, estabelecer-se não só no Rio Grande do Sul, mas em todo o país, medidas de planejamento efetivo para que as ações não sejam sempre pós-tragédia, mas num âmbito de evitar ao máximo suas ocorrências. Agora, não se trata apenas de obras de engenharia, mas de devolver à população atingida a dignidade necessária.

Um soneto romântico de Aurélio Buarque de Holanda, que entendia de palavras

Figuras da Linguagem (II): Aurélio Buarque de Holanda

Aurelio era um imortal muito bem-humorado

Paulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, lexicógrafo, filólogo, professor, tradutor e ensaísta alagoano, Aurélio Buarque de Holanda (1910-1989), grande dicionarista brasileiro, também sabia usar as palavras para nos brindar com este belo soneto “Amar-te”.

AMAR-TE
Aurélio Buarque de Holanda

Amar-te – não por gozo da vaidade,
Não movido de orgulho ou de ambição,
Não à procura da felicidade,
Não por divertimento à solidão.

Amar-te – não por tua mocidade
– Risos, cores e luzes de verão –
E menos por fugir à ociosidade,
Como exercício para o coração.

Amar-te por amar-te: sem agora,
Sem amanhã, sem ontem, sem mesquinha
Esperança de amor, sem causa ou rumo.

Trazer-te incorporada vida fora,
Carne de minha carne, filha minha,
Viver do fogo em que ardo e me consumo.

Quem é o responsável? Eleitor geralmente culpa os políticos pelos desastres naturais

Veja lista de cidades atingidas no Rio Grande do Sul pelas chuvas | Brasil  | Valor Econômico

A tendência é culpar os governantes, mas pode ocorrer o contrário

Marcus André Melo
Folha

Como o presidente e o governador serão afetados eleitoralmente pela calamidade no Rio Grande do Sul? Um exemplo ilustra a questão. O sucesso de Herbert Hoover, que liderou com grande visibilidade a resposta do governo federal à “enchente do século”, do rio Mississipi, levou-o a se tornar candidato nas eleições presidenciais americanas de 1928.

No entanto, nas áreas afetadas ele perdeu algo como 10% dos votos, segundo o estudo Disasters and elections.

EMOÇÕES NEGATIVAS – A literatura sobre eleições e desastres naturais (que discuti na coluna aqui) divide-se em duas explicações rivais. A primeira afirma que eles geram emoções negativas que levam a uma punição nas eleições. Este argumento (conhecido como “retrospecção cega”) foi desenvolvido em trabalho clássico sobre efeitos de ataques de tubarão.

Os eleitores punem governantes por eventos externos aleatórios, pelos quais eles não são responsáveis. Aconteceu com Hoover.

O argumento rival é que esta punição é racional, não emotiva. E nem sempre negativa. Os desastres criam para o eleitorado uma “janela de atenção” sobre os governantes, que em situações ordinárias não recebem escrutínio. Sob esta régua mais severa, e com mais atenção sobre o desempenho, a avaliação dos governantes tende a ser negativa.

E AS EXCEÇÕES? – Há, contudo, exceções. A “janela” revela o “tipo real” de governante. Quando a expectativa quanto ao seu desempenho é baixa e ele(a) surpreende, o desastre alavanca a popularidade. E vice-versa: quando é alta, a frustração cobrará o preço.

Mas o impacto das ações varia conforme sua natureza preventiva ou mitigadora. Utilizando uma base de dados cobrindo 3.141 condados e 26 programas federais de prevenção de catástrofes nos EUA, por 16 anos, Healy e Malhotra mostram que o eleitorado premia os presidentes pelas ações pós desastres, mas não por aquelas voltadas para a prevenção. Isto contrabalança o efeito negativo.

Cria-se perversamente incentivos, portanto, para ações mitigadoras mas não para preventivas. Embora a despesa pós evento seja estimada em até 15 vezes a da prevenção.

AMBOS PUNIDOS? – As ações de um governador serão julgadas comparativamente às do presidente, como mostraram Gasper e Reeves. Se este rejeita pedido de ajuda do primeiro, ele será punido e o governador premiado. Mas a tendência é que ambos sejam punidos.

Matheus Silva Cunha, em tese de doutorado em ciência política, sob minha orientação na UFPE, mostrou em estudo experimental que a transferência de responsabilidade após desastres naturais para outros atores também pode sair pela culatra.

As estratégias narrativas utilizadas pelos atores políticos importam, pois os eleitores punem políticos que adotam estratégias oportunistas de transferência de culpa.