Se criassem a vacina contra burrice, Bolsonaro iria fraudar o certificado

Bolsonaro não comparece à sabatina após fiasco na Globo e na Band - Vermelho

Charge do Nando Motta (Arquivo Google)

Mario Sabino
Metrópoles

Não consigo pensar em nada mais ridículo do que um presidente da República pedindo ao seu ajudante de ordens para falsificar certificado de vacinação contra a Covid.

Se a convicção contra a segurança da vacina era tanta, se o medo de virar jacaré era real, Jair Bolsonaro deveria ter renunciado a viajar aos Estados Unidos. As nossas escolhas têm consequências e pronto.

OUTRA ESTUPIDEZ – Jair Bolsonaro acreditava que a fraude permaneceria em segredo. Outra estupidez. O sujeito vivia sabotando todas as medidas sanitárias contra a Covid, fazia campanha aberta contra a vacinação, vivia às turras com o Poder Judiciário, Alexandre de Moraes já estava tocando inquéritos sigilosos — como é que ele abriu um flanco desses?

Nunca houve um presidente que se enrolasse tanto sozinho como Jair Bolsonaro. E, pelo jeito, só havia patetas obedientes ao lado dele. Ninguém para dizer: “ô, chefia, não faz isso, não…”

Comparado aos outros indiciamentos, esse parece ser de menor dano, mas não é: a PF acusa o ex-presidente de associação criminosa (outros 16 Einsteins foram indiciados) e inserção de dados falsos em sistema de informação. Dá cana brava. Não, não tem nada a ver com aquela palhaçada da perturbação a baleia.

NOS ESTADOS UNIDOS – Jair Bolsonaro supostamente usou os documentos falsos para enganar a imigração americana. Fosse um cidadão comum, não entraria nunca mais nos Estados Unidos. Talvez não entre mais.

E ele ainda pode ser condenado à prisão pela Justiça americana.

Deveria existir vacina contra a burrice. Mas, se existisse, o ex-presidente não se vacinaria e mandaria falsificar o certificado. 

Na literatura, o pangaré vermelho da luta de classes não chega em primeiro

Derrota do proletariado - 15/03/2024 - Mario Sergio Conti - Folha

Ilustração de Bruna Barros (Folha)

Mario Sergio Conti
Folha

Maylis de Kérangal é uma escritora francesa de 56 anos. Foi traduzida e publicada em vários países europeus, inclusive Portugal, mas não no Brasil. Ganhou um monte de prêmios e teve dois livros adaptados para o cinema.

Ela não tem o prestígio de Annie Ernaux nem a popularidade de Michel Houellebecq. Sua sensibilidade, densa e vasta, faz com que esteja mais próxima dela do que dele, um profissional da provocação.

Seu último livro, “Un Archipel”, um arquipélago, é uma seleta de ensaios e relatos. Os escritos são ilhas de um arquipélago. Têm a mesma origem vulcânica e compartilham a língua, mas são fruto de histórias diferentes. “Organizam uma forma; revelam uma unidade”, escreve ela.

As ilhas falam umas às outras. Recorrem à crítica literária para buscar a coesão primordial de escritos que o tempo e a vida apartaram. A ilha maior, mais populosa, é um conto de 50 páginas, “Rouge”, vermelho, para cujo porto convergem as trocas entre os textos.

Maylis de Kérangal leu “Rouge” em público no ano passado e o pôs na internet (de graça), onde está também a versão escrita (paga). O conto condensa percepções, raciocínios e sentimentos fugazes, até mesmo inefáveis, e os sedimenta numa prosa artística. Por fazer isso com engenho, “Rouge” é alta literatura.

Ele se passa numa manhã de domingo no fim dos anos 1980, o tempo “cintilante e desencantado” de “Reagan e Madonna, de Thatcher e ‘Uma Secretária de Futuro’”, filme de sucesso na época. A protagonista é uma provinciana de 20 anos que estuda e trabalha em Paris.

Ela pega o metrô, se perde, toma ônibus, táxi e chega esbaforida para o trabalho do dia: ser hostess no hipódromo de Longchamp, no Bois de Boulogne. As frases, atulhadas de coisas e lugares, expõem tanto a aflição de ir ao trampo como seu cotidiano assoberbado.

LUGAR NO MUNDO – Sublinhada, uma expressão resume o objetivo do galope frenético: “encontrar seu lugar no mundo”. É o local flexível e nebuloso onde a moça é encimada, por um dia, pelo halo dúbio de recepcionista de luxo. Ela topa ali com o rubro título do conto —o tailleur que deve vestir é vermelho.

Equilibrando-se em saltos altíssimos, ela é um esguio bibelô que entrega folhetos no paddock, orienta e sorri, sobretudo sorri. O batente não é tranquilo. Uma colega é assediada com brutalidade por um marmanjo, e a chefe delas aparece —para lhes dar uma bronca.

A narradora vai parar no saguão de apostas, onde viciados arriscam o que têm e o que não têm. Os nomes dos cavalos de um páreo referem-se de raspão ao conteúdo de “Rouge”: Meu Desejo Não Tem Fim, Bumerangue, Stormy Weather, Epopeia de Bocage, C’est la Vie!, Black Mojito e Vitória do Proletariado.

FAZ UMA APOSTA – Na louca, a jovem aposta em Vitória do Proletariado, cujo jóquei, bem a propósito, veste blusa vermelha, a cor da revolução socialista. Um rapaz lhe explica que não se arrisca tudo num cavalo só, ainda mais num azarão nervoso como Vitória do Proletariado. Ela mantém a aposta.

É chamada para servir na tribuna dos bacanas e se vê numa cabine indevassável com um tipo que veste paletó feito à mão, canapés amenos, lambris, adornos dourados, madames emperiquitadas, Moët & Chandon a rodo. Ela bebe, se farta, relaxa, fica zonza.

Começa o páreo no qual pôs todas as fichas no vermelho de Vitória do Proletariado — e o grã-fino no puro-sangue Black Mojito. A cena de Maylis de Kérangal está à altura das corridas de “Naná”, de Zola, “Anna Kariênina”, de Tolstói —e de “Narrar ou Descrever?”, de Lukács, que as analisou.

VERMELHO E NEGRO – A cena combina a descrição embolada de um locutor de turfe com a narração imersa na ação da escritora. A poucos metros do fim, o vermelho e o negro —que ecoam o título de um romance de Stendhal— estão emparelhados. Ruínas da utopia competem com cacos da decadência.

E cruzam o disco final!

Será preciso aguardar o veredito do olho mecânico para ver quem venceu, se o rubro pangaré da luta de classes ou o drinque negro dos tempos que correm. O burguês de paletó diz à trabalhadora de salto alto: “Você tem instinto, ‘mademoiselle’, mas, hélas, terá de esperar um pouco mais pela vitória do proletariado” —agora em minúsculas.

Demitida por se exceder, a moça encontra o cara que a aconselhou a desconfiar de Vitória do Proletariado. Ele lhe diz que o cavalo voltará a correr em três semanas — e aí, quem sabe? Oferece-lhe carona na moto e ela aceita. Ele lhe estende um capacete vermelho. O manto negro da noite cai sobre o Bois de Boulogne.

Reeleição tem funcionado e não existe sinal de que ficaríamos melhor sem ela

Tribuna da Internet | Reeleição do presidente fortalece Executivo em  relação ao Legislativo

Charge do JCaesar (Veja)

Samuel Pessôa
Folha

O Senado decidiu pautar o fim da reeleição para os cargos do Executivo. A medida é ruim. Não há nenhum sinal de que a reeleição seja negativa para o país. Argumenta-se que a reeleição estimula irresponsabilidade fiscal e populismo do incumbente para aumentar as chances de reeleição. Mas não parece que, se a reeleição deixar de existir, aumentará a responsabilidade dos prefeitos, dos governadores ou do presidente.

Penso exatamente o contrário. Pergunto ao leitor: não teria sido muito melhor para o país se Juscelino Kubitschek tivesse tido de lidar com a herança maldita que legou para Jânio Quadros?

MAIS CAUTELOSO – Se houvesse a reeleição à época, provavelmente JK teria sido mais cauteloso no seu ambicioso programa de desenvolvimento — que legou a desorganização macroeconômica que desaguou no golpe de 1964 — e arcaria com o custo político de ter que arrumar a bagunça que criou. Certamente a avaliação histórica que se faz de JK hoje seria outra e seria muito mais próxima da realidade de sua administração.

FHC teve de arrumar, no segundo mandato, o desequilíbrio fiscal que criou no primeiro mandato. Fez isso muito bem, mas não o suficiente para manter seu projeto político. Houve transição política em seguida.

Dilma teve de lidar com a herança da nova matriz econômica. Infelizmente, perdeu qualquer condição de liderar o país e foi impedida. Mas tentou e conseguiu algumas vitórias em 2015.

TEMER FOI MELHOR – Temer já recebeu de Dilma 2 uma economia mais arrumada do que Dilma 1 legou para Dilma 2. Segundo a ciência política, a reeleição permite que o voto, além de ser prospectivo, baseado no futuro, seja retrospectivo, isto é, premie o bom governante.

A evidência empírica sugere que a reeleição tem funcionado. Os pesquisadores Claudio Ferraz e Frederico Finan, em artigo na prestigiosa American Economic Review, documentam que a corrupção é menor em prefeitos que podem concorrer à reeleição.

Pedro Cavalcante, em trabalho de 2015, documentou que os prefeitos com melhores pontuações no índice Firjan de Gestão Fiscal têm maior chance de serem reeleitos.

EFEITO MERENDA – Finalmente, João Eudes Bezerra Filho e Samuel Barros Godinho, em trabalho publicado em 2021, documentaram que a má gestão da merenda escolar reduz a probabilidade de ser reeleito. Todas essas evidências validam a hipótese de que há voto retrospectivo no Brasil.

Há uma má vontade com a reeleição em razão da maneira como ela foi criada no Brasil. O dispositivo valeu para os titulares do Executivo que tinham sido eleitos por outra regra. Trata-se de clara violação da autocontenção em democracia, ou de jogo político desleal, ainda que legal. Maculou a imagem de FHC. Mas a forma errada com que foi instituída não deve nos desviar do substantivo. A reeleição tem funcionado bem, e não há nada que indique que estaríamos melhor sem ela.

Há um problema ligado à Presidência da República. Seria muito melhor se adotássemos a regra americana: para a Presidência, após dois mandatos, a pessoa não pode mais concorrer.

PASSADO POLÍTICO – Se essa regra valesse em 2010, Lula teria sido mais cuidadoso na escolha de seu sucessor e teria indicado um político profissional para o suceder. A expectativa da possibilidade de retorno em 2014 fez com que apontasse uma pessoa sem passado político-eleitoral.

Para a Presidência da República, em razão da importância do cargo e da força que tem no Brasil, não é bom que dependamos durante décadas de uma liderança carismática, por mais talentosa e competente que seja. É importante que a regra estimule maior renovação de lideranças.

Por fim, as informações sobre o tema divulgadas em uma rede social pelo professor de ciência política da USP Manoel Galdino foram importantes para o preparo da coluna. Vai meu agradecimento ao mestre.

É proibido lembrar prisões arbitrárias, torturas, luta armada e o legado de 1964

A preocupação de Lula com a promoção de militares | VEJA

Aniversário do golpe de 1964 tornou-se um silêncio covarde

Eduardo Affonso
O Globo

José Murilo de Carvalho escreveu que “são os historiadores, no presente, que constroem o passado”. Em outras palavras — e parafraseando Cecília Meireles —, o passado só é possível reinventado. É, por isso, uma obra aberta: cada época dispõe de informações adicionais, mais ferramentas teóricas e — para o bem e para o mal — novas ideologias.

Sai a história dos vencedores, entra a dos vencidos — a mesma cena, com enquadramento diferente, um recorte que privilegia um personagem em detrimento de outro. Figurantes assumem protagonismo — o que não quer dizer que, sob mirada futura, não possam voltar a ser nota de rodapé. Talvez por isso o tempo que passou seja tão imprevisível quanto o que ainda está por vir.

UM NOVO JESUS – Nossa geração viu Jesus deixar de ser judeu (e loiro, de olhos azuis…) para se tornar um moreno revolucionário palestino e marxista avant la lettre. Viu o Descobrimento do Brasil virar invasão imperialista.

O bandeirante herói da nossa infância — que se embrenhava, intrépido, mata adentro e fez o país dobrar de tamanho — se transformar em vilão escravagista. A celebrada conquista da Amazônia (“inferno verde” onde árvore boa era árvore derrubada) se revelar um desastre ambiental.

Maleável, o passado se presta a todo tipo de fabulação (que era como os antigos chamavam, com mais propriedade, o que hoje denominamos “narrativas”).

MELHOR A LENDA – Sobre o Grito do Ipiranga não ter sido bem um grito — tampouco exatamente às margens do célebre riacho —, Machado de Assis escreveu:

“Minha opinião é que a lenda é melhor do que a história autêntica. A lenda resume todo o fato da independência nacional, ao passo que a versão exata o reduz a uma cousa vaga e anônima”.

A lenda é sempre mais sedutora. Quem vê Deodoro da Fonseca nas pinturas, embalado pelos ideais de ordem e progresso, desembainhando a espada para derrubar o Império decadente e instaurar um regime de mais liberdade e cidadania, talvez não saiba que o marechal, adoentado, atravessou com dificuldade o campo em frente à sua casa, montou brevemente num cavalo, proclamou (arfante) o novo regime, apeou e voltou para a cama. E o país continuaria com mentalidade escravista e colonial.

SEM CIDADÃO – Nas palavras de José Murilo, “na República que não era, a cidade não tinha cidadão”. Mas teriam o mesmo significado, hoje e naquela sexta-feira de 1889, as palavras “cidadão” e “república”?

Estamos às vésperas do 60º aniversário do 31 de março. Tivesse Bolsonaro sido reeleito (ou melado a eleição), não faltariam “intelectuais” dispostos a desconstruir os 21 anos de ditadura e reerguer a fachada da Revolução Redentora que nos livrou do comunismo.

Como quem está no governo é Lula, esperava-se que a data fosse um momento de reflexão, de relembrar os perigos da radicalização, o valor da democracia e do respeito às instituições.

AMNÉSIA COLETIVA – Mas a ordem é entrar em modo amnésia coletiva. Não provocar debates sobre prisões arbitrárias, luta armada, desaparecidos, censura, tortura, direitos humanos (“Circulando, circulando! Não tem nada para ver aqui!”).

Sexagenário, o 64 de Lula não é golpe nem revolução: é um silêncio covarde.

A História vai continuar sendo (re)construída ao sabor tanto da inteligência dos que se dedicam a iluminá-la quanto dos interesses de ocasião dos que preferem deixá-la nas sombras. Oscilando não só entre a lenda e a versão anônima e vaga, mas entre o respeito à memória e o limbo das conveniências.

Lula investe em “boas relações” com militares nos 60 anos do golpe de 64

Ministro da Defesa, José Múcio acertou com comandantes que não haverá manifestação oficial no 31 de março

Ministro José Múcio combinou que não haverá manifestações

Caio Sartori
O Globo

A cerca de duas semanas do aniversário do golpe militar de 1964, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém a estratégia de não fustigar as Forças Armadas. Decisões como a suspensão das celebrações oficiais em memória daquele 31 de março de 60 anos atrás e a demora para recriar a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, no entanto, viraram alvo de críticas de historiadores que pesquisam as relações entre a política e a caserna.

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou este mês a recriação da comissão, uma bandeira do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Desde março de 2023, Lula tem pronta uma minuta de decreto para reinstalar o colegiado, mas ainda não bateu o martelo sobre quando isso ocorrerá.

NOVO GOLPISMO – A interlocutores, conforme noticiou a colunista Bela Megale, Lula tem dito que se preocupa mais com o golpismo contemporâneo, manifestado no processo que culminou no 8 de janeiro do ano passado, do que com o de 1964.

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, já acertou com os comandantes das Forças Armadas, segundo a colunista Malu Gaspar, que não haverá manifestação oficial dos militares da ativa no próximo dia 31 de março. A intenção de Múcio, endossada pelos comandantes, é deixar o assunto de lado, em mais um esforço para distensionar o ambiente entre o Palácio do Planalto e a caserna.

Há forte resistência nas Forças Armadas à volta da comissão, a ponto de o presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Joseli Parente Camelo, ter declarado que o retorno do colegiado é “completamente desnecessário” e falar que não se pode “olhar o país pelo retrovisor”.

MINISTRO REAGE – No fim do ano passado, o ministro Silvio Almeida rebateu Camelo: “Desnecessário é achar que podemos virar a página da História de um passado de dor, simplesmente varrendo a sujeira para debaixo do tapete”.

Na intenção de superar a relação de desconfiança com os militares e em um momento delicado, com depoimentos de ex-comandantes das Forças Armadas sobre a suposta tentativa de golpe de Estado por parte do ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula acaba, na visão de pesquisadores, tentando “virar” de forma equivocada uma página da História.

Recordar o golpe, diz João Roberto Martins Filho, professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e autor de diversos livros sobre a atuação da caserna na República, seria um meio de construir memória e evitar a repetição de capítulos lamentáveis do passado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Lula está corretíssimo. Ele sabe que não é hora de peitar as Forças Armadas. Muito pelo contrário, é preciso haver conciliação, para tocar o país em frente. (C.N.)

Dúvida cruel! Militares que souberam do golpe e nada fizeram devem ser presos?

Cúpulas militares só abortaram plano de golpe por falta de apoio dos EUA.  Por Jeferson Miola

Charge do Miguel Paiva (Brasil 247)

Vera Rosa
Estadão

O Supremo Tribunal Federal (STF) vai punir o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros militares que armaram a trama golpista de 8 de janeiro de 2023. Trata-se de um desfecho dado como favas contadas pela caserna. Nos bastidores, porém, integrantes do Alto Comando do Exército mostram preocupação com o julgamento de oficiais que, embora sabendo do plano para impedir a posse do presidente Lula, nada fizeram.

Há no STF uma divergência em relação a esse ponto. Decano da Corte, o ministro Gilmar Mendes, por exemplo, classificou os depoimentos de ex-comandantes militares divulgados até agora como “extremamente graves”. Não foi só: disse que quem participou de reuniões ou teve acesso a informações sobre ruptura institucional será alvo de processo judicial ainda neste semestre.

VERSÃO CONTRÁRIA – Na outra ponta, o ministro André Mendonça e outros magistrados têm dado sinais de que são contra a tese segundo a qual todo militar que soube das intenções golpistas de Bolsonaro e cruzou os braços se encaixa no crime de prevaricação e, portanto, deve ser preso.

“Qualquer ação de golpe de Estado necessitaria da intervenção de forças militares”, disse Mendonça, que foi ministro da Justiça e chefe da Advocacia-Geral da União (AGU) no governo Bolsonaro.

Os depoimentos à Polícia Federal que revelaram os labirintos da intentona de 8 de janeiro desgastaram ainda mais a imagem das Forças Armadas, às vésperas dos 60 anos do golpe de 31 de março de 1964. Foi por isso que o comandante do Exército, general Tomás Paiva, saiu a campo para defender a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que proíbe a candidatura de militares da ativa a cargos eletivos.

MUDAR DE PROFISSÃO – “O militar que quiser ser político deve mudar de profissão”, afirmou Paiva. “Nós não temos que estar envolvidos com política. Se é de direita ou de esquerda, não interessa”, emendou o presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Joseli Parente.

Depois do julgamento do Supremo, o STM vai se debruçar sobre a situação dos oficiais, alguns deles de alta patente, e medidas disciplinares serão tomadas. O general Walter Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro em 2022, é um dos que estão na mira do STM.

Mensagens obtidas pela Polícia Federal mostram que Braga Netto chamou o então comandante do Exército Freire Gomes de “cagão” por ter se recusado a aderir ao golpe. Além disso, incentivou ataques nas redes sociais ao tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, que à época chefiava a Aeronáutica e foi considerado por ele como “traidor da Pátria”. Deu a mesma “orientação” para que houvesse um bombardeio na direção do general Tomás Paiva, visto como “PT desde criancinha”.

VOZ DE PRISÃO – Coube a Baptista Junior a revelação de que Freire Gomes disse, numa reunião convocada pelo então ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, em 14 de dezembro de 2022, que seria obrigado a dar voz de prisão a Bolsonaro, caso ele tentasse virar a mesa.

Mas, para aliados de Bolsonaro, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil, esta versão foi criada para que os dois militares se livrassem do crime de prevaricação.

“Eles foram omissos”, disse Ciro. Em julho de 2021, o senador testemunhou uma aliança dos oficiais com Braga Netto, então ministro da Defesa, para pressionar a Câmara pela aprovação do voto impresso.

A PORTAS FECHADAS – Pouco mais de um ano depois, em agosto de 2022, Freire Gomes também participou de uma reunião a portas fechadas, na casa de Baptista Junior, com o comandante da Marinha, Almir Garnier, entre outros convidados. Na ocasião, o general reclamou muito do ministro do STF Alexandre de Moraes, que havia tomado posse a poucos dias como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A conversa começou às 20 horas e terminou bem depois da meia noite. Freire Gomes estava enfurecido com o fato de Moraes ter se reunido com os 27 comandantes das Polícias Militares para discutir a segurança das eleições, sem ao menos consultá-lo. Dizia que, pela Constituição, quem comanda as PMs e as forças auxiliares é o Exército.

O tempo fechou e houve ali quem pregasse que a Procuradoria-Geral da República pedisse a prisão de Moraes.

EMERGÊNCIA DO BEM – É certo que muitas revelações ainda estão por vir, mas sobre um fato não há dúvida: desde 2020 Bolsonaro queria decretar uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no País.

Na pandemia da Covid-19, sua intenção era pôr o Exército nas ruas para abrir as lojas. Seria uma “emergência do bem”, dizia ele, quando falava sobre um possível estado de sítio.

Militares que foram contra, como o então ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, caíram no fim de março de 2021. Ainda há muito o que se investigar para impedir que o futuro repita o passado. Mas, como se vê, o planejamento do golpe não ocorreu de uma hora para outra.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Uma matéria instigante, sem dúvida. Mas é preciso entender que o golpe foi “vendido” às Forças Armadas caso houvesse fraude eleitoral, e isso não ficou provado. Essa circunstância “caso houvesse fraude eleitoral” muda tudo, porque o golpe aceito pelos militares era na forma da lei. (C.N.)

Lula sobe o tom e cobra mais trabalho e desenvoltura dos ministros

Um vestido muito especial, que virou personagem da poesia de Adélia Prado

Amor pra mim é ser capaz de permitir... Adélia Prado - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, escritora e poeta mineira Adélia Luzia Prado de Freitas lembra da paixão, que virou um ritual, quando usou “O Vestido” que a faz amante.

O VESTIDO
Adélia Prado

No armário do meu quarto
escondo de tempo e traça meu vestido
estampado em fundo preto.

É de seda macia desenhada em campânulas
vermelhas à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito,
meu vestido de amante.

Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.  

Falta confirmar se Bolsonaro usou seu cartão de vacina falso nos EUA

Charge Zé Dassilva: Fake News da vez - NSC Total

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Deu no g1

A Polícia Federal aguarda dados do Departamento de Justiça dos Estados Unidos para saber se o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Barbosa Cid e outros investigados usaram cartões de vacina falsos para entrar nos EUA no fim de 2022.

Bolsonaro, Cid e mais 15 investigados foram indiciados pela PF nesta segunda (18) por uma série de crimes relacionados a esse esquema. Com o indiciamento, o caso passa às mãos da Procuradoria-Geral da República (PGR), que vai avaliar se há elementos suficientes para denunciar os investigados à Justiça e abrir processo

SEM SIGILO – Nesta terça (19), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou o sigilo do relatório da PF sobre esse caso. Nele, as informações do governo norte-americano constam como “diligências pendentes”.

“A investigação aguarda os dados decorrenteS do Auxilio Jurídico em matéria penal solicitado junto ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos – DOJ, que podem esclarecer se os investigados fizeram uso dos certificados de vacinação ideologicamente falsos quando da entrada e estadia no território norte-americano, podendo configurar novas condutas ilícitas”, diz o documento.

O governo dos Estados Unidos foi acionado porque, em 30 de dezembro de 2022, véspera de encerrar o mandato, o então presidente Jair Bolsonaro viajou para os EUA em avião presidencial – e permaneceu no país até março de 2023, já no governo Lula.

EXIGÊNCIA – Naquele momento, os EUA exigiam comprovante de vacinação contra a Covid para liberar o acesso de estrangeiros ao país. A defesa de Bolsonaro afirma que, como chefe de Estado, o presidente não precisaria ter apresentado o documento.

No entanto, ainda não se sabe se Bolsonaro, em solo americano, teve de apresentar documentos nesse sentido em algum momento.

Ainda que Bolsonaro não tenha usado o documento forjado, a PF também apura a conduta de militares que assessoravam o então presidente – e seguiram em sua equipe após o fim do mandato. É o caso do tenente-coronel Mauro Barbosa Cid e da esposa, Gabriela Cid. E dos militares Max Guilherme Machado de Moura e Sergio Rocha Cordeiro, nomeados seguranças de Bolsonaro para o período pós-presidência.

CERTIFICADOS FALSOS – A PF reuniu provas de que os quatro emitiram certificados falsos de vacinação contra a Covid usando o sistema ConecteSus, do Ministério da Saúde.

Os dados forjados, segundo a investigação, foram inseridos por João Carlos de Sousa Brecha, então secretário de Governo do município de Duque de Caxias.

Em depoimentos à Polícia Federal, Mauro Cid disse que o objetivo da fraude era “ter o cartão falso para uma necessidade qualquer”, e “que uma dessas necessidades seriam as viagens”. Gabriela Cid, também em depoimento à PF, disse que apresentou cartão de vacinação contra a Covid ao embarcar para Miami, na Flórida (EUA), em 14 de dezembro de 2022.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Entre todas as encrencas em que Bolsonaro se meteu, a mais ridícula e patética é a falsificação dos cartões de vacina. É coisa de programa humorístico de televisão, bem rasteiro, mesmo. (C.N.)

Antes de mais nada, é preciso saber em que dia aconteceu a tentativa de golpe

Charge do JCaesar | VEJA

Charge do JCaesar | VEJA

Carlos Newton

As grandes discussões políticas hoje se referem ao golpe que não ocorreu, iria haver uma tentativa, mas morreu antes do nascedouro. Para a imprensa que apoia Lula da Silva e é amplamente majoritária, não há a menor dúvida – Bolsonaro tem de ser preso o mais rápido possível e vários ex-ministros e ex-chefes militares precisam acompanhá-lo no cárcere.

Mas as coisas não são tão simples assim. Primeiro, é preciso definir em que dia teria havido a tentativa de golpe. Teria sido dia 12 de dezembro, com o caos em Brasília? Ou foi na véspera de Natal, quando iam explodir o caminhão-tanque? Quem sabe aconteceu em 8 de janeiro, na Praça dos Três Poderes? O vandalismo teria caracterizado a tentativa de golpe?

Tudo isso é muito importante, porque no Direito Criminal do Brasil e do resto do mundo os atos preparatórios não são punidos, porque não chegou a haver o crime. Os atos preparatórios nada representam juridicamente.

CRONOLOGIA – Antes de entrar no âmago da questão, é preciso lembrar os detalhes. Na campanha eleitoral de 2020, o candidato Jair Bolsonaro levantou suspeitas sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas, porque a Justiça Eleitoral não tomou nenhuma providência para adotar o sistema misto eletrônico e impresso, confirma lei por ele proposta, aprovada pelo Congresso e que está em vigor, sem jamais ter sido adotada.

O Tribunal Superior Eleitoral respondeu convidando as Forças Armadas e outras entidades a formarem comissões de especialistas para analisar o sistema de votação e apuração.

Aí, começa a preparação do golpe, porque os comandantes militares são consultados pelo Planalto e respondem que, caso fosse constatada possibilidade de fraude, haveria intervenção.

SEM COMPROVAÇÃO – Mas os militares acabaram desistindo do acompanhamento e as outras comissões não encontraram irregularidades. No entanto, o golpe continuou de pé, caso fosse comprovado ter havido fraude.

Logo sai o resultado, Lula da Silva vence e o governo não consegue nenhuma evidência de fraude. Com isso, os militares recuam e dão o assunto por encerrado.

Bolsonaro insiste, convoca os ministros militares sobre a minuta. Eles consultam os respectivos Altos Comandos e na reunião seguinte levam o resultado. A Marinha concorda com o golpe, mas o Exército e a Aeronáutica fazem pé firme, o então comandante Freire Gomes diz a Bolsonaro que ele pode ser preso, se insistir.

TERROR NA CAPITAL – Deprimido com a derrota, Bolsonaro sai de cena e Braga Netto toma a frente, junto com o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira. No dia 12 de dezembro, Lula foi diplomado e os “kids pretos” já haviam implantado o terror em Brasília – tentaram ocupar a sede da Polícia Federal, invadiram empresas e postos de gasolina, incendiaram ônibus e veículos, pintaram e bordaram, mas ninguém foi preso.

Na véspera de Natal, dia 24, três aprendizes de terroristas são presos querendo explodir um caminhão-tanque no Aeroporto. Temendo ser acusado e preso, Bolsonaro continua recolhido e no dia 30 viaja para os Estados Unidos.

Dia 8 de janeiro, então, houve a manifestação e o vandalismo na Praça dos Três Poderes, com a prisão de 243 envolvidos. No dia seguinte, no acampamento, mas 1.152 são presos diante do Forte Apache. Mas nada de golpe. Simplesmente, não aconteceu. Então, precisamos buscar a tentativa e identificá-la, para processar legalmente os responsáveis.

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P.S. 1 Vejam que não são infundadas as dúvidas do editor-chefe da Tribuna da Internet, que desde sempre aponta o general Braga Netto como verdadeiro líder do golpe. Vocês acham mesmo que os generais iriam dar um golpe para manter um capitão no poder? Bem, minha ironia não chega a tanto…

P.S. 2 – Repetindo, antes de abrir processo, as investigações precisam apurar com precisão quem estava à frente do golpe. Todos culpam Bolsonaro, mas é bem possível que a tentativa de golpe tenha ocorrido nas mãos de Braga Netto. (C.N.)

Maluf inconsolável! Suíça devolverá ao Brasil US$ 16,3 milhões que ele desviou

Paulo Maluf no Instituto Médico Legal de Brasília, em 2017

Para ser libertado, Maluf fingiu que ainda estava com câncer

Daniel Gullino
O Globo

O Supremo Tribunal Federal Suíço determinou a repatriação para o Brasil de US$ 16,3 milhões que estão em contas do ex-prefeito Paulo Maluf. A informação foi divulgada pela Advocacia-Geral da União (AGU), que também informou que não há mais possibilidade de recurso no caso, e que a expectativa é que os valores sejam devolvidos em breve.

Em dezembro, o Tribunal Penal Federal Suíço havia determinado a devolução, mas a defesa de Maluf recorreu. Agora, a decisão foi confirmada no dia 2 de fevereiro, de acordo com a AGU. O governo brasileiro é representado no caso por uma ação conjunta entre a AGU, o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério da Justiça.

LAVAGEM DE DINHEIRO –  A repatriação diz respeito ao caso no qual Maluf foi condenado a sete anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2017, por lavagem de dinheiro. Essa e uma segunda pena foram extintas no ano passado pelo ministro Edson Fachin, após o ex-prefeito cumprir mais de um terço.

De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Maluf atuou na lavagem de dinheiro que foi desviado de obras públicas e fez remessas ilegais ao exterior. Segundo as investigações, os recursos lavados seriam oriundos principalmente de desvios das verbas para a construção da Avenida Água Espraiada, em São Paulo, quando ele foi prefeito da cidade (1993-1996).

Maluf, que tem 92 anos, ficou preso entre dezembro de 2017 e março de 2018 no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Depois, ganhou direito a prisão domiciliar, que vigorou até 2022, quando ele ganhou liberdade condicional.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Maluf é o mais esperto dos ladrões do erário, dá show em fortes concorrentes como Lula, Dirceu, Cabral e Cunha. Com uma folha corrida enorme, só ficou preso por três meses e meio. Na cadeia, fingia que não conseguia andar até o banheiro, pedia ajuda ao companheiro de cela. Alegou que tinha câncer e ganhou prisão domiciliar. Realmente tinha câncer, mas operou em 1990 e o câncer nunca mais voltou… (C.N.)

Ronnie Lessa fará delação e vai contar quem mandou matar Marielle Franco

STF analisará possibilidade de delação premiada de Ronnie Lessa; saiba  detalhes

Ronnie Lessa está preso há seis anos e resolveu falar

Malu Gaspar
O Globo

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou nesta terça-feira (19) a delação do ex-policial militar Ronnie Lessa no âmbito das investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes, em 2018.

A homologação foi confirmada nesta noite pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, na sede do Ministério da Justiça. “Esta colaboração premiada traz elementos importantíssimos que nos levam a crer que brevemente teremos a solução do assassinato da vereadora Marielle Franco”, declarou Lewandowski durante seu pronunciamento à imprensa em Brasília.

A colaboração de Lessa, preso há quase cinco anos pelo envolvimento no crime, foi fechada há duas semanas com a Polícia Federal (MPF) e o aval do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público estadual (MP-RJ).

A delação chegou às mãos de Alexandre de Moraes em um sorteio eletrônico, após um parlamentar federal ser implicado nas investigações. Ronnie Lessa está detido na penitenciária federal de Campo Grande (MS) e responde a dez ações penais — entre elas, é réu por dois duplos homicídios e tráfico de armas.

Para apontar os mandantes dos homicídios, ele concordou em ter uma espécie de unificação de sentenças, com o estabelecimento de uma pena total que fique entre 20 e 30 anos de prisão.

Com a homologação, ele também passará a cumprir pena em uma unidade carcerária no Rio de Janeiro.

Lessa foi preso em março de 2019 pela participação nas mortes e, na delação do também ex-policial militar Élcio de Queiroz, é apontado como autor dos disparos que mataram a vereadora e o motorista. Lessa foi expulso da corporação e condenado, em 2021, a quatro anos e meio de prisão pela ocultação das armas que teriam sido usadas no crime.

O ex-PM decidiu negociar com a Polícia Federal depois que o também ex-policial Elcio de Queiroz fez uma colaboração premiada em que deu uma série de informações sobre com quem ele se reuniu, conversou e fez negócios no período em que estava planejando o homicídio.

Os dados foram checados e cruzados com outros já disponíveis, como os registros financeiros dos investigados e o envolvimento deles em outros crimes.

O mesmo procedimento foi realizado com as informações fornecidas por Ronnie Lessa, que começou a falar em meados do ano passado.

O acordo em si, porém, só foi fechado em fevereiro, depois que os investigadores, promotores e procuradores da República chegaram a um acordo sobre os benefícios a serem concedidos a Lessa, como a “unificação das penas”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Se Ronnie Lessa não for morto na cadeira, enfim saberemos quem foi o mandante do assassinato da vereadora e do motorista. Antes tarde do que nunca. (C.N.)

Falta a Lula exatamente o que ele cobra cobra ao PT – uma dose de autocrítica

Lula se considera o maior estadista do mundo atual

Dora Kramer
Folha

É sempre bom que governos se preocupem com os preços dos alimentos. Ainda que essa preocupação seja despertada pela queda nos índices de popularidade do presidente da República nas pesquisas, como agora quando Luiz Inácio da Silva corre atrás de conter a carestia geral para reduzir o dano pessoal.

Baixou uma ordem para que se preparem medidas simpáticas ao bolso da população. Isso a fim de tentar inverter o cenário de queda na avaliação positiva do governo, registrado por quatro consultas de opinião na semana passada.

FALTA ALGUMA COISA – Tal empenho pode melhorar as coisas, mas não resolve o problema, porque os índices ruins não se devem apenas à questão econômica. Há mais a considerar.

Na perspectiva do Planalto, a culpa toda é da inflação de alimentos aliada à ineficiência de comunicação das boas ações governamentais. É o tema do momento e tem lá sua razão de ser. Afinal, nos primeiros governos de Lula, as pesquisas qualitativas captavam na seguinte resposta, senão o principal um dos maiores, motivos do sucesso de público: “As comidas estão baratas”. A economia só revela parte da história.

Há duas décadas o tempo era risonho e franco. Ambiente internacional favorável, e internamente uma oposição de punhos de renda. Lidar com a meiguice do PSDB — o vilão que lhe deixou uma herança bendita — era muito mais fácil que encarar a ferocidade da direita e seus extremos.

MUITA ONIPOTÊNCIA – O Lula sem filtro sempre houve, mas mudou o grau de tolerância com o personagem que, para piorar, acrescentou ressentimento e adicionou doses cavalares de onipotência ao seu desempenho.

Não se espera de governante algum a expiação pública. Mas nas conversas palacianas privadas, e principalmente nas tratativas do presidente com seu travesseiro, conviria levar em conta a culpa que o Lula 3 cheio de si tem nesse cartório.

Do contrário, ficará prisioneiro das garras do autoengano e não conseguirá mudar o cenário adverso.

Braga Netto mandou pedir dinheiro ao PL para financiar os “kids pretos”

Os kids pretos

Foram os “kid pretos” que comandaram o vandalismo

Malu Gaspar
O Globo

Entre as muitas mensagens captadas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex ajudante-de-ordens de Jair Bolsonaro, uma em específico está sendo tratada como pista relevante para ajudar a rastrear os financiadores dos atos golpistas do 8 de janeiro.

É o diálogo em que Cid oferece ao major Rafael Martins de Oliveira auxílio de R$ 100 mil para ajudar a bancar a ida de um “pessoal” para Brasília para manifestações bolsonaristas.

“KIDS PRETOS” – As próprias mensagens indicam que o “pessoal” era um grupo de kids pretos, como são chamados os integrantes da tropa de elite do Exército, formada para atuar em missões confidenciais de alto risco e em operações de guerrilha urbana, insurgência e movimentos de resistência. O apelido de kid preto tem a ver com a cor do gorro usado por esses militares.

O que não está escrito na mensagem, mas Cid esclareceu em seu último depoimento, foi que ele recorreu a Braga Netto para conseguir o dinheiro – e o general mandou que procurassem o PL para pedir recursos.

A informação fez com que a PF voltasse a mira para Braga Netto e o partido, onde ele mantinha uma sala e uma equipe, atuando como responsável pela logística e na montagem de palanques regionais para o bolsonarismo.

A PEÇA-CHAVE – Para a PF, Braga Netto é o personagem mais importante para elucidar se e como o grupo ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro organizou e fomentou os ataques golpistas de 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes, quando o plano de dar um golpe de Estado antes da posse de Lula fracassou.

Parte do trabalho envolve descobrir quem pagou a viagem dos “kids pretos” para Brasília, já que a PF acredita que esses oficiais formados nas forças especiais do Exército orientaram a ação dos invasores.

De acordo com fontes ligadas à apuração, imagens das câmeras de segurança da Esplanada e depoimentos dos vândalos que estavam no meio do tumulto naquele dia indicam que havia “kids pretos” em vários pontos estratégicos da Praça dos Três Poderes.

NO COMPUTADOR – As mensagens captadas pela PF no celular de Mauro Cid também indicam que os auxiliares de Bolsonaro contavam com os “kis pretos” para a organização de atos, disseminação de fake news e a própria organização da trama golpista.

Vários delas estão no computador de Braga Netto apreendido na sede do PL. É nesse aparelho que a PF está vasculhando que os investigadores esperam encontrar provas de que o general que já foi ministro da Defesa e da Casa Civil e depois virou vice na chapa pela reeleição em 2022 também coordenava a captação de recursos para o golpe.

As mensagens captadas no celular de Cid mostram que entre novembro e dezembro, quando as discussões sobre a decretação de um golpe de Estado foram feitas no Palácio do Planalto, ele e dois egressos das Forças Especiais, entre eles o major Rafael Martins de Oliveira e o coronel Bernardo Romão Correa Neto, fizeram reuniões com kid pretos em salões de festas de edifícios residenciais na Asa Sul de Brasília onde moram militares que integravam o governo Bolsonaro.

REUNIÃO NA ASA SUL – Uma delas, em 12 de novembro, aconteceu na mesma quadra onde morava Braga Netto, na Asa Sul de Brasília. A PF sustenta que o major Rafael era o “interlocutor” de Cid na coordenação de diversas estratégias adotadas pelos investigados para execução do golpe de Estado.

Nas mensagens, ele pede orientação sobre os locais onde manifestantes devem se concentrar e pede dinheiro para custear a viagem do “pessoal” com “hotel”, “alimentação” e “material”, condensados num documento intitulado “Copa 2022”.

Saber como, quando e por quem esse dinheiro foi distribuído é tarefa prioritária para os investigadores para avançar na apuração dos responsáveis pelo 8 de janeiro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Malu Gaspar está dando show, mostrando que a PF já “comprou” a tese da Tribuna da Internet, de que o verdadeiro líder do golpe era Braga Netto. Aliás, o Exército também “comprou” esta tese e se prepara para tomar a patente de Braga Netto, para declará-lo “morto” e pagar pensão à sua mulher. Ou seja, Braga Netto morreu e não sabe. Como dizia Ibrahim Sued, em sociedade tudo se sabe. (C.N.)

Almirante Garnier pode desmentir e incriminar Freire Gomes e Baptista Jr.

Almirante Almir Garnier Santos/ Voz do Brasil | Agência Brasil

Almir Garnier queria conhecer os depoimentos anteriores

Eliane Cantanhêde
Estadão

Há um alívio nas Forças Armadas com a separação entre o joio golpista e o trigo legalista, depois que o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Jr., ex-comandantes do Exército e da FAB, confirmaram a tentativa de golpe e que o então presidente Jair Bolsonaro a liderava pessoalmente. A nova preocupação, agora, é com um novo depoimento do almirante Almir Garnier, o único dos três comandantes que apoiou e disse a Bolsonaro que poria “as tropas da Marinha” na aventura.

Na primeira reunião ministerial do ano, nesta segunda-feira, o presidente Lula disse que o Brasil correu o “sério risco” de um golpe e chamou o antecessor de “covardão”.

SENSAÇÃO DE ALÍVIO – Já o ministro da Defesa, José Múcio, entrou mudo e saiu calado da reunião, mas depois não escondeu que ele próprio está aliviado com os depoimentos do general e do brigadeiro à PF:

“Agora a suspeição tem nome, saiu do CNPJ (Forças Armadas) para os CPFs (os militares golpistas)”. Traduzindo: não se generaliza mais, não se fala mais em “golpe militar”, nem que “os militares” são golpistas, mas sim que havia militares envolvidos e os comandantes do Exército e da FAB agiram para evitar o golpe.

A torcida na Defesa e nos quartéis generais é que a Polícia Federal não aceite a oferta de um novo depoimento de Garnier, que é investigado, enquanto Freire Gomes e Baptista Jr. são apenas testemunhas, e decidiu ficar calado quando chamado a depor da primeira vez.

UMA NOVA VERSÃO – Perdeu o “timing”, dizem no meio militar, onde o temor é que, ressentido, com raiva, Garnier tente desmentir e incriminar o general e o brigadeiro, que deram versões semelhantes à PF e se sentirem liberados para contar tudo depois de saber que o general Braga Neto “quebrou o espírito de corpo militar”, ao xingá-los aos palavrões e atiçar as redes sociais até contra suas famílias.

Nas Forças também já foi assimilado que mais um general está para sofrer operação de busca e apreensão, o agora deputado Eduardo Pazzuelo, ex-ministro da Saúde e adepto de que “um (Bolsonaro) manda, e outro (ele próprio) obedece”.

E ainda há suspense sobre haver ou não novos oficiais envolvidos, já que a PF tem uma espécie de força-tarefa para fazer a perícia de celulares e computadores apreendidos com os investigados.

31 DE MARÇO – E estamos às vésperas do 31 de março, dia do golpe de 1964, que durou vinte anos e entrou para a história como o regime das torturas, mortes, desaparecimentos e fechamento das instituições.

Dessa vez, o problema do ministro Múcio e dos atuais comandantes não está “do lado de cá”, dos quarteis, mas “de lá”, dos civis, principalmente petistas e até o ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida, que criticam a posição de Lula, ponderada e adequada, de desautorizar qualquer tipo de comemoração ou de condenação.

Há “previsão zero” de bolsões militares da ativa se manifestando pró golpe de 64, só o de sempre: os clubes da reserva, ou “do pijama”, que sempre fazem uma espuma daqui ou dali e não dá em nada.

LENHA NA FOGUEIRA – Se há risco, parece vir de bolsonaristas a favor de 64 e da própria esquerda e de setores mais radicais do PT, que não abrem mão de gritar contra a ditadura militar. Lula, Múcio e os comandantes sabem que não é hora de jogar lenha na fogueira. E o “lado de lá”?

Há também a intenção de tocar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que proíbe a militares disputarem mandatos políticos e depois voltarem à caserna caso derrotados. O líder do governo no Senado, Jacques Wagner (PT), que já foi ministro da Defesa, terá reuniões exatamente para discutir ajustes no texto original e traçar um cronograma de votação.

Uma voz contrária à PEC é do senador Hamilton Mourão, general da reserva e ex-vice presidente de Bolsonaro, mas, nas Forças Armadas, o veto parece ser bastante consensual. Ou bem o camarada é militar, ou bem é político. O que não dá é para atravessar a rua, de lá para cá, voltar cheio de minhocas na cabeça e contaminar os quartéis com a política. Principalmente agora, depois do “sério risco”, como diz Lula, de um real golpe contra a democracia.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Garnier tem direito de depor e de apresentar ampla defesa. A qualquer momeento pode dizer que Freire Gomes e Batista Jr. eram a favor do golpe e depois refluíram, por pressão dos respectivos Altos Comandos. Mas isso não mudará nada, pois a tese da desistência voluntária livra Gomes e Baptista, porque o golpe na chegou a ocorrer. (C.N.)

Governo Biden enfim defende que Netanyahu seja afastado em Israel

US Senate leader Chuck Schumer calls for new Israel elections amid Gaza war  | Israel War on Gaza News | Al Jazeera

Schumer, líder da maioria, pede novas eleições em Israel

Dorrit Harazim
O Globo

Na semana passada houve júbilo no grupo de terráqueos que há 47 anos acompanha a odisseia das naves gêmeas Voyager 1 e 2. Consideradas tesouro nacional pelos americanos, elas são as duas “criaturas” mais paparicadas e estimadas da agência espacial dos Estados Unidos (Nasa). Só que, desde novembro último, criador e criatura deixaram de falar a mesma língua.

Em vez de transmitir dados por meio da linguagem binária com que fora programada, a Voyager 1 passou a emitir apenas um ruído contínuo, indecifrável, semelhante ao sinal de ocupado de um telefone comum.

DE REPENTE… – O enguiço durou quatro longos meses e parecia prenunciar um tristonho réquiem. Na tarde de quarta-feira, porém, sem avisar, a nave se fez viva, pareceu querer restabelecer o diálogo com os humanos. A partir de alguma localização interestelar, emitiu um sinal que percorreu 22 horas e meia até chegar aos computadores da Nasa, e esse fragmento de linguagem conseguiu ser parcialmente decodificado.

Para uma das veteranas do projeto, que acabara de se formar em 1977 quando a primeira sonda foi lançada, o sinal recebido na semana passada lhe deu alegria só comparável ao restabelecimento de um batimento cardíaco.

As Voyagers 1 e 2 foram os primeiros objetos fabricados pelo ser humano a trafegar mais de 20 bilhões de quilômetros até alcançar o espaço interestelar.

AO INFINITO – É uma odisseia sem fim: da Terra ao sistema solar exterior, de lá rumo ao infinito desconhecido. Uma das missões da primeira nave consistiu em explorar um fenômeno que só ocorre uma vez a cada 175 anos — o alinhamento espacial de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.

Sua nave gêmea, enquanto isso, enviava dados sobre os planetas glaciais gigantes. Encerrada essa fase, deixaram a esfera dos planetas conhecidos, saíram da zona de influência solar e seguiram rotas diferentes na escuridão espacial.

Aos poucos, inexoravelmente, as naves haverão de se distanciar ainda mais de nós — o tempo de leitura desta coluna equivale a 16 mil quilômetros a mais percorridos pela Voyager 1 no espaço sideral. Por fim, as gêmeas outrora tagarelas, pelas quais os integrantes do programa desenvolveram apego quase existencial, haverão de se calar para sempre. Permanecerão apenas na nossa memória.

FORA DA ROTA – Assim como as sondas, também nós, bípedes, enferrujamos e envelhecemos, nos desgarramos da rota que nos foi designada. Por vezes, perdemos o comando da linguagem e os códigos de entendimento mínimo. Tome-se o exemplo do impasse em Gaza.

A solução é gritante, para além da fúria terrorista desencadeada pelo Hamas no 7 de Outubro e do morticínio indiscriminado de civis encurralados, ordenado por Benjamin Netanyahu. A solução é a mesma de quatro guerras anteriores. Portanto é conhecida, nem sequer necessita de alterações profundas.

Tampouco é um planeta novo à espera de ser descoberto, já está tudo mapeado. Aguarda apenas uma concertação de líderes dispostos a pagar uma dívida histórica com todo um povo: a criação de um Estado Palestino soberano, determinado a reconhecer e a conviver com o vizinho Israel.

CONTRA NETANYAHU – Três dias atrás, em Washington, o veteraníssimo líder do Partido Democrata no Senado, Chuck Schumer, apoiador histórico da causa israelense, abalou o statu quo ao afirmar que Israel deveria convocar eleições para abrir novos caminhos — leia-se, para derrotar Netanyahu nas urnas.

Vale mencionar que Schumer, antes de fazer discurso tão radical, submeteu-o à apreciação do presidente Joe Biden. (A última vez em que um presidente dos Estados Unidos se deu ao direito de derrubar um governante indigesto foi no Iraque de 2003 — e terminou péssimo.)

No mesmo dia, em artigo para o New York Times, o colunista Thomas Friedman alertou que a situação atual de Israel se torna “radioativa”.

DIZ FRIEDMAN – “Israel tem um primeiro-ministro que aparentemente prefere ver Gaza transformada numa Somália em mãos de senhores da guerra” — escreveu ele — a deixá-la em mãos de alguma autoridade palestina.

Quem deve decidir quanto a liderança de Netanyahu é problemática são os próprios israelenses, por óbvio. Da mesma forma, cabe às esclerosadas lideranças palestinas abandonar o conforto em que se encastelaram.

Se desse horror todo não emergir uma solução capaz de abrigar os dois povos, é porque estamos mais distantes da civilização do que a Voyager 1 está da Terra.

Quando militares revelam urdiduras do golpe, cai a tese de perseguição política

Charge do Céllus (Arquivo Google)

Dora Kramer
Folha

O avanço das investigações, o que vai sendo revelado pouco a pouco sobre as preparações golpistas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos mostra muita coisa. Também já torna possível que pessoas presentes na avenida Paulista em 25 de fevereiro, para corroborar a tese da injustiça, considerem a hipótese de terem sido enganadas.

Não digo os fanáticos nem os adeptos da ruptura institucional, mas aqueles que por alguma razão acreditavam que Bolsonaro fosse vítima de narrativa oposicionista.

SEM PERSEGUIÇÃO – Os depoimentos dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica à Polícia Federal não permitem que se fale em perseguição política.

O general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Júnior foram escolhidos pelo então presidente por serem afinados com ele. Substituiu militares dados como simpatizantes da esquerda, os chamados “melancias”, no intuito de aliar procedimentos.

Portanto, não sendo políticos de profissão, a motivação deles para dizer o que disseram à PF guardou relação apenas com os compromissos de elogio à verdade e à fidelidade aos preceitos inerentes às prerrogativas das fardas estreladas.

AÇÃO GOLPISTA – Dos relatos se depreende a evidência de que houve mesmo uma tentativa de cooptar o estamento militar para uma ação golpista tanto antes quanto depois das eleições de 2022.

Ficamos sabendo que, no final daquele ano, Bolsonaro não estava doente nem deprimido em função da derrota, como se dizia no entorno dele. Estava mesmo é conspirando para tentar achar um jeito de anular o resultado das eleições e continuar no poder.

Não conseguiu porque não teve apoio. E aqui conta a atitude legalista de militares, mas conta também a falta de anuência do Congresso, a firmeza do Supremo Tribunal Federal, o repúdio internacional e o gosto da maioria da sociedade pelo Estado de Direito. A democracia resistiu, a verdade vem sendo posta e, dando tudo certo, não absolverá seus detratores.

Bolsonaro é  indiciado por falsificar certificado da vacina contra a Covid

Fabio Wajngarten e Jair Bolsonaro

Fabio Wajngarten reclama do vazamento dessa notícia

Deu em O Globo

Um dos advogados de Jair Bolsonaro (PL), Fábio Wajngarten, criticou a divulgação nesta terça-feira de que o ex-presidente foi indiciado pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informação. Pelas redes sociais, Wajngarten se queixou do que considerou um vazamento e classificou o fato como lamentável.

“Vazamentos continuam aos montes ou melhor aos litros. É lamentável quando a autoridade usa a imprensa para comunicar ato formal que logicamente deveria ter revestimento técnico e procedimental ao invés de midiático e parcial”, escreveu Wajngarten.

OUTROS INDICIADOS – Além de Bolsonaro, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ) também foram indiciados pelos mesmos crimes. As investigações se referem a suposta fraude em certificados de vacinação contra a Covid-19.

De acordo a PF, o inquérito visava esclarecer se teriam sido forjados dados do certificado de vacinação de parentes do ex-presidente, como de sua filha, Laura Bolsonaro, de 12 anos.

As investigações da PF apontaram também que os documentos de imunização no aplicativo ConecteSUS foram emitidos a partir de computadores do Palácio do Planalto. Os downloads foram feitos dias antes e na própria data da viagem de Bolsonaro a Orlando, na Flórida, para onde foi antes mesmo do fim de seu mandato.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É bobagem reclamar. Foi infantilidade e ignorância Bolsonaro não tomar vacina e impedir que a filha o fizesse. (C.N.)

Foco da Polícia Federal se volta para Braga Neto como arquiteto do golpe

C*gão', 'traidor da pátria': Braga Netto atacou militares que rejeitaram  plano golpista; veja prints

Quem comandava o golpe? Bolsonaro ou Braga Netto?

Deu no Cafezinho

Em uma nova fase das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado que culminou na invasão aos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro do ano passado, a Polícia Federal (PF) direciona sua atenção ao general Walter Braga Neto.

Segundo informações da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, enquanto o papel de Jair Bolsonaro já parece delineado para os investigadores, é Braga Neto quem agora emerge como figura central nas apurações sobre a coordenação e financiamento dos ataques.

NOVAS INFORMAÇÕES – Detalhes revelados pelos ex-comandantes da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, e do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, contribuíram para aprofundar o entendimento dos eventos que levaram à crise de 8 de janeiro.

A participação de Braga Neto, que foi vice na chapa de Bolsonaro nas eleições, ganha contornos de especial interesse para os investigadores, em especial seu envolvimento na mobilização e possível financiamento das ações desestabilizadoras.

Uma troca de mensagens entre Braga Neto e um assessor de Bolsonaro, datada de 27 de dezembro de 2022, indica que ainda havia esforços sendo feitos para impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.

MAIOR ENVOLVIMENTO – Essa e outras evidências levam a PF a considerar a possibilidade de Braga Neto estar envolvido não apenas na articulação das ações de 8 de janeiro, mas também na coordenação de milícias digitais e na captação de recursos para o movimento.

Elementos relacionados a essas questões estão sendo transferidos para um inquérito conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), focado nas milícias digitais e suas atividades subversivas.

A investigação se aprofunda com a análise de materiais apreendidos, incluindo informações do computador de Braga Neto na sede do Partido Liberal (PL), buscando consolidar a rede de conexões e financiadores por trás dos atos que desafiaram a democracia brasileira.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Muito interessante a matéria do Cafezinho, enviada por José Guilherme Schossland. O mais curioso é que pensei (?) que essa informação de que Braga Netto é o verdadeiro líder do golpe tivesse saído aqui na Tribuna da Internet, mas parece que é da autoria de colunista de O Globo. Na verdade, notícia é igual a passarinho. Depois que é liberada, ela voa e não tem mais dono. (C.N.)

A absurda precarização da rede federal de hospitais do Rio de Janeiro

Materiais vencidos custaram mais de R$ 20 milhões

Pedro do Coutto

A reportagem exibida no último domingo no Fantástico, na TV Globo, sobre a situação de calamidade em que se encontram os hospitais federais no Rio de Janeiro revela a necessidade de uma revisão permanente na situação das unidades de Saúde, pois o que foi demonstrado é inacreditável, consequência da irresponsabilidade  e da omissão de setores responsáveis pela manutenção de equipamentos que salvam vidas humanas.

O Fantástico teve acesso com exclusividade aos seis hospitais da rede federal do Rio de Janeiro e constatou uma série de precariedades estruturais, materiais médicos vencidos e milhares de pacientes esperando por atendimento. Por trás desse cenário, uma longa lista de denúncias sobre loteamento nesses hospitais.

DISPUTA – Há décadas, cargos cobiçados na direção das unidades são disputados por grupos políticos, que indicam nomes para funções sem o devido critério técnico. Em muitos casos, esses apadrinhados estão sendo investigados por denúncias sobre ineficiência, negligência e corrupção.

Impressionante o enorme problema que vem se estendendo há muito tempo e que agora a ministra da Saúde, Nísia Trindade, tem pela frente. A situação calamitosa nos hospitais exibidos, vale repetir, vem de um processo lento e gradual. São descalabros em série envolvendo vidas e que faz lembrar que a situação exibida não é um fato isolado, pois pode estar atingindo vários outros setores da administração pública federal.

A ministra garantiu ainda que não haverá qualquer tipo de influência na gestão dessas unidades. “Hoje, não há grupo político dono desses hospitais, do ponto de vista da sua gestão. Isso posso dizer com toda a clareza”. O Tribunal de Contas da União, que fiscaliza as atividades dos hospitais federais no Rio de Janeiro, vai acompanhar de perto a mudança na gestão das unidades.  “A má gestão desses hospitais é crônica, eu posso te dizer que ela é crônica, por isso vamos avaliar. Deve ter muita gente incomodada, mas é necessário dar esse passo”, disse Vital do Rêgo, ministro do TCU.

NA FILA – Referências no atendimento de alta complexidade, os hospitais federais do Rio realizam procedimentos como tratamentos de câncer, cardiologia e transplantes. Para 2024, o orçamento passa de R$ 862 milhões. Ainda assim, mais de 18 mil pacientes aguardam algum tipo de procedimento cirúrgico. Em muitos setores dos hospitais, os aparelhos médicos estão quebrados e caixas de materiais vencidos ou danificados — como utensílios cirúrgicos e próteses ortopédicas, cujo valor passa dos R$ 20 milhões.

É preciso montar equipes permanentes capazes de fiscalizar e apontar a real situação dos serviços voltados para a população, sobretudo a de menor rendimento. Nas condições verificadas, o panorama revelou condições calamitosas, e isso precisa ser revisto e combatido com a máxima urgência. É preciso que novas normas sejam traçadas na atual administração, determinando ações efetivas e de máximo rigor em suas apurações.