Rodrigo Rangel
Metrópoles
A operação que mira Jair Bolsonaro e integrantes do que era o seu staff imediato amarra não apenas personagens de peso diversos, mas também várias pontas das investigações em andamento na Polícia Federal e no Supremo Tribunal Federal.
Ao final, esses inquéritos colocarão o ex-presidente como mentor intelectual e beneficiário final dos atos antidemocráticos em geral e do 8 de janeiro em particular, das malfeitorias do Gabinete do Ódio e da bisbilhotagem política da chamada “Abin paralela”.
ESTAVAM NA MIRA – A lista de alvos, que inclui o próprio Bolsonaro, obrigado pelo ministro Alexandre de Moraes a entregar seu passaporte, ex-ministros e generais de sua estrita confiança reúne os cabeças das várias frentes de ação do bolsonarismo que estão, há meses, na mira das investigações por atentar contra a democracia e as instituições, questionar o sistema eleitoral, disseminar o ódio contra adversários e críticos do governo e fazer espionagem política clandestina.
Para ficar apenas em alguns exemplos, os generais Walter Braga Netto e o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, são suspeitos de agir para reverter o resultado do processo eleitoral.
Como mostrou a coluna ainda em 2022, Braga Netto era o chefão do “QG do Golpe”, a casa bancada pelo PL que tinha servido de comitê central da campanha de Bolsonaro e que, depois da derrota nas eleições, se transformou no centro nervoso das maquinações do bolsonarismo para questionar as urnas, em conexão direta com os acampamentos montados na frente dos quartéis.
OFICIAIS ENVOLVIDOS – Outros oficiais militares de alta patente que também foram visitados pela PF são apontados como partícipes, ainda que silenciosos, da trama que visava, teoricamente, um golpe militar.
Filipe Martins, o discípulo de Olavo de Carvalho que tentava ser o Steve Bannon de Bolsonaro, era um dos cérebros do Gabinete do Ódio, com assento dentro do Planalto. Anderson Torres, como se sabe, foi peça-chave nos ataques de 8 de janeiro.
Mais um exemplo: Marcelo Câmara, oficial do Exército preso, havia servido à inteligência da corporação e era tido dentro dos palácios presidenciais como o homem que organizava para Bolsonaro as informações dos dossiês que chegavam pelas mãos dos integrantes da “Abin particular” do então presidente.
CONJUNTO DA OBRA – Aí estão acumulados, repita-se, Gabinete do Ódio, atos antidemocráticos, núcleo de inteligência política e, por fim, o 8 de janeiro como fecho de todos os estratagemas, a tentativa fatal de fazer com que Bolsonaro se mantivesse, à força, no poder.
Já faz algum tempo que está batido o martelo, entre a Polícia Federal e o STF, que é Jair Bolsonaro o grande personagem por trás de toda a trama.
A ideia não é prendê-lo nem acusá-lo de imediato, mas juntar todas as pontas de modo que, ao final, ficará claro e evidente seu papel de liderança e mentoria em todos esses esquemas, confidenciaram à coluna, sob reserva, fontes diretamente ligadas às apurações.
SEM PASSAPORTE – A apreensão dos passaportes, nesta quinta-feira, é apenas um sinal e uma ação preventiva para evitar que Bolsonaro escape e saia do alcance da Justiça.
Ao menos por ora, o plano não é recorrer a uma prisão preventiva, mas submeter todos os elementos colhidos ao Supremo e aguardar que a Corte – ela própria, um dos alvos preferenciais do bolsonarismo – o julgue. O julgamento, acreditam todos, será célere.
Acredita-se, no eixo PF-STF, que até o início do segundo semestre deste ano será possível avançar para a próxima etapa da estratégia, que buscará a condenação de Bolsonaro à prisão pelo conjunto da obra.