50 anos pós-Nixon, Bolsonaro montou seu próprio Watergate, o Helenogate

Ministro diz que Abin não deve passar por mudanças no próximo governo |  SUPER NOTICIA

Com Heleno de amigo, Bolsonaro nem precisa de inimgo

Francisco Leali
Estadão

É mais do que uma coincidência de datas. O modo de agir com uso da máquina estatal contra o adversário político na eleição vindoura e as trapalhadas do aparato de espionagem estatal colocam o ex-presidente Jair Bolsonaro como um arremedo de Richard Nixon.

Exatos 50 anos separam o escândalo Watergate da nossa versão brazuca do que poderia ser chamada de Helenogate, uma referência ao general da reserva Augusto Heleno que ocupou a chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

EXEMPLO DA CIA – Para lembrar: em 1972, dois jornalistas do Washington Post, Carl Bernstein e Bob Woodward, revelaram as ligações da Casa Branca com uma tentativa de espionar o partido Democrata, adversário do presidente Nixon.

O caso começa com a entrada, na calada da noite, de gente ligada à agência de inteligência do governo norte-americano, a CIA, no escritório dos democratas que ficava no edifício Watergate, em Washington. Os sujeitos foram presos pela polícia local como se fossem apenas ladrões.

Os dois jornalistas contaram ao mundo que era outra coisa. A operação tinha partido da sala de Nixon. Gravações das conversas do presidente com auxiliares serviram, mais tarde, de prova, ainda que alguns trechos tenham sido apagados e não foram entregues ao Congresso que instalara uma investigação. Encurralado, o presidente dos EUA renunciou em 1974.

MANDA GRAVAR – Em 2022, cinco décadas mais tarde, o então presidente Jair Bolsonaro reúne a cúpula do governo do Palácio do Planalto. Manda gravar a reunião. O vídeo, apreendido pela Polícia Federal e tornado público esta semana, lá no finalzinho mostra o chefe do GSI, general da reserva Augusto Heleno, falando mais do que devia.

Como os espiões atrapalhados lá do Watergate que se deixaram prender, Heleno primeiro diz que o tema não pode vazar. Depois revela que conversou com a direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), simulacro da CIA, para pôr agentes infiltrados junto aos candidatos adversários. Confissão de espionagem estatal com fins eleitoreiros bancada por dinheiro público.

“Já conversei ontem com o novo diretor da Abin. Nós vamos montar um sistema para acompanhar os dois lados do que estão fazendo. O problema todo disso é se vazar. Se houver qualquer invasão, infiltração…”, disse Heleno na reunião de julho de 2022.

FALOU DEMAIS – Foi rapidamente interrompido por Bolsonaro para não entregar publicamente o plano: “General, peço que o senhor não fale, por favor. Não prossiga mais na sua observação aqui. Eu peço ao senhor que não prossiga na tua observação. Se a gente começar a falar ‘não vazar’, já esquece, pode vazar. Então a gente conversa em particular lá na nossa sala, o que a Abin está fazendo”.

O episódio poderia ser só mais uma das bravatas de Heleno. Mas o próprio Bolsonaro já percebeu que aquele trecho do vídeo lhe traz um novo problema.

Até aqui investigado por tentar dar um golpe, também pode ser por usar a máquina estatal contra adversário eleitoral. Neste sábado de Carnaval, já se apressou para dizer que não tem nada a ver com o que Heleno fez ou deixou de fazer.

ABIN PARALELA – Outra frente de apuração sobre a criação de uma Abin paralela no governo Bolsonaro indica que a gestão do ex-presidente parecia adepta ao uso do aparato oficial para seguir os passos espionando adversários, sejam eles políticos ou magistrados.

As semelhanças entre Nixon e Bolsonaro se limitam aos atropelos da arapongagem. Porque lá na terra do Tio Sam, o ex-presidente republicano entrou para a história como aquele que renunciou e não pode mais ter protagonismo no mundo político.

Por aqui, Bolsonaro segue popular para uma parcela dos eleitores. E, até onde se tem notícia, seus seguidores continuam fiéis, mesmo com a PF batendo à porta e expondo os indícios de crime presidencial a viva voz.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nada de novo no front ocidental. Já se sabia do uso indevido da Abin desde quando houve aquela famosa reunião no Planalto, em 25 de agosto de 2020, com a presença de Bolsonaro, Heleno, Alexandre Ramagem (então, diretor-geral da Agência), o senador Flávio Bolsonaro e suas advogadas no Rio, Luciana Pires e Julian Bierrenbach. A reunião foi para acertar como a Abin poderia auxiliar o filho Zero Um no processo das raspadinhas. No dia seguinte, 26 de agosto, a advogada voltou ao Planalto para acertar detalhes. Como dizia Ibrahim Sued, em sociedade tudo se sabe. (C.N.)

Clubes Militares quebram o silêncio e lamentam “exposição” de generais

Clube militar cita apreensão com investigação sobre golpe - 16/02/2024 - Poder - Folha

Citados: Paulo Sérgio, Heleno, Garnier, Braga e Estevam

Italo Nogueira
Folha

Os clubes Militar, Naval e de Aeronáutica afirmaram em nota divulgada nesta sexta-feira (16) observar com “apreensão a exposição de distintos chefes militares” nas investigações sobre a suposta tentativa de golpe para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder. A nota afirma ser “pouco sustentável” o envolvimento desses militares na trama golpista apontada pela Polícia Federal.

“Observamos, com apreensão, a exposição de distintos chefes militares, associados a atos que supostamente atentaram o Estado Democrático de Direito – algo que, cumpre registrar, consideradas as suas trajetórias de vida, avaliamos ser pouco sustentável”, diz a nota.

LIMITES LEGAIS – “É imprescindível que os processos em andamento sejam conduzidos com responsabilidade e imparcialidade, respeitando os limites legais, o devido processo legal, a igualdade perante a lei, o contraditório e a ampla defesa. A acuidade dessa abordagem é vital para contribuir que se evite a deterioração das relações no âmbito militar.”

A Polícia Federal encontrou uma série de mensagens nos celulares do tenente-coronel Mauro Cid e de outros investigados que apontam que ao menos cinco oficiais-generais das Forças Armadas discutiram com o ex-presidente a edição de um decreto golpista contra a eleição de Lula (PT).

Cinco oficiais-generais de quatro estrelas – o topo da carreira militar – foram atingidos pela operação da PF: os generais Walter Braga Netto (candidato a vice-presidente de Bolsonaro em 2022), Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), Estevam Teophilo (ex-chefe do Coter, Comando de Operações Terrestres) e Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e o almirante Almir Garnier (ex-comandante da Marinha). Todos estão na reserva. Theophilo foi o último a deixar a ativa – comandou o Coter até 1º de dezembro de 2023.

PAI & FILHO – A nota é assinada pelo general Sérgio Tavares Carneiro, presidente do Clube Militar. Ele é pai de Victor Carneiro, que sucedeu Alexandre Ramagem na direção da Abin — e foi citado pelo ex-ministro e general Augusto Heleno em plano para infiltrar agentes do órgão nas campanhas de adversários de Bolsonaro na eleição de 2022.

A fala de Heleno sobre Carneiro ocorreu em reunião de julho de 2022 com Bolsonaro e demais ministros, a três meses das eleições, em meio a um longo debate entre eles de cenários golpistas sobre a disputa presidencial. A gravação da reunião foi obtida pela Polícia Federal.

Também assinam a nota o almirante João Afonso Prado Maia, presidente do Clube Naval, e o brigadeiro Marco Antonio Carballo Perez, presidente do Clube de Aeronáutica.

SEM DISSENSO – “Àqueles que nos demandam posições extremadas, reiteramos que não promoveremos o dissenso no seio das Forças Armadas, objetivo permanente daqueles que não comungam de nossos ideais, valores e amor à Pátria, ignorando o nosso juramento de defendê-la, se necessário, com o sacrifício de nossas próprias vidas”, diz o comunicado.

A manifestação ocorre mais de uma semana após a deflagração da operação da PF. Sob reserva, diretores do Clube Militar citaram diferentes fatores como justificativa para se manterem silentes no período, mesmo diante do que enxergam como arbitrariedades do STF (Supremo Tribunal Federal) contra oficiais do Exército.

DÚVIDAS E NOTA FALSA – Os motivos para a postura vão desde as dúvidas que pairam sobre o impacto causado pelas mensagens do ex-ministro e general Braga Netto contra os chefes militares até o parentesco do presidente do Clube Militar com o ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) citado nas investigações.

Uma nota falsa circulou nas redes sociais com a assinatura dos presidentes dos clubes na sexta-feira (9). O texto dizia que os militares não poderiam mais “tolerar a atuação ilegal e corrupta do Poder Judiciário” e que oficiais-generais que se “tornaram lacaios do crime devem compreender que não serão mais tolerados”.

O comunicado circulou em grupos de militares no WhatsApp e gerou reação entre diretores dos clubes. “Os presidentes do Clube Naval, do Clube Militar e do Clube da Aeronáutica reiteram se tratar de uma FAKE NEWS”, escreveram em nota oficial.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, não dá mais para refutar. Bolsonaro & Cia tentaram dar o golpe, da maneira mais primária possível. E o resultado é essa nação dividida pelo ódio. E quem se interessa? (C.N.)

No julgamento dos golpistas, Folha pede que se faça Justiça, sem haver vingança

Charge do Zé Dassilva: Novo Ministério - NSC Total

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Editorial da Folha

Ao que parece, chegará a hora em que integrantes do alto escalão durante a administração Jair Bolsonaro (PL), incluindo o ex-mandatário, terão de prestar contas à Justiça. O presidente e seu séquito abusaram da irresponsabilidade.

Se também cometeram crimes de lesa-democracia, é algo a ser decidido num quadro que precisará ser justo e regular, com amplo direito de defesa e o devido processo legal.

FATOS PRELIMINARES – Por ora conhecem-se fatos preliminares de uma investigação, graves o bastante para justificar aprofundamento. Há indícios de que um círculo de autoridades civis e militares em torno de Bolsonaro tramou subverter a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo a Polícia Federal, debates sobre um decreto golpista —no molde da minuta achada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, fato revelado pela Folha— foram travados após o segundo turno pelo presidente da República, que teria ordenado supostas correções na proposta e, com ela, assediado as Forças Armadas.

A investigação confirma que o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, se negou a abonar aventuras, mas lança dúvidas sobre as condutas de um então integrante do Alto Comando da força terrestre e do chefe da Marinha. São informações iniciais, ainda carentes de maior escrutínio.

GOLPE IMPOSSÍVEL – O golpe não tinha como se consumar, dada a oposição da institucionalidade, incluindo o comando do Exército, e da sociedade a retrocessos autoritários, o que não exclui a hipótese de indivíduos inconformados com a derrota nas urnas terem urdido uma virada de mesa.

Para fins da aplicação da lei de defesa da democracia, sancionada por Bolsonaro em setembro de 2021, não é preciso desfechar o putsch; basta a tentativa de fazê-lo para o cometimento dos crimes de golpe de Estado e de abolição do Estado de Direito.

Seria precipitado e impróprio, nesta fase dos desdobramentos, concluir que o ex-presidente e os outros investigados incidiram nesses delitos. Os trabalhos policiais estão inconclusos, e o crivo incipiente da Procuradoria-Geral nem sequer produziu denúncia formal.

ACUSADOR E VÍTIMA – Seria, isso sim, o momento recomendável para dar cabo das heterodoxias nas apurações.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, além de condutor anômalo do inquérito e alvo frequente de ataques bolsonaristas, agora figura como uma das vítimas da suposta tentativa de golpe —sua prisão teria sido tramada.

O melhor é que a PGR assuma o papel de parte acusadora, e os 11 ministros do STF se recolham para a posição de julgadores imparciais de uma provável ação penal, ouvindo com equidistância os argumentos de acusação e defesa.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente editorial da Folha, uma aula de sensatez num momento conturbado. Cabe apenas um reparo. A Lei 14.197, sancionada por Bolsonaro em 2021, regula os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e o golpe de Estado, para punir a tentativa. Acontece que uma coisa é “planejar” e outra coisa, muito diferente, é “tentar”. É preciso raciocinar sobre essa diferenciação. (C.N.)

Mauro Cid atuava como agente duplo e informava o Exército sobre Bolsonaro

O que a PF encontrou no celular de Mauro Cid sobre plano | Política

Mauro Cid informava o comandante do Exército pelo celular

Johanns Eller
O Globo

Diálogos obtidos pela Polícia Federal (PF) na investigação do plano golpista para reverter a vitória de Lula nas eleições de 2022 demonstram que o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, recebeu informações constantes do tenente-coronel Mauro Cid sobre os planos de golpe de Jair Bolsonaro e aliados ao longo de 31 dias, através de um aplicativo institucional da Força militar.

Na representação que embasou a operação Tempus Veritatis, deflagrada no último dia 8 com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), a PF cita cinco áudios encaminhados pelo então ajudante de ordens de Bolsonaro a um contato que, pela “análise dos dados e a contextualização” a partir das demais evidências colhidas pelos policiais, “indicam que as mensagens tinham como destinatário o então comandante do Exército, general Freire Gomes”.

DETALHES DO GOLPISMO – Entre os dias 8 de novembro e 9 de dezembro de 2022, Mauro Cid, que é oficial da ativa, relatou ao general detalhes das tratativas golpistas discutidas a portas fechadas, entre eles a decisão de Bolsonaro de “enxugar” a minuta do golpe e manter apenas a determinação da prisão do ministro Alexandre de Moraes, e excluir outras autoridades da lista.

“Hoje o que ele [Bolsonaro] fez de manhã? Ele enxugou o decreto, né? Aqueles considerandos que o senhor viu e enxugou o decreto, fez um decreto muito mais, é… Resumido, não é?”, disse Mauro Cid no áudio enviado ao celular que a PF diz ser de Freire Gomes às 12h33m do dia 9 de dezembro.

Dois dias antes, de acordo com o que a PF constatou nos registros da portaria do Palácio da Alvorada, estiveram lá o próprio general Freire Gomes e o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, além do ministro da Defesa, o general da reserva e ex-comandante do Exército Paulo Sérgio Nogueira.

MOSTROU A MINUTA – Em sua delação, o tenente-coronel Mauro Cid, que era ajudante de ordens do ex-presidente, afirmou que nesse dia Bolsonaro apresentou a minuta do decreto que previa a prisão de Moraes – além da convocação de novas eleições, e, por consequência, com anulação da vitória de Lula – aos comandantes com o objetivo de sondar os ânimos quanto ao plano que estava em curso.

Dois minutos depois da primeira mensagem, Cid ainda enviou outro áudio que, para os investigadores, ratifica “[a relação das] pessoas que participaram da reunião no dia 07/12/2022 e a existência da minuta que foi alterada e resumida por Bolsonaro.

“Ele mexeu naquele decreto, né. Ele reduziu bastante [a minuta] e fez algo muito mais direto, objetivo, curto e limitado”, afirma a transcrição.

PRENDER APENAS MORAES – Na delação, ele explicou que nessa ocasião o ex-presidente mandou tirar da minuta a ordem de prisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo, e do presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deixando apenas a ordem para prender Alexandre de Moraes.

Neste mesmo trecho, o tenente-coronel dá a entender que Bolsonaro estava ciente das potenciais implicações de um fracasso da aventura golpista.

“Mas ele [Bolsonaro] ainda tá naquela linha do que foi discutido, [do] que foi conversado com os comandantes, né, e com o ministro da Defesa”, afirmou Cid. “Ele entende o que pode acontecer”.

SEM RETORNO? – Embora traga a transcrição dos áudios de Cid, o relatório não especifica se Freire Gomes respondeu as mensagens enviadas por um dos aplicativos de mensagens utilizado pelo Exército, o UNA.

Fontes da PF já anteciparam que vão chamar o ex-comandante a depor para esclarecer o teor das conversas com Bolsonaro. Até agora, de acordo com a própria representação ao ministro Alexandre de Moraes, não está descartada a hipótese de incriminar os comandantes militares diante de uma tentativa de golpe.

O que o material revela é que Mauro Cid não se preocupou sequer em disfarçar nos áudios o que estava sendo discutido. Uma possível explicação para essa falta de cerimônia é o fato de que Cid e Freire Gomes já vinham conversando sobre a mobilização dos bolsonaristas desde novembro.

BOLSONARO RECUARA – Na primeira comunicação documentada pela PF, no dia 8 de novembro, Cid procurou o chefe do Exército para relatar que Bolsonaro teria desistido de “qualquer ação mais contundente” no questionamento às urnas.

Mais adiante, no dia 11 de novembro, o ajudante de ordens de Bolsonaro comemorou a repercussão de uma carta conjunta dos comandantes das Forças Armadas que defendiam a “legitimidade” das manifestações que passaram a ocorrer nas portas dos quartéis depois da vitória de Lula nas eleições.

O documento, que Freire Gomes também subscreveu, dizia que as instituições reafirmavam “seu compromisso irrestrito e inabalável com o povo brasileiro” no contexto dos atos bolsonaristas e taxava como “condenáveis” eventuais restrições às manifestações diante de instalações militares por decisão do Judiciário ou outros agentes públicos.

PASSO À FRENTE – “Então, com a carta das Forças Armadas, o pessoal elogiou muito”, afirma Cid num áudio enviado em 11 de novembro e transcrito na representação da PF.

“Eles estão se sentindo seguro [sic] para dar um passo à frente. Então, os organizadores dos movimentos vão canalizar todos os movimentos previstos [inaudível] o dia 15 como ápice, a partir de agora. Tá pro Congresso, STF, Praça dos Três Poderes basicamente”.

O ajudante de ordens prossegue citando o medo de bolsonaristas de serem presos por ordem de Alexandre de Moraes. “E o que eles entenderam dessa carta? Que, obviamente, os movimentos vão ser convocados de forma pacífica, e eles estão sentindo o respaldo das Forças Armadas, porque agora esses movimentos, e é o que os caras queriam, vão botar o nome deles no circuito para aparecer [sic] lideranças que puxam o movimento para o STF e o Congresso”.

EM 15 DE NOVEMBRO – A mobilização de fato aconteceu no feriado da Proclamação da República e reuniu milhares de bolsonaristas em diversas capitais brasileiras que pediam por uma intervenção militar para manter Bolsonaro no poder.

Para a PF, o áudio em questão demonstra a existência de uma interlocução entre as lideranças dos atos golpistas com integrantes do governo Bolsonaro, com “alinhamento de condutas” e participação de militares para respaldar e intensificar “os movimentos de ataque às instituições”.

“Percebe-se que no dia 11 de novembro de 2022 já havia a intenção de que as manifestações fossem direcionadas fisicamente contra o STF e o Congresso Nacional, fato que efetivamente ocorreu no dia 8 de janeiro de 2023”, afirmam os investigadores da PF na representação ao Supremo, em referência à invasão das sedes dos Três Poderes por bolsonaristas golpistas.

BLOQUEIO DE CONTAS – A interação entre Cid e Freire Gomes continua no dia seguinte aos atos do feriado de 15 de novembro – dessa vez com o ajudante de ordens de Bolsonaro preocupado com o bloqueio de 43 contas de pessoas físicas e jurídicas ligadas ao agronegócio, por envolvimento no bloqueio de rodovias e acampamentos nos quartéis em defesa de uma intervenção militar.

“General! Os líderes, né? Os empresários do agro que estão financiando, colocando carro de som em Brasília aqui tiveram os bens bloqueados e foram chamados para depor”, relatou Cid na ocasião.

Cid chega a contar a Freire Gomes até sobre a reunião entre Bolsonaro e o general Estevam Theophilo, então comandante do Comando de Operações Terrestres (Coter) que, como contamos no blog da Malu Gaspar, colocou suas tropas à disposição para o golpe bolsonarista.

OUTRA VERSÃO – No relato ao comandante do Exército , porém, Cid conta uma história diferente, em uma aparente tentativa de não melindrar o comandante pelo fato de o presidente da República estar falando diretamente com um subordinado hierárquico.

“Acho que a ideia de falar com o general Theophilo é conversar. Como ele [Bolsonaro], né, tá muito preso no Alvorada, então é uma maneira dele desabafar e falar um pouco [sobre] o que ele tá pensando e ouvir, né”, disse Cid.

“Não que [Theophilo] possa dar uma solução, mas que, né… E eu acho que se não botar pilha, digamos assim, se não botar lenha na fogueira, ele mantém aquela linha que tava sendo, que tá sendo tomada inicialmente”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Sensacional esse relato de Johanns Eller. Mostra que Mauro Cid atuava como agente duplo, para se garantir no Exército, caso o golpe não desse certo. Falta saber de Freire Gomes transmitia essas informações ao Alto Comando ou as guardava para si, para dar um golpe dentro do golpe. O general Freire Gomes até agora tem se mantido em silêncio, mas terá de depor e se explicar. (C.N.)

Moraes decide que advogados podem conversar, mas os investigados, não

Simonetti, da OAB, reage a citação de Bolsonaro em reunião golpista

Simonetti ficou satisfeiro com a resposta de Moraes

Rubens Anater e Pepita Ortega
Estadão

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, decidiu manter a decisão que proíbe a comunicação entre os investigados da Operação Tempus Veritatis. Em resposta à Ordem dos Advogados do Brasil,afirmou que “diversamente do alegado pelo Conselho Federal da OAB, em momento algum houve proibição de comunicação entre advogados ou qualquer restrição ao exercício da essencial e imprescindível atividade da advocacia para a consecução efetiva do devido processo legal e da ampla defesa”.

Segundo Moraes, a proibição de manter contato vale apenas entre os investigados, inclusive se essa comunicação for feita por meio dos advogados. “Em momento algum houve qualquer vedação de comunicação entre os advogados e seus clientes ou entre os diversos advogados dos investigados”, afirmou.

DIREITO DE DEFESA – Na ocasião da nota do dia 9, a entidade interpretou que Moraes estaria restringindo direitos da categoria e pediu que a proibição de comunicação entre os alvos da investigação “não seja extensiva aos patronos (advogados) constituídos para representação dos clientes investigados, de modo a garantir o direito à liberdade do exercício profissional e o direito à comunicação resguardado constitucionalmente”.

Em nota divulgada nesta sexta-feira, 16, a OAB celebrou a resposta de Moraes, afirmando que o ministro decidiu “que não há proibição ou limite para as comunicações entre advogados de investigados em operações da Polícia Federal”.

O presidente nacional da OAB, Beto Simonetti, afirmou, na nota, que a decisão do ministro afasta qualquer interpretação divergente e reforça as prerrogativas da advocacia.

DISSE SIMONETTI – “Não se pode confundir o advogado com seus clientes e o texto original permitia que algumas pessoas tivessem essa interpretação. Agora, após atuação da Ordem, fica esclarecido que não há essa limitação, de acordo com o que dizem a lei e as prerrogativas”.

Simonetti afirma ainda que o STF e o ministro Alexandre têm sido sensíveis aos pleitos da entidade relativos às prerrogativas.

“Quando falamos de prerrogativas estamos nos referindo aos direitos e garantias individuais dos cidadãos. O STF e o ministro Alexandre de Moraes têm dado um tratamento exemplar ao tema ao reconhecer as observações da OAB sobre a necessidade de respeito às prerrogativas”, diz Simonetti.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Simonetti não deveria ter bajulado Moraes como “tratamento exemplar” aos investigados. Como presidente da OAB, cabe-lhe protestar contra os “exageros e exotismos” de Moraes. Proibir que os investigados conversem e permitir que seus advogados o façam, sem dúvida, compõem uma decisão inócua, pois os advogados podem combinar a estratégia entre si e depois passar aos clientes. Toda defesa tem de ser livre, não há alternativa. Por causa desses exageros do Moraes, o advogado de Bolsonaro abandonou a defesa. Por fim, Moraes nem percebe que também está impossibilitando que os investigados trabalhem, porque Bolsonaro, Braga Netto trabalham para o partido, que tem dono e chama-se Valdemar Costa Neto. (C.N.)  

E pensar que foi o Rolex de brilhantes que abriu as investigações do golpe…

Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense

“Os quatro relógios” é um dos mais de 80 livros da romancista britânica Agatha Christie, cujo verdadeiro nome era Dame Agatha Mary Clarissa Mallowan (1890-1976), com mais de 4 bilhões de romances policiais vendidos. A história começa quando Colin Lamb, um agente do serviço secreto britânico, visita o condomínio Wilbraham Crescent, na cidadezinha de Crowdean, e toma conhecimento de um estranho assassinato: um homem desconhecido fora encontrado apunhalado na sala da casa número 19, cuja proprietária é uma senhora cega, Mrs. Pebmarsh.

Na cena do crime são encontrados quatro relógios que marcam todos a mesma hora, 4h13, mas que não pertenciam à dona da casa. A estenógrafa Sheila Webb trabalhava para Pebmarsh, que não tinha solicitado nenhum serviço de estenografia. Diante do mistério, Lamb desafia seu amigo Hercule Poirot — o detetive de Assassinato no Expresso Oriente, seu personagem mais conhecido — a desvendar o crime sem sair da poltrona. Com perguntas objetivas, o famoso detetive soluciona o caso.

ATITUDE SOVINA – É mais ou menos o que está sendo feito pela Polícia Federal, sob a supervisão do ministro Alexandre de Moraes. Por ironia, a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro, com a suposta participação direta do ex-presidente Jair Bolsonaro, está sendo desnudada em razão de uma atitude “muquirana” (avara, sovina; avarento, mão-fechada, unha-de-fome): a venda de um relógio, o que seria, digamos, uma banalidade, não se tratasse de uma joia avaliada em US$ 68 mil (R$ 388,6 mil, na cotação de ontem), recebida como presente de Estado da Arábia Saudita, e que deveria ter sido incorporado ao patrimônio da União.

Como os relógios de Agatha Christie, esse era o fio da meada para chegar aos principais responsáveis pelos atos de 8 de janeiro. No dia 11 de outubro do ano passado, com base nessa informação, extraída de um celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid (que havia sido preso durante a investigação da falsificação do atestado de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS) do então presidente da República), a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão contra o general Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid.

OUTROS ENVOLVIDOS – O ex-advogado de Bolsonaro Frederick Wassef e o tenente do Exército Osmar Crivelatti, outro ex-ajudante de ordens do ex-presidente, também foram alvos da operação.

A PF apurou que o ex-ajudante de ordens da Presidência da República Mauro Cid teria vendido e depois recomprado o Rolex cravejado de brilhantes. Segundo as investigações, em 13 de junho 2022, Mauro Cid viajara para a cidade de Willow Grove, nos Estados Unidos, onde vendeu o relógio. Esse dinheiro foi depositado na conta do pai dele.

Nove meses depois, o advogado Frederick Wassef recuperou o relógio e o entregou novamente a Cid filho, que retornou a Brasília e o transferiu para Osmar Crivelatti. Em 4 de abril de 2023, por exigência do Tribunal de Contas da União (TCU), os advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro depositaram o relógio, com outras joias, numa agência da Caixa, em Brasília.

DELAÇÃO PREMIADA – Em razão do envolvimento do seu pai no episódio e por apelos da família, Mauro Cid decidiu fazer delação premiada e contar tudo que sabia. Seu celular é uma espécie de diário de bordo da conspiração para manter Bolsonaro no poder. A recente operação da Polícia Federal foi realizada com objetivo de comprovar os fatos relatados na sua colaboração premiada.

Apreendido na operação de busca e apreensão na sede do PL, em Brasília, em tom de discurso oficial, um documento apócrifo anuncia a decretação de um estado de sítio e da garantia da lei e da ordem (GLO) no país.

Estava na sala de Bolsonaro, que teve seu passaporte apreendido e foi proibido de sair do país. O presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, foi preso em flagrante por porte de arma e de uma pepita de ouro sem registros.

PRINCIPAIS ALVOS – Os generais Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e candidato a vice-presidente, e Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), estão entre os alvos da operação.

Num dos diálogos registrados no celular de Mauro Cid, Braga Netto chama o então comandante do Exército, general Freire Gomes, de “cagão” e ordena que militantes radicais cerquem a casa do militar, por não ter aderido ao plano golpista. Em outra gravação, o general Augusto Heleno, defende uma “virada de mesa, um soco na mesa” antes das eleições presidenciais.

Todos estariam envolvidos diretamente nos atos de 8 de janeiro, quando milhares de manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes — Palácio do Planalto, Congresso e Supremo. Segundo a PF, os investigados se uniram com objetivo de criar condições para uma intervenção militar que mantivesse Bolsonaro no poder. E pensar que tudo isso está sendo investigado por causa de um relógio…

Para peitar o Supremo, Bolsonaro está confiante que terá apoio do Congresso

Ao convocar ato para o dia 25, Bolsonaro parece querer dar o impulso necessário para que parlamentares encampem enfrentamento ao Judiciário

Bolsonaro pretende lotar a Avenida Paulista no dia 25

William Waack
Estadão

Foi sempre difícil estabelecer o que era estratégia ou fantasia na cabeça do personagem político Jair Bolsonaro. Sempre pareceu mais “sentir” do que “pensar” em como agir. Juntou delírios (como o negacionismo da ciência) a uma por vezes precisa avaliação da realidade política e social, como foi a descrição que fez, no já famoso vídeo da reunião ministerial de julho de 2022, da própria vitória em 2018. “Foi uma cagada”, disse.

De fato, é uma boa definição da excepcionalidade da conjunção de fatores que o permitiu derrotar as engrenagens políticas, o “sistema”, as previsões. De lá para cá, Bolsonaro parece ter acreditado que a excepcionalidade sempre se repetiria a seu favor.

APOIO NO CONGRESSO – Na leitura que faz hoje da realidade política, há um componente de cálculo a partir de fatos, e menos esperanças de que eventuais “milhões” na Paulista no dia 25 o livrem da cadeia.

O ex-presidente conta com uma considerável corrente dentro do Congresso disposta a peitar o STF.

Por sua vez, os parlamentares ecoam em parte uma disseminada visão crítica do Judiciário em geral e do STF em particular em amplos setores da sociedade. Que se alastra por confissões religiosas (discussão sobre aborto), categorias profissionais, segmentos da economia (especialmente o agro) e talvez configure o principal elo de “conexão” das narrativas radicais bolsonaristas com espectros mais amplos da opinião pública.

IMPULSO POPULAR – Talvez o que Bolsonaro espere do chamado às ruas seja dar ao Congresso um tipo de “impulso popular” para seguir adiante na tramitação de medidas voltadas para “cercar” a atividade do STF.

Além, claro, de solidificar sua imagem de “vítima”, algo que seu principal adversário soube tão bem explorar a vida política inteira.

Figuras influentes dentro do Supremo perceberam há tempos o tipo de armadilha política na qual a Corte acabou caindo. E têm reiterado a necessidade de retorno à “normalidade” jurídica (qual? quando?) e de evitar a qualquer custo a ideia de “fazer história” e conduzir a sociedade para onde ela mesma não sabe que deveria ir.

ALVO É O BOLSONARISMO – O problema é que fazer o gênio voltar para a garrafa não depende mais da postura individual de um ministro como Alexandre de Moraes e seus inquéritos e investigações. O dinamismo político disso tudo é próprio e dificilmente se controla.

O alvo é o bolsonarismo, sua principal figura política e o que tentaram armar. Bolsonaro insiste na linha de defesa de afirmar que tudo não passa de uma grande armação política, com o STF aliado ao atual governo de esquerda. O problema é que milhões pensam e sentem como ele.

(Artigo enviado por José Carlos Werneck)

Moraes não esperava arquivamento da falsa “agressão” no Aeroporto de Roma

Imagens da agressão a Moraes no Aeroporto de Roma chegam ao Brasil na terça-feira - Brasil 247

Casal Mantovani derrota Moraes no inquérito policial

Márcio Falcão
TV Globo — Brasília

A Polícia Federal (PF) encerrou as investigações do tumulto no aeroporto de Roma envolvendo a família do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e uma família do interior de São Paulo em julho de 2023.

A PF concluiu que o empresário Roberto Mantovani Filho cometeu crime de injúria real contra o filho do ministro. Segundo a PF, as imagens registradas pelas câmeras de segurança do aeroporto mostram com clareza o momento em que Roberto Mantovani Filho se dirige de modo incisivo a Alexandre Barci de Moraes e, “o atinge no rosto com a mão direita, causando o deslocamento dos óculos do atingido”.

INJÚRIA REAL – Os investigadores dizem que, logo após, o filho do ministro, revida, empurrando Roberto Mantovani Filho com o braço esquerdo, sendo que, em seguida, um homem se coloca entre ambos, apartando o conflito.

“Tal conduta se amolda ao tipo penal da injúria real, previsto no art. 140, §22, do Código Penal’, que se caracteriza pelo emprego de violência ou vias de fato — sendo estas juridicamente compreendidas como atos agressivos que, no entanto, não provocam lesões corporais — para ofender a dignidade ou o decoro de alguém. São exemplos de injúria real, conforme ensinado pela doutrina, desferir um tapa, empurrar, puxar a roupa ou parte do corpo (puxões de orelha ou de cabelo), arremessar objetos, cuspir em alguém ou em sua direção”, escreve a PF.

ADVOGADO REFUTA – Segundo o advogado da família Mantovani, Ralph Tórtima Filho, a conclusão do delegado “se pauta na análise parcial das imagens, as quais a defesa e o Ministério Público Federal foram impedidos de ter cópia” e “inclusive, as autoridades italianas tiraram conclusão diversa da dele”.

“Essa investigação jamais poderia ter existido e essa família não poderia ter sido submetida a tamanhos excessos. Vejo que boa parte da verdade foi esclarecida, faltando apenas aquela que as imagens sonegadas estariam a desnudar. Caberá agora ao Ministério Público Federal a última palavra, que acreditamos seja o arquivamento dessa investigação”, diz o defensor.

No relatório, a PF afirma que as imagens do aeroporto de Roma não são acompanhadas de áudios, o que compromete a apuração total dos fatos.

APENAS IMAGEM – “Não há reprodução sonora nas filmagens provenientes do Aeroporto Internacional de Roma, o que compromete a plena elucidação dos fatos, sobretudo em razão de a maior parte das divergências entre as duas versões apresentadas recair sobre o que foi dito pelos envolvidos na ocasião”, diz o texto.

O delegado apontou ainda que “todavia, as filmagens não mostram qualquer manifestação de terceiros, isolados ou em grupo, no sentido de hostilizar, filmar ou constranger o ministro Alexandre de Moraes. A movimentação vista nas filmagens corresponde a um fluxo ordinário de passageiros”.

A Polícia Federal deixou de indiciar Montovani porque injúria é considerado um crime de menor potencial ofensivo e foi cometido fora do país. Na avaliação do delegado, o ato no exterior, no entanto, não cumpre os requisitos necessários para ser responsabilizado no Brasil.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGRelatório da Polícia Federal é um exame completo para Moraes, que no Brasil não pode sair às ruas e só anda cercado de seguranças. Qualquer coisa o assusta e ele pensa que é um atentado. Que vida o ministro leva, hein? (C.N.)

Mangabeira diz que não fará habeas corpus para evitar prisão de Bolsonaro

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Mangabeira já esteve duas vezes com Jair Bolsonaro

Deu no Estado de Minas

O ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), entre 2007 e 2009, durante o segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Roberto Mangabeira Unger, negou que vá entrar com habeas corpus preventivo em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para evitar que ele seja preso.

“Informo ser falsa a notícia de que pretendo fazer, a favor do ex-presidente Bolsonaro, um pedido de habeas corpus preventivo. Na primeira oportunidade que tiver, tratarei de expor a meus concidadãos como vejo a perigosa situação que se estabeleceu no país”, escreveu, em suas redes sociais, o professor de Harvard.

DEU NA FOLHA – Informação publicada pelo “Blog da Mônica Bergamo” nesta quinta-feira indicava que Unger entraria com um habeas corpus preventivo no Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar uma possível prisão de Bolsonaro. A apuração de Bergamo indicou que o filósofo e o ex-presidente teriam se encontrado pessoalmente para tratar do tema e que a medida visava buscar a reconciliação do Brasil.

A possibilidade de que Bolsonaro seja preso por tentar articular um golpe de Estado antes de Lula assumir, estaria sendo vista como um ingrediente que pode radicalizar os apoiadores bolsonaristas.

Unger, que também foi ministro da SAE em 2015 durante o governo de Dilma Rousseff (PT), é professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, desde 1971. Ele também foi um dos principais apoiadores de Ciro Gomes (PDT) nas eleições de 2018 e 2022.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O desmentido foi enviado por nosso amigo Wilson Baptista Júnior, editor do excelente blog cultural Conversas do Mano. Vamos aguardar o que dirá Mônica Bergamo, uma grande jornalista, que certamente vai explicar o ocorrido. Segundo o jornalista Igor Gadelha, do portal Metrópoles, o ex-presidente Bolsonaro teve ao menos duas conversas recentes com Mangabeira Unger, sobre seus problemas jurídicos. Uma delas ocorreu durante um almoço entre os dois em novembro de 2023, na capital paulista. O encontro foi mediado por Fabio Wajngarten, advogado e assessor de comunicação do ex-presidente. Na conversa, Unger demonstrou contrariedade com a inelegibilidade do ex-presidente aprovada pelo TSE em outubro do ano passado e aventou a possibilidade de um habeas corpus preventivo. (C.N.)

Há oficiais da ativa que já estão presos e isso é inédito, diz Nilmário Miranda

Nilmário Miranda compara a situação de agora com 1964

Evandro Éboli
Correio Braziliense

Preso durante três anos pela ditadura militar, torturado e perseguido pelo regime de 1964, Nilmário Miranda, ex-ministro dos Direitos Humanos, classifica como “esdrúxula” a discussão se o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu grupo de auxiliares civis e fardados podem ser ou não ser julgados como protagonistas da tentativa de um novo golpe de Estado.

Para Nilmário, atual assessor especial da Defesa da Democracia, Memória e Verdade, vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, esse debate não é novo e remete a episódios recentes da história, como o caso da explosão da bomba no estacionamento do Riocentro, no Rio de Janeiro, em 30 de abril de 1981.

Naquela noite, ocorria um show em celebração ao 1º de Maio, Dia do Trabalhador, quando dois agentes do Doi-Codi, órgão criado para combater opositores da esquerda, planejavam explodir um artefato no local, onde artistas renomados se apresentavam. A bomba, porém, explodiu no interior do carro em que estavam os dois militares, um modelo Puma. Matou o sargento Guilherme do Rosário e feriu o capitão Wilson Machado, ambos do Exército. Machado, anos mais tarde, foi promovido a coronel.

A Justiça Federal no Rio aceitou a denúncia contra os seis acusados pelo Ministério Público Federal. Já o Superior Tribunal Militar (STM) entendeu que o caso estava coberto pela Lei da Anistia.

Como avalia essa discussão sobre se cabe punição ou não à mobilização de Jair Bolsonaro com seu grupo, apontado como ação que visava um golpe?
É esdrúxula essa discussão de que, se o golpe não se consumou, não é crime. Lembrem o caso do Burnier (brigadeiro João Paulo Burnier, que idealizou um plano de eliminar esquerdistas e explodir o Gasômetro, no Rio): não fosse Sérgio Macaco (capitão Sergio Carvalho, que denunciou a ação terrorista de direita de Burnier), o Gasômetro teria explodido. E, ainda assim, o capitão Sérgio foi prejudicado. Era um herói. Ou seja, essa discussão, de punição ou não para tentativas de golpe, vem de antes. É histórica.

O senhor citou que, por esse mesmo raciocínio, a bomba no Riocentro não seria crime, já que não atingiu seu objetivo…
Sim. Por essa lógica, o atentado do Riocentro não teria sido crime, já que o objetivo dos agentes do Doi-Codi não se consumou. O sobrevivente da bomba chegou a ser promovido depois. É um precedente antigo no Brasil. Esse vínculo existe. O carrasco vira vítima. São de episódios assim que vem essa tradição de impunidade.

Como transportar para o dia de hoje o que o país passou em 2022?
Vivemos um momento inédito agora. Temos 16 oficiais da ativa acusados numa tentativa de um golpe de Estado, como apontou a investigação da Polícia Federal. É inédito, repito. Posso estar enganado, mas os militares vão, de novo, reivindicar que, para pacificar o país, melhor que os generais e os outros oficiais não sejam punidos. Não existe isso na Constituição, de não serem punidos diante de tudo que fizeram. Eles se acham acima da lei e da ordem. Têm justiça própria. E quem testemunhou e não tomou atitude também tem responsabilidade.

Como comparar 1964 e agora?
Tivemos quase a volta da ditadura. Estamos revivendo a História. O filme todo volta. Com tudo o que ocorreu a partir de 1964, não tivemos oficiais punidos. Olha o que já aconteceu agora. Esses oficiais, vários generais, sendo alvo de busca e apreensão, outros estão presos. É, de fato, inédito.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGNilmário Miranda é um mito dentro do PT. Altamente intelectualizado, difere do perfil do partido e suas posições são sempre sensatas. É respeitado por todas as correntes do partido. (C.N.)

Na definição de Guilherme de Almeida, a poesia não é apenas uma rosa

Um prêmio à versatilidade - Apartes Digital Apartes DigitalPaulo Peres
Poemas & Canções

Membro da Academia Brasileira de Letras, o desenhista, cinéfilo, jornalista, advogado, tradutor, cronista e poeta paulista Guilherme de Andrade de Almeida (1890-1969), o Príncipe dos Poetas Brasileiros, em sua busca por uma definição poética, chega à conclusão de que a poesia não é apenas uma rosa.

DEFINIÇÃO DE POESIA
Guilherme de Almeida

Aí está a rosa,
aí está o vaso,
aí está a água,
aí está o caule,
aí está a folhagem,
aí está o espinho,
aí está a cor,
aí está o perfume,
aí está o ar,
aí está a luz,
aí está o orvalho,
aí está a mão
(até a mão que colheu).
Mas onde está a terra?
Poesia não é a rosa.

Procurador denuncia que Aras agiu como cúmplice dos vândalos do 8 de Janeiro

Entenda por que a indicação de Augusto Aras para PGR gerou polêmica |  Metrópoles

Augusto Aras impediu o trabalho preventivo dos procuradores

Rodrigo Rangel
Metrópoles

Em um despacho assinado no último dia 25 de janeiro, o procurador da República Anselmo Cordeiro Lopes afirma que Augusto Aras, chefe da Procuradoria-Geral da República durante o governo de Jair Bolsonaro, contribuiu para que a trama golpista investigada pela Polícia Federal avançasse.

Lopes é responsável por monitorar, no Ministério Público Federal em Brasília, as providências adotadas por autoridades de segurança pública para acompanhar manifestações políticas contra o resultado das eleições presidenciais de 2022 e para evitar atos antidemocráticos.

AÇÃO EM CONJUNTO – Semanas antes dos ataques de 8 de janeiro, como parte desse procedimento, a primeira instância do MPF na capital federal havia recomendado que os órgãos de segurança agissem em conjunto para evitar o risco de manifestações violentas e monitorassem “conjuntamente e continuamente” possíveis pontos de tensão.

O texto mencionava, nominalmente, a Esplanada dos Ministérios, a Praça dos Três Poderes e o acampamento montado, à época, na frente do quartel-general do Exército.

A recomendação parecia prever o desastre. Só que, no despacho recém-assinado e obtido com exclusividade pela coluna, Lopes afirma que seu alcance foi parcialmente prejudicado pela atuação de Augusto Aras.

ARAS BLOQUEOU – Segundo ele, Aras, a partir do cargo de PGR, impediu que o documento expedido pela primeira instância do MPF em Brasília chegasse aos seus destinatários — no caso, as autoridades militares que deveriam cumprir as medidas.

À época, em um despacho, o então PGR ordenou que a recomendação fosse devolvida porque, nas palavras dele, extrapolava as atribuições dos procuradores de primeira instância que a assinavam.

Anselmo Lopes cita, ainda, outras medidas de Aras que teriam inibido a atuação de procuradores de primeira instância de diversos estados contra os atos antidemocráticos que resultaram no 8 de janeiro. Em uma delas, como a coluna noticiou, Aras mandou encerrar grupos de trabalho montados para monitorar os movimentos golpistas.

JOGANDO CONTRA – “No caso do Rio de Janeiro, noticiou-se também que o Dr. Augusto Aras não somente se negou a compartilhar provas sobre investigações de atos antidemocráticos como também teria representado à Corregedoria-Geral do MPF contra procuradores da República lotados no Rio de Janeiro que atuavam contra a prática de tais ações”, afirma.

“As mencionadas circunstâncias contribuíram para que o avanço das ações antidemocráticas ocorresse sem a coibição que exigia a ordem jurídica”, prossegue Lopes.

No mesmo despacho, o procurador altera o objeto do inquérito civil no qual a recomendação foi expedida.

NOVOS OBJETIVOS – Antes, o procedimento se destinava a “acompanhar manifestações políticas em face do resultado das eleições para presidente da República e apurar eventuais atos antidemocráticos”.

Agora, o objeto passa a ser o seguinte: “a apuração de responsabilidade por danos morais institucionais e danos sociais decorrentes da tentativa de subversão da ordem democrática praticada entre os anos de 2018 e 2023, que culminou com os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro de 2023, para fins de ajuizamento de ações civis contra os principais responsáveis por tal tentativa, de forma subsidiária às ações já ajuizadas com essa finalidade por outros órgãos legitimados”.

A apuração, que como o próprio nome diz tem caráter cível, corre em paralelo às investigações criminais conduzidas pelo gabinete do ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
No caso, Aras ultrapassou todos os limites. Ao invés de apenas se omitir, como de hábito, ele simplesmente impediu os trabalhos dos procuradores distritais. Ou seja, agiu como cúmplice do vandalismo. (C.N.)

Villas Bôas trabalhou no Carnaval para revelar o “golpe” que Lula e Dilma tentaram dar

PF acusa Lula, Dilma e Mercadante de obstrução de Justiça - Jornal O Globo

Golpe de Dilma e Lula tentaria evitar o  impeachment em 2016

Carlos Newton

Os comandos militares nada comentam, mas vivem uma fase de indignação, devido ao estilo com que o ministro Alexandre de Moraes vem conduzindo o inquérito do fim do mundo, transformado numa verdadeira fábrica de escândalos institucionais, e que opera com elevado grau de produtividade.

O que incomoda o Alto Comando do Exército não é a investigação, que precisa ser feita, diante da gravidade da situação política. Mas o vazamento de informações escandalosas é considerado altamente negativo;

NOS BASTIDORES… – O silêncio que os comandos militares impõem sobre o assunto não é indicativo de que estejam inertes. Foi decidido, preliminarmente, que nenhuma das três Forças abrirá apuração disciplinar contra oficiais golpistas implicados pela Polícia Federal. No entanto, caso fique evidente que se  trata de crimes militares ou estiver havendo algum tipo de perseguição, o assunto será reestudado pelo Alto Comando das Forças Armados.

Curioso notar que, durante o carnaval, os militares da reserva estiveram  superativos nos bastidores e até começaram a contra-atacar. O primeiro passo foi usar o ex-senador Arthur Virgilio Neto, ex-prefeito de Manaus, para começar a reposicionar a situação, ao revelar que em 2016 a então presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e o PT também tentaram dar um golpe de estado, uma informação sigilosa que está surpreendendo o país.

O fato é que em 2016, para acautelar a posição legalista do Exército,  o então comandante Eduardo Villas Bôas usou Arthur Virgilio e o senador José Agripino Maia para testemunhar o que estava acontecendo. E agora, oito anos depois, apareceu a necessidade de se fazer o esclarecimento.

VIRGILIO CONTA TUDO – Em pleno Carnaval, Artur Virgilio usou as redes sociais para revelar uma tentativa de golpe articulada em 2016 por Dilma e Lula, que se mudara para Brasília com objetivo de comandar a luta contra o impeachment, conforme Gilberto Clementino dos Santos informou aqui na Tribuna terça-feira (dia 13), com base nas redes sociais de Arthur Virgílio e na reportagem de Paulo Briguet, do Brasil Sem Medo, um site  abertamente bolsonarista.

Villas Bôas é uma espécie de Golbery da atual geração, e foi altamente estratégico esse convite que fez a dois parlamentares da oposição para que testemunhassem a sessão do Alto Comando em abril de 2016.

Lula e Dilma podem até tentar desmentir, mas vão ficar em silêncio, porque todos os 19 participantes da reunião ainda estão vivos e podem dar detalhes,

DISSE VILLAS BÔAS – Na reunião, Villas Bôas contou do Alto Comando d que fora chamado para uma reunião com Dilma no Planalto. Depois de ser bastante elogiado pela presidente, ela entrou direto ao assunto:

Estou precisando da sua solidariedade. Estou sendo acossada e atacada por todos os lados. Estão querendo meu impeachment sem que eu tenha cometido nenhum crime! Eu pretendo decretar o Estado de Defesa e preciso do seu apoio como Comandante do Exército” — disse Dilma.

Villas Boas contou ter ficado atônito, mas respondeu à altura: “Presidenta, a senhora sabe que não sou um homem de muitas palavras. Mas vou dizer com clareza aqui: ao decretar o Estado de Defesa, o governo estaria proibindo manifestações públicas pacíficas. Para isso, a senhora não conte nem comigo, nem com o Exército Brasileiro”.

OITO ANOS DEPOIS – A reunião terminou, as manifestações populares continuaram, Dilma sofreu o impeachment por suas pedaladas fiscais.

Oito anos depois. o mesmo Villas Bôas, muito doente, tratado em homecare, fez com que Arthur Virgilio viesse relatar os acontecimentos, para mostrar que o PT também não é nada democrático e tenta dar o golpe, quando está ameaçado de perder o poder.

Para decretar Estado de Defesa, Dilma e Lula precisariam consultar o Conselho de Defesa Nacional, formado pelo vice-presidente, presidentes da Câmara e Senado, ministro da Justiça, ministro da Defesa; ministro das Relações Exteriores, ministro do Planejamento e comandantes da Marinha, Exército e da Aeronáutica.

Mas nem chegaram a fazê-lo, porque o comandante do Exército abortou liminarmente o golpe.

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P.S. –
Como já cansamos de dizer aqui, o Supremo se orgulha e ter salvado a democracia, mas isso “non ecziste”. Só quem salva a democracia aqui na filial é sempre o Alto Comando do Exército. O resto é folclore, diz nosso amigo Sebastião Nery. (C.N.)

Entrevista com Putin mostra que ele e Trump agora falam a mesma língua

Entrevista recorde de Putin com Tucker Carlson atrai atenção global | Leia  a íntegra

Putin detalhou sua versão da História da Humanidade

João Pereira Coutinho
Folha

Suspeito que o pessoal não gostou da entrevista que Tucker Carlson fez com Vladimir Putin. Eu gostei. Verdade que não foi fácil manter-me acordado naqueles primeiros 30 minutos. Mas, com a ajuda de substâncias legais, consegui surfar as duas horas.

É um bom retrato de Putin — e, através de Carlson, um retrato também da nova direita americana, que espera a vinda do seu messias nas eleições de novembro.

IDADE MÉDIA – É um retrato de Putin porque entendemos melhor a sua concepção de tempo histórico. Você, no século 21, imagina que o século 9 foi há muito tempo. Para Putin, foi na semana retrasada.

Só isso justifica a primeira meia hora: quando Carlson queria falar da Otan e do pós-Guerra Fria, Putin começou na Alta Idade Média para chegar ao século 21. Objetivo? Mostrar ao americano por qual motivo a Ucrânia foi, é e será parte da Rússia para toda a eternidade.

Há quem subscreva essa concepção histórica. Conheço casos no meu círculo profissional. Respeito. E pergunto aos sábios se eles estão dispostos a entregar Portugal aos jihadistas islâmicos que querem reconstruir o Al-Andalus. Bem vistas as coisas, a Península Ibérica foi deles entre o século 8 e os séculos 13 (em Portugal) e 15 (na Espanha).

PASSAGEM DO TEMPO – Nunca obtive uma resposta. Quando muito, dizem apenas que “não é a mesma coisa”, embora um jihadista possa discordar: como Putin, o jihadista também vive em pleno Califado, imune à passagem do tempo.

Mas a história não é apenas estática para Putin; para quem fala da importância de “desnazificar” a Ucrânia, ele apresenta a história do século 20 pela lente de um nazista. Exemplo: nos livros de história, você aprende que a Segunda Guerra Mundial começou com a invasão da Polônia pela Alemanha.

O historiador do Kremlin tem outra interpretação, que se ajusta às suas próprias ambições imperiais: o problema dos poloneses foi não terem “cooperado” com Hitler. Se a Polônia tivesse permitido que o Führer executasse tranquilamente os seus planos de conquista, a força bruta não teria sido necessária.

SERIA UM ESTUPRO – Mal comparado, é como imaginar um violador que se defende em tribunal dizendo ao juiz: “Eminência, fui obrigado a estuprar porque a donzela não quis cooperar com meus planos.”

Mas a entrevista não é apenas um retrato de Putin. É também um retrato do estado da direita americana. Gideon Rachman, do Financial Times, tem razão ao afirmar que a principal característica do “idiota útil” é babar de admiração por líderes autoritários devido a interesses que são puramente paroquiais.

No século 20, são incontáveis os “peregrinos políticos” de esquerda que esperavam encontrar na União Soviética de Stálin, na Cuba de Fidel ou na China de Mao a inspiração salvífica para as “democracias burguesas” onde sofriam horrores mil.

ENTREVISTADOR – Tucker Carlson pertence à mesma estirpe, e o seu paroquialismo, como afirma o mesmo Gideon Rachman, está nas próprias perguntas que endereçou a Putin. A América é um país dominado pelo “deep state”? Putin se considera um líder cristão? Zelensky é uma marionete de Joe Biden (e, já agora, da família Biden)? No Kremlin existem banheiros de gênero neutro?

Essa última é inventada, confesso, mas não soaria estranha se o “jornalista” a tivesse feito. Na cabeça de Carlson, e da vasta maioria que ele representa dentro e fora da América, Putin é o último cruzado contra a “ideologia woke”, encarnando a moral judaico-cristã em todo seu esplendor.

No passado, a esquerda ocultava os crimes do comunismo porque os fins (utópicos) justificavam os meios (sanguinários). A nova direita conservadora segue o mesmo caminho: que interessam os crimes de guerra de Putin quando não há banheiros neutros na Rússia?

INSANIDADE – Nada disso seria dramático se o Partido Republicano estivesse a salvo dessa insanidade. Mas as coisas ganham outros contornos quando Trump ameaça os países inadimplentes da Otan de que não os defenderá em caso de agressão russa.

Que os membros da Otan devem pagar mais para garantir a defesa coletiva, poucos contestam. Que as lideranças alienadas do Ocidente desarmaram os seus países como se o mundo fosse uma gigantesca Suíça, também não.

Mas Trump, por razões eleitorais, imita a máfia fazendo ameaças aos seus aliados: ou pagam, ou alguém vai quebrar seus ossos. Deve ser por isso que Putin e Trump se admiram. Escutando com atenção, eles falam a mesma língua.

Por rezar falsas orações, Bolsonaro devia ser excomungado pelo Silas Malafaia   

Malafaia diz que atribuir vitória de Bolsonaro a Olavo é 'simplesmente  ridículo' - 18/03/2019 - Poder - Folha

Silas Malafaia ensina Bolsonaro a lidar com os fiéis

Vicente Limongi Netto

Flagrado pela operação da Polícia Federal como mentor do fracassado golpe de Estado, o destrambelhado Bolsonaro abriu a casa em Angra dos Reis para rezar com apoiadores. É o fim da picada. Colossal blasfêmia. Virou mania. Toda vez que é pego pela justiça com as calças nas mãos, Bolsonaro alega, com deslavrado cinismo, que “reza pelo Brasil”.

Ele e seus seguidores deveriam ser excomungados pelo Silas Malafaia, mas o autoproclamado bispo é da mesma patota e vai até bancar o trio elétrico da apresentação na Avenida Paulista com o dinheiro dos fiéis.

JOGANDO AS PATAS – Bolorento, pretensioso e fantasiado de sabidão, o ilustre desconhecido Renato Mendes Prestes, privilegiado diariamente pela seção de cartas do Correio Braziliense, com longos e purulentos textos, jogou as patas em Collor de Mello.

Covardia própria de desprezíveis e recalcados.

Collor permanece confiante na justiça. De Deus e dos homens. Errou, todos erram. Mas não merece ser punido por delações de 2014 de um leviano e irresponsável que entrega a própria mãe para se livrar da cadeia.

DENTRO DA ÁREA– Paulo Cesar Vasconcelos, o PVC do Sportv, garante que Gabigol seria titular em todos os times da série A do futebol brasileiro. No Fluminense, jamais. Temos Keno, Cano e Arias. Entrosados e excelentes jogadores. O Flu não precisa de atletas complicados. 

Paulo Nunes, por sua vez, também da equipe dos notáveis analistas do mesmo canal, com ar pretensioso de quem descobriu a vacina contra dengue, lascou que Endrick, menino do Palmeiras, que aos 18 anos, em julho, estará partindo, em definitivo, para o poderoso e bilionário Real Madrid, não é jogador pronto, está em formação.   

Meus botões não acreditam que esses comentaristas ainda ganhem salários. 

JOGANDO AS PATAS – Bolorento, pretensioso e fantasiado de sabidão, o ilustre desconhecido Renato Mendes Prestes, privilegiado diariamente pela seção de cartas do Correio Braziliense, com longos e purulentos textos, jogou as patas em Collor de Mello.

Covardia própria de desprezíveis e recalcados. Collor permanece confiante na justiça. De Deus e dos homens. Errou, todos erram. Mas não merece ser punido por delações de 2014 de um leviano e irresponsável que entrega a própria mãe para se livrar da cadeia.

GRANA NO LIXO –  Arthur Lira e capachos da prefeitura de Maceió, deram 8 milhões para a Beija-Flor falar maravilhas da capital alagoana. Sambaram fantasiados de hienas dos cofres públicos.

A gloriosa escola ficou no modestíssimo oitavo lugar. Dinheiro do povo sofrido jogado fora, pela escória de demagogos e infames.

HAVELANGE – A Fifa agora resolveu valorizar o futebol africano. Registre-se que foi o visionário João Havelange, na presidência da entidade, quem abriu e expandiu o futebol para o mundo. Colocando países asiáticos e africanos para disputar torneios mundiais, inclusive a Copa do Mundo.

Gonet recorre de decisão que suspendeu os pagamentos de multas da Odebrecht

Paulo Gonet tem o nome aprovado pela CCJ para a chefia da PGR após sabatina | O TEMPO

Paulo Gonet começa a curtir seus 15 minutos de fama

Mateus Mello
Poder360  

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu nesta quarta-feira (14.fev.2024) que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli reconsidere a decisão que suspendeu provisoriamente os pagamentos do acordo de leniência da Novonor (antiga Odebrecht) ou que a envie para análise do plenário do STF.

De acordo com Gonet, as mensagens hackeadas de procuradores obtidas pela operação Spoofing da PF (Polícia Federal) mostram “comportamentos censuráveis de agentes públicos”, mas “não revelam prática de nenhum ato que componha o conceito de coação moral” contra a empresa.

DECISÃO DO MINISTRO – Toffoli suspendeu o pagamento de multas no valor de R$ 3,8 bilhões e também autorizou a Novonor a ter acesso às provas colhidas na Spoofing em decisão publicada em 1º de fevereiro de 2024. Ele entendeu que as provas obtidas na operação da PF levantavam dúvidas sobre a voluntariedade no acordo – o que vai contra o que diz a lei para acordos do tipo. 

No pedido, Gonet diz que “vontade livre não é aquela isenta de pressões, mas a que se pode formar com a consciência de riscos e vantagens”. Também afirmou que “nada na petição justifica que se tenha como evidenciado o cancelamento dessa vontade a  ponto de justificar a suspensão das obrigações assumidas pela Novonor”.

Gonet destacou ainda que tanto a Novonor quanto seus executivos “sempre puderam dispor da melhor assessoria jurídica, administrativa, contábil e de relações públicas” disponível.

ACORDOS DE COLABORAÇÃO – O acordo de leniência é um mecanismo em que empresas que cometeram atos danosos à administração pública colaboram com as apurações e se comprometem a pagar os valores estipulados no contrato, ressarcindo os valores acordados aos cofres públicos. A Odebrecht firmou dois acordos de leniência no Brasil: 

1) em 2016, com o MPF (Ministério Público Federal), no valor de R$ 3,8 bilhões (R$ 8,5 bilhões corrigidos pela inflação ao longo de 20 anos de pagamento), e o total deveria ser repartidos entre o próprio MPF, o Departamento de Justiça dos EUA e a Procuradoria Geral da Suíça.

2)  Em 2018, com a AGU (Advocacia Geral da União) e a CGU (Controladoria Geral da União), no valor de R$ 2,7 bilhões (R$ 6,8 bilhões corrigidos pela inflação ao longo de 22 anos). Até 13 de janeiro de 2024, só R$ 172,7 milhões haviam sido pagos, segundo o painel de dados da CGU. Depois dos acordos, o grupo teve que entrar em recuperação judicial e passar por uma reestruturação.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Enviada por José Guilherme Schossland, a matéria mostra que o novo procurador-geral, Paulo Gonet, é a surpresa do momento. Abriu sua gestão com uma omissão espantosa e levou exatos 47 dias até recorrer contra a suspensão indevida da multa bilionária da J&F, determinada por Toffoli. Mas agora, avisou que após o Carnaval iria recorrer da multa da Novonor/Odebrecht, e cumpriu a palavra rigorosamente. Vamos acompanhar a gestão dele. Se continuar assim, deve ser aplaudido em praça pública, ao contrário dos ministros do Supremo, que nem podem sair às ruas. (C.N.)

Lula critica Israel no Egito e leva Janja para conhecer as Pirâmides…

Lula e Abdul Fatah Khalil Al-Sisi

As declarações de Lula foram proveitosas para Al-Sisi

Mariana Haubert e Patrícia Nadir
Poder360

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta 5ª feira (15.fev.2024) que Israel descumpre decisões tomadas pela ONU (Organização das Nações Unidas) e por outros órgãos multilaterais sobre a reação bélica ao grupo extremista Hamas na Faixa de Gaza. O petista disse que as Nações Unidas “não têm forças suficientes” atualmente para evitar guerras e defendeu, mais uma vez, a reforma dos órgãos multilaterais internacionais.

“A única coisa que se pode fazer é pedir paz pela imprensa, mas me parece que Israel tem a primazia de descumprir, ou melhor, de não cumprir nenhuma decisão emanada da direção das Nações Unidas”, disse Lula.

NO EGITO – O presidente deu a declaração a jornalistas ao lado do presidente egípcio Abdul Fatah Khalil al-Sisi, durante a sua visita ao Egito.  Lula chegou ao país na quarta-feira (14.fev), no momento em que as tensões entre Egito e Israel aumentaram por causa da ameaça de ações militares israelenses no sul da Faixa de Gaza.

Embora a viagem marque os 100 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Egito, o conflito dominou as conversas do chefe do Executivo brasileiro. A região sul de Gaza abriga atualmente mais de 1 milhão de palestinos que se deslocaram de outras cidades destruídas pela guerra. É praticamente o último refúgio na região.

Lula voltou a dizer que considera o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 como um ato terrorista, mas disse que a reação israelense “não tem explicação” porque está matando mulheres e crianças em Gaza.

DISSE LULA – “O Brasil foi um país que condenou de forma veemente a posição do Hamas no ataque a Israel e ao sequestro de centenas de pessoas e nós condenamos e chamamos o ato de terrorista. Mas não tem nenhuma explicação o comportamento de Israel a pretexto de derrotar o Hamas, estar matando mulheres e crianças, coisa jamais vista em qualquer guerra que eu tenha conhecimento”, disse.

O presidente brasileiro defendeu um cessar-fogo definitivo na região conflagrada que permita a “prestação de ajuda humanitária sustentável, desimpedida e imediata”, e a “incondicional” libertação de reféns.

“O Brasil é terminantemente contrário à tentativa de deslocamento forçado do povo palestino. Por esse motivo, entre outros, o Brasil se manifestou em apoio ao processo instaurado na Corte Internacional de Justiça pela África do Sul. Não haverá paz sem um Estado Palestino convivendo lado a lado com Israel, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”, disse.

GENOCÍDIO – Em 26 de janeiro, a Corte, que fica em Haia, na Holanda, decidiu que Israel deve tomar uma série de medidas para evitar práticas de “genocídio” na Faixa de Gaza. A decisão, porém, não ordenou um cessar-fogo no conflito, o que foi criticado por alguns países.

O Brasil apoiou o processo movido pela África do Sul depois de Lula ter conversado com o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, em 10 de janeiro. Na sexta-feira (dia 9), em jantar na Embaixada da Palestina em Brasília, Lula defendeu que Israel acate a decisão da Corte Internacional.

Na declaração a jornalistas, al-Sisi disse que o Egito também concorda com a necessidade de um cessar-fogo imediato na região para que os moradores de Gaza possam receber ajuda humanitária. Defendeu também a criação de um Estado palestino cuja capital seja Jerusalém. A cidade, considerada sagrada por judeus, cristãos e muçulmanos, é hoje a capital de Israel. “Agradeço o reconhecimento do presidente brasileiro pelo Estado palestino”, disse.

Vídeo: Lula visita pirâmides do Egito com Janja - 14/02/2024 - Mundo - Folha

Lula cumpriu a promessa de levar Janja ao Egito

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Lula se reunirá nos próximos dias com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, em Adis Abeba, na Etiópia, à margem da cúpula da União Africana, da qual o presidente brasileiro participará como convidado de honra. Lula, realmente, é um grande nome mundial. E deve-se louvar sua dedicação à atual esposa. Embora a reportagem não mencione, Lula fez essa paradinha rápida no Egito exclusivamente para que dona Janja tivesse a chance de conhecer a Esfinge e as pirâmides. O amor, realmente, é lindo. (C.N.)

Mangabeira Unger apresentará habeas corpus para evitar prisão de Bolsonaro

Revista Sísifo: Uma Filosofia Política Para o Brasil: Roberto Mangabeira  Unger e o Pensamento Com Sotaque

“Maior problema do Brasil é a mediocridade”, diz Unger

Mônica Bergamo
Folha

O filósofo Roberto Mangabeira Unger pretende entrar com um habeas corpus preventivo no Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir que Jair Bolsonaro (PL) não será preso. Mangabeira, que foi ministro de Lula (PT) de 2007 a 2009 e apoiou Ciro Gomes (PDT) em suas campanhas presidenciais, sendo considerado o guru do pedetista, já consultou amigos da área jurídica e políticos sobre a iniciativa.

Ele também conversou com autoridades de tribunais superiores de Brasília e com o próprio Bolsonaro sobre os processos a que o ex-presidente responde na Justiça. Os dois já se encontraram, inclusive, pessoalmente.

RECONCILIAR O PAÍS – A Constituição permite que qualquer cidadão, sendo ou não advogado, entre com habeas corpus na Justiça se entender que o direito fundamental de outra pessoa está ameaçado.

O filósofo afirma que é preciso reconciliar o país, e que para isso seria importante que Bolsonaro seja poupado de uma prisão que poderia radicalizar os ânimos de seus apoiadores.

Da esquerda à direita, a iniciativa surpreendeu os interlocutores por Mangabeira sempre ter se situado no campo político da esquerda, enquanto Bolsonaro se define abertamente como um político de direita.

INELEGIBILIDADE – Professor da Universidade de Harvard desde 1971, Mangabeira afirma em suas conversas que está preocupado com o fato de Bolsonaro ter se tornado inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ele diz que seria mais democrático que o ex-presidente pudesse concorrer, disputando com Lula a narrativa sobre que políticas públicas seriam as melhores para o país.

Mangabeira se inspira nas regras dos EUA, que possibilitam que uma pessoa concorra à Presidência da República mesmo sendo condenada e presa.

BUSCA E APREENSÃO – Bolsonaro foi alvo na semana passada de busca e apreensão em sua casa de Angra dos Reis (RJ). Ele é investigado por supostamente participar de um plano para dar um golpe de Estado no Brasil.

Por determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes, teve que entregar o passaporte e não pode se comunicar com os demais investigados — muitos deles, militares que integraram o primeiro escalão de seu governo.

Procurado pela coluna, o filósofo Mangabeira Unger afirmou que estava entrando em sala de aula e que depois retornaria a ligação.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O apoio de Mangabeira Unger a Bolsonaro é importantíssimo.  Professor titular de Harvard aos 24 anos, fez uma carreira sólida nos Estados Unidos e sustentou uma obra acadêmica de alta respeitabilidade, em Direito, Sociologia, Economia e Filosofia. Teve alunos famosos, como Barack Obama. Esse habeas corpus que está preparando para possibilitar a reconciliação nacional, que Tribuna da Internet desde sempre vem defendendo, é para ficar na História. (C.N.)

Braga Netto mandou atacar general Tomás Paiva: “PT desde pequeninho”

Braga Netto orientou ataques contra general Tomás Paiva nas redes: 'PT  desde pequenininho' - Montedo.com.br

Investigação está “vazando” os poderes de Braga Netto

Malu Gaspar e Johanns Eller
O Globo

Mensagens de celular expostas pela Polícia Federal na representação que pediu a Alexandre de Moraes autorização para fazer a operação Tempus Veritatis mostram que o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto (PL), que concorreu a vice de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, orientou bolsonaristas a atacar nas redes o general Tomás Paiva, atual comandante do Exército, em um esforço para constranger altas hierarquias militares a ceder aos esforços golpistas de militares que cercavam o então presidente.

O material traz ainda mensagens em que Braga Netto determina que integrantes do grupo golpista que cercava Bolsonaro difundissem ataques via redes sociais ao então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Batista Junior, tratado entre eles como “traidor da pátria”.

NUNCA VALEU NADA – O material sigiloso, ao qual a equipe da coluna teve acesso, mostra que no dia 17 de dezembro de 2022, cinco dias após a diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente eleito, Braga Netto encaminhou uma série de mensagens ao capitão expulso do Exército Ailton Barros relatando uma suposta visita de Paiva ao ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas.

No diálogo, Braga Netto afirma que o general “nunca valeu nada” e tenta vinculá-lo ao Partido dos Trabalhadores (PT), legenda de Lula. O ex-ministro orienta Barros a disseminar uma mensagem repleta de ataques a Tomás Paiva – o que, para a investigação da PF, consistiu em uma tentativa deliberada de “atingir a reputação” do general.

De acordo com o relato de Braga Netto ao capitão, Paiva teria dado uma “mijada” – bronca no jargão militar – em Villas Bôas e sua esposa, Maria Aparecida, e dito que o casal seria prejudicado por “intervenções ‘sem noção’ que estão fazendo”.

ALTO COMANDO – Na mensagem, Braga Netto diz ainda que Tomás Paiva teria falado mal de todo o “ACE”, sigla para ” Alto Comando do Exército”, “principalmente” do general Estevam Theophilo – que, como publicamos na semana passada, prometeu apoio à intentona golpista de Bolsonaro com tropas quando estava à frente do Comando de Operações Terrestres (Coter).

Teria dito ainda que o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, “teria que ficar quieto”.

“Parece até que ele é PT desde pequeninho”, escreve Braga Netto sobre Tomás Paiva, que naquele período estava sob ataque de bolsonaristas, junto com um grupo de generais apelidados de “melancias” (verdes por fora, vermelhos por dentro). “Nunca valeu nada”, prossegue o general, que foi alvo da operação Tempus Veritatis da PF na última quinta-feira (8).

PODE VIRALIZAR – “A ambição derrota o caráter dos fracos.. Alias, revela”, diz ele, que finaliza com uma orientação sobre o que acaba de contar: “É verdade. Pode viralizar”.

A suposta visita de Tomás Paiva teria tido a ver com posts que o ex-comandante Villas Boas, que chegou a ser assessor de Bolsonaro, fez após o desfecho das eleições presidenciais de 2022, em 30 de outubro daquele ano.

“A História ensina que pessoas que lutam pela liberdade jamais serão vencidas”, escreveu o general da reserva em 15 de novembro. O texto, reproduzido por Braga Netto, foi interpretado como endosso às manifestações golpistas de apoiadores de Bolsonaro na porta de quartéis e em rodovias.

NOVO COMANDANTE – Tomás Paiva só se tornaria comandante do Exército em 7 de fevereiro de 2023. Ele assumiu em substituição a Júlio César Arruda, comandante inicialmente escolhido por Lula para comandar a Força, mas foi demitido depois do 8 de janeiro, em razão do que o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, definiu como uma “fratura de confiança”.

Boa parte dos diálogos de Braga Netto, reproduzidos pela PF em sua representação, sugere que partiam de Braga Netto ordens para o ataque a integrantes das Forças Armadas que não seguiam suas diretrizes — como o então comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, que segundo o relato do tenente-coronel Mauro Cid esteve na reunião em que o presidente discutiu uma das minutas golpistas citadas na investigação.

“Senta o Pau Batista Junior. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feita (sic) e ele fechado na mordomia. Negociando mordomias. Traidor da pátria. Daí pra frente. Inferniza ele e a família dele”, escreveu Braga Netto a Ailton Barros no mesmo dia 15 de dezembro em que falou sobre Tomás Paiva.

ELOGIO A GARNIER – O ex-candidato a vice de Bolsonaro complementa o pedido a Ailton Barros com uma indicação: “f… o BJ [Baptista Júnior]” e, ao mesmo tempo, elogiar o então comandante da Marinha Almir Garnier Santos, um dos alvos da operação da semana passada.

Barros, então, assente com a determinação de Braga Netto e responde com uma figurinha que diz “desce a chibata”, em referência as críticas ao chefe da Aeronáutica.

Procurada para se manifestar sobre o teor das mensagens, a equipe do ex-ministro Braga Netto não retornou até a última atualização deste texto.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É gravíssima essa crise paralela no Exército. Mas o comandante Tomás Paiva não vai responder. A estratégia é ir revelando, aos poucos, os desmandos de Braga Netto, até fazer com que ele apodreça de vez. (C.N.)

Reunião ministerial não deixa dúvidas sobre a preparação do golpe de estado

Em reunião, ministro de Bolsonaro defendeu 'alternativas' antes das eleições e admitiu 'risco de conturbar país' | Política | G1

A reunião discutiu “alternativas” antes e depois da eleição,

Roberto Nascimento

Ficar calado depois de assistir às quase quatro horas de reunião sobre o planejamento do golpe de estado, seria ceder para os golpistas e abrir espaço para que voltem a tramar contra o país, quando advier um apocalipse ou condições para decretação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) ou Estado de Defesa.

As condutas foram delineadas por Bolsonaro. Está lá, é só assistir. Quam não o fez, perde as condições táticas para opinar na defesa ou na crítica.

RESPECTIVAS FUNÇÕES – O general Augusto Heleno foi designado para usar a ABIN na arapongagem das campanhas tanto do PT quanto do PL.

Braga Netto, o general escolhido para candidato a vice-presidente, tratava da cooptação dos militares golpistas e na pressão contra os militares legalistas.

O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, encarregado de encontrar uma bala de prata contra o TSE e contra as urnas eletrônicas, através de militares infiltrados na fiscalização das Urnas, e também de convocar reuniões da Defesa para conseguir apoio ao golpe.

ERA GRAVADA… – A CGU e a AGU eram encarregadas de dar o respaldo jurídico contra as urnas eletrônicas. O ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, medroso, ao assumir a palavra, perguntou se a reunião estava sendo gravada. Bolsonaro e Braga Neto disseram que não. Mentiram para Wagner do Rosário, o ministro da CGU. Estava havendo gravação.

O ministro da Economia, Paulo Guedes acompanhava tudo para depois informar aos empresários golpistas e conseguir apoio no meio empresarial

Anderson Torres, da Justiça, um dos ministros declaradamente golpistas, discursou aos palavrões, dizendo que algo teria que ser feito para Bolsonaro vencer. Atacou policiais federais que não apoiavam Bolsonaro e disse até que já sabia o nome do novo Diretor Geral da Policia Federal se Lula ganhasse a eleição.

SOCO NA MESA – O general Augusto Heleno então disse, que tinha que dar soco na mesa, antes da eleição, porque depois, nem o VAR mudaria o resultado da eleição.

Bolsonaro endossou a fala de Heleno, informando que ações para mudar o resultado levariam o país para um processo de guerrilha. Ou seja, eles sabiam do risco de guerra civil e ainda assim tramaram contra o país.

Pergunto: tinha alguém naquela reunião com espírito de patriota? Por favor, assistam ao vídeo e depois escrevam aqui contestando o que escrevi. Preciso saber se estava enganado, se entendi errado aquele festival de horrores.

PUNIR É PRECISO – O país não poderá seguir em frente, sem punir aqueles personagens. Se passarem pano para aquelas barbaridades, eles vão retornar. Aí, sim, correremos sérios perigos. Quando a repressão bater às nossas portas, nenhum advogado será capaz de nos livrar do cárcere ou de coisa muito pior.

Aviso aos navegantes: temos medo, mas não vamos recuar. Seguiremos a linha do saudoso jornalista Helio Fernandes, confinado em Fernando de Noronha, em Campo Grande e em Pirassununga, preso também no quartel da Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, e vítima também de atentado, quando explodiram o jornal Tribuna da Imprensa, na Rua do Lavradio.

Helio Fernandes jamais se curvou aos poderosos.