Assembleia do Rio aprova lei que ignora teto de pagamento a magistrados

Papuda acirra crise entre STF e bolsonarismo em meio a sanções dos EUA

Grupo de Eduardo vê prisão na Papuda como provocação

Bela Megale
O Globo

A possibilidade de Jair Bolsonaro cumprir pena no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, é encarada pelo grupo de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como o estopim para novas reações dos Estados Unidos sobre o Judiciário e para o agravamento de uma crise institucional com o Brasil.

“INTIMIDAÇÃO” – Aliados do deputado federal que atuam junto a ele em busca de sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e da anistia ampla que envolva o ex-presidente viram como “tentativa de intimidação” o sinal de que Bolsonaro pode cumprir pena em um presídio comum.

Interlocutores de Moraes avaliam que, hoje, a tendência do magistrado seria determinar que o capitão reformado cumpra pena na Papuda, que tem uma ala especial para presos considerados “vulneráveis”, como políticos e policiais. Se a gestão Donald Trump aplicar punições a mais autoridades brasileiras e seus familiares, como outros ministros da corte, a chance de Moraes ordenar que Bolsonaro vá para um presídio comum é considerada ainda maior.

ÚLTIMA INSTÂNCIA – Questionadas se o ministro não poderia adotar uma solução similar à que ocorreu com Lula, que ficou preso em uma sala adaptada na Polícia Federal de Curitiba, pessoas próximas a Moraes apontam que o caso é diferente. O principal argumento é que Lula não tinha uma condenação definitiva quando estava encarcerado na PF. Já Bolsonaro tem uma condenação em última instância.

No entorno de Eduardo, existe a expectativa de que, nesta semana, os EUA apliquem sanções financeiras contra Viviane, esposa de Alexandre de Moraes. A medida seria uma resposta à condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão pela Primeira Turma do STF no julgamento da trama golpista.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse em entrevista nesta segunda-feira (15) que a gestão Trump anunciará, nos próximos dias, medidas em resposta à condenação do ex-presidente brasileiro.

PEC da “blindagem” — um retrocesso com efeitos práticos e simbólicos

Charge do Gilmar (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

Na última terça-feira, a Câmara dos Deputados aprovou, em dois turnos, a chamada PEC da Blindagem, uma proposta de emenda constitucional que altera profundamente o modo como parlamentares poderão ser responsabilizados criminalmente.

O texto cria obstáculos adicionais para a abertura de ações penais e para a execução de medidas cautelares contra deputados e senadores, estabelecendo um novo patamar de proteção política que, para muitos juristas e setores da sociedade civil, representa um claro retrocesso democrático.

AUTORIZAÇÃO – O conteúdo aprovado exige que qualquer ação penal contra um parlamentar só possa ser instaurada mediante autorização do respectivo plenário, em votação secreta, mecanismo que fragiliza a transparência e compromete a accountability do Legislativo.

A PEC também restringe a aplicação de medidas cautelares, como prisões preventivas ou afastamentos automáticos do mandato, mesmo em casos graves, além de ampliar o alcance do foro privilegiado ao incluir presidentes de partidos políticos em determinadas hipóteses. Essas mudanças, embora apresentadas como instrumentos de defesa da independência parlamentar, funcionam na prática como um escudo que pode proteger desvios de conduta.

A Constituição de 1988, marco da redemocratização brasileira, já previa imunidades para garantir que parlamentares exercessem seus mandatos sem perseguições políticas. No entanto, a proposta atual vai além: reforça e expande prerrogativas a ponto de criar um ambiente em que garantias legítimas se transformam em barreiras quase intransponíveis à responsabilização judicial. Em vez de proteger a função pública, a nova redação corre o risco de blindar indivíduos contra a lei.

IMPUNIDADE – As críticas são contundentes e vêm de diversas frentes. Procuradores, magistrados e juristas alertam que a PEC abre caminho para a impunidade, especialmente porque o voto secreto inviabiliza que a população acompanhe como seus representantes se posicionam em casos de suspeita de crime.

Esse recurso torna praticamente impossível responsabilizar politicamente parlamentares que, no escuro, podem proteger colegas de processos judiciais. A proposta, portanto, não apenas fragiliza a transparência institucional, como ameaça minar a confiança pública no Parlamento.

Do ponto de vista jurídico, há uma possível colisão entre a PEC e princípios constitucionais fundamentais, como o da igualdade perante a lei e o da publicidade dos atos públicos. O Supremo Tribunal Federal, inevitavelmente, será chamado a se pronunciar sobre a constitucionalidade do novo arranjo, o que promete abrir mais um capítulo de tensão entre Legislativo e Judiciário.

ALIANÇA – Já no campo político, a aprovação do texto na Câmara reflete a força de uma aliança pragmática entre partidos do centrão, setores da direita e parte da oposição, unificados em torno de um objetivo comum: reduzir a vulnerabilidade de seus quadros às investigações que vêm se intensificando nos últimos anos.

No Senado, a tramitação tende a ser mais difícil. Senadores já sinalizaram resistência à proposta, seja por convicção pessoal, seja por percepção do desgaste que ela pode causar junto à opinião pública. Ainda assim, é evidente que a PEC extrapola o debate técnico sobre procedimentos penais: ela toca no cerne da democracia brasileira, que é a definição dos limites da independência parlamentar sem que se anule o princípio da responsabilidade e da sujeição de todos à lei.

Se a blindagem se consolidar no ordenamento jurídico, os efeitos poderão ser devastadores para a credibilidade das instituições. A percepção generalizada de que o Congresso legisla em causa própria tende a crescer, alimentando a descrença dos cidadãos na política representativa e fragilizando ainda mais a já abalada confiança pública. Em última instância, a PEC não apenas protege parlamentares — ela ameaça a própria ideia de que, em uma democracia, ninguém está acima da lei.

Câmara abre caminho para anistia do 8 de Janeiro e tensiona democracia

Centrão quer anistia com Bolsonaro inelegível e Tarcísio como candidato

Tarcísio só aceita concorrer à Presidência se Bolsonaro pedir

Tarcísio diz que não é candidato, mas ninguém acredita

Carlos Andreazza
Estadão

O mundo real se impõe e faz acelerar. O julgamento dos golpistas acuou o bolsonarismo puro-sangue, decretou o fim de 2025 e projetou no porvir a perspectiva de um novo esquema de poder. A rapaziada saliva ante a chance de partilhar a Esplanada – de controlar a corda e a caçamba – com Jair encostado, seja preso ou indultado. A perspectiva de trair com respeito.

Estamos no pós-Bolsonaro, em função do que todos os agentes políticos e econômicos se orientam; até os Bolsonaro, ora empurrados à condição de reagentes. (Condição sine qua non para o exercício do imponderável, da qual poderá ascender uma dissidência desafiante como a encarnada por Pablo Marçal.)

PÓS-BOLSONARO – O que está em desenvolvimento agora – até onde se pode controlar – é a forma da superação eleitoral a Jair Bolsonaro; o modo como a traição light se manifestará-materializará; a maneira com que o bolsonarismo de oportunidades e resultados representado por Tarcísio de Freitas bailará o isolamento carcerário do ex-presidente para o objetivo de isolá-lo politicamente.

A conta da campanha por anistia – mesmo pela “anistia light” – é cara e não fecha, senão sob teatro. A farsa está em cena, no ato das condolências; do tango pós-condenação – de irrestrito mesmo, no mundo real, somente o compromisso pela inelegibilidade ampla e geral do líder golpista.

A turma – os sócios do governador de São Paulo no projeto de superação bolsonarista de Bolsonaro sem os Bolsonaro – domina a matemática. (A superação bolsonarista de Bolsonaro com os Bolsonaro é tocada por Eduardo.)

FAZENDO CÁLCULOS – Essa galera – Ciro Nogueira, Marcos Pereira, Antônio Rueda, Gilberto Kassab e até Valdemar Costa Neto – calcula. A reabilitação de Bolsonaro – uma anistia que lhe reconstituísse a elegibilidade – serviria ao projeto político de pouquíssimos e viria com arestas supremas tremendas.

É agenda custosa, de mobilização desgastante, em defesa de parceiro imprevisível; que, na hipótese improvável em que alcançada, daria – devolveria – poder a grupo pequeno e fechado.

À grei e a não muitos de fora da empresa familiar que o mito constituiu dentro do Estado, universo a ser mais restrito que aquele aquinhoado entre 2019 e 2022, dado o grau corrente de desconfiança que alimenta a mentalidade conspirativa do bolsonarismo eduardista.

BAIXO BOLSONARISMO – Seria bom para tipos como Sóstenes Cavalcante e outros zuccos do baixo parlamento bolsonarista, que tendem à irrelevância sem que a direita se organize em função dos Bolsonaro.

As migalhas conflituosas que sobrariam aos donos dos grandes partidos não valem o investimento; e eles sabem que a maioria dos deputados e senadores bolsonaristas não tardaria a embarcar na nau da objetividade. Chama-se instinto de sobrevivência.

Para os patronos de Tarcísio de Freitas, os senhores do chamado centrão, o futuro parece muito promissor – estável e mais lucrativo – sem Jair e os Bolsonaro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nada de novo no front ocidental. Tarcísio acaba de esclarecer que é candidato à reeleição, embora todos saibam que não é verdade. Bolsonaro é candidato, mas não tem saúde nem condições legais, está com prazo de validade vencida. E Lula, da mesma forma, já não diz coisa com coisa, a insanidade é cada vez mais evidente. No PT, o melhor candidato seria Aloizio Mercadante, que está muito bem no BNDES, mas Lula odeia qualquer petista que se destaque pela cultura e pela competência. (C.N.)

No Brasil, quem ganha acima de R$ 6 mil paga mais IR que milionários, aponta estudo

No seio do catolicismo, Igreja temia experiências diretas de fiéis com Deus

A ilustração de Ricardo Cammarota foi executada em técnica digital, linguagem vetor. Mostra três figuras alongadas e estilizadas em silhueta roxa, sobre fundo branco. As formas se sobrepõem e lembram seres híbridos entre humanos e animais. À esquerda, uma figura tem cabeça felina e braços estendidos. No centro, uma silhueta antropomórfica aparece em posição inclinada. À direita, outra figura de corpo humanoide apresenta cabeça de antílope com chifres, segurando um bastão longo e fino. Todas as figuras estão entrelaçadas por linhas diagonais que cruzam a composição.

Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

O medo da religião hoje está ligado ao medo do mal que a religião pode fazer para a vida psicológica emancipada moderna, assim como o medo do que grupos religiosos podem fazer à democracia. Exemplo claro da primeira situação é a suspeita em relação à submissão de pessoas religiosas aos “funcionários de Deus” —como o teólogo alemão Eugen Drewermann chama o clero.

Exemplo da segunda situação é o medo manifesto por vários setores da sociedade brasileira de que o país se torne refém do crescimento dos evangélicos de cepa conservadora.

 

NO LADO DE DENTRO – O medo da religião nem sempre teve origem na população exterior às comunidades religiosas. Muitas vezes, e de forma dramática, esse medo veio de dentro dessas mesmas comunidades.

No seio do catolicismo, teve uma face específica que foi o medo da corrente mística dentro da história da espiritualidade católica. A liderança oficial da igreja sempre temeu e acompanhou de perto as pessoas e suas narrativas de experiencias diretas com Deus, denominadas como experiências místicas.

Tanto o medo contemporâneo no Brasil do risco da “irracionalidade evangélica” contaminar a nossa vida social, política, moral e psicológica —nem percamos tempo tentando negar a afirmação acima do medo da irracionalidade evangélica, porque qualquer negação desse tipo seria mentira— quanto o medo da mística dentro da história do catolicismo desde, grosso modo, os séculos 13 e 14, agravando-se ao longo do século 17, ambos são marcados pela identificação do componente de irracionalidade —e da irresponsabilidade moral decorrente— como sendo o núcleo do risco em questão.

MEDO DA MÍSTICA – No caso do medo da mística —meu interesse e objeto de estudo há anos—, devemos olhar para a luta da Igreja Católica para ter controle sobre o que seria ou não uma legítima espiritualidade tocada pelo “conhecimento direto de Deus”.

Essa tentativa de controle da espiritualidade ou da ritualística é denominado pelo historiador francês André Vauchez como a busca pela colonização do sobrenatural europeu por parte do cristianismo católico.

Ela acontece num primeiro momento sobre as formas religiosas pré-cristãs na Europa e, na sequência, sobre as distintas formas de espiritualidades cristãs no mesmo continente.

SANTA INQUISIÇÃO – O leitor que conhece algo do assunto pensará logo na Santa Inquisição, e não estará errado em fazê-lo. Apesar de ela sempre ter sido uma espécie de ministério público da Igreja a aceitar denúncias, processar, investigar e condenar —aqui mais como supremo tribunal da ortodoxia da fé— suspeitos de heresia ou ilegitimidade espiritual, a discussão deste texto não quer chegar a essas minúcias “jurídicas”.

Meu interesse recai sobre o que o grande historiador da mística cristã Bernard McGinnn chama de “A Crise da Mística” no seu livro, cujo título é este em inglês, relançado em 2021.

Essa crise da mística se refere, especificamente, à disputa acerca do quietismo no século 17, que assolou a França, a Itália e a Espanha.

PASSIVIDADE – Quietistas foram, entre muitos outros, o espanhol Miguel de Molinos, condenado pela inquisição e que morreu na prisão depois de nove anos de cárcere na Itália, e os franceses, o arcebispo Fénelon —condenado ao ostracismo—, e Madame Guyon —presa por mais de oito anos. Todos eles tiveram as suas vidas arruinadas.

O quietismo teve esse nome porque afirmava a experiência mística como de absoluta passividade e quietude diante de Deus, num aniquilamento absoluto da alma, conceito que data de autoras como a francesa Marguerite Porete —queimada em Paris em 1310. Quietismo implica um radical silêncio interior, que seria a antessala da experiência mística.

ACIMA DAS LEIS – Os quietistas serão acusados por agentes da hierarquia católica de defensores do antinomianismo. O que é isso? Trata-se de uma acusação muito grave que significa que os místicos estariam acima das leis religiosas ou seculares porque unidos a Deus.

O praticante da oração interior que o aniquila e o leva à liberdade absoluta, sem necessidades de contenção exterior constituída pela instituição ao longo dos séculos, está livre de cometer pecados, livre da necessidade de mortificações ou mesmo da busca de direção espiritual por parte dos membros do clero. Imagine só uma mulher mística assim.

IRRACIONALIDADE – No século 17 do grande racionalismo e posterior iluminismo, a mística quietista —outro termo comum é “a invasão mística”— será vista como um surto de irracionalidade no seio do catolicismo.

A crise da mística à qual se refere McGinn é o descrédito e posterior empobrecimento que se abateram sobre a mística na Igreja Católica desde então.

Defesa plena é uma porta que se fecha com o julgamento de Bolsonaro

Internautas soltam criatividade com saída de Lula da cadeia | Gazeta Digital

Charge do Zappa (humortadela.com)

Roberto Motta
Gazeta do Povo

O veredito menos surpreendente da história brasileira acaba de ser anunciado: o ex-presidente Jair Bolsonaro e vários outros réus foram condenados por crimes que incluem “tentativa de abolição do estado democrático de direito” e “golpe de estado”.

Recapitulando: Bolsonaro foi condenado a 27 anos de prisão; Walter Braga Netto a 26 anos de prisão; Anderson Torres a 24 anos e perda de cargo na Polícia Federal; Almir Garnier Santos a 24 anos; Augusto Heleno a 21 anos; Paulo Sérgio Nogueira a 19 anos; Mauro Cid a 2 anos em regime aberto; e Alexandre Ramagem a 16 anos de prisão, perda de mandato de deputado federal e perda do cargo na Polícia Federal. Todos ficarão inelegíveis por 8 anos após o cumprimento das sentenças e, além de multas individuais, terão que pagar uma multa “solidária” de R$ 30 milhões.

TOM MORDAZ – Ao debater o valor da multa, um dos ministros comentou em tom mordaz que o réu Jair Bolsonaro teria “boa situação financeira”, lembrando de doações via Pix que teriam sido recebidas por ele.

Apesar da gravidade da decisão e de suas consequências, o bom-humor predominou enquanto os ministros pronunciavam suas sugestões para o tempo em que o ex-presidente deveria ficar na cadeia.

Se não houve surpresa alguma com esse resultado, certamente houve choque; o choque de ver confirmada uma previsão que, apesar de já ser considerada certa, ainda assim não perdeu o poder de espantar. A surpresa já tinha vindo um dia antes, no voto do ministro Luiz Fux.

VOTO DEMOLIDOR – No início da semana, no programa “Os Pingos nos Is”, eu disse que não esperava nenhuma novidade no julgamento. Errei. O voto do ministro Fux não foi apenas desconcertante e divergente. Na opinião de muitos juristas ele foi demolidor.

É um voto a ser estudado em salas de aula de Direito no Brasil do futuro – um país que, por algum milagre, tenha se reencontrado com a legalidade.

Um milagre será necessário porque o voto do ministro Fux apontou três nulidades – três fatores que, na sua opinião, tornariam o processo nulo.

AS NULIDADES – Em primeiro lugar, a corte não teria competência para julgar o caso, já que os réus deste processo não têm foro privilegiado – eles deixaram seus cargos no governo antes que fosse modificado o entendimento da corte sobre a manutenção do foro. Os réus deveriam ser julgados por um juiz de primeiro grau, disse o ministro Fux.

Em segundo lugar, disse o ministro, mesmo que, de alguma forma, fosse reconhecida a competência da corte, o caso não deveria ser julgado pela turma, e sim pelo plenário, lugar onde foram realizados todos os grandes julgamentos.

Por último, afirma o ministro, ficou comprovado que houve cerceamento de defesa. Para o ministro Luiz Fux, trata-se de nulidades insanáveis.

EXAME DETALHADO – Em seu extenso voto (a leitura durou treze horas) o magistrado fez um exame detalhado dos autos, provas e alegações. Ele considerou cada uma das acusações, submeteu as provas apresentadas a testes temporais e de lógica, e comparou as condutas dos réus com aquelas definidas na lei como crimes.

Ao final desse processo, o ministro votou pela absolvição do ex-presidente Bolsonaro. Segundo ele, os fatos narrados pela Procuradoria Geral da República não correspondem ao crime de golpe de Estado.

Para o ministro, também não é possível dizer que os crimes praticados nos atos de 8 de janeiro de 2023 decorrem de discursos e entrevistas do ex-presidente.

FORA DA LEI – Ele lembrou que “a lei não permite que se considere uma pessoa responsável por crimes cometidos por outros que foram influenciados por suas palavras”. E deu um claro exemplo: a culpa pelo atentado sofrido por Jair Bolsonaro em 2018 não pode ser imputada a opositores políticos que usaram retórica violenta contra o então candidato. É o óbvio.

Em homenagem ao jurista Evaristo de Moraes, o ministro Fux lembrou que “um crime só existe quando a conduta se encaixa na lei penal como uma luva se encaixa na mão”.

Além de Bolsonaro, o ministro pediu a absolvição de todos os outros réus, à exceção de Mauro Cid e Braga Neto.

IMPARCIALIDADE – Um dos trechos mais impactantes do voto de Fux fala sobre a imparcialidade do juiz. Ele disse:

“O juiz deve acompanhar a ação penal com distanciamento, não apenas por não dispor de competência investigativa como também por seu necessário dever de imparcialidade”.

Fux afirmou ainda que não compete ao tribunal realizar juízo político, e que sua missão exige objetividade, rigor técnico e “minimalismo interpretativo”.

ALÍVIO MOMENTÂNEO – O voto do ministro Luiz Fux produziu um alívio momentâneo em milhões de brasileiros. No dia seguinte vieram as condenações. Retornando de uma viagem a São Paulo, eu atravessava o saguão do Aeroporto de Congonhas quando um rapaz humilde me parou, os olhos cheios d’água. Ele disse: “Me sinto como se o condenado fosse eu”.

Não é o único. Há quem diga que o voto do ministro Fux, além de firmar sua posição como um defensor do Direito, abriu uma porta para que o tribunal saísse da confusão em que havia se metido.

Mas um dia depois o tribunal fechou a porta com estrondo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGExcelente análise, enviada por Mário Assis Causanilhas. Mostra que o cinismo e a desfaçatez da maioria dos ministros do Supremo irão prevalecer enquanto eles não forem substituídos. (C.N.)

Governo de Trump volta a criticar Moraes, condenando a ‘farsa política’

Vice de Rubio fala em "uso da lei como arma política" - Crusoé

“Moraes prejudica relações diplomáticas”, diz Landau

Raisa Toledo
Estadão

O vice-secretário de Estado dos Estados Unidos, Christopher Landau, voltou a criticar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes nesta quarta-feira, 17. Em publicações no X (antigo Twitter), ele acusou Moraes de colocar em risco a relação diplomática entre Brasil e EUA e afirmou que o governo brasileiro precisa adotar medidas contra o integrante do Supremo.

“Os Estados Unidos continuam aguardando que o Brasil contenha o juiz fora de controle Moraes antes que ele destrua completamente a relação de que nossos grandes países desfrutam há mais de dois séculos”, escreveu o membro do governo Trump, referindo-se ao ministro como “sancionado e violador de direitos humanos”.

PRESO NA PAPUDA – Landau comentou uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo que afirmava que, segundo ministros do STF, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) poderia ficar preso no Complexo Penitenciário da Papuda caso os EUA prosseguissem com sanções contra o Brasil.

“Se esta reportagem for precisa, apenas confirma que todo o processo ‘judicial’ em andamento no Brasil é uma farsa política. Aqueles que afirmam seguir o Estado de Direito não podem aumentar a punição de um réu em função da resposta de terceiros à sua decisão”, escreveu.

“Como @realDonaldTrump e @SecRubio enfatizaram, os Estados Unidos responderão adequadamente a essa caça às bruxas política e não serão dissuadidos por ameaças judiciais”, completou.

MORAES ABUSA – Em comentário de outra notícia, sobre um pedido de prisão expedido em 2024 por Alexandre de Moraes contra uma mulher que tem dupla cidadania e vive nos Estados Unidos, Landau afirmou que “os Estados Unidos não permitirão que o juiz Moraes estenda seu regime de censura ao nosso território”.

Ele acusou o ministro de abusar do sistema judicial e o Brasil de deixá-lo perseguir objetivos políticos.

Acredite se quiser! Procuradoria quer fechar a Jovem Pan por defender Bolsonaro

Fraude no INSS: bens de luxo de lobistas vão bancar ressarcimento a aposentados

As dúvidas e angústias de Drummond sobre o que realmente significa viver

O importante não é estar aqui ou ali,... Carlos Drummond de Andrade - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O bacharel em Farmácia, funcionário público, escritor e poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), um dos mestres da poesia brasileira, fala das angústias de quem esperava mais do viver.

VIVER
Carlos Drummond de Andrade

Mas era apenas isso,
era isso mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada?

E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?

Isso, ou menos que isso,
uma noção de porta,
o projeto de abri-la
sem haver outro lado?

O projeto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa?

Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança?

Bolsonaro é condenado a pagar R$ 1 milhão por declarações racistas

Deputados aprovam a excrescência chamada de “blindagem parlamentar”

Brasília (DF), 16/09//2025 - Sessão da Câmara dos Deputados. Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Hugo Morra comandou a votação da PEC da Bandidagem

Vicente Limongi Netto

Deputados federais chegaram ao fundo do poço em matéria de agressão ao bom senso. Um monumento recheado de privilégios imundos e nada republicanos.  Aprovaram a excrescência chamada “PEC da Blindagem”. Um balaio indecoroso protegendo todos os cretinos engomados de processos.

O palavrão legislativo já é tratado,  com todo merecimento, pela população, de “PEC da bandidagem”. Pelo texto, os parlamentares não poderão mais ser denunciados nem punidos pela Justiça, por qualquer tipo de crime, por mais escabrosos que sejam, sem o consentimento da Câmara Federal.

Mais uma vez pautas de interesse da coletividade, que deveriam ser discutidas com rigorosa prioridade, são esquecidas em detrimento de pleitos pessoais que apequenam e envergonham mais ainda o Legislativo junto à opinião pública. Tenho ânsia de vômito.

UM POEMEU – Por fim, “Sombras do Céu”. É um “poemeu’, como dizia Millôr Fernandes, em breves palavras.
SOMBRAS DO CÉU
Recebo sombras do céu.
Molhadas com orvalho.
Carregadas de mãos amorosas.
No peito a dor da aflição.
Na boca a timidez do prazer. t

Valdemar, Bolsonaro e a confissão que abala o bolsonarismo

Valdemar admite que houve ‘planejamento de golpe’

Pedro do Coutto

A recente declaração de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, de que havia de fato um plano de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder, abriu uma crise sem precedentes dentro da direita brasileira. Não se trata apenas de uma fala infeliz ou de um deslize verbal: Valdemar, um dos principais articuladores políticos do bolsonarismo, reforçou publicamente a tese sustentada pela Procuradoria-Geral da República e acolhida pelo Supremo Tribunal Federal.

Na prática, confirmou aquilo que o STF já havia julgado e condenado: a conspiração contra o Estado Democrático de Direito. Com essa admissão, ainda que posteriormente negada, o líder do PL ofereceu munição pesada a opositores e colocou em xeque a estratégia de defesa de Bolsonaro e de sua base.

REFLEXOS – A reação de Bolsonaro foi imediata e furiosa. O ex-presidente, condenado a mais de 27 anos de prisão, nunca admitiu a existência de um plano golpista, preferindo sustentar a narrativa de perseguição política. Quando um dos seus mais próximos aliados rompe essa versão e reconhece, ainda que por descuido, a articulação da ruptura institucional, toda a retórica cuidadosamente construída desmorona.

Valdemar percebeu o erro e, num movimento típico da política, tentou recuar, relativizar suas palavras e negar o que havia dito. Mas, como lembrava Magalhães Pinto, a política é como a nuvem: muda de forma com o vento. A tentativa de desdizer o que já estava dito não apagou o estrago. A imagem de um líder partidário admitindo a conspiração ficou registrada no imaginário político e midiático.

ANISTIA – O impacto imediato foi sobre a articulação da anistia que bolsonaristas pressionam para colocar em votação no Congresso. O discurso de Valdemar enfraqueceu sobremaneira o projeto, pois deu razão àqueles que acusam a proposta de ser uma manobra para encobrir crimes graves contra a democracia.

Parlamentares alinhados ao governo e setores da sociedade civil passaram a usar as palavras do próprio presidente do PL como prova de que a anistia não pode prosperar. Valdemar, ao tentar apagar o fogo que ele mesmo acendeu, acabou revelando uma contradição incontornável: como defender a anistia de crimes que já foram confirmados por seus próprios aliados?

O episódio pode se consolidar como um divisor de águas, deixando claro que, ao menos no terreno político, o bolsonarismo começa a enfrentar não apenas a resistência institucional, mas também as rachaduras internas que comprometem sua narrativa de unidade e vitimização.

Câmara avalia manobra que mantém Eduardo Bolsonaro no cargo apesar das faltas

Para salvar Bolsonaro, aliados querem que EUA apoie anistia e CPI do STF

Com rito acelerado, a anistia pode ser aprovada este mês na Câmara

Charge do Eri (Arquivo Google)

Guilherme Caetano
Estadão

Com Jair Bolsonaro condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão, o bolsonarismo deve abrir ao menos três frentes de batalha para tentar salvar o ex-presidente e contra-atacar o Judiciário: duas no Congresso e uma no âmbito internacional, em especial nos Estados Unidos de Donald Trump.

O deputado Luciano Zucco (PL-RS), líder da oposição e o aliado de Bolsonaro mais presente na plateia da Primeira Turma do STF durante o julgamento, avalia que a “brecha jurídica” aberta pelo voto dissidente do ministro Luiz Fux deve ser usada para tentar reverter o quadro do ex-presidente.

Fux foi o único dos cinco ministros que compõem a Primeira Turma do STF que repetiu as alegações apresentadas pelas defesas, votou pela nulidade do processo e rechaçou o teor golpista dos episódios que precederam o 8 de Janeiro. Os demais ministros condenaram Bolsonaro pelos crimes de organização criminosa, tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de direito, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

VOTO DISSIDENTE – A saída traçada pelos bolsonaristas para salvar o ex-presidente passaria por instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista — com deputados e senadores — para investigar eventuais abusos e irregularidades do Poder Judiciário. A empreitada tem apoio até mesmo da ala moderada do bolsonarismo, como o senador Marcos Pontes (PL-SP).

A ideia da CPI nasce do crescente sentimento entre os bolsonaristas de que o julgamento encerrado no último dia 11 de setembro foi um “jogo de cartas marcadas” entre magistrados que querem perseguir o ex-presidente.

“O poder corrompido não trata quem pensa diferente como adversário, mas como inimigo a ser eliminado. Nesse cenário, uma reorganização e fortalecimento (do bolsonarismo) são necessários. Assim como o Brasil precisa estar livre, todos os presos políticos — incluindo Bolsonaro — também precisam. É por essa liberdade que trabalharemos”, diz a deputada Júlia Zanatta (PL-SC).

ADESÃO À CPI – Os bolsonaristas têm mantido um site, registrado no nome do deputado Gustavo Gayer (PL-GO), para monitorar a adesão dos parlamentares à ideia de criação da CPI e pressionar os demais. O placar apontava, na tarde da sexta-feira, 12, um total de 184 assinaturas a favor nas duas Casas, 145 contrários e 284 indefinidos. Zucco diz estar reunindo as últimas assinaturas necessárias para protocolar o pedido de instalação da comissão.

“Nós temos discutido a CPI da Vaza Toga. A gente entende que, como não temos como recorrer em nenhuma instância (dentro do Brasil), possamos levar isso para tribunais internacionais. Vamos tratar com o Filipe Barros (presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara) a possibilidade de ida de parlamentares ao parlamento americano, a entidades jurídicas internacionais, para levar as denúncias”, afirma ele.

APOIO DOS EUA – Nessa frente internacional mencionada por Zucco estaria a articulação que vem sendo feita pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e pelo comunicador Paulo Figueiredo.

Os dois têm feito reuniões em Washington para pressionar a Casa Branca a sancionar ministros do STF e tentar impedir punições contra o ex-presidente.

“Só há uma postura possível (a partir da condenação): uma luta incessante em cada front por uma anistia ampla, geral e irrestrita. Congresso, governos, Estados, lideranças religiosas, comunicadores, setor empresarial e, claro, os Estados Unidos com os demais países da comunidade internacional”, diz Figueiredo, questionado pelo Estadão sobre qual frente priorizar.

OFENSIVA DE TRUMP – Os Estados Unidos aparecem como nova fronteira da direita brasileira, uma vez que Trump já demonstrou, na ocasião do tarifaço e da imposição da Lei Magnitsky contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, estar atento ao julgamento de Bolsonaro e que pode usá-lo como munição para outra ofensiva contra o Brasil.

O Partido Liberal (PL) vê surgir mais uma vez, após sucessivos fracassos, um novo momento político para avançar com a anistia. A bancada federal está definindo as estratégias de atuação e espera ver o tema ser pautado no Colégio de Líderes no mesmo dia.

Apesar da pressão bolsonarista, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), vem fazendo o que pode para empurrar a discussão da anistia. Ele segue sem dar previsão de votação nem indicar relator para o tema.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A resistência de Motta tem limites. O regimento da Câmara determina que, se houver apoio da maioria absoluta dos deputados ou assinatura de líderes de partidos que representem esta maioria (metade mais um), o presidente da Câmara é obrigado a reconhecer situação de “urgência urgentíssima” e tem de pautar o projeto na primeira sessão. Para vocês terem uma ideia, na História Republicana já houve “urgência urgentíssima” para atrasar o relógio do plenário e não perder o prazo. (C.N.)

Tempos de cólera, com a política infectada por intolerância e õdio

Jovem - O ativista conservador Charlie Kirk, aliado próximo do presidente Donald Trump, morreu nesta quarta-feira (10) após ser baleado durante um evento na Universidade Utah Valley, nos Estados Unidos. De acordo

Charlie Kirk, ativista migo de Trump, levou cinco tiros

Vicente Limongi Filho 

Nos Estados Unidos, um famoso ativista de direita, Charlie Kirk, pregador da paz,  partidário de Donald Trump, é assassinado; no Brasil, reitora filha do ministro do STF, Edson Fachin, é insultada e recebe cusparada no rosto; governador de Santa Catarina, bolsonarista, é ameaçado de morte  por cinco bandidos; na Praia Grande, SP, ex-diretor-geral da Policia Civil é executado em emboscada. 

BARBÁRIE E ÓDIO – É o clima de intolerância de mãos dadas com a barbárie e com o ódio, cada vez mais ganhando espaço no Brasil. No meio político, embora ainda longe das eleições, o ambiente é de degradação pessoal. O topetudo Trump manda e desmanda no Brasil.

Lula e seu ministro Lewandowski adotaram a postura do silêncio. Passou da hora de reagir duro. Itamaraty reage timidamente. Interesses pessoais na frente dos interesses coletivos.

Grupos políticos trocam insultos, pisam na honra alheia. O povo que se dane. 

MEMÓRIAS DO LOBÃO – Antes de entrar na política, Edison Lobão foi um expressivo colunista político. Do Correio Braziliense e da Última Hora.  Agora lançou livro rico em revelações políticas e históricas. Viveu, participou e escreveu sobre importantes épocas da vida do Brasil.

Na marcante obra, “Memórias e Testemunhos”, o eterno repórter Edison Lobão relata momentos felizes e tumultuados do país. O livro de Lobão é útil para estudantes, repórteres políticos iniciantes, professores, historiadores e sociólogos.

DIZ SARNEY – Prefácio é do ex-presidente e acadêmico José Sarney. Para Sarney, “Lobão nos surpreende com um delicioso livro, abrindo sua caixa de segredos não contados em suas colunas, em que com seu estilo de síntese consegue analisar um período difícil da história política brasileira, de que foi testemunha e, já como político, também protagonista”.

Em sua carreira vitoriosa de homem público, Edison Lobão foi deputado federal, senador, governador e ministro de Estado. Como senador, foi presidente interino da Câmara Alta, com a licença do senador-presidente, Jader Barbalho.  

AMIGO DA ONÇA –  Uma onça solta em Brasília causando pânico. Matando o que encontra pela frente. Autoridades alertam que o ferino é intocável. Feri-lo dá cadeia sem direito a fiança.

Nada contra os animais. O que não entra na minha cabeça é que ferinos perigosos podem mutilar, ferir e matar seres humanos. Se a reação dos humanos for violenta, correm o risco de serem presos. Me expliquem, por favor, se exagero nas minhas ponderações.

EVOLUÇÃO NO DF – O comércio do Distrito Federal é um dos principais indicadores da situação real da economia nacional. É fato da maior importância a notícia de que na capital as vendas do comércio cresceram bem acima da média nacional e devem fechar 2025 em alta.

Para o presidente do Sistema Fecomércio-DF, José Aparecido, o resultado confirma a força do mercado brasiliense, que espera boas notícias neste Natal.

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