Moraes ordena vistoria em carros para impedir a fuga de Bolsonaro

Saiba o que a PF encontrou na casa de Bolsonaro

Até os porta-malas dos veículos têm de ser vistoriados

Thaís Barcellos
O Globo

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou neste sábado que os carros que deixarem a casa do ex-presidente Jair Bolsonaro, em prisão domiciliar, terão de ser revistados. Moraes também determinou monitoramento presencial da área externa da residência.

Segundo o ministro, as novas medidas são necessárias para impedir “qualquer possibilidade de fuga” do ex-presidente. Na semana que vem, Bolsonaro começará a ser julgado pelo STF pela tentativa de golpe de Estado.

ORDEM À PF – “Determino que a Polícia Penal do Distrito Federal, em complementação às medidas de monitoramento em curso, realize ‘vistorias nos habitáculos e porta-malas de todos os veículos que saírem da residência do réu, para fins de incremento nas atividades de monitoramento'”, disse, na decisão.

O magistrado afirmou que as vistorias deverão ser devidamente documentadas, com a indicação dos veículos, motoristas e passageiros e que os autos das vistorias deverão ser enviados à juízo diariamente.

Quanto ao monitoramento da área externa da casa, Moraes explicou que se refere à parte descoberta da propriedade, na área que faz divisa com outros imóveis devido a existência de “pontos cegos”.

LEI PENAL – Na decisão, o ministro do STF afirmou que a efetividade do monitoramento integral de Bolsonaro, determinada pelo próprio Moraes, exige a adoção de novas medidas “que conciliem a privacidade dos demais residentes do local e a necessária garantia da lei penal, impedindo qualquer possibilidade de fuga.”

A decisão ocorre após um relatório da Polícia Federal apontar que, em caso de intenção de fuga de Jair Bolsonaro, seria necessário o “acompanhamento in loco e em tempo integral das atividades do custodiado, e do fluxo de veículos na residência e de vizinhos próximos, únicas medidas hábeis a minimizar, de forma razoavelmente satisfatória, tais riscos”.

Depois, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal destacou, em ofício, que a existência de outras casas ao lado e nos fundos da residência do ex-presidente causa a existência de “pontos cegos” no monitoramento já realizado na frente da propriedade, também determinado por Moraes.

SINAL DA TORNOZELEIRA – A secretaria também apontou que, a depender da localização de Bolsonaro, o sinal da tornozeleira eletrônica pode ser interrompido ou ficar mais lento.

Já a Procuradoria-Geral da República não objetou a vigilância da área externa da casa, embora tenha se manifestado contra a presença de agentes na área interna da residência.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Sinceramente, o ministro Moraes é muito exagerado e criativo. A perseguição a que submete Bolsonaro é totalmente dispensável, parece uma forma de tortura psicológica para premiar um admirador de Brilhante Ustra, vejam como os peixes continuam morrendo pela boca. (C.N.)

Alto Comissariado e servidores da ONU comprovam genocídio em Gaza

Israel retoma fornecimento de tendas de campanha para Gaza — DNOTICIAS.PT

Refugiados ficam em tendas ao longo da Faixa de Gaza

Jamil Chade
do UOL

Em uma espécie de rebelião interna, centenas de funcionários das Nações Unidas escreveram uma carta para a direção da entidade fazendo um apelo para que a situação de Gaza seja oficialmente classificada como um genocídio por parte de Israel contra os palestinos. Quase dois anos após o início da crise e com 63 mil palestinos mortos, a ONU ainda não tomou uma posição oficial para como qualificar o que está ocorrendo em Gaza.

No documento, o grupo de mais de 500 funcionários pede que o alto comissário da ONU para Direitos Humanos, Volker Turk, mude de postura e alerta que o silêncio pode ser considerado como cumplicidade. A iniciativa ocorre num momento em que a ONU declarou oficialmente o estabelecimento da fome em Gaza e quando o número oficial de mortes chega a 63 mil palestinos.

ATO INÉDITO – A postura dos funcionários da ONU é inédita, ainda que, nos primeiros meses da ofensiva de Israel contra Gaza, um dos diretores da entidade tenha publicado uma carta no dia de sua aposentadoria alertando para o fracasso da instituição em qualificar a situação dos palestinos como um genocídio.

Na carta desta semana, os funcionários apontaram como os critérios legais para definir gaza como genocídio tinham sido preenchidos.

Em um dos trechos, os especialistas “expressam profunda frustração com a escala, o alcance e a natureza das violações relatadas e seu impacto sobre os civis, especialmente mulheres e crianças, e muitos estão preocupados com o fato de que a abordagem do Escritório da ONU corre o risco de minar a credibilidade da entidade como autoridade líder em direitos humanos para todos em todos os lugares”.

BASE EM RELATÓRIOS – Os funcionários consideram –com base em relatórios extensos dos mecanismos da ONU e de especialistas independentes — que a situação em Gaza “atende aos elementos da Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio e acreditam que o Escritório da ONU deveria refletir essa avaliação de forma mais explícita em suas comunicações públicas”.

Segundo a carta, os relatórios humanitários da ONU continuam a documentar as baixas civis em massa diárias, a destruição generalizada e as interrupções na assistência humanitária, resultando em fome forçada, morte e deslocamento.

2Os funcionários enfatizam que, com base nas evidências disponíveis e nas avaliações autorizadas dos especialistas nomeados pela ONU, bem como de profissionais jurídicos, o limiar jurídico previsto na Convenção sobre Genocídio foi atingido. Portanto, instam o Escritório da ONU a avaliar essas conclusões e a declarar publicamente a caracterização jurídica.

ATRASO – Reconhecimento do atraso. A equipe solicita que o Escritório da ONU reconheça as preocupações com o atraso em assumir uma posição clara e pública sobre a situação em Gaza e seu impacto na confiança na liderança da instituição.

Os funcionários solicitam que a ONU pressione publicamente os estados e outras entidades a suspenderem a venda e transferência de armas, bem como o apoio logístico ou financeiro relacionado às autoridades israelenses, o que constitui uma clara violação do direito internacional.

Segundo eles, o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos tem uma “forte responsabilidade legal e moral de denunciar atos de genocídio”. “A ONU foi fundada após a Segunda Guerra Mundial, incluindo o Holocausto, com o objetivo de impedir que tais atrocidades se repetissem”, alertam. “Deixar de denunciar um genocídio em andamento compromete a credibilidade da ONU e do próprio sistema de direitos humanos”, disseram.

FALHAS DA ONU – “Notavelmente, o silêncio durante o genocídio de Ruanda é frequentemente citado como uma das maiores falhas morais da ONU”, alertam.

A carta vem depois que relatores da ONU e entidades como a Anistia Internacional já optaram por chamar Gaza de genocídio. A ONU, porém, vem optando por apenas citar crimes contra a humanidade e crimes de guerra.

A posição oficial da entidade é que apenas um tribunal pode chegar a essa constatação, já que a definição do genocídio envolve uma investigação para determinar que existe a motivação da morte de um grupo étnico.

DAR O ALARME – Em nota, o escritório de Direitos Humanos da ONU afirma que tem trabalhado “em circunstâncias muito difíceis — e enfrentando difamações e acusações de parcialidade, cumplicidade, antissemitismo, duplo padrão e muito mais — para tentar documentar os fatos no terreno e dar o alarme”.

O órgão garante que “tem havido e continuará a haver discussões internas sobre como avançar”.

“Sobre a questão da qualificação dos crimes, o Alto Comissário tem alertado –desde o início do conflito– para o risco elevado e crescente de que estejam a ser cometidos crimes atrozes no Território Palestino Ocupado, incluindo ao Conselho de Segurança da ONU”, afirma.

CRIMES DE ISRAEL – “Os crimes atrozes incluem crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio”, insiste.

De acordo com a nota, Turk também apontou repetidamente para as ordens da Corte Internacional de Justiça sobre os riscos de violações da Convenção sobre Genocídio e a necessidade urgente de cumprimento integral dessas ordens vinculativas e das obrigações da Convenção. “Ele tem chamado a atenção para a necessidade de prevenir o genocídio”, destaca.

Para eles, Gaza tem sido uma “mancha na consciência coletiva da humanidade”. “A comunidade internacional precisa se unir para pôr fim a esse horror insuportável”, completam.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Negar o genocídio em Gaza significa a mesma coisa que negar o Holocausto na Segunda Guerra. O governo de Israel precisa parar as atrocidades, que já foram longe demais. (C.N.)

Colocar policiais na casa de Bolsonaro seria abusivo e inconstitucional

Polícia Federal faz busca e apreensão na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília — Foto: Cristiano Mariz / O Globo

A casa está cercada, não há necessidade de ingressar nela

Wálter Maierovitch
do UOL

Por proposta do procurador Paulo Gonet, o ministro Alexandre de Moraes negou a representação formulada pela Polícia Federal a respeito da necessidade de se colocar, durante o tempo de duração da custódia domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, um agente no interior da residência, para comunicar a movimentação e eventuais indicativos de fuga, dadas como insuficientes a tornozeleira e a vigilância externa.

Toda medida restritiva da liberdade de locomoção deve estar baseada na necessidade e na urgência. No caso, a colocação de um policial federal na casa de Bolsonaro trata-se de exagero absoluto.

ABUSO DE PODER – Proposta abusiva e inconstitucional. Abuso, pois desnecessária e geradora de inconveniente espetacularização, às vésperas de importante julgamento do STF relativo ao processo criminal de tentativa de golpe de Estado.

Como se sabe, policiais encontram-se dentro do condomínio fechado onde reside o ex-presidente e, praticamente, na soleira da porta de ingresso da casa de Bolsonaro. Toda a casa está vigiada de fora, cercada e monitorada.

Basta alguém sair da casa para ser notado. E a polícia tem experiência para neutralizar toda tentativa de fuga, usando disfarce ou métodos imaginativos, cinematográficos, variados.

TUDO ERRADO – Um deferimento da representação da Polícia Federal pelo ministro Moraes acarretaria exposição desnecessária, com violação à garantia constitucional da privacidade, da intimidade, à véspera do julgamento do rumoroso processo no STF.

A casa, como regra, é asilo inviolável. Nossa Constituição garante isso. Aliás, uma garantia nascida na Inglaterra em razão dos abusos do poder real: “My house is my kingdom” (minha casa é o meu reino).

Gonet já afastou a presença de policiais dentro da casa de Bolsonauro. Espera-se, até segunda feira (1º), uma provocação da Procuradoria-Geral da República a fim de ser imposta, por decisão de Moraes, a prisão preventiva de Eduardo Bolsonaro. É claramente necessária.

PAI E FILHO – O inquérito que investigou ações atentatórias à soberania nacional, com negociações nos EUA voltadas a desestabilizar o nosso país e coagir autoridades, está concluído. Nesse inquérito, então indiciados o ex-presidente Bolsonaro e o filho-deputado Eduardo. Aliás, o rebento atua no interesse do pai, e não do Brasil. É um ventríloquo do pai, em panos de traidor da pátria.

Atenção. Nesse inquérito é que deverá ocorrer o requerimento do procurador-geral, Paulo Gonet, de imposição da prisão preventiva a Eduardo.

Pelos elementos contidos na investigação e as notórias e nefastas atuações criminosas de pai e filho, Gonet não deverá propor o arquivamento do inquérito.

O testamento lírico de Hilda Hilst, uma poeta-criança tão confundida

Paulo Peres
Poemas & Canções

A ficcionista, dramaturga, cronista e poeta paulista (1930-2004) Hilda Hist é considerada pela crítica especializada como uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX. No poema “Testamento Lírico”, Hilda diz que sempre se perdeu, porque desde criança era confundida e, nesse sentido, responde aos que desejam saber o quanto ela pediu durante sua vida. 

TESTAMENTO LÍRICO
Hilda Hilst

Se quiserem saber se pedi muito
Ou se nada pedi, nesta minha vida,
Saiba, senhor, que sempre me perdi
Na criança que fui, tão confundida.
À noite ouvia vozes e regressos.

A noite me falava sempre sempre
Do possível de fábulas. De fadas.
O mundo na varanda. Céu aberto.
Castanheiras douradas. Meu espanto
Diante das muitas falas, das risadas.
Eu era uma criança delirante.

Nem soube defender-me das palavras.
Nem soube dizer das aflições, da mágoa
De não saber dizer coisas amantes.
O que vivia em mim, sempre calava.

E não sou mais que a infância. Nem pretendo
Ser outra, comedida. Ah, se soubésseis!
Ter escolhido um mundo, este em que vivo,
Ter rituais e gestos e lembranças.
Viver secretamente. Em sigilo
Permanecer aquela, esquiva e dócil.
Querer deixar um testamento lírico
E escutar (apesar) entre as paredes
Um ruído inquietante de sorrisos
Uma boca de plumas, murmurante.

Nem sempre há de falar-vos um poeta.
E ainda que minha voz não seja ouvida
Um dentre vós, resguardará (por certo)
A criança que foi. Tão confundida.

Ligação do PCC com Banco Master vai criar uma nova Lava Jato

A imagem mostra uma casa moderna iluminada à noite, com uma piscina em primeiro plano. A estrutura da casa é de dois andares, com grandes janelas que refletem a luz interna. Há uma área externa com mesas e cadeiras, além de plantas ao redor. O céu está escuro, indicando que é noite.

Mansão onde mora o banqueiro na verdade pertence ao PCC

Guilherme Seto e Lucas Marchesini
Folha

Mais da metade dos fundos do Banco Master, comandado por Daniel Vorcaro e que está em processo de venda para o BRB (Banco de Brasília), são administrados por Trustee DTVM e Reag Investimentos, empresas que foram alvos de operações nesta quinta-feira (28) contra a atuação do PCC (Primeiro Comando da Capital) e de outras facções na cadeia produtiva de combustíveis e no setor financeiro.

Na avaliação de profissionais do mercado ouvidos pela reportagem, a operação mostra um possível ponto de fragilidade do Master no momento em que o Banco Central analisa a negociação com o BRB.

MAIORES PARCEIRAS –  Levantamento da Folha identificou que 18 dos 34 fundos declarados pelo Master em seu balanço são administrados por Trustee e Reag. Juntas, elas são as duas principais parceiras do banco.

Em nota, a assessoria de imprensa da instituição financeira de Vorcaro afirmou que “a Reag é uma prestadora de serviços do Banco Master, e tem como atividades a gestão e a administração de fundos. É uma entre outras entidades financeiras que prestam serviços nesta atividade. O Master é apenas um entre centenas de clientes da Reag.”

MANSÃO NO LAGO – Vorcaro tem relação próxima com as duas empresas. A casa em que ele mora e na qual faz reuniões de relacionamento político, em Brasília, tem ligações com a Reag, que administra cinco fundos operados pelo Master.

Reportagem da Folha mostrou que o imóvel de R$ 36 milhões foi adquirido por uma empresa que tem ligações com Vorcaro, a Super Empreendimentos, em 3 de junho de 2024. À época, seu cunhado, o advogado Fabiano Zettel, era um dos diretores da firma. A Super pertence a um fundo que é administrado pela Reag.

O Will Bank, que tem forte atuação no Nordeste e é parte central da operação de venda do Master para o BRB, foi comprado pelo Master em operação conjunta com a Reag, em 2024. O Will Bank é visto pelo BRB como aposta para entrar no mercado de serviços digitais e para ampliar a base de clientes nas classes C e D.

ALVO DA OPERAÇÃO – Listada na B3, a Reag confirmou ter sido alvo da operação e disse que está colaborando com a investigação. As ações da empresa caíam mais de 12% no Ibovespa nesta quinta em virtude da operação.

A Trustee DTVM, por sua vez, pertence a Maurício Quadrado, que foi sócio do Master, anunciou a venda de sua fatia no ano passado e hoje comanda o BlueBank. A Trustee administra 13 fundos ligados ao banco.

A gestora apareceu em polêmica recente envolvendo o Master, o empresário Nelson Tanure (próximo de Vorcaro) e Tércio Borlenghi Júnior, controlador da empresa de gestão ambiental Ambipar.

TROCA DE FAVORES – Segundo a área técnica da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a compra de ações da Ambipar por parte de fundos da Trustee no ano passado, que levou à valorização dos papéis em mais de 800%, teria sido uma “troca de favores” que fez com que a empresa aumentasse seu valor de mercado e o Master elevasse seu patrimônio.

Além disso, Tanure teria conseguido garantias necessárias para arrematar a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) m leilão.

O colegiado da CVM, no entanto, acolheu recurso dos envolvidos e decidiu contra o parecer da equipe técnica.

Em nota, a Trustee disse ter renunciado à administração de fundos antes mesmo da ação desta quinta-feira por decisão da área de compliance “por desconformidade da atualização cadastral identificada há alguns meses”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A operação Carbono Oculto, maior ação desse tipo na história, segundo a Receita Federal, mobilizou 1.400 agentes em oito estados e busca desarticular a infiltração do crime organizado no setor de combustíveis e em instituições financeiras utilizadas como suporte dessa cadeia, envolvendo diretamente a facção Primeiro Comando da Capital (PCC). É a segunda Lava Jato, que vai dar muito o que falar. O mercado financeiro está em polvorosa e os escritórios de advocacia explodem champagne. (C.N.)

Bolsonaro no banco dos réus: O legado de um Brasil que resiste

O julgamento do ex-presidente é  um divisor de águas

Marcelo Avelino Copelli
Revista Fórum  

O Brasil atravessa um momento decisivo em sua história democrática. O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, previsto para o próximo dia 2 de setembro, não trata apenas da responsabilização de um ex-chefe de governo acusado de graves crimes contra a democracia, mas também da reafirmação da força das instituições e da capacidade do país de resistir ao autoritarismo. Refere-se a um processo que ultrapassa o indivíduo e alcança a própria essência do Estado de Direito.

Bolsonaro enfrenta acusações graves, incluindo tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada e tentativa de abolição violenta do regime democrático. Se condenado, poderá enfrentar até quatro décadas de prisão. A Procuradoria-Geral da República tem sido incisiva na acusação, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) demonstra firmeza inabalável em suas decisões.

CONTRAPONTO – Essa postura é um contraponto fundamental diante de um histórico recente em que setores conservadores da política nacional testaram os limites da democracia, ora flertando com a ruptura institucional, ora pressionando o Judiciário em busca de impunidade.

Recentemente, o ministro Alexandre de Moraes determinou o reforço da vigilância na residência de Bolsonaro após a descoberta de um rascunho de pedido de asilo político na Argentina e informações sobre uma possível fuga para a Embaixada dos Estados Unidos.

Embora a defesa alegue que o documento não tem validade, o episódio expôs a fragilidade e imprevisibilidade do ex-presidente. Diante do peso das acusações, ele buscou alternativas fora do país, o que compromete sua imagem de “estadista”. A tentativa de transformar uma estratégia de fuga em argumento de perseguição política revela mais sobre a fragilidade da defesa do que sobre qualquer suposta arbitrariedade do Judiciário.

RESISTÊNCIA – A crise que se desenha não é inédita. A democracia brasileira já enfrentou ameaças semelhantes no passado: da quartelada de 1964 às tensões institucionais que marcaram o processo de redemocratização e os anos seguintes. Em todos esses momentos, a capacidade ou incapacidade das instituições de resistir à pressão definiu os rumos do país.

Hoje, novamente, o Brasil se vê diante da mesma encruzilhada — e, ao contrário de outrora, encontra um Supremo disposto a resistir firmemente, mesmo diante de ataques pessoais, ameaças digitais e sanções internacionais.

As mensagens privadas divulgadas pela Polícia Federal explicitam fissuras dentro da base bolsonarista, revelando disputas internas e desconfianças em torno da candidatura de Tarcísio de Freitas para 2026. A revelação de transferências financeiras suspeitas para Eduardo Bolsonaro no exterior e a aproximação com líderes estrangeiros de extrema-direita reforçam a percepção de que o bolsonarismo buscou apoio externo para enfraquecer o Poder Judiciário. Contudo, tais articulações não foram capazes de impedir o avanço do processo, que segue rigorosamente dentro dos marcos constitucionais.

DESTAQUE – No plano internacional, a postura firme do STF contrasta com experiências recentes de democracias mais antigas, como a americana. Não por acaso, a revista The Economist destacou que o Brasil oferece aos Estados Unidos uma lição de maturidade democrática.

Enquanto a política norte-americana ainda luta para responsabilizar Donald Trump pelos eventos de 6 de janeiro de 2021, com a invasão do Capitólio, o Brasil demonstra que não há líderes acima da lei. Essa distinção projeta o país no cenário global como exemplo de que democracias jovens também podem ser resilientes, mesmo sob enorme pressão.

O julgamento de Bolsonaro é, portanto, mais do que um processo jurídico: é um divisor de águas. A escolha que o Brasil tem diante de si neste momento — entre justiça e impunidade, entre democracia e autoritarismo — terá efeitos de longo prazo sobre a política nacional e a confiança das futuras gerações em suas instituições.

GUARDIÃO – O Supremo, alvo de críticas e ataques, emerge como guardião último da ordem constitucional, reafirmando que a soberania nacional não pode ser negociada nem refém de pressões externas.

A maturidade de uma democracia se mede, sobretudo, pela capacidade de enfrentar seus fantasmas sem ceder ao medo ou ao populismo. Se o Brasil souber atravessar este julgamento com firmeza, transparência e respeito ao devido processo legal, não apenas reafirmará seu compromisso com o Estado de Direito, mas também enviará ao mundo uma mensagem poderosa: aqui, a democracia não se dobra.

 

A nova fronteira da lavagem de dinheiro e a resposta do Estado brasileiro

Procurador evita que Polícia Federal transforme Bolsonaro numa “vítima”

36,3% dos brasileiros teriam apoiado golpe tramado por Bolsonaro - Vermelho

Charge do Nando Motta (Arquivo Google)

Josias de Souza
do UOL

Em ofício entregue ao Supremo, o procurador-geral Paulo Gonet posicionou-se contra a pretensão da Polícia Federal de colocar agentes dentro da casa de Bolsonaro. Abateu duas bizarrices com uma cajadada. Primeiro, sepultou a prepotência policial. Segundo, matou o risco de a PF fornecer pano para o figurino de vítima de Bolsonaro.

Na Presidência e fora dela, os maiores excessos a que Bolsonaro foi submetido sempre foram os de moderação. A condescendência com o personagem foi diminuindo na proporção direta da aproximação do dia do julgamento, marcado para terça-feira.

EM CONTA-GOTAS – Num prenúncio do que está por vir, Bolsonaro foi sendo encarcerado em conta-gotas. A retenção do passaporte, a tornozeleira eletrônica, a reclusão em casa à noite e nos finais de semana, a prisão domiciliar, o monitoramento policial da rua por 24 horas…

De repente, a PF insinuou que só a presença de agentes dentro da casa poderia eliminar totalmente o risco de fuga do réu. Quem confiava nas medidas cautelares adotadas pelo Supremo ficou autorizado a perguntar: para que serve a tornozeleira eletrônica? De que adianta a prisão domiciliar? Como confiar numa polícia que não confia na vigilância policial?

‘’Tudo o que exagera enfraquece. O exagero da Polícia Federal debilita até a boa vontade de quem acredita na capacidade técnica da corporação. 

Sem disfarçar, os políticos querem agora a mais completa impunidade

A charge do Alpino | VEJA

Charge do Alpino (Yahoo Notícias)

Merval Pereira
O Globo

Em meio a uma das maiores crises políticas que o país já viveu, um grupo majoritário de parlamentares, sem que se possa dizer ser formado apenas por representantes da direita e do Centrão — a votação mostrará a cara da esquerda —, está empenhado em salvar a própria pele.

Desmoralizando o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta, que desmentiu o fato por três semanas, conseguiram programar para votação a mudança do foro privilegiado e os critérios para que sejam processados criminalmente.

BLINDAGEM GERAL – Combinados, os dois projetos blindam os parlamentares, que dificilmente serão processados, pois a decisão final dependerá de autorização de seus pares. Se forem, terão foro privilegiado desde a primeira instância, podendo chegar ao Supremo depois de uma série de recursos, restando ainda um último apelo, ao plenário do STF, se condenados nas Turmas.

A negociação do texto final entrou noite adentro, sem que a opinião pública soubesse os detalhes negociados. O foro dos parlamentares muda de acordo com a conveniência.

Passou a ser no Supremo porque alegava-se que aquela Corte seria infensa a decisões políticas, ao contrário de instâncias inferiores, sujeitas a injunções políticas regionais.

TUDO COMO ANTES – Durante anos o Supremo condenou apenas um deputado, até que veio o mensalão, e a coisa começou a mudar. O então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, tentou de todas as maneiras mandar à primeira instância o processo do mensalão.

Foi barrado pelo então ministro Joaquim Barbosa, relator da causa. Ele alegou que todos os crimes eram conexos entre si e, se desmembrados, os ministros do Supremo e os juízes de instâncias inferiores não teriam clareza sobre o conjunto da obra.

Já naquela altura havia a compreensão dos políticos de que haviam se encerrado os tempos de bonança, em que o Supremo não punia políticos.

Não foi possível colocar o então presidente Lula na cadeia de comando do mensalão, porque ele se anunciou como traído por seus colegas petistas, pediu desculpas ao povo brasileiro e ainda tinha bastante prestígio popular, tanto que foi reeleito.

DIRCEU, O ESCOLHIDO – O então todo-poderoso José Dirceu, chefe da Casa Civil, foi o escolhido para bode expiatório e assumiu todas as culpas pela organização do esquema. Não que fosse inocente, mas não era o principal orquestrador do esquema.

Lula só seria responsabilizado no caso do petrolão, quando a Operação Lava-Jato desvelou o maior escândalo de corrupção já acontecido no país.

Ficou preso 580 dias, até que o Supremo, depois de muitas idas e vindas de ministros, que votaram e mudaram de voto diversas vezes durante sete anos, considerou inconstitucional a prisão em segunda instância e, depois, classificou o então juiz Sergio Moro como parcial, anulando todos os processos contra Lula.

JOGADAS NO SUPREMO – A Lava-Jato foi desmantelada a canetadas pelo Supremo. Recentemente todos os condenados que restavam foram soltos, e as penas comutadas por diversas tecnicalidades, sem que ninguém fosse absolvido de seus crimes.

O que os parlamentares querem agora é uma blindagem mais completa. Montaram uma legislação que dará condições a que nenhum deles seja sequer processado, quanto mais condenado. Na época do mensalão, havia a sensação de que havíamos avançado no combate à corrupção.

Mas quem conhece bem os meandros da política brasileira é o ex-senador e atual lobista Romero Jucá, que armou a solução do imbróglio político com um acordo para “estancar a sangria”, que incluía até o STF. Tudo aconteceu como ele previa, e estamos agora na fase dois, em que não haverá nem mesmo processo.

Eduardo Bolsonaro pode até ser expulso do PL sem aval do pai

Eduardo Bolsonaro diz que brasileiros entendem que tarifaço de Trump é  'sacrifício a ser feito': 'Nossa liberdade vale mais do que a economia' -  BBC News Brasil

Eduardo e a família sairão do PL se Tarcísio ingressar

Johanns Eller
O Globo

Aliados do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) têm dito nos bastidores que a ameaça do filho 03 de Jair Bolsonaro de deixar seu partido caso o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), migre para a legenda não só é para valer como também não dependerá do aval de seu pai.

Como mostrou a colunista Bela Megale, a possibilidade de se desfiliar do PL, que já foi considerada por Eduardo em outras ocasiões durante seu autoexílio nos Estados Unidos, voltou a ser cogitada pelo parlamentar diante da declaração do presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, de que Tarcísio migrará para a sigla caso concorra à Presidência da República em 2026.

PROPOSTAS – “Eduardo é Eduardo, Jair é Jair. Se dependesse do presidente, Eduardo certamente ficaria no PL”, resume um interlocutor do deputado federal sobre uma possível chancela do pai ao movimento partidário.

Interlocutores de Eduardo Bolsonaro garantem que o parlamentar já recebeu propostas, inclusive de partidos grandes que teriam garantido apoio e estrutura que o PL tem negado ao deputado, mas dizem que “não é o momento” de detalhá-las sob o risco de prejudicar as conversas. Haveria também legendas menores interessadas em filiá-lo.

O embarque de outros parlamentares na eventual nova sigla de Eduardo dependeria do destino escolhido. A cúpula do PL, por sua vez, vê o cenário com grande ceticismo.

CAPITAL ELEITORAL – “Quem tem voto e capital eleitoral é Jair Bolsonaro, não o Eduardo ou o PL. Os deputados sabem disso”, resume um aliado de Valdemar Costa Neto, destacando ainda que o ex-presidente será o único a decidir quem será o candidato da direita caso ele permaneça inelegível.

Caso Eduardo Bolsonaro decida mudar de partido à revelia do pai, adotará um movimento inédito na dinâmica mantida pela dinastia política há décadas.

Bolsonaro, que lançou quatro de seus filhos na política – Eduardo, Flávio e os vereadores Carlos e Jair Renan –, sempre buscou mantê-los sob a mesma legenda, salvo por restrições legais, estratégia política ou quando ele próprio esteve sem filiação partidária. Mas nenhuma decisão foi tomada sem o aval do pai.

NO DESEMBARQUE – Carlos, por exemplo, não acompanhou a família no embarque no PSL em 2018 e permaneceu no PSC pelo risco de perder o mandato, já que a próxima janela partidária municipal só ocorreria em 2020.

Quando o então presidente rompeu com o PSL em 2019 e começou a trabalhar pela criação do Aliança pelo Brasil, projeto que jamais se concretizou, Bolsonaro optou por ficar sem partido.

No período, Flávio buscou uma aproximação com o Republicanos e se filiou à legenda – assim como Carlos, que embarcou durante a janela eleitoral das eleições municipais de 2020.

Com a autorização de Jair Bolsonaro, Flávio se filiou ao Patriota em 2021, quando o então presidente buscava uma sigla nanica para controlar a Executiva e diretórios de olho na reeleição.

ENTRADA NO PL – Mas as negociações não prosperaram e Bolsonaro acabou optando pelo PL de Valdemar, antiga legenda do Centrão. Como o cargo de senador não exige fidelidade partidária, Flávio acompanhou o pai de imediato.

Eduardo ficou no PSL e chegou a integrar brevemente o União Brasil, surgido após a fusão do primeiro partido com o DEM, porque corria o risco de perder o cargo caso se desfiliasse da legenda comandada por um desafeto do pai, Luciano Bivar. O filho 03 acabaria entrando no PL na janela de 2022.

Carlos, por sua vez, só pôde migrar para a sigla em 2024 ao disputar a reeleição na Câmara de Vereadores do Rio.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Toda essa confusão partidária não interessa mais. O fato concreto é que Bolsonaro não será candidato e a direita já tem quatro pretendentes ao Planalto, os atuais governadores Ronaldo Caiado (Goiás). Romeu Zema (Minas), Ratinho Júnior (Paraná) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul). Porém, Michelle, Eduardo e Flávio também alimentam altos sonhos, na esperança de que o governador paulista Tarcísio de Freitas tente apenas a reeleição. É um quadro nebuloso, mas que começa a se definir assim que Bolsonaro for condenado. (C.N.)

Lula precipita sucessão e expõe Tarcísio às pedradas do bolsonarismo

Na ilustração de Galvão Bertazzi, temos o Governador Tarcísio babando e segurando um martelinho minúsculo de leilão. O governador está grande, em meio aos prédios e viadutos da cidade de São Paulo. Placas de vende-se se espalham por toda a cidade e objetos da ilustração. O governador esboça um sorriso débil de felicidade vendida.

Charge do Galvão Bertazzi (Folha)

Carlos Andreazza
Estadão

Lula diz que Tarcísio de Freitas será seu adversário em 2026. Essa – manchete média nos jornais de quinta-feira – foi a notícia-novidade que o governo distribuiu-difundiu sobre a reunião ministerial de ontem, terça-feira, 26 de agosto. Texto fechado, empacotado. Sem aspas. Palavra passada-plantada adiante. A versão que interessa ao Planalto. O recado. Informe-se.

Tem método. A campanha-articulação para 26 deu uma acelerada nas últimas semanas. Todo mundo – o presidente da República incluído – se organizando em função do pós-Bolsonaro. Produto da proximidade do julgamento final do ex-presidente, mundo real – Jair não disputará a eleição – que se impôs a partir da experiência política objetiva que a prisão domiciliar antecipou: a de Bolsonaro isolado e cada vez mais.

A FILA ANDA – As peças se movem. Ou: rei morto, rei posto. Ou: rei por morrer, reis postulantes vários na pista. Repita-se: a campanha-articulação para 26 se acelerou, o chamado Centrão organiza suas escolhas, e Lula não pode mais jogar o jogo do me-engana-que-eu-gosto de que será Bolsonaro o oponente no ano que vem. O pós-Bolsonaro, Jair ao limbo, está posto e Tarcísio, na vitrine. Que se lhe atire.

Tem método. Lula, ao indicar o governador de São Paulo como adversário, aumenta a superfície da vidraça de Tarcísio, nomeado “direita consentida”, e a expõe às pedradas do bolsonarismo.

É o que o presidente, candidato à reeleição, explora-alimenta: o racha no vestiário da direita e a luta pela gestão-controle do espólio do mito. Lula, o sistema, escolhe o desafiante à direita – aponta a direita autorizada pelo establishment – e joga a isca. Que o bolsonarismo já estava atacando. Que atacará sem dó.

PÓS-BOLSONARO – Tudo e todo mundo a se orientar em função do pós-Bolsonaro – inclusive os Bolsonaro. Eduardo, em postagem no X, é transparente a respeito, exibidas abertamente as suas angústias.

“Quanto mais próximo do julgamento do meu pai, mais pessoas têm falado sobre substituí-lo na corrida presidencial”. É verdade. Isso, expressão do encontro com a realidade, poderia ser definido como corrida por preencher o vácuo de poder. Eduardo também corre.

“E, de maneira descarada, essas mesmas pessoas ainda dizem que é para o bem de Bolsonaro, porque o apoiam”. Todo mundo quer o bem de Bolsonaro – Eduardo, Tarcísio, Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira. (Assim como todo quer o bem da democracia e trabalha por ela – de Bolsonaro a Xandão.)

REI INDULTADO – A peleja é pela forma de assegurar-alcançar esse bem. A turma do tal Centrão se dirige pelas perspectivas eleitorais e vende um acordo em que, afinal, Jair – rei morto, rei posto – seria indultado pelo afilhado eleito presidente. Indultado e aposentado.

O bolsonarismo considera essa uma solução caracu – equivalente ao que se chama de “anistia light”. “Não adianta vir com o papo de ‘única solução’, porque não vamos nos submeter”. A solução bolsonarista – por Bolsonaro e nada eleitoral – é via Donald Trump.

“Se houver necessidade de substituir JB, isso não será feito pela força nem com base em chantagem”. Se houver necessidade… Poderia – seria mais realista – escrever “quando houver”. Quando houver: “qualquer decisão política será tomada por nós”. O deputado pretende centralizar na família – na empresa familiar que Jair constituiu no Estado – o futuro da direita; a legitimidade da direita. Quer administrar o tempo – calculado pelas necessidades da agenda de anistia ao pai – e não o fará considerando os prazos eleitorais.

ALTERNATIVA-RAIZ – “Quando houver”, será surpreendente se o substituto não for solução bolsonarista interna. Ou melhor: será surpreendente se não houver – ainda que haja Tarcísio, ou um tarcísio – uma alternativa bolsonarista raiz, dissidente daquela associada à direita oficial.

“Não há ganho estratégico em fazer esse anúncio agora, a poucos dias do seu injusto julgamento”. É explícito. Anunciar apoio a um tarcísio agora – agora e depois – será passar a bola adiante, constituir um sucessor político, donde uma liderança, uma persona com existência própria, e dar prioridade à linguagem eleitoral, que é o verbo da normalidade. Anunciar apoio agora seria se esvaziar; oferecer caminho também para que a Casa Branca identificasse alternativa palatável a Bolsonaro e largasse a mão da família.

A família não pode permitir que o “rei morto, rei posto” chegue também aos EUA. “Para que a pressa?” Os Bolsonaro entendem essa blitz antes do julgamento como “faca no pescoço de JB”; “meio de pressão eficaz” para forçá-lo “a tomar uma decisão” que o amarraria.

REI POSTO – “Quem compactua com essa nojeira pode repetir mil vezes que é pró-Bolsonaro, mas não será permitido como apoiador e muito menos como merecedor dos votos bolsonaristas”; que a família – Eduardo informa – controla, ou crê controlar. O filhote 03 baixou um decreto.

Aí está o dilema de Tarcísio de Freitas; que precisa esperar pelo ex-chefe; que precisa esperar, a rigor, o pai desautorizar as crias. Desautorizará? O dilema de Tarcísio é mais complexo. Para o bolsonarismo, disputar a eleição presidencial para vencer – não sendo Jair Bolsonaro o candidato da direita – é ato ilegítimo, de abandono ao padrinho.

Concorrer – para ganhar – seria trair. Concorrer – não para denunciar o golpe – seria chancelar o processo e negar a vigência de uma ditadura no Brasil. Eduardo quer muito – apaixonadamente – ir para esse sacrifício, ser o anticandidato; tem até reclamado de não ver seu nome medido em pesquisas de intenção de voto… Todo mundo se projeta em decorrência do pós-Bolsonaro, sendo o pós-Bolsonaro de Eduardo Bolsonaro, claro, o legítimo.

Entenda por que há disputa entre Lula e Tarcísio por ações anti-PCC

O Primeiro Comando da Capital - PCC - Notícias - IPA Brasil

PCC, o crime organizado, dá as cartas também na política

Hélio Schwartsman
Folha

São importantes as operações policiais deflagradas contra o PCC. A infiltração da economia formal e do próprio poder público pelo crime organizado é um fenômeno que precisa ser combatido com urgência, já que, quanto mais avança, mais difícil se torna seu enfrentamento.

É pena que a boa notícia institucional tenha sido maculada pelo que parece ser uma disputa eleitoreira entre Lula e Tarcísio de Freitas, que provavelmente se enfrentarão no pleito presidencial de 2026, pela paternidade das ações.

Apesar de lamentável, o episódio ilustra bem um dos problemas da democracia. Na maioria das situações, o eleitor atua no escuro. Isso é óbvio quando os cidadãos escolhem alguém novo para um cargo.

VOTO SEM BASE – Os eleitores mais conscienciosos ainda procurarão se informar, analisando o passado e as ligações do postulante, mas a maioria não se dá ao trabalho, formando seu voto por outras vias.

No caso de reeleições, o cidadão opera com uma carga maior de informações, já que teve a oportunidade de avaliar o desempenho do governante. É esse o motivo por que alguns cientistas políticos são contra o fim da reeleição. Nós eliminaríamos uma das poucas situações em que o eleitor não agiria às cegas.

O problema é que não é tão fácil separar o que, numa administração, resulta de virtudes ou de vícios do governante e o que se deve a outros fatores. Essa é uma tarefa difícil até para cientistas montados em toneladas de dados. De um modo geral, o eleitorado acaba recompensando ou punindo o gestor por coisas que ele não fez ou sobre as quais tem parcela diminuta de responsabilidade.

NA UNDÉCIMA HORA – É bem esse o caso dessas operações anti-PCC. Elas foram conduzidas por órgãos como o Ministério Público paulista, PF e Receita Federal, que são compostos por servidores com carreira de Estado e que operam com grande autonomia.

Em muitos casos, até para evitar vazamentos, só informam suas chefias políticas das operações vindouras na undécima hora.

A democracia funciona não porque gere bons líderes, mas porque assegura transições pacíficas de poder.

Impune, Lula usa e abusa do descumprimento das leis eleitorais

Reunião com os ministros: Lula usa boné 'anti-Trump'

Ministros de Lula usam o boné da campanha antecipada

Dora Kramer
Folha

Se o uso que o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) faz do cargo para alimentar a campanha à reeleição não é abuso de poder, adiante ficará difícil a Justiça Eleitoral dizer o que é.

Com precisão, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornou Jair Bolsonaro (PL) inelegível por entender como abusiva reunião do então presidente com embaixadores estrangeiros, nas dependências do Palácio do Planalto, para desqualificar o sistema eletrônico de votação.

TUDO NA MESMA – Pois Lula se expõe a interpretações semelhantes quando chama de reunião ministerial um comício, no mesmo Palácio, em que ele e seus ministros vestem bonés com slogan de indisfarçável caráter eleitoral para tratar de assuntos que nada tem a ver com decisões de natureza governamental.

O presidente tem agido assim diariamente. Não há evento oficial em que não faça referência à sua condição de candidato na próxima eleição, em 2026.

Desanca adversários, posiciona-se como invencível e espreme até o caroço o lema da soberania nacional que lhe deu o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

APENAS POLÍTICA – No encontro de terça-feira (26), em torno da mesa oval onde se espera que sejam discutidas ações de interesse do país, o presidente ignorou questões administrativas em prol de abordagens exclusivamente políticas.

Esse tipo de reunião ministerial nunca serviu de muita coisa, a não ser para dar asas à exaltação de realizações de governo pelas lentes cor-de-rosa do oficialismo.

Mas, desta vez, Lula foi além e limitou-se a fazer tudo pelo eleitoral.

NOVO SLOGAN – Preencheu o tempo com a repetição de ataques, convocação ao engajamento de ministros num projeto partidário e o lançamento do novo slogan “do lado dos brasileiros”, quando o correto seria dizer “ao lado”. De todos e não apenas junto aos que têm um lado, como pressupõe o dístico.

O presidente se sente livre para voar no campo do palanque porque benevolente vem sendo a ótica sob a qual é visto: um político esperto que aproveita oportunidades.

Quando o candidato se alia ao presidente, isso flerta de modo flagrante com a transgressão.

Perseguida pela própria esquerda, líder feminista fica proibida de expressar opinião

Erika Hilton é alvo de transfobia em votação sobre casamento homoafetivo

Erika Hilton procura  restringir liberdade de expressão

Nikolas Ferreira
Gazeta do Povo

Nas últimas semanas, viralizou o caso de Isabella Cêpa, uma feminista que, em 2020, criticou o fato de a vereadora mais votada das eleições municipais de São Paulo não ser uma mulher biológica, referindo-se à Erika Hilton. A postagem de Isabella gerou uma denúncia criminal do Ministério Público de São Paulo (MPSP), que poderia resultar em 25 anos de prisão, com base em uma decisão do Supremo Tribunal Federal de 2019, que equiparou atos de homofobia e transfobia ao crime de racismo.

É sempre importante frisar três pontos: o primeiro é que não é competência do STF propor ou aprovar leis, mas sim do Congresso. O segundo é que não existe crime sem lei anterior que o defina, como neste caso específico. E, por último, ficou nítida a politização da questão, já que o simples fato de discordar, em muitos casos, é considerado homofóbico ou transfóbico por alguns, o que, além de não ser um fato, constitui atentado à liberdade de expressão. Tanto as minorias quanto o direito de possuir ideias divergentes devem ser protegidos.

VEXAME INTERNACIONAL – Este clássico exemplo de cerceamento de opinião gerou diversas manifestações de repúdio por parte de jornalistas e veículos de imprensa, inclusive alguns mais progressistas, e virou vexame internacional.

Isabella formalizou um pedido de refúgio e posteriormente conseguiu asilo político na Europa. De acordo com uma ONG, ela foi a primeira mulher no mundo a obter refúgio por ser alvo de perseguição em razão de críticas à ideologia de gênero — mais um recorde negativo para a agenda woke.

Não compartilho a mesma ideologia de Isabella e tampouco sou adepto do feminismo, muito pelo contrário. Porém, já disse diversas vezes que jamais defenderei que alguém seja calado, perseguido ou punido por suas opiniões, inclusive aqueles que pensam totalmente diferente de mim.

SEM CENSURA – Seria incoerente para quem se diz defensor da democracia promover censura contra opositores, e não serei eu a usar a mesma hipocrisia da esquerda.

Ainda em 2022, meu discurso utilizando a famosa peruca loira da “Nikole” destacava exatamente isso. Em um dos trechos, afirmei que “as mulheres estão perdendo espaço para homens que se sentem mulheres”. Bastou pouco tempo para que esse comentário, embora óbvio, gerasse mais apoio do que críticas.

Minha fala foi traduzida para o inglês e viralizou em contas estrangeiras, principalmente no X, tornando-se uma referência com os dizeres: “Se você veio aqui falar mal da Nikole, desculpa, mas veio ao lugar errado”. Ela ainda é lembrada diante de diversos casos de imposições e repressões similares que surgem.

PENSAR IGUAL – Tudo isso prova que a esquerda não se preocupa com mulheres, negros, LGBTs ou qualquer outra minoria. Ela se empenha apenas em proteger aqueles que pensam igual a eles, sem espaço sequer para discordâncias dentro da mesma ideologia

Toda a intolerância que carregam afasta cada vez mais os que dizem defender, porque a verdade sempre aparece.

Sempre deixei claro que minha luta não é contra quem busca aceitação de forma legítima, mas contra aqueles que, de maneira tirânica, impõem suas vontades.

CONTRADITÓRIO – Ninguém aqui deseja que alguém seja perseguido ou atacado por crenças, ideologias, orientações sexuais ou questões de gênero; o que se exige é que o contraditório seja respeitado.

Precisamos sempre concordar em discordar. Felizmente, a grande maioria entende isso e, consequentemente, recebo cada vez mais apoio, inclusive público, justamente daqueles que a esquerda acusa — em vão — de serem alvos de supostos ataques.

É bastante provável que eu não concorde com Isabella na maior parte dos pontos, mas a luta pela liberdade transcende qualquer posicionamento ideológico. Precisamos ser maduros o suficiente para separar as coisas e entender que isso é inegociável. Não podemos dar espaço para que a tirania avance.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente artigo, enviado por Mário Assis Causanilhas. Mostra que a luta pela liberdade de expressão está acima das ideologias e das manifestações de raça, gênero, religião ou qualquer outro fator excludente. (C.N.)

EUA sofrem com o furacão Katrina, bem diferente da situação do Brasil 

Charge: Enquanto um furacão arrasa o Brasil...eita ! - Pádua Campos

Charge reproduzida do Arquivo Google

Vicente Limongi Netto

Nos Estados Unidos, o furacão Katrina destruiu o que viu pela frente. Tragédia climática que abalou os norte-americanos. Aqui no Brasil, os homens de bem convivem, faz tempo, com a latrina.  Infames e trapaceiros parceiros do cinismo, da canalhice e da hipocrisia. Maus exemplos de homens públicos, roubalheira e golpes sem fim, que se multiplicam e infelicitam o povo.

Deputados inescrupulosos, preocupados com seus próprios interesses escusos. Acostumados a urdir propostas indecorosas. A mais recente é a PEC da Blindagem. Uma excrescência que desmoraliza de vez a atividade política. A ordinária blindagem engessa o Judiciário, protege parlamentares vigaristas. Irresponsáveis engomados de todos os tamanhos, que permanecerão impunes, depois de causar prejuízos incalculáveis à democracia e à legítima atividade pública.

CINISMO – Capachos de Bolsonaro exigem que o presidente da Câmara Federal, deputado Hugo Motta, peça permissão do ministro Alexandre de Moraes para visitar o ex-presidente. Criarão apenas mais um fato político sem nenhuma importância prática para Bolsonaro.  Abissal tolice que, se concretizada, deixará mal o

presidente. Nada mais falso, burro e patético. Pesquisas da Folha de São Paulo revela que para a maioria dos brasileiros, o Supremo Tribunal Federal (STF) agiu certo, tornando Bolsonaro réu além de mantê-lo em prisão domiciliar.

CRETINICE – Não falta mais nada, no destrambelhado Brasil: o indecoroso deputado fujão, Eduardo Bolsonaro, pediu, sem nenhum pudor, ao presidente da Câmara, Hugo Motta, para exercer o mandato nos Estados Unidos. É o cúmulo da cretinice, do deboche e da irresponsabilidade. A nação espera que a resposta de Hugo Motta seja de total repúdio, ao pedido infame do parlamentar fujão.  POEMA – Depois do furacão da política nacional, um poema ´para relaxar o espírito:

Meu corpo-poema/ Refugia espíritos,/ Afaga contrastes/ e Sentimentos./ Produz tempestades./ Causa ruído na alma./ Entrelaça rumores./ Comove afetos./ Conversa com vidas. /Brinca com a solidão./ Para finalmente descansar/ Nas represas da noite.

Sonhos e realidades na parceria genial de João Bosco e Aldir Blanc

Aldir Blanc e João Bosco: clássicos da MPB e separação histórica marcaram  parceria - Jornal O Globo

Bosco e Blanc, uma parceria invejável

Paulo Peres
Poemas & Canções

O psiquiatra, escritor e compositor carioca Aldir Blanc Mendes, na letra de “O Rancho da Goiabada”, em parceria com João Bosco, mostra que os bóias-frias, apesar de enfrentarem um trabalho pesado durante a semana, em seus momentos de folga, através da bebida, transformam suas tristezas em sonhos.

“O Rancho da Goiabada” faz parte do LP Tranversal do Tempo, gravado por Elis Regina, em 1978, pela Philips.

O RANCHO DA GOIABADA
João Bosco e Aldir Blanc

Os bóias-frias quando tomam umas biritas
Espantando a tristeza
Sonham com bife-a-cavalo, batata-frita
E a sobremesa
É goiabada cascão com muito queijo

Depois café, cigarro e um beijo
De uma mulata chamada Leonor ou Dagmar
Amar
O rádio de pilha, o fogão jacaré, a marmita, o domingo
O bar
Onde tantos iguais se reúnem e contando mentiras
Pra poder suportar

Ai, são pais-de-santo, paus-de-araras, são passistas
São flagelados, são pingentes, balconistas
Palhaços, marcianos, canibais, lírios, pirados
Dançando dormindo de olhos abertos à sombra da alegoria
Dos faraós embalsamados

Bolsonaro poderá ficar sete anos em regime fechado, se pegar pena máxima

O Otimista - STF vê chance mínima de Bolsonaro preso em quartel após  provável condenação e avalia Papuda ou PF

Grande expectativa com o julgamento de Bolsonaro

JOSÉ MARQUES
Folha

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode pegar até sete anos de prisão em regime fechado caso seja condenado à pena máxima de 43 anos pelos crimes listados na acusação da PGR (Procuradoria-Geral da República) no processo da trama golpista.

Bolsonaro será julgado a partir de terça-feira (2), acusado pela PGR de praticar os crimes de organização criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de Direito e golpe de Estado, além de dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Ele nega ter cometido qualquer irregularidade.

MÍNIMA -12 ANOS – A pena mínima prevista em lei pelas acusações contra o ex-presidente é de 12 anos de prisão. A tendência é que os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) levem em conta circunstâncias que devem aumentar o tempo da punição.

No julgamento, o cálculo da eventual pena passará por uma análise complexa dos cinco ministros da Primeira Turma do Supremo, envolvendo tanto critérios objetivos como subjetivos, segundo especialistas.

Para o cálculo final das penas, serão levadas em conta também eventuais divergências entre os integrantes da turma sobre cada uma das acusações analisadas no julgamento.

CIRCUNSTÂNCIAS – Além das penas mínimas e máximas para cada conduta, há circunstâncias que podem aumentar ou atenuar as penas imputadas a Bolsonaro e aos demais réus do caso, que trata da tentativa de golpe de Estado após a derrota para o presidente Lula (PT) em 2022.

Por exemplo, no caso da acusação de liderar uma organização criminosa armada, a PGR afirma que esse grupo é composto de funcionários públicos, que se valeram dessa condição.

A pena para participação em organização criminosa é de 3 a 8 anos, mas há um aumento de até a metade dela se o crime envolver armas, e ainda há um agravante para Bolsonaro por ele ser considerado líder. Além disso, segundo a legislação, a pena pode ser aumentada de um sexto a dois terços caso envolva funcionário público que se valha dessas condições.

CULPABILIDADE – Para decidir sobre pena base desse crime, de 3 a 8 anos, o juiz deve levar em conta “a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente, os motivos, as circunstâncias e consequências do crime, bem como o comportamento da vítima”.

“Tratada com indevida simplicidade, a dosimetria da pena é um dos temas mais tormentosos da Justiça criminal”, diz Leonardo Massud, professor e mestre em direito penal da PUC-SP.

Segundo ele, embora haja parâmetros mínimos e máximos na legislação de pena para cada crime, há “circunstâncias que o juiz deve considerar para caminhar entre esses gradientes”.

Crise do emprego e o avanço da informalidade em ano pré-eleitoral

Charge do Ivan Galvãi (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

A queda de 32% no número de empregos formais entre julho de 2024 e julho de 2025, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, acende um sinal de alerta sobre a vitalidade do mercado laboral brasileiro. Embora o saldo acumulado do ano ainda seja positivo, o recuo registrado em julho — o pior desde 2020 — revela o esgotamento de um ciclo de expansão e a dificuldade do país em sustentar a formalização em um cenário de desaceleração econômica.

O desaquecimento atingiu todos os setores, com destaque para a construção civil, que sofreu retração próxima a 50% no saldo de vagas, e reforça a percepção de que o dinamismo que marcou a recuperação pós-pandemia está perdendo força. Se por um lado os dados oficiais ainda mostram geração líquida de mais de 1,3 milhão de postos no acumulado do ano, por outro, a realidade da informalidade desponta como uma chaga estrutural.

SEM PROTEÇÃO – Estima-se que mais de 40% da população ocupada esteja em atividades sem proteção trabalhista, previdenciária ou sindical, número que, de acordo com algumas projeções, já supera em proporção a própria força de trabalho formalizada. A consequência é imediata: ausência de contribuição previdenciária, renda instável e trabalhadores à margem da rede de proteção social.

No médio e longo prazo, esse processo pode se converter em uma bomba-relógio previdenciária, pois milhões de brasileiros chegarão à velhice sem condições de acessar aposentadoria digna, transferindo ao Estado e à sociedade um passivo social de enormes proporções.

Essa realidade, contudo, não se distribui de forma homogênea. Dados do Ipea mostram que mulheres negras enfrentam taxas de subutilização acima de 30%, enquanto homens brancos registram índices próximos a 19%. A interseccionalidade de raça e gênero agrava desigualdades históricas, impondo barreiras adicionais ao acesso ao trabalho decente.

“UBERIZAÇÃO” – Além disso, a expansão do trabalho em plataformas digitais e a chamada “uberização” intensificam o fenômeno da pejotização e da perda de direitos, criando um ambiente no qual a lógica de flexibilidade empresarial se sobrepõe à proteção do trabalhador.

Diante desse quadro, especialistas apontam três caminhos urgentes. O primeiro é a adoção de políticas de incentivo à formalização, como simplificação tributária e fortalecimento do regime de microempreendedores individuais, capazes de oferecer uma porta de entrada para milhões de informais. O segundo é o redesenho da proteção social, incorporando trabalhadores por conta própria e de plataformas a um sistema contributivo mais flexível e adaptado às novas realidades do trabalho.

Por fim, o investimento em educação e qualificação profissional continua a ser o instrumento mais eficaz de longo prazo para romper o ciclo de precariedade e ampliar as oportunidades de mobilidade social.

PROBLEMA ESTRUTURAL – O Brasil vive, portanto, um momento de encruzilhada. A queda recente nos empregos formais não pode ser interpretada como um fenômeno conjuntural isolado, mas como parte de um problema estrutural que vem se arrastando há décadas: a incapacidade de consolidar um mercado de trabalho robusto, inclusivo e capaz de garantir renda estável à maioria da população.

Se não houver ação coordenada do Estado, das empresas e da sociedade civil, o país corre o risco de perpetuar uma contradição perversa — crescimento econômico acompanhado de precariedade laboral, desigualdade e desproteção social. O desafio está posto, e dele dependerá não apenas a solidez da economia, mas também a coesão social das próximas gerações.

É um péssimo sinal Moraes representar a polarização política

Sanções contra Alexandre de Moraes: Trump vai reverter 'quando receber as  informações corretas', diz ministro - BBC News Brasil

Com seu radicalismo, Moraes prejudica a democracia

Merval Pereira
O Globo

A mais recente pesquisa Quaest aponta que 55% dos entrevistados consideram justa a prisão domiciliar de Bolsonaro e 39% a consideram injusta; e 49% não estão de acordo com as sanções do governo americano impostas ao ministro Alexandre de Moraes, enquanto 39% estão de acordo.

Outra pesquisa, da Atlas/Intel, diz que 49% aprovam a posição do ministro, e 51% desaprovam. O ministro Alexandre de Moraes representa a polarização política que vigora no país hoje. É um mau sinal, porque o STF passa a ser parte da questão, e deveria estar acima das disputas políticas.

PLAYER POLÍTICO – Na verdade, sempre teve envolvimento político, mas nos últimos anos cresceu muito, a partir do mensalão e do petrolão, quando passou a ser um player político, cujas decisões interferem na disputa eleitoral. Foi assim com Lula e está sendo com Bolsonaro. Não é um bom sinal da nossa democracia. Mas no mundo inteiro está assim.

Nos EUA, Trump faz o que quer e a Suprema Corte atua como apoio, quando as questões chegam até lá. É um reflexo da nossa política atual, de confrontação e do uso do poder judiciário para fortalecer o poder político.

 Muitos governos controlam a Suprema Corte com manobras e decisões autoritárias, que garantem a aparência de uma democracia, mas no fundo estão sendo controladas pelos governos autoritários. É assim que a coisa anda por esse nosso mundo conturbado.

A família Bolsonaro deixará que o bolsonarismo sobreviva sem ela à frente?

Indiciado, Eduardo Bolsonaro chama diálogos contra STF de normais

Eduardo Bolsonaro é o Chacrinha que veio complicar

Mario Sabino
Metrópoles

Jair Bolsonaro está se conformando com a realidade de que não será candidato em 2026. Estará preso, e só falta definir o tamanho da cana no julgamento que começa na semana que vem.

Agora, Eduardo e Carlos Bolsonaro precisam se convencer disso, visto que Flávio já parece aceitar o irremediável. No caso de Eduardo, acrescente-se uma dificuldade para o convencimento: a candidatura impossível do pai lhe serve para acalentar o sonho de ser o substituto do insubstituível.

OPERAÇÃO TARCÍSIO – Na visão dele, explicitada na rede social X, está em curso uma operação política da chamada direita permitida para o pai ser forçado a apoiar Tarcísio de Freitas desde já, embora ele não cite o nome do governador de São Paulo:

“Se houver necessidade de substituir JB, isso não será feito pela força nem com base em chantagem. Acho que já deixei claro que não aceito chantagens. Qualquer decisão política será tomada por nós. Não adianta vir com o papo de ‘única salvação’, porque não iremos nos submeter. Não há ganho estratégico em fazer esse anúncio agora, a poucos dias do seu injusto julgamento.”

Ele acredita que o julgamento é “a faca no pescoço” do seu pai, “o meio de pressão eficaz para forçar Bolsonaro a tomar uma decisão da qual não possa mais voltar atrás”.

MIL VEZES – Eduardo arremata que “quem compactua com essa nojeira pode repetir mil vezes que é pró-Bolsonaro, mas não será percebido como apoiador e muito menos como merecedor dos votos bolsonaristas. São com atitudes — e não com palavras — que mostramos quem somos. Antes de mais nada, caminhar com Bolsonaro significa ter princípios, coerência e valores”.

O recado para Tarcísio de Freitas e para quem o apoia não poderia ser mais claro.

A questão, no entanto, transcende a eventual candidatura do governador paulista. É saber se os Bolsonaro vão permitir que o bolsonarismo sobreviva sem Jair ou qualquer outro integrante do clã à frente ou se vão preferir seguir a máxima atribuída originalmente à Madame de Pompadour, amante de Luís XV: “depois de nós, o dilúvio”.