
Charge do JCaesar (VEJA)
Johanns Eller
O Globo
A determinação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes precipitará novas sanções dos Estados Unidos contra autoridades da Corte e do Judiciário, segundo aliados do ex-presidente com interlocução junto à Casa Branca de Donald Trump.
Antes da ordem de Moraes, a expectativa no bolsonarismo era de uma trégua na ofensiva americana sobre o Supremo, para, nas palavras do ex-apresentador Paulo Figueiredo, deixar o “sistema digerir” as sanções impostas ao ministro pelo governo Trump no âmbito da lei Magnitisky, chamada informalmente de “pena de morte financeira”.
ISOLAMENTO – A expectativa de Figueiredo, de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e dos aliados mais próximos era de que as medidas de Trump levassem os ministros do Supremo a reavaliar o apoio que tem dado internamente a Moraes, levando a um isolamento dele na Corte.
Imaginavam, ainda, que esse movimento facilitasse a votação do projeto que anistia os presos do 8 de janeiro na Câmara dos Deputados, que já tem assinaturas suficientes para ser analisada no plenário em regime de urgência, mas foi deixado em banho maria pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Caso a Corte e o Congresso brasileiro não recuassem, os bolsonaristas sempre previram a inclusão de outras autoridades do Judiciário na lista da Magnitsky – como o decano do STF, Gilmar Mendes, o presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, e o procurador-geral da República, Paulo Gonet.
ANTECIPAÇÃO – Com a prisão domiciliar de Bolsonaro, essas etapas deverão ser antecipadas, apostam aliados com quem a equipe da coluna conversou logo após a prisão.
O ministro do STF foi incluído na lista da Magnitsky na última quarta-feira (30) após meses de especulações. Desde março, quando se licenciou do mandato para ficar nos Estados Unidos em uma espécie de autoexílio, o deputado Eduardo Bolsonaro ameaçava com a inclusão de Moraes e de outros ministros do Supremo entre os sancionados pela lei.
Depois que Trump anunciou o aumento das tarifas sobre os produtos brasileiros para 50%, exigindo como contrapartida o fim do processo contra Bolsonaro, e ainda incluiu Moraes na Magnitisky, integrantes do Supremo e aliados do ex-presidente em Brasília tentaram engatar uma conversa de bastidores com vistas a buscar algum tipo de acordo.
SEMANA PASSADA -Um desses encontros se deu no início da semana passada, quando as sanções da Magnitisky já eram esperadas, mas não estavam em vigor ainda. Lideranças do PL tomaram um café da manhã com o decano do STF, Gilmar Mendes, para discutir a situação.
A conversa, porém, foi definida pelos dois lados como ‘muito ruim”, porque Gilmar disse que o Supremo não recuaria e não aceitaria, por exemplo, enviar os processos dos golpistas e do 8 de janeiro para a primeira instância – e os bolsonaristas, por sua vez, diziam que não poderiam evitar as sanções.
Na abertura do segundo semestre do Judiciário, o ministro Alexandre de Moraes disparou contra os Bolsonaro em seu discurso no Supremo. Para o magistrado, a ofensiva de Eduardo nos EUA reflete a ação de “uma organização criminosa que age de maneira covarde e traiçoeira” com o objetivo de “tentar submeter o funcionamento do STF ao crivo de autoridade estrangeira”.
NÃO SE VERGARÃO – Moraes declarou, ainda, que a Corte, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Polícia Federal “não se vergarão a essas ameaças”.
Bolsonaro já estava submetido ao monitoramento por tornozeleira eletrônica e o recolhimento domiciliar noturno desde o último dia 18.
Segundo Moraes, ele desrespeitou as medidas cautelares impostas pelo STF no último final de semana, em especial quando o ex-presidente se dirigiu a apoiadores através de uma ligação de vídeo com o filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e outra chamada com o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) durante atos bolsonaristas no Rio de Janeiro e na Avenida Paulista, em São Paulo.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A quem interessa esse tipo de impasse. O Brasil é um dos países que mais podem se beneficiar da disputa entre Estados Unidos e China/Rússia, porque tem condições de negociar com os dois grupos simultaneamente. Mas a curta visão de Lula, de Moraes e dos bolsonaristas favorece o confronto, e quem sai perdendo são os brasileiros, como um todo. (C.N.)