Dan Williams
CNN/Reuters
Um assessor do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu confirmou neste domingo (2) que Israel aceitou um acordo para encerrar a guerra na Faixa de Gaza que está sendo apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, embora o tenha descrito como falho e necessitado de melhorias e muito mais trabalho.
Numa entrevista ao Sunday Times britânico, Ophir Falk, principal conselheiro de política externa de Netanyahu, disse que a proposta de Biden era “um acordo com o qual concordamos – não é um bom acordo, mas queremos ardentemente que os reféns sejam libertados, todos eles”.
FALTAM DETALHES – “Há muitos detalhes a serem resolvidos”, disse ele, acrescentando que as condições israelenses, incluindo “a libertação dos reféns e a destruição do Hamas como uma organização terrorista genocida”, não mudaram.
Biden, cujo apoio inicial firme à ofensiva de Israel deu lugar à censura aberta ao elevado número de mortos civis da operação, transmitiu na sexta-feira o que descreveu como um plano de três fases apresentado pelo governo de Netanyahu para acabar com a guerra.
A primeira fase implica uma trégua e o regresso de alguns reféns detidos pelo Hamas, após o que as partes negociariam uma cessação aberta das hostilidades para uma segunda fase, em que os restantes reféns vivos seriam libertados, disse Biden.
HAMAS PARTICIPA – Esta sequência parece implicar que o Hamas continuaria a desempenhar um papel nos acordos incrementais mediados pelo Egito e pelo Catar – um conflito potencial com a determinação de Israel em retomar a campanha para eliminar o grupo islâmico apoiado pelo Irã.
Biden saudou várias propostas de cessar-fogo nos últimos meses, cada uma com estruturas semelhantes à que delineou na sexta-feira, todas elas fracassadas.
Em fevereiro, ele disse que Israel tinha concordado em suspender os combates durante o Ramadã, o mês sagrado muçulmano que começou em 10 de março. Tal trégua não se materializou.
PONTO DE DISCÓRDIA – O principal ponto de discórdia tem sido a insistência de Israel em discutir apenas pausas temporárias nos combates até que o Hamas seja destruído. O Hamas, que não dá sinais de se afastar, afirma que libertará reféns apenas no caminho do fim permanente da guerra.
No seu discurso, Biden disse que a sua última proposta “cria um ‘day after’ melhor em Gaza sem o Hamas no poder”. Ele não detalhou como isso seria alcançado e reconheceu que “há uma série de detalhes a serem negociados para passar da fase um para a fase dois”.
Falk, assessor de Netanyahu, reiterou a posição do primeiro-ministro de que “não haverá um cessar-fogo permanente até que todos os nossos objetivos sejam alcançados”.
SOB PRESSÃO – Netanyahu está sob pressão para manter intacto o seu governo de coligação. Dois parceiros de extrema direita ameaçaram fugir em protesto contra qualquer acordo que considerem poupar o Hamas. Um parceiro centrista, o ex-general Benny Gantz, quer que o acordo seja considerado.
Quanto ao Hamas, o grupo acolheu provisoriamente a iniciativa norte-americana. “O discurso de Biden incluiu ideias positivas, mas queremos que isso se materialize no âmbito de um acordo abrangente que atenda às nossas demandas”, disse Osama Hamdan, alto funcionário do Hamas, ao Al Jazeera no sábado.
O Hamas quer um fim garantido para a ofensiva em Gaza, a retirada de todas as forças invasoras, a livre circulação dos palestinianos e a ajuda à reconstrução.
RESSALVA DE ISRAEL – As autoridades israelenses rejeitam a existência do Hamas e um regresso efetivo à situação existente antes de 7 de outubro, quando o Hamas, empenhado na destruição de Israel, governava Gaza.
Os seus combatentes precipitaram a guerra ao invadirem a fronteira com Israel, matando mais de 1.200 pessoas e fazendo mais de 250 reféns, de acordo com os registos israelenses.
No ataque israelense que se seguiu, que devastou grande parte do empobrecido e sitiado enclave costeiro, mais de 36 mil palestinos foram mortos, dizem autoridades médicas de Gaza. Israel afirma que 290 dos seus soldados morreram nos combates.