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Proposta do governo não pode se tornar uma política permanente
Pedro do Coutto
O governo Lula estuda conceder um crédito extraordinário bilionário para socorrer exportadores de frutas e peixes afetados pelo chamado “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos, que elevou em 50% as tarifas sobre produtos brasileiros. A medida é uma tentativa de mitigar os impactos imediatos sobre setores que dependem fortemente do mercado norte-americano, mas levanta questionamentos sobre sua eficácia e sustentabilidade a longo prazo.
O setor já sinaliza que, com a barreira tarifária, as vendas se tornarão inviáveis, especialmente porque frutas e pescados são produtos perecíveis e exigem escoamento contínuo. Nesse cenário, a proposta do crédito parece mais um remédio paliativo do que uma solução definitiva, uma vez que a exportação desses itens é realizada todos os meses, o que exigiria a repetição da medida, criando um custo insustentável para os cofres públicos.
DISTORÇÕES – Além do impacto fiscal, essa política pode gerar distorções no mercado. Ao subsidiar exportações que não se concretizaram, o governo assumiria o papel de comprador indireto, o que configura uma espécie de estatização velada do setor exportador. Essa intervenção, embora bem-intencionada, pode comprometer a lógica de mercado, desestimular a eficiência e criar dependência de recursos públicos, em vez de incentivar soluções estruturais.
Outro ponto de preocupação é que o crédito extraordinário, se renovado continuamente, pressionaria ainda mais as contas públicas, forçando cortes em outras áreas prioritárias ou ampliando o endividamento. Trata-se, portanto, de uma medida emergencial que resolve apenas o sintoma, sem atacar a causa do problema.
Para enfrentar essa crise de forma estratégica, é necessário olhar para alternativas mais sustentáveis. A primeira delas é a diversificação de mercados, reduzindo a dependência do Brasil em relação aos Estados Unidos. Exportadores podem buscar novos destinos, como países da União Europeia, da Ásia e da América do Sul, que apresentam grande potencial de consumo e não estão sujeitos às mesmas barreiras tarifárias.
DIPLOMACIA – Outra ação essencial é fortalecer a diplomacia comercial. O Brasil já estuda levar a questão à Organização Mundial do Comércio (OMC) e adotar medidas de reciprocidade, mostrando que não aceitará passivamente sanções que distorcem a concorrência. A pressão diplomática e a negociação são instrumentos fundamentais para restabelecer condições mais equilibradas no comércio internacional.
Além disso, políticas internas também podem contribuir para amenizar os impactos. Estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Goiás já anunciaram linhas de crédito com juros reduzidos e devolução de ICMS para empresas prejudicadas pelo tarifaço, o que ajuda a manter o fluxo de caixa sem gerar dependência estrutural. Essa estratégia, quando combinada com incentivos à inovação, investimentos em logística e ações para aumentar a competitividade, pode fortalecer a posição brasileira no cenário global, mesmo diante de desafios tarifários.
CICLO – Em síntese, a proposta do governo ao setor exportador deve ser entendida como uma resposta emergencial, necessária para evitar um colapso imediato de empresas e empregos. No entanto, não pode se tornar uma política permanente, sob pena de criar um ciclo de dependência e desequilíbrio fiscal.
O caminho mais inteligente é adotar uma estratégia integrada, que envolva diversificação de mercados, negociação internacional e medidas internas de competitividade. Somente assim o Brasil poderá transformar uma crise comercial em oportunidade de fortalecimento econômico e inserção mais sólida no comércio global.